sábado, 28 de fevereiro de 2009

Eu indico: O Leitor



Não sei se o Oscar de melhor filme para Quem quer ser um milionário foi justo, mas o de melhor atriz para Kate Winslet, de longe, foi merecidíssimo.

Só hoje consegui assistir O Leitor, e saí do cinema maravilhada. Se fosse pela minha opinião, ele levaria o Oscar. Adorei o filme, é lindo. Duas horas que não se sente. O filme não tem barriga e tem um enredo fantástico. Que densidade tem a personagem Hanna Schmitz!

Vale a pena. Para quem ainda não viu, aproveite que ainda está em cartaz.

Para saber mais:
Na Alemanha pós-2ª Guerra Mundial o adolescente Michael Berg (David Kross) se envolve, por acaso, com Hanna Schmitz (Kate Winslet), uma mulher que tem o dobro de sua idade. Apesar das diferenças de classe, os dois se apaixonam e vivem uma bonita história de amor. Até que um dia Hanna desaparece misteriosamente. Oito anos se passam e Berg, então um interessado estudante de Direito, se surpreende ao reencontrar seu passado de adolescente quando acompanhava um polêmico julgamento por crimes de guerra cometidos pelos nazistas.

Elenco:
Ralph Fiennes como Michael Berg
David Kross como Michael Berg jovem
Kate Winslet como Hanna Schmitz

Crédito da imagem: www.adorocinema.com.br

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Novas oficinas na Estação das Letras

A Estação das Letras está com uma programação maravilhosa para a primeira semana de março.

Para quem quer se aventurar pelos contos e romances, olha o time de primeira que está sendo oferecido:

Os caminhos de um Romance - oficina de criação literária

  • Com Adriana Lunardi
  • Início: 03/março, de 19h30 às 21h30

Oficina da Imaginação

  • Com José Castello
  • Início: 02/março (1ª turma) e 05/março (2ª turma)

Oficina do conto

  • Com Marcelo Moutinho
  • Início: 05/março, de 19h30 às 21h30

A arte do conto - oficina de criação literária

  • Com Claudia Lage
  • Início: 09/março, de 19h30 às 21h30

As ficções breves: mergulho no conto

  • Com Ondjaki
  • 07/março (workshop das 10h às 16h)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Literatura na avenida

A Mocidade Independente de Padre Miguel levará para a Avenida este ano um samba em homenagem a Machado de Assis e Guimarães Rosa.

O título do samba-enredo: Clube Literário - Machado de Assis e Guimarães Rosa... Estrelas em Poesia!

Não entendo nada de Carnaval. Aprecio os carros alegóricos durante o tempo que tenho paciência para ficar acordada. Tenho carinho por algumas escolas: Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor, Mocidade. Outras (que prefiro não declarar, para não causar polêmica) me irritam só de ouvir falar o nome.

Gosto de acompanhar a apuração e me indignar com algumas notas. Isso é o máximo que eu chego desse mundo, mas nessa minha total inexperiência, ouso dizer que gostei da letra e da melodia do samba-enredo. Esse ano talvez grave o desfile. Ficar acordada mesmo, sei que não vou conseguir!

Bem, para quem pretende assistir, divulgo a ordem do desfile:

Domingo - 22 de fevereiro de 2009
  • Império Serrano
  • Grande Rio
  • Vila Isabel
  • Mocidade Independente
  • Beija-Flor
  • Unidos da Tijuca
Segunda-feira - 23 de fevereiro de 2009
  • Porto da Pedra
  • Salgueiro
  • Imperatriz
  • Portela
  • Mangueira
  • Unidos do Viradouro

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Conto "Mulatas e predicados"

Hoje é meu último de férias. Olha que triste: voltar a trabalhar numa sexta-feira de Carnaval. Estou sofrendo só em imaginar o trânsito que vou pegar amanhã, para voltar para casa.

Não costumo cair no samba, nem ficar assistindo aos desfiles. Nada contra, parar meia horinha na frente da tv, ou levar as crianças para um bailinho no shopping. Mas minha predileção mesmo é tirar esses dias para descansar. Como acabei de sair de férias, esses dias serão para me acostumar que a moleza acabou, e tentar carregar um pouquinho mais a bateria.

E aproveitando esse espírito carnavalesco, publico um conto que eu havia escrito ano passado.

Espero que gostem!
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Mulatas e Predicados
Ana Cristina Melo

"Sonhar não custa nada" já dizia o samba da Mocidade, há dez anos. O de Filomena talvez custasse. Cobiçava avançar os setecentos metros da Sapucaí, ovacionada pela arquibancada. Embasbacou com o convite de Cidinha, para sair na primeira escola do grupo A que desfilaria no sábado de Carnaval. O senão estava em Filó não saber sambar, não gostar do ritmo nascido no morro, e não frequentar quadra de escola.

O interesse superou a má impressão que Filomena tinha da colega de repartição, pois a mulata de corpo esculpido sempre jogara charme para seu namorado. E conhecendo Henrique, valia não se descuidar.

Aceitar fora fácil, o duro seria o preço do que viria depois. Se fosse foto para revista, Photoshop resolveria. Mas no asfalto, só malhação; além de ser preciso perder a virgindade na depilação. Sem contar o débito das aulas de samba no pé e a reação de Henrique.

Decidida, intercalou corrida e caminhada ao lado do canal da Av. Maracanã, sofrendo com a catinga da pista alternativa. Problema minimizado em prol da meta dos seis quilos, percebidos no reflexo do seu espelho. Para enrijecer as regiões que seriam exibidas tal qual comercial de cerveja, investiu em localizadas no bumbum e adjacências.

O próximo passo era dar um jeito nos pés. A vizinha mulata, passista da Mangueira, poderia ajudar a branquela mignon, cabelos lisos e rosto redondo, que pouco escapou de ser loira. Sete aulas e Filó se achou levando o Estandarte de Ouro. Delírio sem reflexo no "Ai, minha virgem" que a vizinha murmurou, após conferir o resultado.

A um dia do desfile, era hora de encarar Sebastiana, a depiladora de seu salão de beleza. Na sua vez, seguiu a mulata de um metro e oitenta, avantajada nas proporções, que a conduzia para a última cabine. "Primeira vez?", "Sim!" "Vai querer cavada?" "Hum, é, vou!", "Deite sem a saia. Puxe as pernas e junte as solas dos pés!". Pior que isso, só dizendo "arreganha aí, menina!".

Beto, seu cabeleireiro, a prevenira que Tiana era "pouco dada a amabilidades, mas eficientíííssima". Elogio insuficiente para sobrepor o pânico.

Início insólito, e a situação só foi piorando. Ludibriada com a sensação causada pela cera quente, teve vontade de agredi-la, quando num puxão, ela lhe arrancou os pêlos e um grito, ouvido do outro lado do quarteirão. Fez menção de se levantar, mas Sebastiana impediu. "Não quero mais"! "Não pode ficar pela metade"! "Ah, o que não pode é eu sentir... AAAAII... MERDA"! Sebastiana não perdeu tempo e antes que Filó retrucasse, puxou mais duas vezes, concluindo a parte da frente. "Pronto! Agora tira a calcinha e fica de lado". Ofegante, obedeceu, achando que a outra não a deixaria sair sem terminar a tortura. "Puxa essa banda e segura"! Voltando à razão, conseguiu esboçar um "pra quê?". "Não pediu cavada? Vou depilar atrás, bem lá". Foram três segundos para assimilar onde era o lá. Suficiente. Ninguém havia visto o "lá", e não seria Sebastiana a primeira. Deu um salto da maca, vestiu sua saia, sem nada por baixo, e sumiu pelo corredor.

Faltava Henrique. Depois de abusar da luxúria como estratégia, contou-lhe do desfile. Seu salto da cama foi tão acrobático quanto o dela no salão. Indignado, berrou que não a aceitaria expondo seus predicados em rede nacional. Filó alegou que não ia expor nada, e também não ia desistir. Furioso, saiu batendo porta, jurando terminar tudo.

Filomena dormiu em prantos, pela briga, e pela virilha que ainda parecia ter sido arrancada de seu corpo. No dia seguinte, acordou querendo desistir, mas reconsiderou ao se olhar no espelho. Afinal, tinha que valer o sacrifício.

Na hora combinada, estava no metrô da Saens Pena, em direção à Praça XI. A fantasia seria levada por Cidinha para a concentração.

Tardou a encontrá-la entre tantas alegorias. Instruída a esperar, sentou-se no meio-fio, enquanto absorvia os detalhes da reta final. Retoques em carros alegóricos de sete metros de altura, verdadeiras obras de arte esculpidas em sucatas. Morenas, mulatas e negras que desfilavam suas belezas e intimidades com um mundo que fazia Filomena se sentir deslocada.

Talvez lhe emocionasse mais uma chuva de confetes, igual a que jogava no quintal, quando menina, o mais próximo que curtia do Carnaval. Nunca fora a bailes, nem vestira fantasias, a não ser a mesma saia de havaiana, a cada ano mais rala. Agora, estava tão perto de desfilar, e sobrepujava a idéia de ser tudo um sonho vil.

Anoitecia quando avistou Henrique entre as barracas de cerveja. Parecia menos bravo que na noite anterior. Não pediu desculpas, mas disse que encontrara Cidinha, que o convencera a aceitar a fantasia. Um beijo apagou o rompimento e a fez entrar novamente no clima. Quando Cidinha voltou, Henrique se afastou combinando encontrar Filó na Apoteose.

Serelepe, seguiu a colega até um recuado, onde ficou aguardando sua fantasia. Várias mulheres trocavam de roupa e enfeitavam seus corpos com todo tipo de brilho. Logo depois, Cidinha voltava com uma fantasia de sorvete da ala da gula, um dos sete pecados, enredo da escola.

Custou um pouco até Filomena entender que seu corpo malhado desfilaria escondido em um sorvete de plástico. Entrou na avenida sem saber o que a conduzia: se raiva, orgulho ou os chefes de ala que mantinham a ordem.

Oitenta minutos de desfile, e ninguém percebeu que por baixo daquela fantasia, Filomena não cantava o samba, apenas afogava um capricho. Muito menos ela poderia imaginar que enquanto cruzava a avenida, Cidinha cobrava o favor que fizera. Entre os restos do carro abre-alas que quebrara, o do Kama Sutra, ela exibia todos os seus predicados e complementos siliconados para o sujeito Henrique.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Prêmios para os não-inéditos

Vocês sabem que mantenho o blog Ficção de Gaveta, para concentrar os concursos literários que nos possibilitam tirar os escritos da gaveta.

Mas existem os escritores que não só tiraram os seus escritos, como já receberam o brilho da publicação.

Para esses, têm concursos muito mais apetitosos, com prêmios de R$ 30 mil, R$ 100 mil, R$ 200 mil. Bom, não?

Assim, deixo para divulgar esses maravilhosos concursos aqui.

I. Prêmio São Paulo de Literatura.

Premiação: R$ 200 mil para o melhor livro do ano de 2008 e outros R$ 200 mil para o melhor livro de autor estreante do ano de 2008.
Prazo: até 30 de março
Gênero: romance

Maiores informações e inscrições: Site da Secretaria da Cultura de SP

Os finalistas serão anunciados no Festival da Mantiqueira, entre 29, 30 e 31 de maio.

II. Prêmio Portugal Telecom 2009.

Premiação: R$ 100 mil (1º colocado); R$ 35 mil (2º colocado); R$ 15 mil (3º colocado)
Prazo: até 28 de fevereiro
Categorias: romance, conto, poesia, crônica, dramaturgia ou autobiografia

Maiores informações e inscrições: Site do Prêmio Portugal Telecom

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Deu uma vontaaaaaaaaade!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Poema "A boneca"

Acharam! Acharam! Lembram do post que publiquei pedindo quem soubesse o texto completo de um trecho de poema que me marcou? Pois bem, o Wanderlei achou e publicou um comentário com o poema.

Estou muito feliz! Esse texto me trouxe muitas lembranças. Quantas recordações temos da nossa infância? Para alguns, são muitas, para outros, poucas. Mas quantos se lembram do trecho de um poema? Sei que começou ali meu amor pela Literatura, pelo o que ela pode fazer com nosso coração.

Obrigada Wanderlei!

Aqui está o poema, completo, lindo. E irá para um cantinho especial aí ao lado. Pena que não encontrei nada sobre Walter de Freitas na Internet.

"A Boneca"
Walter de Freitas

Aquela boneca velha, toda rota, quase nua
Por uma menina rica foi atirada na rua
Uma pobre lavadeira que passava nessa hora
pensando em sua filhinha apanhou-a sem demora.

Ao vê-la a menina pobre bateu palmas de contente
Como é linda foi dizendo
ó que bonito presente
Assim a boneca velha pela rica desprezada
Achou na menina pobre sua mãezinha adorada.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Vídeo-entrevista Raimundo Carrero

Pelas minhas navegações, é comum eu achar vídeos com entrevistas interessantes de escritores consagrados. Assisto, adoro, e depois não lembro mais o link. Os que estão no YouTube são mais fáceis de localizar, mas os que não estão?

Sendo assim, para o meu bem, e o prazer de vocês, passo a publicar aqui esses links.

Começo com Raimundo Carrero, autor de:
  • "O amor não tem bons sentimentos" (Editora Iluminuras)
  • "Ao Redor do Escorpião... Uma Tarântula ?" (Editora Iluminuras)
  • "Somos Pedras que se Consomem" (Editora Iluminuras)
  • "Os Segredos da Ficção - Um guia da arte de escrever" (Editora Agir)
  • entre outros romances

Carrero é famoso por pelas oficinas literárias que ministra e suas teorias a respeito do processo de criação. No site do Portal Literal é possível encontrar os arquivos da Oficina Literária de Romance que ele ministrou entre julho e outubro de 2006. Nessa oficina, os leitores enviavam capítulos de romance, e os dez melhores eram selecionados para receber orientações diretas do mestre. Fui uma das selecionadas. Trocamos alguns e-mails que foram muito úteis para mim.

Frase extraída do vídeo:
"Quem escreve é o personagem".

Acesse aqui o vídeo.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Leituras de hoje

No caderno Prosa e Verso de hoje há uma resenha de José Castello, a respeito de O pudim de Albertina, o livro de estreia de Natália Nami.

Reproduzo o penúltimo e último parágrafos desse texto, que traz uma luz aos nossos caminhos literários.

"Fico pensando nos momentos de desânimo em que a Natália Nami vacilou sobre seus relatos e pensou em deletar a escritora que é. Todo escritor, mesmo o mais experiente, se faz a partir dessas desilusões. Desiludir-se é o primeiro passo para a literatura. Abdicar dos encantos e das
fantasias, desistir de "vir a ser" -- grande, genial, impecável -- para simplesmente ser. Natália não escreve para compor um prestígio, ou desenhar uma imagem. Escreve para chegar ao que é."


"O escritor iniciante não deve se importar em escrever bem, ou escrever corretamente, ou em escrever para brilhar. Tudo isso queima -- e passa. Tateando às escuras, ele deve se preocupar, apenas, em escrever. Pode parecer fácil, mas é o mais difícil."

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Já a matéria de capa do caderno Ideias, do Jornal do Brasil, fala sobre os famosos caderninhos dos escritores. E adoro ler e falar sobre eles.

Não saio sem que haja uma caderneta dentro da bolsa. Na pasta, levo sempre um caderno um pouco maior. A caderneta é para as anotações de ideias. Frases que nos chegam sem avisar, enredos que nos surgem do nada. Serve também para uma palavra que pode puxar outra, e virar um grande conto. Um tema nunca antes pensado. Até um diálogo ouvido que ativa nossa criatividade.

Já o caderno é mais especial. É o caderno de rascunho para novos textos. Às vezes recebem contos inteiros. Outras, capítulos e mais capítulos de um romance. (Sim, minha gaveta também tem romance). Muitas vezes penso em parágrafos inteiros e nesse momento precisamos desse companheiro especial. Já escrevi contos inteiros no escuro. Isso mesmo, eu voltava para casa de van, um breu em virtude do insulfilm. Mas a ideia veio, forte, e não podia esperar. Nem tentem deixar para depois, elas vão embora. As letras escorrem como areia. Qual foi minha solução: imaginar uma distância razoável entre as linhas e começar a escrever, no escuro. Ao pular a linha, deixava o espaço imaginado e lá ia eu. Com o tempo, aperfeiçoei a técnica. Passava a abrir o celular (sempre preferi os que tinham flip) e a luz iluminava o caderno. Parti tempos depois para pequenas lanterninhas. Essas não funcionaram pois não dava para segurar caderno, lanterna e caneta ao mesmo tempo. A etapa seguinte foi uma lanterna de leitor, com prendedor, no qual apertava-se um botão e ela abria em forma de luminária. Deu defeito rápido. Meu exemplar atual me foi presenteado por uma colega. É uma junção perfeita de lanterninha com prendedor tipo pregador. Pequena, jeitosa e potente. Não sai da minha bolsa.

Quanto aos cadernos e canetas, o prazer fica por conta da escolha. Escolher a capa, tonalidade da linha (sim, linhas escuras atrapalham a escrita), textura da folha. Já cheguei a confeccionar bloquinhos. Da forma mais simples. Comprei um cento de papel na cor e textura que eu queria. Cortei ao meio e encadernei. Pronto, garanti quatro blocos perfeitos para deslizar minhas ideias. E no caso das canetas: pegada, maciez da escrita, cor da tinta. Doces compras!

Minhas férias estão acabando. Entre as mil coisas que programei para fazer (e não fiz) estava a arrumação de meu escritório. E como subitem, a organização dos mais de 20 cadernos que tenho, espalhados por minhas gavetas. Comecei há alguns meses uma compilação de minhas anotações em um único caderno. Talvez daqui a 10 cadernos eu consiga terminar.

Como curiosidade, cito alguns hábitos de escritores quanto aos seus cadernos de nota, retirados da matéria de hoje, de Juliana Krapp, no caderno Ideias.

A foto acima é de um caderno famoso -- o Moleskine, usado por nada menos do que: Ernest Hemingway, Van Gogh e Picasso. E o preço dizem é proporcional à fama desses escritores. Bem, eu fico com os meus queridinhos de capa dura, que me atendem, custam um décimo do valor, e posso comprar vários sem peso na consciência financeira.

"Marçal Aquino prefere os de espiral, estilo universitário. Já Joca Reiners Terron é adepto dos moleskines: não sai de casa sem o seu. Sérgio Sant'Anna costuma esquecer os bloquinhos, mas leva sempre consigo uma caneta, com a qual rabisca programas de ópera, mapas, catálogos de exposição. Raimundo Carrero dá as folhas de guarda (as páginas de branco ao final dos livros) as vezes de bloco: rascunha ali seus inícios de romance. Também original é a poeta Marília Garcia, que confecciona, ela própria, as suas cadernetas, munida de papel canson, linha de costura e tintas. Enquanto isso, Angélica Freitas anda apaixonada pelo caderno comprado num supermercado de Portugal, país de onde também vem um dos (atuais) bloquinhos preferidos de Carlito Azevedo".

"Enquanto criava Grande Sertão: veredas, Guimarães Rosa mantinha um caderno de notas. Sentava-se diante dele todos os dias e escrevia furiosamente, sobre os temas mais diversos: das banalidades do dia a dia a questões transcendentais. Quando sentia que já havia esgotado todas as ideias da cabeça -- ou seja, que já havia "limpado o aparelho", como ele mesmo chamava -- trocava de caderno e ia escrever mais um trecho do Grande sertão."

"Outra que não vive sem o contato com a folha em branco é Carola Saavedra, que costuma anotar todo o processo de criação de seus romances em cadernos: o desenvolvimento do enredo, as características dos personagens, os problemas que surgem no desenrolar da trama."

"Um moleskine mudou a vida do escritor, roteirista e quadrinista Lourenço Murarelli".

Plantão Ortográfico

A TV Cultura e a Fundação Padre Anchieta disponibilizaram o site Plantão Ortográfico, no qual estão as novas regras ortográficas, além de vídeos explicativos do professor Pasquale.

O endereço do site é: http://www3.tvcultura.com.br/plantaoortografico/.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Resenha: O fazedor de velhos



Quando comprei o livro O Fazedor de Velhos, de Rodrigo Lacerda, fui atrás do que havia escrito na minha listinha do "a comprar": romance de formação.

Isso é um ímã para mim. O título era instigante e falava sobre a vocação para a escrita. Ponto duplo.

Ao recebê-lo, me chamou a atenção o livro ter vindo lacrado. Como comprei pela internet, não sei se nas livrarias ele também está assim. De qualquer forma, aumentou minha expectativa com o que teria pela frente.

Mas Rodrigo não decepcionou. Como diz o título do primeiro capítulo, o livro "começa sem a gente perceber".

O primeiro capítulo nos apresenta as origens literárias de Pedro, nas quais não faltam versos apresentados e narrados pelo próprio personagem. E essa influência é clara logo na primeira frase: "Eu não me lembro direito quando meu pai e minha mãe começaram a me enfiar livros garganta abaixo".

Em seguida acontece o primeiro encontro de Pedro com um velho misterioso, ainda aos 16 anos, no aeroporto, quando Pedro já dá sinais de toda a sua criatividade. Um novo encontro ocorre em sua festa de formatura. No momento em que Pedro tem sua primeira decepção amorosa, ele também descobre que o professor palestrante é na realidade o mesmo homem misterioso do aeroporto e se chama Nabuco.

Pedro inicia a faculdade de História, mas logo depois entra em crise, por não ter certeza de sua vocação.

Em busca das respostas que precisa, seu destino cruza novamente com Nabuco, e a partir de uma sequência de testes que o professor o submete, além de uma nova paixão, ele vai descobrindo essas respostas.

Como o próprio Nabuco diz à Pedro, ele é um homem de bom coração. E esse ensinamento sobre a esperança, a bondade na natureza humana sobressaem no livro. É preciso se resgatar isso, para que possamos vislumbrar tempos melhores.

Após terminar a leitura, que fiz de um fôlego só, fiquei feliz com a sensação boa que o livro me despertou. Apenas estranhei a linguagem para um romance adulto, até ler a ficha bibliográfica (que a Cosac Naify traz no final do livro) e descobrir que era um livro Infanto-Juvenil.

Isso me bastou para eliminar o único senão (que nem chegou a ser um senão), e admirar ainda mais o trabalho de Rodrigo Lacerda, pois ele conseguiu oferecer aos jovens um material belíssimo, mas que não agrada apenas aos jovens de idade, mas a qualquer um que ainda tenha um pouco de pureza no coração, e ache isso importante para se viver com grandeza cada um dos nossos dias.

Então eu recomendo: se você tiver de 10 aos 100 anos, pegue O Fazedor de Velhos, e se deixe entregar a sentimentos bons, enquanto lê.

Trechos do livro:

"Fui trabalhando; uma, duas, três semanas. Comecei a me divertir. Os personagens eram muitos reais. Aos poucos, estabeleci relações próprias com cada um deles. Recriminava os bonzinhos quando erravam, quando eram ingênuos, quando tomavam todo mundo pela própria bondade e, claro, acabavam se ferrando. Compreendia os motivos que levavam os malvados a cometer suas maldades. Alguns eram verdadeiros abismos de emoção".

"Por alguns instantes, ruminei a idéia. No final, me convenci. O professor tinha mesmo o poder de nos fazer pensar e de nos fazer sentir coisas estranhas. E conviver com ele dava mesmo a sensação de se estar mais velho".
Mais sobre o livro:
Título: O Fazedor de Velhos
Autor: Rodrigo Lacerda
Editora: Cosac Naify
Sinope: "Rodrigo Lacerda narra neste livro a passagem de Pedro para a vida adulta. O adolescente descobre que a vida pode não ser tão doce quanto a primeira paixão, e encontra na literatura um caminho para buscar suas respostas. Mas o que torna 'O Fazedor de Velhos' uma novidade do gênero é sua capacidade de reavivar a ternura e o afeto como sentimentos que também participam do processo de amadurecimento. Neste romance de iniciação, Rodrigo traça o retrato de um artista quando jovem. O personagem Pedro tem dúvidas sobre seus caminhos, o que o leva a pensar em desistir da faculdade de História. Eis que conhece Nabuco, um professor que o auxilia na difícil tarefa de se colocar no mundo. E por meio dos livros conhecerá a si mesmo. Sobretudo quando aparece Mayumi, por quem sentirá uma nova forma de amor. "

Vale-cultura

O Governo Federal com intuito de ampliar o acesso da população às opções culturais propôs a criação de um vale-cultura.

Na quarta-feira (11/02) o ministro da Cultura, Juca Ferreira, divulgou que os detalhes sobre o vale-cultura serão anunciados logo depois do Carnaval.

O valor do benefício é de R$ 50,00 e será usado para peças de teatro e compra de livros. O objetivo é que o mesmo seja similar a outros benefícios como o vale-refeição. Somente empresas que pagam impostos com base no lucro real poderão disponibilizar o vale-cultura aos trabalhadores.

Resta saber como ficarão os incentivos a essas empresas para distribuição desse vale-cultura. Não acredito que ele seja totalmente subsidiado. Sendo assim, para que funcione, caberá ao governo proporcionar redução de impostos ou isenção fiscal como acontece com os vales transporte e refeição.

Fonte: Globo online do dia 11/02.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Mensagem da semana: poesia de Drummond

Se ontem foi a poesia de Paula Cajaty que me enlaçou, hoje ao rearrumar umas revistas, abri logo de cara na poesia de Drummond. E sobre ele, o nome já fala por si.

E para que vocês continuem respirando poesia, que sempre renova nossa prosa, um pouquinho de Carlos Drummond de Andrade:

Notícias Amorosas, de Claro Enigma
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Amor, de Amar se aprende amando
O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor, sublime selo
que à vida imprime cor,
graça e sentido.

'Amor' - eu disse - e floriu uma rosa
embalsamando a tarde melodiosa
no canto mais oculto do jardim,
mas seu perfume não chegou a mim.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Novo livro de contos da Livia Garcia-Roza


Tem livro novo da Livia, pessoal!

É um livro de contos, mas com uma característica toda especial. Livia vem recriando e atualizando histórias infantis consagradas. Entre as narrativas: Branca de Neve, A cigarra e a formiga, As mil e uma noites e Pluft, o fantasminha.

O conto "Mamãe fantasma" (sobre Pluft, o fantasminha) foi publicado esse mês no Jornal Rascunho. Uma preciosidade.

Vou confessar, bem baixinho, já havia tido o prazer de ouvir esse conto, lido pela própria Livia. Pena que o livro não vem com áudio. Seria um presente a mais.

Era outra vez é um livro para resgatar o que se tem de melhor da infância dentro desses adultos enlouquecidos que somos nós.


Mais informações:
Editora : Companhia das Letras

Sinopse: "Livia Garcia-Roza apresenta situações em que as obras originais são subvertidas e reinventadas para um cotidiano atual. Os protagonistas são crianças e adultos que vivem os dilemas e as dificuldades típicas do mundo contemporâneo: pais e mães estão ocupados demais para atentar para os filhos, irmãos e irmãs não param de se torturar e os pequenos muitas vezes parecem mais maduros que a gente grande. Com muito humor, essas histórias ganham novos sentidos e mostram como a fonte da imaginação é não apenas inesgotável, mas também imprevisível e prato cheio para novas interpretações."

Em pré-venda para 12/02/2009 nos sites da Livraria Cultura e Saraiva.com.

Estou na fila!

Afrodite invadiu meu dia



Estou leve nessa terça-feira. Sonhadora. E a causa disso tudo foi a poesia da Paula Cajaty. Estava em débito por ainda não ter iniciado a leitura de seu livro. Sou assim mesmo, minha estante transborda de livros, muitos que me vi apaixonada pela história, e ainda não consegui chegar nem perto. Mas ontem, preteri os contos, as teorias, os romances, e me joguei de cabeça em sua poesia.

E como me arrependi de não ter feito isso antes. Por já conhecer seus escritos, em prosa e verso, esperava encontrar um livro que expressasse sua delicadeza, mas ela me surpreendeu. São lindos os poemas, e não é redundante dizer que são extremamente poéticos. Transborda muita sensibilidade. Daquela que não nos deixa sair sem que estejamos diferentes. E sempre com a sensação de querermos voltar ao início, para reler e sentir novamente as mesmas emoções, ou melhor, emoções díspares. Pois cada leitura nos traz uma impressão melhor.

Espero que a querida Paula não se incomode com meu abuso, mas vou reproduzir aqui dois poemas dos que mais gostei. Foi difícil selecionar. Foram muitos que me pegaram de jeito. E no final, me agarrei a dois deles, e não tive como abdicar de nenhum. Vocês vão dizer, mas os dois falam de voo, e talvez isso reflita exatamente meu espírito sonhador, que quer alçar voo, quer se libertar dos pequenos problemas, e enxergar as pequenas bençãos sempre com olhos de primeira vez.

Espero que dê a vocês um gostinho de quero mais... E que possam se deixar entregar a essa poesia. Para saber mais sobre a Paula Cajaty ou ler outros poemas que ela escreve, deem um pulinho em seu site: http://www.paulacajaty.com/. Tem dois vídeos no YouTube, a respeito do lançamento do livro e de algumas leituras que ela fez na Primavera dos Livros, no ano passado.


PRIMEIRO VÔO

quando um pássaro quer voar
ele não testa não,
é na marra,
tem que acertar
de qualquer jeito
tem que se jogar
de lá de cima
com medo e com tudo
e pegar o jeito na asa
no tempo certo
pra não morrer

e ele só faz isso
só se joga no vazio
porque precisa voar
quando sente a certeza do vôo
dentro de si
porque ainda mais importante
do que nascer com asas
é o instinto
de que vai se jogar um dia.

PIPA NA VENTANIA

quanto mais o vento sopra
mais ela quer voar
empinar
fugir no céu
pra onde puxa a ventania
ele dava linha
ela voava na mão dele
e então cruzaram no céu
como se fosse no mundo
afiados no cerol
cortando a vida
rodopiando no chão.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Decálogo do Autor

Decálogo do Autor
Por Miguel Sanches Neto

(Fonte: Revista EntreLivros - edição nº 27)


I. Não fique mandando seus originais para todo mundo. Acontece que você escreve para ser lido extramuros, e deseja testar sua obra num terreno mais neutro. E não quer ficar a vida inteira escrevendo apenas para uma pessoa. O que fazer então para não virar um chato?

No passado, eu aconselharia mandar os textos para jornais e revistas literárias, foi o que eu fiz quando era um iniciante bem iniciante. Mas os jovens agora têm uma arma mais democrática. Publicar na internet. Há muitos espaços coletivos, uma liberdade de inclusão de textos novos e você ainda pode criar seu próprio site ou blog, mas cuidado para não incomodar as pessoas, enviando mensagens e avisos para que leiam você.

II. Publique seus textos em sites e blogs e deixe que sigam o rumo deles.

Depois de um tempo publicando eletronicamente, você vai encontrar alguns leitores. Terá de ler os textos deles, e dar opiniões e fazer sugestões, mas também receberá muitas dicas.

III. Leia os contemporâneos, até para saber onde é o seu lugar.

Existe um batalhão de internautas ávidos por leitura e em alguns casos você atingirá o alvo e terá acontecido a magia de um texto encontrar a pessoa que o justifica.

Mas todo texto escrito na internet sonha um dia virar livro. Sites e blogs são etapas, exercícios de aquecimento. Só o livro impresso dá status autoral. O que fazer quando eu tiver mais de dois gigas de textos literários? Está na hora de publicar um livro maior do que Em busca do tempo perdido?

Bem, é nesse momento que você pode continuar sendo um escritor iniciante comum ou subir à categoria de iniciante com experiência. Você terá que reduzir essas centenas e centenas de páginas a um formato razoável, que não tome muito tempo de leitura de quem, eventualmente, se interessar por um livro de estréia. Para isso, você terá de ser impiedoso, esquecer os elogios da mulher e dos amigos e selecionar seu produto, trabalhando duro para que fique sempre melhor.

IV. Considere apenas uma pequenina parte de toda a sua produção inicial, e invista na revisão dela, sabendo que revisar é cortar.

O livro está pronto. Não tem mais do que 200 páginas, você dedicou anos a ele e ainda continua um iniciante. Mas um iniciante responsável, pois não mandou logo imprimir suas obras completas com não sei quantos tomos, logo você que talvez nem tenha completado 30 anos.

Mas você quer fazer circular a sua literatura de maneira mais formal. Quer o livro impresso. E isso é hoje muito fácil. Você conhece um amigo que conhece uma gráfica digital que faz pequenas tiragens e parcela em tantas vezes. O livro está pronto. E anda sobrando um dinheirinho, é só economizar na cerveja.

V. Gaste todo seu dinheiro extra em cerveja, viagens, restaurantes e não pague a publicação do próprio livro.

Se você fizer isso, ficará novamente ansioso para mandar a todo mundo o volume, esperando opiniões que vão comparar o seu trabalho ao dos mestres. O livro impresso, mesmo quando auto-impresso, dá esta sensação de poder. Somos enfim Autores. E podemos montar frases assim: Borges e eu valorizamos o universal. Do ponto de vista técnico, Borges e eu estamos no mesmo nível: produzimos obras impressas; mas a comparação não vai adiante.

Então como publicar o primeiro livro se não conhecemos ninguém nas editoras? E aí começa um outro problema: procurar pessoas bem postas em editoras e solicitar apresentações. Na maioria das vezes isso não funciona. E, mesmo quando o livro é publicado, ele não acontece, pois foi um movimento artificial.

VI. Nunca peça a ninguém para indicar o seu livro a uma editora.

Se por acaso um amigo conhece e gosta de seu trabalho, ele vai fazer isso naturalmente, com alguma chance de sucesso.

Tente fazer tudo sozinho, como se não tivesse ninguém mais para ajudar você do que o seu próprio livro. Sim, este livro em que você colocou todas as suas fichas. E como você só pode contar com ele...

VII. Mande seu livro a todos os concursos possíveis e a editoras bem escolhidas, pois cada uma tem seu perfil editorial.

É melhor gastar seu dinheiro com selos e fotocópias do que com a impressão de uma obra que não será distribuída e que terá de ser enviada a quem não a solicitou.

Enquanto isso, dedique-se a atividades afins para controlar a ansiedade, porque essas coisas de literatura demoram, demoram muito mesmo. Você pode traduzir textos literários para consumo próprio ou para jornais e revistas, pode fazer resenhas de obras marcantes, ler os clássicos ou simplesmente manter um diário íntimo. O importante é se ocupar.

Com sorte e tendo o livro alguma qualidade além de ter custado tanto esforço, ele acaba publicado. Até o meu terminou publicado, e foi quando me tornei um iniciante adulto. Tinha um livro de ficção no catálogo de uma grande editora. E aí tive de aprender outras coisas.

Há centenas de livros de iniciantes chegando aos jornais e revistas para resenhas e uma quantidade muito maior de títulos consagrados. E a maioria vai ficar sem espaço nos jornais. E é natural que os exemplares distribuídos para a imprensa acabem nos sebos, pois não há resenhistas para tantas obras.

VIII. Não force os amigos e conhecidos a escrever sobre o seu livro.

Não quer dizer que eles não possam escrever, podem sim, mas mande o livro e, se eles não acusarem recebimento ou não comentarem mais o assunto, esqueça e não lhes queira mal, eles são nossos amigos mesmo não gostando do que escrevemos.

Se um ou outro amigo escrever sobre o livro, festeje mesmo se ele não entender nada ou valorizar coisas que não julgamos relevantes em nosso trabalho. E mande umas palavras de agradecimeneto, pois você teve enfim uma apreciação.

E se um amigo escrever mal de nosso livro, justamente dessa obra que nos custou tanto? Se for um desconhecido, ainda vá lá, mas um amigo, aquele amigo para quem você fez isso e aquilo.

IX. Nunca passe recibo às críticas negativas.

Ao publicar você se torna uma pessoa pública. E deve absorver todas as opiniões, inclusive os elogios equivocados. Deixe que as opiniões se formem em torno de seu trabalho, e talvez a verdade suplante os equívocos, principalmente se a verdade for que nosso trabalho não é lá essas coisas.

O livro está publicado, você já pensa no próximo, saíram algumas resenhas, umas superficiais, outras negativas, uma muito correta. Você é então um iniciante com um currículo mínimo. Daí você recebe a prestação de contas da editora, dizendo que, no primeiro trimestre, as devoluções foram maiores do que as vendas.

Como isso é possível? Vejam quantos livros a editora mandou de cortesia. Eu não posso ter vendido apenas 238 exemplares se, só no lançamento, vendi 100, o gerente da livraria até elogiou -- enfim uma vantagem de ter família grande.

X. Evite reclamar de sua editora.

Uma editora não existe para reverenciar nosso talento a toda hora. É uma empresa que busca o lucro, que tem dezenas de autores iguais a nós e que quer ter lucro com nosso livro, sendo a primeira prejudicada quando ele não vende. Não precisamos dizer que é a melhor editora do mundo só porque nos editou, mas é bom pensar que ocorreu uma aposta conjunta e que não se alcançou o resultado esperado. Mas que há oportunidades para outras apostas e, um dia, quem sabe...

Foi tentando seguir estas regras que consegui ser o autor iniciante que hoje eu sou.


domingo, 8 de fevereiro de 2009

Decálogo do Leitor

Decálogo do Leitor
Por Alberto Mussa

(Fonte: Revista EntreLivros - edição nº 27)


I. Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.

II. Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinquentas, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, Garcia Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Calado, Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Veríssimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.

III. Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.

IV. Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.

V. Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.

VI. Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.

VII. Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.

VIII. Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda -- tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.

IX. A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.

X. Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.

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Espero que tenham gostado. Amanhã eu transcrevo o Decálogo do Autor.

Livros no celular

Saiu publicado hoje no Globo online. Meu celular é um smartphone, pena que toda vez que me conecto, sou cobrada por isso. Mas é uma evolução. Qualquer dia a gratuidade será para tudo.

"Google Book Search disponibiliza 1,5 milhão de livros para iPhone e G1

RIO - Fechando uma semana repleta de grandes novidades, o Google anunciou nesta sexta-feira o lançamento da versão mobile do seu serviço Google Book Search, disponibilizando cerca de 1,5 milhão de livros de autores como William Shakespeare e Mark Twain para serem lidos gratuitamente no iPhone e no G1 nos EUA, e cerca de meio milhão em outros países.
Em um post no seu blog oficial, a empresa explica que esses livros já estavam disponíveis no Book Search, mas agora foram criadas edições especiais para serem lidas em telas pequenas. Para testar o serviço basta apontar o navegador do seu smartphone para
http://books.google.com/m."

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Conto Telefonemas

Esse conto saiu publicado no site Histórias Possíveis.

Bem, para os que ainda não leram, espero que gostem.

Telefonemas
Ana Cristina Melo

Estava deitado na cama, a atenção em seu Flamengo que vencia o Cruzeiro, no Mineirão. A posição do time no campeonato era menos inglória do que sua performance sexual nos últimos tempos. Pudera: há doze meses se submetia a todas as insanidades da mulher, para garantir que conseguiriam o bebê tão desejado por ela. Não lhe era má a idéia de um filho, mas não podia imaginar que se esfalfaria de praticar o sexo para conseguir esse rebento.

Tudo começara com o decreto: “quero um bebê”. Estavam então há dois anos casados; emprego estável para ambos, maturidade na casa dos trinta, apartamento jeitoso no Catete, e não havia motivos para desprezar o projeto.

Como primeira providência, pílulas no lixo. Vera aumentara ainda a freqüência das relações para dias alternados. Elias, algumas vezes sucumbindo ao desgaste do dia, pedira trégua, o que gerou um pequeno terremoto, com acusações de desprezo ao filho que nem nascera, de insensibilidade com a aflição da mulher, e de estar falhando com suas obrigações. Paz sempre fora seu lema, e por isso lá ia ele, cansado, com sono, gripado ou murcho, buscar imaginação até mesmo fora da cama, para não permitir que a estrelinha deixasse de ser marcada no calendário. Teria valido a pena se Vera conseguisse engravidar. Três decepções e ela concluiu que um dos dois era estéril. Médicos foram procurados, Vera exigiu ressonâncias e espermogramas, os especialistas tentando convencê-la de que era muito cedo. Resultado: Elias foi obrigado a se submeter aos métodos conselhos-de-amigas.

A casa virou um laboratório amador de reprodução. Tabelas de ciclo menstrual coladas na parede do quarto, calendários presos na porta do banheiro, fitinhas para detectar o período fértil no criado-mudo e telefonemas enlouquecidos no meio do dia.

— Elias, desce agora.

— O quê, Vera? Onde você está?

— Prestes a ganhar uma multa se você não descer em dois minutos.

Eram dez da manhã. Longe da hora do almoço, mas disposto a não contrariá-la, Elias se deixou seqüestrar para um motel na Glória. Essa foi a primeira entre muitas vezes em que Vera percebeu, no meio do expediente, que estava em seu período fértil. Nesses dias, ele tinha medo de voltar para casa. Sabia que não dormiria antes das duas da madrugada, tendo ao seu lado um ser deitado com o quadril sobre quatro travesseiros e as pernas esticadas na cabeceira da cama.

Dois meses depois, a mulher decidira optar pelo método-retenção. Elias era obrigado a guardar os craques da seleção por vinte dias, para soltá-los todos numa única partida. Começou a entender como se sentem os jogadores durante uma concentração.

Fracassada essa fase, ela tentou o método exercício-diário, que foi terminantemente repelido. Já haviam riscado oito meses. Voltaram a um especialista. Exames nela, coletas de sêmen à base da Playboy, sangue de ambos e o veredicto de normalidade. O problema, se existia, estava na cabeça de sua mulher.

Vera concordou em abandonar calendários, fitinhas, medições de temperatura, e acatar um intervalo de dois dias para cada relação.

Ela não falava mais nada, mas havia três meses que Elias a percebia tensa durante alguns dias do mês. Início da crise que culminava ao ouvi-la chorando no banheiro, encontrá-la chorando ao chegar em casa, ou despertar com seu choro de madrugada. Ele se calava. Era melhor não declarar o que ambos já sabiam. Esperava o tempo de secagem, que durava mais cinco dias, e depois tudo voltava à normalidade.

O time do Cruzeiro acabara de virar o jogo quando Vera saiu do banheiro. Seus olhos estavam inchados e Elias se perguntou se ela havia ficado mais silenciosa ou se ele estava desligado do mundo. Estranhou os passos contidos da mulher e resolveu arriscar “está tudo bem?”. Ela se virou para ele com um olhar cortante e manteve-se muda. Tirou a camisola, vestiu jeans, camiseta, e jogou a bolsa no ombro. “Onde você vai?”, ele arriscou perguntar. Circular pelo Catete às dez da noite não era uma idéia muito inteligente. Ela não respondeu. Ele ensaiou em pensamento obrigá-la a dizer, mas desistiu. Imaginou que só quisesse espairecer. Não contava com a ligação uma hora depois, uma verdadeira catarse, xingamentos e a notícia de que ela havia ido embora.

Tentativas frustradas de consertar a rachadura daquele casamento, incluindo a proposta de adoção, rechaçada por Vera, e Elias decidiu sair, deixando o apartamento só para ela. Foi morar com um colega de trabalho. Em todo tempo, sentiu falta da mulher, por quem ainda era apaixonado. Inconformado, um pouco raivoso, buscou esquecê-la em noitadas com amigos solteiros e amigas dadivosas.

Seis meses de separação, e o telefonema de Vera. Pedia um encontro para acertarem os detalhes do divórcio. O que deveria ter sido o começo de um fim, teve num beijo a fagulha para a volta. Passaram a se encontrar depois do expediente, duas vezes por semana, reacendendo aos poucos o fogo do relacionamento.

Um mês depois, noite de sábado. Elias, mais comportado, estava assistindo a um jogo de seu time, em mais uma derrota. O telefone tocou. Ouviu o “volta pra casa, papai” que lhe nublou os olhos. Bastaram duas horas para que o armário do apartamento estivesse novamente lotado.

Comemoraram a nova família no lugar mais visitado da casa, ele desejando que ela não soubesse das muitas noites de solteiro-pós-casado, ela feliz por ter usado pelo menos uma vez a sugestão da amiga: o método material-alternativo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Famosos estreiam como contistas

Próximos lançamentos


Passeando hoje pelo blog do Marcelino Freire, descobri a estreia de dois escritores já consagrados.

A primeira será do Milton Hatoum, romancista, premiado, que lança seu primeiro livro de contos, A Cidade Ilhada, pela Companhia das Letras. Conforme divulgado será no próximo dia 25.

A segunda estreia é da Beatriz Bracher, autora de Antonio, romance premiadíssimo em 2008. Lança seu primeiro livro de contos, Meu Amor, pela Editora 34, em 11 de março.

Vamos ficar de olho! A expectativa é grande.

Afrodite in verso na Livraria Odeon



Amanhã, dia 07/02, tem mais um evento Boca de Baco na Livraria Odeon. A programação pode ser conferida no site.

Mas ressalto a participação da querida colega Paula Cajaty que fará a leitura de poemas do seu livro Afrodite in Verso, a partir das 19h. Os textos falam de sensualidade e romantismo.

Vale a pena!

Começando bem

A matéria "A arte de começar bem" da Revista Língua Portugesa de dezembro (www.revistalingua.com.br), escrita por Braulio Tavares, fala sobre a importância de se fisgar o leitor logo de cara.

Concordo plenamente. Acho que precisamos envolver o leitor nas primeiras linhas. Fala-se em nocauteá-lo logo na primeira frase. Nem sempre isso é possível, mas acredito que os primeiros parágrafos são imprescindíveis para criar "o" clima.

Abaixo transcrevo o primeiro parágrafo da matéria. Começou bem, não?

Um editor de revista literária, que recebia centenas de contos por semana, tinha uma receita infalível para filtrar esse material.
"Leio a primeira página do conto, e depois a última. A primeira página tem de me dar vontade de continuar lendo sem parar. A última precisa me dar vontade de voltar atrás e saber o que aconteceu para resultar naquele desfecho."
Quando se tratava de um romance, ele fazia o mesmo com o primeiro e o último capítulo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Poema de Paulo Leminski

O poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989) foi também professor, tradutor e crítico literário. A edição de dezembro da Revista Língua Portuguesa (www.revistalingua.com.br), com matéria de Beth Brait, publicou um poema dele que tematiza a sintaxe e seu ensino, de forma bem humorada. A matéria explica ainda cada trecho, desconstruindo a técnica por trás da obra.

Abaixo transcrevo o poema:

O assassino era o escriba
Paulo Leminski

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito
inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, regular
com um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético
de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conetivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

Técnica por Graciliano Ramos

De novo uma matéria da Discutindo Literatura (edição nº 18). Aliás, essa edição estava maravilhosa. Por que só agora estou publicando? Tempo, meus queridos, ou a falta dele.

Dessa vez é a reportagem de capa sobre Graciliano Ramos, assinada por Clenir Bellezi de Oliveira.

Abaixo transcrevo trechos que falam da técnica, do quanto precisamos bater e apanhar para chegar à perfeição do que escrevemos.

Forjado em um estilo duro, rigoroso, de frases nominais, períodos curtos, com pouca adjetivação e ênfase nos substantivos e verbos, seus textos têm parentesco com o sertão duro que retratou. Em certa entrevista concedida em 1948, ele declarou:

"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazer seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer".

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Entrevista com José Mindlin

Na revista Discutindo Literatura (edição nº 18) li uma entrevista muito interessante com o bibliófilo José Mindlin. Abaixo transcrevo alguns trechos que me tocaram de forma especial.

Acho que nós, amantes incondicionais da literatura, temos essa obrigação. De falar, de mostrar, de exibir com orgulho o livro que lemos. Nunca falta um livro na minha bolsa. Meu amor é tão grande que fez nascer esse blog, que me fez depois de 20 anos de profissão na área de Informática, me deixar entregar à escrita.

Incentivo meus filhos sempre que posso. E acho que as escolas realmente pecam muito nesse quesito. Meu filho de 10 anos já leu muito mais livros do que a maioria dos brasileiros. Chegou a criar uma rede de empréstimos na escola. E foi porque ele já nasceu encontrando uma biblioteca de mais de 300 livros. E não me privo de ler um livro infantil para indicá-los.

Outro dia, minha princesinha de 4 anos, estava para cima e para baixo com o livro A casa que vendia elefantes da Livia Garcia-Roza. O barato foi escutá-la recontar a história com base apenas na sua memória, e nas ilustrações maravilhosas do livro. Cheguei a fazer uma gravação em áudio e mandei para a Livia. Ela adorou!

Vale a dica.

DL - Existe idade para começar a ler?
JM - O amor ao livro pode ser criado antes de a criança saber ler. No Brasil, a grande massa da população não tem livros em casa. Aí passa o papel para a escola. E na escola o importante é mostrar à criança que a leitura não é uma obrigação. É uma fonte de prazer. Eu tenho procurado fazer o que chamo de inocular o vírus do amor à leitura no maior número de pessoas. Principalmente crianças e jovens. É um vírus incurável. E faz bem. Pegando no começo da vida, pode ter certeza de que vai gostar até o fim.

DL - O senhor tem alguma mania na hora de ler?
JM - Gosto de ler em voz alta. Ajuda a criar o hábito. Guimarães Rosa eu li em voz alta. Tem uma musicalidade excepcional.

DL - Qual o pedido ou conselho que daria aos educadores?
JM - Mostrar que ler é um prazer. Uma vez sugeri introduzir no currículo escolar uma hora de leitura semanal. Os professores poderiam ler em voz alta, discutir e comentar com os alunos. Uma espécie de segundo recreio. O Alckmin [Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo] incluiu isso no currículo escolar. Uma hora de leitura por semana. Mas as escolas deveriam ter uma biblioteca e os alunos, em vez do recreio, deveriam ir para a biblioteca. Essa uma hora semanal despertaria o interesse. Não se pode pensar em educação sem leitura.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

E a moda continua...

E seguindo a moda, um outro juiz, dessa vez do Rio Grande do Sul, decidiu negar um pedido de indenização com uma sentença em forma de poema.

A notícia foi publicada hoje no blog Página Não Encontrada, especializado em notícias bizarras e curiosas.

Confiram a matéria em http://oglobo.globo.com/blogs/naoencontrada/#158435.

Penas alternativas e literárias

Guardem esse nome: Mário Azevedo Jambo. Ele é juiz da 2ª Vara Federal do Estado do Rio Grande do Norte.

Em abril de 2008, ele aplicou penas alternativas a três hackers que, pela Internet, roubavam senhas bancárias e clonavam cartões de crédito. A matéria saiu na revista Discutindo Literatura, nº 18 (veja abaixo). Até aí nada de novo. A diferença está na pena alternativa aplicada. Os infratores foram obrigados a ler Vidas Secas de Graciliano Ramos e o conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga de Guimarães Rosa, com a apresentação de relatórios trimestrais, escritos de próprio punho, revelando suas impressões sobre os temas principais de cada livro.

O texto da sentença pode ser lido no site da Revista Conjur.

Bem, não é que o juiz aplicou pena similar novamente.

No final do ano passado, uma portuguesa acusada por tráfico de drogas recebeu duas penas alternativas. A primeira a obriga a prestar serviços, por quatro anos, a uma entidade pública especializada no tratamento e recuperação de dependentes de drogas. A segunda, a condena a ler, durante três horas por dia, vários poemas de Fernando Pessoa e escrever uma análise sobre os mesmos.

A notícia acima pode ser conferida no Site No Minuto.

Fonte:
- Site Conjur
- Revista Discutindo Literatura nº 18
- Site No Minuto

Matéria da Revista Discutindo Literatura:

"CONDENADOS A LER
O que alguns consideram prazer, para outros é obrigação. Nessa encruzilhada frequentemente se encontra a prática da leitura. Seria, então, interessante saber como está é encarada por três acusados de praticar crimes na internet, isso porque um juiz do Rio Grande do Norte os condenou a... ler. Entre medidas como não frequentar lan houses, não ingerir álcool nem participar de redes de relacionamento como o Orkut, os infratores estão obrigados a ler obras literárias indicadas pelo juiz, e a entregar trimestralmente relatório "realizado de próprio punho", "revelando suas impressões sobre os temas principais de cada livro", segundo estabelece a sentença. Os dois primeiros livros são Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. Se não cumprirem integralmente as condições estabelecidas, os acusados ficarão sujeitos a uma nova decretação de prisão preventiva."

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Agenda literária

Dia 3/02 (terça) haverá na Livraria DaConde, às 20h, uma oficina gratuita de poesia.
Informações: Site da Livraria

No próximo dia 16/02 (segunda), Marcelino Freire estará ministrando a oficina Narrativas Breves (e outras nem tanto) na Estação das Letras. Será apenas no dia 16, de 17 às 22h. O preço é R$ 120,00.
Informações: site da Estação ou pelo telefone (21) 3237-3947