sábado, 13 de junho de 2009

Um pouquinho do Rascunho desse mês

Enquanto o Rascunho de junho não é disponibilizado, preciso dividir com vocês o que já achei de melhor na edição desse mês. Mas ressalto, para quem não tem a assinatura do jornal, está na hora de pedir. Um valor insignificante diante da qualidade do que eles publicam: R$ 50,00 anuais. E eles precisam de novas assinaturas. Então vamos colaborar para que um jornal tão importante para o mundo literário não perca força.

Logo de cara, o jornal traz a resenha do livro Coração Andarilho, de Nélida Piñon, escrita pela queridíssima Lúcia Bettencourt.

Veja alguns trechinhos da resenha:

"(...) a escritora Nélida Piñon ostenta o domínio cultivado da língua e do estilo, o que lhe permite, em Coração andarilho, transformar retalhos e fragmentos colhidos no jardim da memória num buquê de cores variadas e harmoniosas, que servem para ressaltar e explicar sua formação. Ela recolhe, aparentemente ao acaso, e compõe, com maestria, um texto em pequenos capítulos trabalhados estilisticamente para compor miniaturas e mosaicos sentimentais de seu passado."

"Nélida Piñon, escritora brasileira, mas de coração andarilho, nos deixa entrever como ser fiel ao berço natal, mesmo quando nossos vínculos mais fortes estão atados na tradição milenar e sem fronteiras da cultura e da arte ocidental. Fazendo um balanço de sua vida, ela se reinventa a cada página, enquanto avalia -- e revalida -- seu compromisso com a arte. Suas memórias acabam por formar o mosaico que ela procura recompor: seu próprio ser, como ela mesma, com têmpera de aço e doçura, forjou."

Em seguida vem a edição do encontro de maio do Paiol Literário, que foi, não coincidentemente, com a própria Nélida Piñon.

Alguns trechinhos do que Nélida disse:

"Milhões de pessoas já leram Dom Quixote. Milhões, em diferentes línguas. Mas é o mesmo livro para diferentes leitores. Isso prova que a literatura dá visibilidade a quem somos, a nossos sentimentos mais secretos, mais obscuros, mais desesperados, às esperanças mais condicionais do ser humano. E a literatura conta histórias porque os sentimentos precisam de uma história para que você se dê conta deles. Então, a literatura pensou em dar conta de quem somos, dessa nossa complexidade extraordinária. Porque somos seres fundamentalmente singulares. E, por isso, a literatura é singular."

"Se vocês tiverem o hábito de ler, vão ingressar em um mundo tão fascinante que, de imediato, os fará se tornarem criaturas sedutoras. Porque a leitura também nos dá uma condição erótica. Com as palavras na mão, você se torna uma pessoa sedutora."

"Desde menina, eu sou eu. Sou um coração andarilho. Sempre fui uma grande aventureira. Quando criança, meu ideal de vida era pular a janela e sair mundo afora, sem jamais dormir uma segunda noite debaixo do mesmo teto. Uma vida extraordinária. De certo modo, quis ser escritora atraída pela aventura."

"Um ou dois anos antes de conhecer Clarice, comprei na Kopenhagen um carrinho com ovinhos de chocolate e escrevi no cartão: "Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo". Não assinei e deixei o carrinho na casa dela, porque não queria, não desejava aceitar a condição de fã. Queria, um dia, ser amiga de Clarice, e em igualdade de condições, com o devido respeito. E isso aconteceu. Foi uma amizade de 18 anos, que só terminou com a morte dela. Fiquei com ela, no hospital, os últimos 40 dias, segurando sua mão esquerda, e a Olga Borelli, sua mão direita. Posso falar sobre isso agora. Antes, não falava sobre Clarice. Me dava muita dor."

"Conheci Philip Roth, William Styron e John Updike. Philip Roth me levou para jantar e fez um vaticínio interessantíssimo. Na época, ele era uma promessa, mas ainda não tinha essa dimensão, essa grandeza de hoje. Ainda não havia escrito O complexo de Portnoy, e sim Adeus, Columbus. Naquele momento, quem estava fazendo um grande sucesso -- e que depois eu também conheci, mas muito pouco -- era Saul Bellow, com Herzog, o primeiro romance de alta categoria que também se tornaria um best-seller. Isso era uma novidade. E estávamos, Roth e eu, conversando num restaurante, quando ele me disse: "De agora em diante, será assim. Os próximos a fazerem um milhão de dólares serão John Updike, William Styron e eu". E todos esses três, em xis anos, fizeram um milhão de dólares, se tornaram best-sellers. Styron, com As confissões de Nat Turner, Roth, com O complexo de Portnoy; e Updike, com Casais trocados."

Há resenhas que nos deixam com água na boca para ler os originais. E isso aconteceu comigo nas resenhas de Marcio Renato dos Santos sobre A cidade ilhada de Milton Hatoum e de Andreia Ribeiro sobre O gato diz adeus de Michel Laub, ambos ainda não lidos por mim. Aliás, quando pensamos em todos os livros que gostaríamos de ler e ainda não tivemos tempo... Ai, meus sais, que eu não uso, pois não tenho banheira!

Bem, ainda não terminei a leitura do Rascunho (viu, além dos livros, tem os jornais, as revistas, os blogs... é melhor parar por aqui). Quando chegar ao fim, divulgo as outras matérias que me atraíram. Provavelmente, até lá ele já estará disponível online, bastando um link para o texto na íntegra.

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