segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Pílulas dos cadernos literários (#1) - 29/08/2009

Vamos às pílulas (atrasadinhas) do Caderno Ideias & Livros (Jornal do Brasil) de sábado, dia 29/08/2009.

Êta mês de agosto. Sábado teve festa lá em casa, domingo totalmente dedicado aos tios que estão no Rio. Estou exausta, mas muito feliz. Contudo, a lista das pendências está assustadora. :)

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!Caderno Ideias (JB). Sábado (29/08/2009)!
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# Ataulfo do Estácio
* Em seu centenário de nascimento, o mineiro Ataulfo Alves tem a trajetória ligada aos criadores do samba urbano carioca. (Por Alvaro Costa e Silva)
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# Lorca, trágico e contemporâneo
* Claudio Castro Filho projeta a escrita dramática do autor espanhol no contexto ocidental, de Sófocles a Artaud (Por Wilson Alves-Bezerra)
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# Os lobos continuam lá
* Quinze anos depois, Rubens Figueiredo enxuga a linguagem de 'O livro dos lobos' e dá nova vida aos relatos (Por Ieda Magri)
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# Meninas que gostam de samba
* Narrador de Fabrício Corsaletti elege Buenos Aires como a cidade ideal para não escrever (Por Alvaro Costa e Silva)
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# Amor de perdição
* Sobre o livro de Mundos de Eufrásia, de Claudia Lage (Por Wilson Martins)
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# Uma abertura de possibilidades
* Heloísa Buarque de Holanda organiza 'ENTER', a primeira antologia online do Brasil (Por Márcio-André)
(
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# Bruxas que eram boas e fantasmas medrosos
* Peças de Maria Clara Machado são reeditadas em seis volumes (Por Carolina Leal)

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sábado, 29 de agosto de 2009

Programação hoje da Estação das Letras

A Estação das Letras tem hoje seu tradicional Livros na Mesa, com a presença de Carlos Nejar.

Clique nas imagens para ver detalhes.








quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Clipping do Clipping e minha indignação

O Publish News de ontem trouxe ótimos clippings que eu reproduzo aqui para vocês. Como o relógio está trabalhando contra mim essa semana (parece que anda de duas em duas horas o bichinho!), meus comentários serão rápidos e indignados.

Quando li a matéria que a nota fiscal se tornaria obrigatória para o comércio, impressão e edição de livros, isso não me caiu bem. Por que começar por essa área? Aí logo abaixo, dois posts depois, me vem a resposta. O Governo estuda novo imposto para os livros para viabilizar a implementação do Fundo Pró-Leitura.

Ah, por favor, fazer milagre com o joelho dos outros é demais! Tenho tanta pena do Governo. Tão pobrezinhos. Eles precisam ajudar a tantos políticos e suas empresas, bancar as viagens para toda a família, pagar os salários dos namorados das netas, dos mordomos, papagaios e outros tantos desempregados. Pois é, nada mais justo do que cobrar do povo (nem venha dizer que é das editoras, pois vocês sabem quem paga a conta), que, afinal de contas, paga tão pouco imposto, não é mesmo? Não importa se for 1% ou 0,00001%. Aliás lembrando impostos com zero vírgula na frente, lembram da CPMF. É melhor nem chamar, pois a bruxa pode voltar.

Então, só posso deduzir que é justo pagar mais um imposto nesse país tão rico, pois temos saúde de primeira, educação de segunda e um governo de quinta! Me poupem!

Nota fiscal será eletrônica para o setor em 2010
CBL Informa - 25/08/2009

"A partir do ano que vem a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) passa a ter obrigatoriedade nas modalidades de comércio, impressão e edição de livros. O documento tem validade em todos os estados da Federação e já é uma realidade na legislação brasileira desde outubro de 2005. No comércio atacadista de livros, jornais e outras publicações e de edição de livros o prazo para regulamentação se encerra dia 01/07/2010. No setor de impressão de livros, revistas e outras publicações periódicas e de edição integrada à impressão de livros o prazo para regulamentação se esgota dia 01/10/2010. Informações: jurídico@cbl.org.br."

Governo estuda novo imposto sobre livros
O Estado de S. Paulo - 22/08/2009 - Por Fabio Graner

"O Ministério da Fazenda discute internamente a possibilidade de criar um novo tributo a ser cobrado das editoras de livros para viabilizar a implementação do Fundo Pró-Leitura, instrumento para incentivar a leitura no País. A proposta, que tem origem no Ministério da Cultura, conta com o apoio de integrantes do gabinete do ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas não tem a simpatia da área técnica, principalmente Receita Federal e Secretaria de Política Econômica.

Os técnicos contrários à tributação avaliam que o momento de crise econômica não é propício para aumentar a carga tributária, ainda que de um setor específico. Além disso, um novo tributo tornaria ainda mais complexo o já complicado sistema tributário brasileiro. A avaliação desses técnicos é que, se não houver alternativa e for definida a tributação, o melhor seria elevar PIS/Cofins do setor.

Os defensores dentro do governo da nova tributação argumentam que esse foi um compromisso assumido pelos livreiros em 2004, quando, no Plano Nacional do Livro e Leitura, houve a desoneração de PIS/Cofins das editoras. A contrapartida assumida à época pelos editores foi a de as empresas contribuírem com 1% do faturamento anual para o Fundo Pró-Leitura, que financiaria atividades como montagem de bibliotecas e formação de professores e bibliotecários. Pelos cálculos preliminares do Ministério da Fazenda, a contribuição para o fundo representaria um custo de R$ 60 milhões por ano ao setor.

A eliminação do PIS/Cofins representou uma renúncia fiscal da ordem de R$ 300 milhões. O governo esperava que a desoneração resultasse na redução dos preços dos livros, o que, segundo uma fonte, não ocorreu. "As empresas usaram a desoneração e não contribuíram para o fundo", afirmou. "Os preços de livros só caíram recentemente por causa da crise."

O diretor de livro, leitura e literatura do Ministério da Cultura, Fabiano dos Santos Piúba, defendeu a contribuição do setor para o fundo, destacando que representaria "um compromisso social do setor para a constituição de um país leitor". Piúba ressaltou que o fundo vai fomentar a criação e modernização de bibliotecas, bem como a ampliação de seus acervos, formação de professores, bibliotecários, contadores de histórias e campanhas de leitura.

Apesar de ter concordado em contribuir para o fundo em 2004, o setor de livros hoje tenta buscar uma saída que represente um custo menor para o segmento. O presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), Jorge Yunes, informou que o setor apresentou ao Ministério da Cultura uma proposta alternativa para o abastecimento do fundo. Ele não quis dizer qual é a proposta, mas adiantou que também seria uma tributação, mas mais suave para o setor.

"O segmento inteiro está a favor do fundo, mas de uma forma que não dê prejuízo para o setor", disse Yunes. "O mercado vive hoje uma crise mundial, que afeta o setor. O preço do livro caiu, por isso, estamos propondo uma forma alternativa. Até o fim do mês devemos ter um acerto", disse. Segundo Piúba, a proposta prevê que a cobrança de 1% sobre o faturamento não seja feita sobre cada segmento (editores, distribuidores e livrarias), mas sobre o conjunto da cadeia para evitar cumulatividade. Assim, cada etapa contribuiria com 0,33%. "


Contadores de histórias do mundo
Blog do Galeno - 25/08/2009

"Começa nesta terça-feira, 25/8, na capital baiana, o Encontro Internacional de Contadores de Histórias. Realizado pelos Tapetes Contadores de Histórias, com patrocínio da Caixa, o evento reunirá até 30/8 importantes personalidades do Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Gana. Entre eles, o capixaba Fabiano Moraes. No início deste mês, o Sesc Copacabana, no Rio, foi palco do Simpósio Internacional de Contadores de Histórias, realizado pelo Instituto Conta Brasil. Vale a pena dar uma conferida no vídeo."

Colecionador de Frases
PublishNews - 25/08/2009

"O jornalista e escritor Humberto Werneck é um colecionador. Não de borboletas, como explica na apresentação de seu novo livro, mas de lugares-comuns e frases feitas. Há quase quatro décadas ele mantém o hábito de anotar, no cantinho de papel que estiver à mão, aquelas expressões que, de tanto uso, tornaram-se gastas. É o caso de “a escola da vida”, “abraçar uma causa” e “acreditar piamente”, apenas três exemplos entre as mais de 4.500 expressões espalhadas pelos 2.000 verbetes da obra O pai dos burros – Dicionário de lugares-comuns e frases feitas (Arquipélago Editorial, 208 pp., R$ 29). Nesta terça-feira, dia 25, a partir das 18h30, o livro será lançado na Livraria Cultura Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073 - São Paulo/SP)."

>> Completo o clipping acima com a matéria que saiu no Estadão de São Paulo

110 anos do nascimento de Borges

Na última segunda-feira, dia 24, os argentinos e o mundo celebraram os 110 anos de nascimento de Jorge Luis Borges (1899-1986).

Previsível essas comemorações, que nada mais servem do que aproveitar os anos múltiplos de 10 para relembrar os grandes escritores, aqueles que sobreviveram à morte e ao tempo. E, considerando esse motivo nobre, e o tanto que eu aprecio o escritor, eu vou na fila, e trago a matéria que saiu no blog Os Hermanos de Ariel Palacios, correspondente em Buenos Aires do Estadão de São Paulo.


24.08.09
110 anos de Borges
por Ariel Palacios

Seção: Cultura 01:00:00.

Borges, José Francisco Isidro Luís — Escritor e autodidata, nascido na cidade de Buenos Aires, então capital da Argentina, em 1889. Não é conhecida a data da sua morte, dado que os jornais — gênero literário da época — desapareceram ao longo de vastos conflitos de que os historiadores regionalistas hoje nos dão conta. As suas preferências foram para a literatura, a filosofia e a ética. Aquilo que do seu trabalho chegou até nós informa-nos suficientemente sobre o primeiro ponto, ao mesmo tempo que deixa entrever incuráveis limitações.

(Esta foi uma irônica biografia que Borges escreveu dele próprio, como se fosse o verbete de uma futura enciclopédia, a ser publicada em 2074 em Santiago do Chile, na qual seria tratado como um escritor secundário. Nesse verbete, sequer seu próprio nome estaria bem escrito...em vez de Jorge Francisco Isidoro Luis Borges, apareceria como José Francisco Isidro Luis Borges. E além disso, em vez de seu ano real de nascimento, 1899, apareceria "1889". Na parte de 'comentários' desta postagem, o futuramente apócrifo verbete completo).

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domingo, 23 de agosto de 2009

Inovações: eu ainda prefiro o velho e bom livro

Sou a última que pode ser contra o que a tecnologia ofereceu à literatura nos últimos tempos. Em primeiro lugar, pois sou Analista de Sistemas. E logo depois, pois sem dúvida a internet deu visibilidade aos lançamentos, aos escritores, os aproximou dos leitores, permitiu contatos, estreitou interesses.

Mas daí a determinadas "inovações", sinceramente ainda sou careta, retrógrada.

Por exemplo, leitor de livros como o Kindle ainda não me chamam a atenção. Leio com um lápis na mão. Não sei ler de outra forma. Há algo que faz diferença num texto: a mancha da página. Tente ler um texto com fonte Arial 9, espaçamento entre linhas simples, com margens de 1 cm de cada lado. Nâo dá, não é mesmo. Pois é essa a sensação que tenho ao ler um texto num leitor de livros: mancha inadequada.

Bem, as modernidades não param por aí. Um grupo de mexicanos resolveu escrever um romance com 10 capítulos. Até aí tudo bem. A questão é que cada capítulo tem no máximo 140 caracteres, que é o máximo permitido no twitter. Isso mesmo. Eles querem publicar o "romance" de 1400 caracteres no twitter. Acho que isso não tem outro objetivo a não ser marketing. (Leia matéria).

Na linha do twitter, outros experimentos foram feitos, como o do carioca Claudio Soares que adaptou a biografia romanceada Santos Dumont Número 8: O Livro das Superstições para a rede social das mensagens de 140 caracteres. Também serviu como divulgação. (Leia matéria).

Agora um norte-americano parte para mais uma ideia daquelas: a ficção interativa. São pequenos romances impressos em adesivos e colados em vários locais do planeta (aeroportos, bancos de praça etc.).

Sinceramente, cadê o velho livro, com cheiro de novo, capa bonita, papel de qualidade, leitura agradável, cheio de marcações na lateral?

Sou a primeira a defender a divulgação da literatura, mas sinceramente, não dá para classificar essas inovações como literatura. Dá?

Para saber o que motivou esse meu post, leia matéria completa sobre a ficção interativa no Estadão de hoje.

sábado, 22 de agosto de 2009

Pílulas dos cadernos literários (#1) - 22/08/2009

Vamos às pílulas do Caderno Ideias & Livros (Jornal do Brasil) de hoje. Ainda estou devendo algumas matérias do caderno Prosa & Verso da semana passada, mas aos pouquinhos vou pagando minha dívida. ;)

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!Caderno Ideias (JB). Sábado (22/08/2009)!
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# Entrevista: Uma índia, um padre e um sonho
* Ao mergulhar no universo indígena e pesquisar a obra do historiador e etnógrafo Capistrano de Abreu, Ana Miranda reinventa a linguagem em seu novo romance, Yuxin, que acaba de sair. Nesta estrevista, a escritora -- que morre de medo de floresta -- revela o seu processo de criação.
( Leia mais )

# O corvo e a mocinha
* De como o casamento com a suicida Sylvia Plath marcou a trajetória do poeta laureado Ted Hughes (Por Cassiano Viana)
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# Em torno do escritor de Praga
* Tradutor e especialista na obra de Kafka, Modesto Carone lança coleção de ensaios sobre o autor de 'A metaformose' (Por Alvaro Costa e Silva)
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# Sebald, o arqueólogo
* O autor alemão revela a dor e a melancolia dos refugiados em 'Os emigrantes' (Por Haron Gamal)
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# Um dicionário de escolhas íntimas
* Contos, poemas e ensaios recuperam a força da palavra nos dois lados do Atlântico (Por Lúcia Bettencourt)
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# As cartas de Dostoiévski
* (Por Luiz Horacio)
(
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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Programação da Bienal



A Folha de São Paulo publicou hoje uma matéria sobre os escritores que estarão na Bienal do Rio.
Clique na imagem para ver detalhes da programação.
O blog Prosa e Verso divulgou uma lista mais completa. Vale conferir enquanto o próprio site da Bienal não é atualizado.

CBL divulga os finalistas do Prêmio Jabuti 2009

Saiu! Estava marcado para 10h, mas eu estava esperando e... não saiu. Mas conferi agora pouco e está lá, a lista dos finalistas do Prêmio Jabuti desse ano.

Começo deixando meu beijo carinhoso e muitos parabéns para o queridíssimo Rodrigo Lacerda, com o seu juvenil O Fazedor de Velhos e para a Carola Saavedra com o romance Flores Azuis.

A lista completa dos finalistas pode ser conferida em: http://www.cbl.org.br/jabuti/telas/resultado/

Em 29 de setembro serão conhecidos os 3 vencedores de cada categoria e no dia 4 de novembro saberemos quem foi o livro do ano de ficção e de não-ficção.

Aqui uma pequena amostra:

Poesia:

DOIS EM UM -EDITORA ILUMINURAS LTDA - ALICE RUIZ S
CHOCOLATE AMARGO - EDITORA BRASILIENSE S.A. - RENATA PALLOTINI
ANTIGOS E SOLTOS:POEMAS E PROSAS DA PASTA ROSA - INSTITUTO MOREIRA SALLES - INSTITUTO MOREIRA SALLES
CINEMATECA - SCHWARCZ LTDA. - EUCANAÃ FERRAZ
A LETRA DA LEY - ANNABLUME EDITORA - GLAUCO MATTOSO
HOMEM AO TERMO – POESIA REUNIDA [1949-2005] - EDITORA UFMG - AFFONSO ÁVILA
OUTROS BARULHOS - REYNALDO BESSA - REYNALDO BESSA
GEOMETRIA DA PAIXÃO - ANOME LIVROS - DAGMAR DE OLIVEIRA BRAGA
OS CORPOS E OS DIAS - EDITORA DE CULTURA LTDA - LAURA ERBER
FERREIRA GULLAR: POESIA COMPLETA, TEATRO E PROSA - EDITORA NOVA FRONTEIRA - FERREIRA GULLAR
RÉQUIEM - CONTRA CAPA - LÊDO IVO
10º UMA HORA POR DIA - 7LETRAS - MARIA HELENA AZEVEDO


Contos e Crônicas:

CANALHA! - CRÔNICAS - EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA - FABRICIO CARPINEJAR
101 CRÔNICAS – UNGÁUA! - PUBLIFOLHA - RUY CASTRO
Ó - EDITORA ILUMINURAS LTDA. - NUNO ALVARES PESSOA DE ALMEIDA RAMOS
RASIF - RECORD LTDA - MARCELINO FREIRE
OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA - EDITORA PLANETA DO BRASIL - RUBEM ALVES
OS COMES E BEBES NOS VELÓRIOS DAS GERAIS E OUTRAS HISTÓRIAS - AUANA EDITORA - DÉA RODRIGUES DA CUNHA ROCHA
PING PONG - CHINÊS POR UM MÊS: AS AVENTURAS DE UM JORNALISTA BRASILEIRO PELA CHINA OLÍMPICA - MANUELA EDITORIAL LTDA. (EDITORA ARTE PAUBRASIL) - FELIPE MACHADO
CRÔNICAS E OUTROS ESCRITOS DE TARSILA DO AMARAL - EDITORA UNICAMP - LAURA TADDEI BRANDINI (ORG.)
ANTOLOGIA PESSOAL - RECORD - ERIC NEPOMUCENO
CHEIRO DE TERRA - CONTOS FAZENDEIROS - SCORTECCI EDITORA - LUCÍLIA JUNQUEIRA DE ALMEIDA PRADO
O SILÊNCIO DOS AMANTES - RECORD LTDA - LYA LUFT
10º VATAPAENSES VASOS COMUNICANTES - GM MINISTER - SERGIO DE ALMEIDA BRUNI


Infantil:

SETE HISTÓRIAS PARA CONTAR - EDITORA MODERNA LTDA - ADRIANA FALCÃO
COMILANÇA - EDITORA DCL - FERNANDO VILELA
NO RISCO DO CARACOL - AUTÊNTICA EDITORA LTDA - MARIA VALÉRIA REZENDE E MARLETTE MENEZES
ERA OUTRA VEZ UM GATO XADREZ - EDITORA RECORD - LETICIA WIERZCHOWSKI
MINHAS CONTAS - COSAC NAIFY - LUIZ ANTONIO
A HISTÓRIA DE BIRUTA - SCHWARCZ LTDA. - ALBERTO MARTINS
ZOO - EDITORA NOVA FRONTEIRA - JOÃO GUIMARÃES ROSA
E UM RINOCERONTE DOBRADO - EDITORA PROJETO - HERMES BERNARDI JR
A INVENÇÃO DO MUNDO PELO DEUS-CURUMIM - EDITORA 34 - BRAULIO TAVARES
10º ALMA DE RIO - CORTEZ EDITORA E LIVRARIA LTDA - ELLEN PESTILI


Juvenil:

O FAZEDOR DE VELHOS - COSAC NAIFY - RODRIGO LACERDA
A DISTÂNCIA DAS COISAS - EDIÇÕES SM (GRUPO SM) - FLÁVIO CARNEIRO
CIDADE DOS DEITADOS - COSAC NAIFY - HELOISA PRIETO
MONTANHA-RUSSA - COSAC NAIFY - FERNANDO BONASSI
SURFANDO NA MARQUISE - COSAC NAIFY - PAULO BLOISE
1808 - EDIÇÃO JUVENIL - EDITORA PLANETA DO BRASIL - LAURENTINO GOMES
BRINCOS DE OURO E SENTIMENTOS PINGENTES - EDITORA BIRUTA LTDA. - LUIZ ANTONIO AGUIAR
FIGURINHA CARIMBADA - GIRAFINHA - MÁRCIO ARAÚJO
CHUVA DE LETRAS - EDITORA SCIPIONE SA - LUIS ALBERTO BRANDÃO
MEU PAI NÃO MORA MAIS AQUI - EDITORA BIRUTA LTDA. - CAIO RITER
10º CONVERSA DE PASSARINHOS - EDITORA ILUMINURAS LTDA. - ALICE RUIZ S / MARIA VALÉRIA VASCONCELOS REZENDE


Romance:

FLORES AZUIS - SCHWARCZ LTDA. - CAROLA SAAVEDRA
CORDILHEIRA - SCHWARCZ LTDA. - DANIEL GALERA
ORFÃOS DO ELDORADO - SCHWARCZ LTDA. - MILTON HATOUM
GALILÉIA - OBJETIVA - RONALDO CORREIA DE BRITO
SATOLEP - COSAC NAIFY - VITOR RAMIL
MANUAL DA PAIXÃO SOLITÁRIA - SCHWARCZ LTDA. - MOACYR SCLIAR
A PAREDE NO ESCURO - RECORD LTDA - ALTAIR MARTINS
O LIVRO DOS NOMES - SCHWARCZ LTDA. - MARIA ESTHER MACIEL
UM LIVRO EM FUGA - RECORD LTDA - EDGARD TELLES RIBEIRO
10º HERANÇAS - ROCCO - SILVIANO SANTIAGO

Pílulas do caderno Mais! da Folha de São Paulo (#4)

Com esse post, chegamos ao final das pílulas do caderno Mais! da Folha de São Paulo, edição de domingo (16/08/2009).

E essa parte já deu o que falar pela rede. Respeito muito o trabalho que o Assis Brasil faz em suas oficinas, mas se concordo plenamente com sua regra 3 do "Para Ler" não há como eu concordar com algumas outras, como a regra 3 do "Para Escrever". Quando terminei de ler fiquei pensando se ele não teria sido vítima da falta de carpintaria no que escreveu. Mas depois relendo e atentando para a sugestão do Moleskine, vi que era aquilo mesmo que ele queria dizer.

Caramba! Um Moleskine custa cerca de R$ 50! E mesmo que custasse R$ 10, não é ser o de melhor qualidade (e maior preço) que vai tranformar meu texto numa obra-prima.

Para mim, bons cadernos, boas canetas, bons lápis podem custar míseros dois reais, mas precisam ser cúmplices do meu texto. Cúmplices, pois adoro escrever à mão. Computador só para passar a limpo. Escrevo e corrijo à mão. E faz diferença o tipo da folha. Quando vou comprar um caderno, procuro os que tenham a linha clarinha. Por que? Porque linha escura se mistura com o tom da tinta. Linha clara deixa que a tinta se destaque e a tinta é nada mais, nada menos que o seu texto. Preciso de uma caneta, bic que seja, em que minha letra já redonda, flua mais redonda ainda. Lápis ou lapiseiras macios que façam eu deslizar pelo papel enquanto as ideias transbordam.

Talvez seja isso que o Assis Brasil quis dizer, mas derrapou ao sugerir o Moleskine.

Quanto às dicas do Marcelino Freire, se concordo plenamente com as regras 1 e 3 do "Para escrever", tenho que discordar de algumas outras, principalmente da regra 3 do "Para escrever". Lembro que eu não tinha coragem de ler alguns textos meus para minha mãe. Selecionava o que iria ler para ela. Mas um dia, ganhei um concurso com um livro de texto forte. Li. Ela fez uma cara! Mas adorou!

E como complemento: não quero um livro que me faça mal, mas que me faça diferença. ;)

Já as dicas do Fischer eu concordei na maioria. Todas do "Para escrever".

Então, eu diria a quem dá dicas, comece pela seguinte:

- Não tenha preconceitos. Lembre-se que todos somos diferentes, portanto o natural é que nossos textos também sejam. O que agrada a um, certamente vai ser repelido por vários outros. Então, apenas escreva. Mas antes: leia, leia, leia.


O QUE FAZER COM UM TEXTO?

Três professores de oficinas literárias chamam a atenção para regras básicas de leitura e escrita

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

>> Para ler

1. Ignorar os best-sellers, por maior que seja a tentação. Deixe passar cinco anos. Se o livro ainda respirar bem, pode investir.

2. Ler com desconfiança o que lê. Se o livro resistir a essa leitura, é porque é bom.

3. Ler com um lápis na mão. E usá-lo.

4. Conhecer pessoalmente o escritor só depois de ler o livro; caso contrário, a figura do escritor ficará colada ao texto, como um fantasma.

5. Ler edições que tenham bom gosto. Uma edição amadora piora dramaticamente o livro.


>> Para escrever

1. Dedicar mais tempo à leitura do que à escrita.

2. Usar em abundância o ponto final, especialmente quando a frase resiste a qualquer conserto.

3. Usar material de primeira qualidade: bom computador, bom papel de impressão, bons cadernos (sugiro o Moleskine), boas canetas, bons lápis.

4. Não levar o laptop para a cozinha ou para a sala de visitas. Se não tiver um gabinete exclusivo, o quarto é uma boa escolha.

5. Escrever apenas sobre o que conhece perfeitamente, mesmo que seja um romance passado no futuro.


Luiz Antonio de Assis Brasil é professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e autor de "Ensaios íntimos e imperfeitos" (L&PM), entre outros livros.



MARCELINO FREIRE

>> Para ler

1. Quanto mais um livro fizer mal, melhor.

2. Confortável precisa ser a cama, não a literatura.

3. Evitar lista dos mais vendidos.

4. Livro não é para ser entendido, é para ser sentido.

5. Desconfiar das dicas que te dão.



>> Para escrever

1. Cortar palavras.

2. Não usar gravata na hora de escrever.

3. Ouvir, mesmo que baixinho, a própria voz.

4. Desconfiar daquele texto que sua mãe gostou.

5. Ler e beber muito. E, no mais: viver.



Marcelino Freire é autor, entre outros livros, de "Contos Negreiros" (ed. Record) e organizador de "Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século" (Ateliê).



LUÍS AUGUSTO FISCHER

>> Para ler

1. Se você estiver diante de um clássico provado pelos tempos -- Shakespeare, Voltaire, Machado de Assis -- e acontecer alguma dificuldade na leitura, pode ter certeza de que o problema é seu, não do texto. Bons textos muitas vezes exigem mais de uma tentativa de leitura.

2. No concreto de uma leitura, pode acontecer que a fruição fique embaçada. Antes de entrar em pânico, tente localizar o foco do impasse: se for uma palavra específica que seja desconhecida, para isso existe o dicionário; se não, volte a atenção para os "que", para os nexos entre as partes da frase.

3. Um texto literário, obra de arte que é (ou aspira a ser), tem direito de ser como é, em sua integridade. Isso alerta para a necessidade de a leitura ser respeitosa: o leitor deve dispor-se a receber as informações e as formas do texto tal como o autor as concebeu. Mas isso não impede que o leitor comum pule fora ao perceber que seu honesto empenho de leitura não está sendo recompensado.

4. Um texto literário merece ser lido em pelo menos duas dimensões, uma linear e a outra enviesada. A segunda é menos perceptível, mas muitas vezes é decisiva, e tem sua carnadura num plano alusivo, nas chamadas entrelinhas, num patamar figurado ou alegórico. A boa leitura não pode contentar-se com a decifração daquela primeira dimensão, necessitando uma atenção mais difusa, próxima da atenção que os psicanalistas praticam ao ouvir o paciente.

5. Em narrativas, um detalhe radicalmente importante, em especial nos romances e contos escritos a partir do século 19 (no Brasil, o marco é Machado de Assis, mas você pode pensar em Dostoiévski, em Poe, em Flaubert), é o jeito de ser do narrador. O bom leitor sempre mantém em vista que o narrador pode ser parte interessada no enredo, pode ser parcial na avaliação dos fatos e das pessoas que menciona, pode saber mais ou menos do que aparenta.


>> Para escrever

1. Tenha sempre em conta que do outro lado de seu texto há, na melhor hipótese, um leitor; e que essa figura, preciosa e fugidia, pode abandonar o barco a qualquer momento. O autor tem todo direito de radicalizar sua escrita, ser inventivo e ousado, mas também o leitor tem o direito de radicalizar por sua parte, caindo fora.

2. Uma das escolhas básicas para quem escreve um relato diz respeito à distância que o texto vai colocar entre a voz narrativa e o(s) personagem(ns), entre as palavras que o leitor vai ler e a vida íntima do personagem, dentro do enredo. Mesmo um narrador de terceira pessoa pode ser muito próximo dos fatos e das pessoas envolvidas, pode acompanhar as ações muito de perto, assim como um narrador de primeira pessoa pode manter uma distância relativamente serena a respeito dos fatos.

3. Embora no sentido trivial o leitor é quem escolhe o texto que vai ler, num sentido muito profundo é o texto que escolhe seu leitor: suas escolhas vão delimitando o universo potencial dos leitores, que serão mais ou menos sofisticados ou numerosos conforme as opções do autor. Confrontar ou agradar o leitor, eis uma questão que é bom ter em mente, para fazer a escolha que interessa (nisso os grandes revolucionários têm muito a ensinar; veja como Miguel de Cervantes, Honoré de Balzac, Machado de Assis e outros tratam o leitor.)

4. Escrever é, em grande medida, administrar entre conhecido e desconhecido, redundância e informação. Um dos riscos sempre implicados nesse campo é o de depender do "background" do leitor, das informações que ele traz (ou não) consigo. Muitas vezes um relato sucumbe porque espera que o leitor aporte conteúdos para compor o sentido de alusões, entreditos, sugestões que o enredo contém.

5. Quem inventa uma ficção está mentindo e espera que o leitor aceite a mentira. Mas sobre essa base há uma outra camada de indispensável verdade: o escritor nunca deve trapacear, nunca fazer pose ou jogar para a torcida. Se começar a contar uma história, tem que assumir o compromisso de contar tudo que importa para que ela aconteça.

Luís Augusto Fischer é crítico literário, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor de "Machado e Borges" (ed. Arquipélago), entre outros.

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Confira lista e informações sobre oficinas de texto em vários Estados: www.folha.com.br/0922515

Obras indicadas:
- A Preparação do Escritor, de Raimundo Carrero
- Para Ler como um Escritor, de Francine Prose
- Oficina de Escritores,de Stephen Koch

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Pílulas do caderno Mais! da Folha de São Paulo (#3)

Abaixo continuação da matéria que saiu no último domingo (dia 16/08/2009).

Ressalto uma frase do Daniel Galera que acho diz tudo sobre a utilidade de uma oficina literária na vida de um escritor: "eu sabia sem saber".

É isso. Todo aspirante a escritor sabe que é preciso ler muito, sabe que é preciso trabalhar duro sobre o texto, carpintaria para transformar carvão em diamante. Mas, na grande maioria das vezes, o escritor sabe disso sem saber. Ele faz, ele sabe fazer, mas tateia no escuro. Até que alguém lhe oferece a luz.

Muito antes de fazer minha primeira oficina, eu já havia sido premiada em três concursos literários. Mas tateava no escuro. Não entendia porque alguns textos "funcionavam", outros não. Quando entrei numa oficina, passei a enxergar onde estava problema. Hoje meus textos mantém um mesmo padrão, melhor do que eu escrevia nos primeiros anos. Cada vez estou mais exigente, busco o ótimo a partir do bom, mas acho que todo escritor faz isso a vida toda. O próprio Lobo Antunes falou sobre isso na Flip.

Em Informática temos um modelo que se chama CMM (Capability Maturity Model). Numa definição para leigos (de informática) significa um modelo que propõe capacitar uma empresa a ser madura, ou seja, a ser capaz de reproduzir o sucesso obtido com alguns projetos. Às vezes algumas equipes de desenvolvimento conseguem entregar um produto com qualidade, porque a equipe é boa. Mas se uma peça dessa engrenagem for trocada, talvez não consigam repetir esse feito. O modelo CMM busca organizar as tarefas, criar métricas, determinar o que é preciso para que o bom resultado seja fruto de boas práticas. Mas a empresa precisa provar que sabe usar essas boas práticas para receber uma certificação CMM.

É isso o que acontece numa oficina. Ensina-se as boas práticas, mas o escritor precisa provar que é capaz de fazer uso delas, para receber o nome "escritor"... tendo ou não um livro publicado. ;)


RELATO DE UM ESCRITOR APRENDIZ
Daniel Galera descreve sua participação no curso de técnicas de leitura e escrita que, de forma 'surpreendente e inevitável', fez dele um autor

Por Daniel Galera
especial para a Folha


Surpreendente, mas inevitável. Quando, em algum momento de 1999, o professor Assis Brasil [que coordena oficinas de texto na PUC-RS] colocou nesses termos para seus alunos o desfecho ideal de todo o conto, eu sabia exatamente do que ele estava falando. Sabia porque, aos 20 anos, já tinha lido centenas de contos. Mas eu sabia sem saber.

Tinha a experiência, mas não a consciência da experiência. Sabe lá quanto tempo eu levaria para chegar sozinho a uma fórmula tão elegante para definir o instante em que o subtexto, tão essencial ao conto moderno, vem à tona. Talvez nunca chegasse. Foi esse tipo de coisa que a oficina de literatura do Assis me deu de bandeja.

Quando entrei na oficina, eu já escrevia contos e os divulgava na internet, mas me considerava um diletante. Era um sujeito que só começava a suspeitar que a literatura talvez não fosse um interesse passageiro como outrora foram o violão, as histórias em quadrinhos, o web design.

Eu cursava publicidade e propaganda sem convicção nenhuma, e o futuro me parecia um shopping center onde teria de passar a tarde a contragosto num domingo de chuva. Mas eu lia muito desde piá, e aquela coisa de escrever ficção estava ficando séria. Por isso me inscrevi na oficina.

Recuemos um pouco. Um dos contos que mais marcou minha, cof, juventude, foi "O Beijo", de Anon Tchekhov. O enredo é simples. Um batalhão de soldados russos acampa num vilarejo e é convidado por um aristocrata local, o general Von Rabbek, para um chá festivo. Um militar particularmente tímido e apagado, de nome Riabovitch, perde-se nos corredores escuros da mansão e é beijado por uma mulher desconhecida que estava à espera de um outro qualquer.

O incidente afeta o ingênuo protagonista de maneira duradoura. Ele passa as semanas seguientes em deslumbramento, fantasiando sobre a identidade e a aparência da mulher. O sentimento de alegria persiste. Marchando à noite, ele tem a impressão de que a luz distante de uma janela ou fogueira está piscando secretamente para ele, como se soubesse do beijo.

Tempos depois, o batalhão acampa de novo no vilarejo. Riabovitch torce para que o general os convide para outro chá, na esperança de rever a mulher. Mas a essa altura ele já começa a reconhecer a insignificância do episódio do beijo, constatando o abismo entre o fervor da sua imaginação e a indiferença do mundo ao redor. E então o mensageiro do general de fato vem e novo convite é feito ao batalhão. Riabovitch, amargurado, decide não ir e se mete na cama.

Esse conto sempre me casou profunda impressão, e fiquei muito tempo sem entender o motivo. Há elementos óbvios com os quais todo ser humano se identificaria. "Todo esse sonho que agora me parece tão impossível e excepcional é na verdade bastante ordinário", conclui Riabovitch ao escutar as conversas vulgares de seus companheiros sobre encontros com mulheres.

Subtextos

Quem não passou longos períodos entregue a fantasias, amorosas ou não, apenas para "cair na realidade" de uma hora para outra? Quem não conhece a frustração ou a melancolia que disso resulta? Mas o conto é muito mais do que isso. Do que, então, ele realmente trata?

Numa das várias aulas em que abordou o subtexto literário, Assis Brasil nos deu como exemplo uma famosa anotação para um conto encontrada num caderno de Tchekhov: "Um homem vai ao cassino de Monte Carlo e ganha uma fortuna na roleta. Volta para o hotel e se suicida". Essa é a história aparente do conto, e supõe-se que o elemento crucial, o motivo de o homem matar-se nessa estranha circunstância, seria infiltrado no enredo como história oculta, ou subtexto.

Cabe ao leitor captar o subtexto. Cabe ao escritor dar-lhe pistas na dose exata para que a descoberta exija esforço e seja recompensadora na mesma medida. O suicídio deve ser surpreendente. Mas também deve ser inevitável. Como a atitude de Riabovitch no final de "O Beijo".

Por trás de todo conto há uma parábola, ou seja, a projeção de uma história em outra história. O conto aponta para outra narrativa que o extrapola, e que se encontra em grande parte na experiência de vida do leitor. Construir essa ponte faz parte da nossa natureza.

Narramos sem parar, seja na comunicação com os outros ou no domínio da introspecção. É o que fazemos ao procurar o "sentido" de "O Beijo", e é o que faz Riabovitch ao combinar detalhes de todas as moças presentes na mansão para criar sua musa particular e transformar o beijo acidental numa elaborada fantasia.

Eis o "nocaute" do conto: o autor cria condições para que uma potente parábola seja escrita com a participação do leitor, mas entrega a chave só no final. O desfecho é o começo.

Depois das conversas sobre subtexto na oficina, reli "O Beijo" e finalmente percebi como esse mecanismo entrava em ação. Por mais tocante e lindamente narrada que seja toda a história aparente de Riabovitch, e por mais que em seu desfecho ele sufoque a alegria momentânea, abdique da possibilidade de rever a mulher e se meta na cama, resignado, sentindo raiva de seu destino, a verdade é que ele toma a decisão correta. E o faz porque seu exaustivo exercício de fantasia o transformou numa pessoa melhor.

Tchekhov tenta esconder isso ao máximo, e chega a apelar, numa das últimas frases, quando põe seu personagem a observar a água do rio que passa pelo vilarejo: "Em maio ela tinha corrido para o grande rio, e do grande rio para o mar; então subiu em forma de vapor, virou chuva, e talvez a mesma água estivesse correndo agora de novo diante dos olhos de Riabovitch... Para quê? Por quê?".

Releitura

E eu respondo, projetando a história que Tchekhov me deu numa outra que ele me convida a criar, com base no pouco que já sei do mundo: para que Riabovitch perceba que nesse retorno a água pode ser a mesma, mas ele próprio não. Ele mudou para sempre.

Para que vá se deitar um pouco mais próximo de si mesmo, sem gastar suas energias inultimente na tentativa de ser sociável e mulherengo como seus companheiros de batalhão, pois ele sabe faz tempo que é diferente de todos eles e já concluiu que um dia, cedo ou tarde, uma mulher passará por sua vida. Para que seja capaz de abrir mão. Podemos nos surpreender com sua decisão, mas ela é inevitável.

Não creio que uma oficina literária possa forjar um talento. Mas esse é um exemplo de como ela pode, sim, aprofundar e instrumentalizar a relação de um possível autor com as narrativas que lê e escreve.

Uma lição da oficina me levou a uma releitura definitiva (para mim, é claro) de um dos contos que haviam marcado minha adolescência. Encontrei palavras e conceitos adequados para explicar aspectos da ficção que minha experiência como leitor me levava a intuir, e isso foi um ponto de partida para pensar a literatura com um pouco mais de ambição.

Nunca escrevi tanto quanto naquele ano. A oficina nos exigia em média um conto por semana. Narrar uma saga familiar de cinco séculos em cinco linhas. Narrar um episódio de dez segundos em dez páginas. Contar uma história apenas com descrições do cenário. Os textos eram analisados pelo professor e exaustivamente debatidos pelos alunos, que acumulavam cada vez mais ferramentas para a tarefa. Clichês, técnicas de diálogo, modalidades de narradores.

Ao longo de 1999, eu decidi que escrever seria minha prioridade. Passei 20 anos me distraindo disso, mas de repente, como no final de um bom conto, o subtexto veio à tona. Até então, sinceramente, eu não planejava nada disso. Surpreendente, mas inevitável.

DANIEL GALERA, escritor e tradutor, é autor de "Cordilheira" (Cia. das Letras)

Pílulas do caderno Mais! da Folha de São Paulo (#2)

Ainda tenho muito o que digitar... Mas vamos no trabalho de formiguinha.

Vamos à formiguinha de hoje...

O MODELO AMERICANO

Pesquisador descreve a história das oficinas de escrita nas Universidades dos EUA, que não param de crescer, e defende que, mais do que 'formatar' os alunos, os cursos dão a eles um lugar na sociedade

Aulas práticas de literatura já viraram história nos EUA. Em "The Program Era" (A Era dos Programas, Harvard University Press, 466 págs., US$ 35, R$ 64). Mark McGurl argumenta que não dá para compreender a literatura norte-americana do pós-guerra sem conhecer os programas universitários de escrita criativa.

Compreender essa história ajuda a identificar uma raiz de boa parte da nova literatura brasileira. A Universidade de Iowa pode ser tomada como um exemplo central. Passaram por oficinas em Iowa profissionais da escrita como Raimundo Carrero, Charles Kiefer e Affonso Romano de Sant'Anna. Este fez nos anos 70, com Silviano Santiago, algumas das primeiras experiências do gênero em uma universidade brasileira (a PUC-RJ).

Sant'Anna explica como funcionavam as coisas nos EUA. "Havia dois conjuntos de participantes: os americanos faziam o curso de criação literária como um curso normal de gradução e pós. Tinham aula de conto, poesia, epopeia, roteiros etc. Tinham que apresentar trabalhos rotineiramente. Na parte internacional, éramos mais livres; durante nove meses, tínhamos tempo para terminar projetos que trazíamos e apenas deveríamos participar de seminários expondo nossos trabalhos."

Professor de letras na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Mark McGurl esmiuça as diferentes formas como escritores viram a relação com a universidade.

Da resignação pela necessidade de sobreviver -- caso de Nabokov, que lecionava literatura em Cornell enquanto escrevia "Lolita" -- às experimentações -- como a ficção de hipertexto na Universidade Brown --, McGurl argumenta que o fato de vivermos uma "Era dos Programas" não é uma coisa ruim, afinal. (EGN)

FOLHA - A ascensão da escrita criativa é devida mais a uma disposição social ou a razões de mercado?

Mark McGurl - É difícil separar as duas coisas. A natureza do sistema de ensino superior nos EUA o faz muito sensível à pressão do mercado. Há um sistema universitário em que é muito fácil inovar e muitos alunos que querem estudar escrita criativa.

FOLHA - O destino da escrita criativa é se tornar tão difundida quanto as matérias de história da literatura?

McGurl - Hoje a história da literatura é muito maior que a escrita criativa, mas as turmas de literatura tradicionais não estão crescendo. Departamentos comuns de literatura ou teoria literária têm ficado estáveis ou mesmo levemente diminuídos nas últimas décadas, enquanto os programas de escrita criativa estão crescendo a taxas extraordinárias.

Alguns dizem que há um limite no mercado. Outros perguntam se as oficinas, a partir deste momento de recessão e reorganização da economia, serão uma prioridade no futuro.

FOLHA - Quantos cursos existem nas universidades dos EUA?

McGurl - Cerca de 750 cursos de graduação, de aproximadamente 2.000 faculdades. Cerca de 350 cursos de pós-graduação. É claro que o mercado editorial não pode absorver tantos escritores, há um enorme excesso de oferta.

FOLHA - Que fará toda essa gente?

McGurl - Alguns se tornarão grandes escritores. Vão escrever poesia e prosa e ensinar poesia e prosa. Outros se tornarão escritores menos conhecidos ou professores de escrita. Para o resto, é um treinamento sem uso profissional, é uma extensão da "educação liberal".

FOLHA - Os velhos exemplos do escritor como jornalista viajado, sábio isolado ou servidor público com tempo livre... estão datados?

McGurl - É claro que há espaço para esses tipos de escritor. Se observar a história da literatura, especialmente nos EUA, o jornalismo tem sido a instituição-chave, com inúmeros escritores que participam do jornalismo de uma forma ou de outra. Essa opção ainda existe, mas a opção de ensinar a escrita junto com a prática da poesia ou da prosa está crescendo.

Surge como uma carreira de escritor: " escrever enquanto ensina". Sempre haverá o forasteiro vindo sabe-se lá donde, mas a universidade cresceu a ponto de recentemente se tornar o centro da produção.

FOLHA - Quão norte-americana é essa tradição?

McGurl - O primeiro programa de pós-graduação começou nos anos 1930, a multiplicação começou dos anos 60 -- por décadas, foi algo exclusivamente americano. Isso se dá em parte por conta do sistema educacional do país, mas também podemos amarrá-lo a uma tradição da expressão individual: não importa onde nasça, você pode ser o que quiser, inclusive um artista.

FOLHA - Que autores consagrados são os exemplos mais extremos de entusiasmo e descrença em relação aos programas de oficinas de texto?

McGurl - É mais fácil começar pela visão negativa. De Algren [autor de "O Homem do Braço de Ouro"], nos anos 60, e Kay Boyle [1902-92], nos 40 e 50, a, mais recentemente, Tom Wolfe, de "A Fogueira das Vaidades", e o contemporâneo Jonathan Franzen [de "As Correções"], todos mostraram extremo ceticismo, por vários motivos diferentes. Muitos apontam que os escritores ficaram "institucionalizados", no sentido de que não têm originalidade, copiam as ideias dos colegas de classe.

Em um nível é inegável que a universidade tenha ajudado muitos grandes escritores a existir, pois deu a eles uma chance de escrever. Deu-lhes uma forma de ganhar a vida enquanto escreviam.

Os defensores da escrita criativa seriam aqueles que frequentaram ou ensinaram escrita criativa. Não encontramos muitos que se levantassem para dizer "isso é ótimo". Há vergonha relacionada à ideia.

FOLHA - O sr. não menciona nenhum nome?

McGurl - Que eu saiba essa pessoa não existe. Há os que defendem a escrita criativa em reação aos ataques, dizendo "não, não destrói a originalidade". Mas tal defesa não é necessária porque muita gente quer fazer oficinas.

FOLHA - O exercício prático da oficina é sua única vantagem em relação a outras disciplinas?

McGurl - Por um lado, o jovem escritor ganha conhecimento. Ao sentar-se com colegas que leem seu texto, ele ainda obtém uma forma pequena de publicação, vê como as coisas funcionam. Se estiver em um programa famoso, como o da Universidade de Iowa ou o da Universidade Columbia, podem-se estabelecer contratos.

Além disso, muitos pais de garotos de classe média não querem que eles fiquem tentando ser escritores, acham que deveriam tentar ganhar a vida de forma mais rentável. Para esses jovens, o curso é um abrigo: "Estou na faculdade!"

É interessante ver que, por temor, há uma tendência a manter esses cursos dentro do departamento de inglês. Assim temos escritores lado a lado com pesquisadores. Por outro lado, há o medo do pessoal de escrita criativa de que a teoria possa arruinar a musa.

FOLHA - Por que há resistência ao papel do aprendiz na literatura, mas não nas artes plásticas ou no teatro?

McGurl - Uma das maiores defesas da escrita criativa é esta: em que ela é diferente de aprender pinceladas? Tem a ver com a mitologia específica do escritor. E com uma tradição de esquecer a história da literatura -- pois grupos sempre foram importantes para os escritores, aprender também.

Dizem que se pode aprender a escrever em casa, sem ir à escola, que "o aprendizado deveria ser ler; depois comece a escrever". Em parte o que os alunos de escrita criativa fazem é isso: ler e escrever. Mas a formalização incomoda.

FOLHA - Quanto a literatura de hoje é "programada"?

McGurl - É programada, mas é preciso pensar na ideia de "criatividade programática". Precisamos superar noções românticas de criatividade -- de que é inexplicável, de que vem de um lugar estranho para um escritor solitário. Instituições podem gerar programas que tenham criatividade autêntica.

FOLHA - A oficina apresenta uma receita para a respeitabilidade?

McGurl - Sim. Vivo em Los Angeles, onde há milhares de roteiristas. É difícil dizer "sou um roteirista". Vão perguntar que filmes você escreveu. Isso vale para o escritor. O curso permite ao sujeito dizer "tenho um diploma, portanto sou escritor".

FOLHA - Os escritores formados em oficinas logo dominarão a literatura de internet?

McGurl - É tentador pensar que a internet democratiza a literatura, que ter um diploma, ter contatos não sejam mais importantes. Mas o problema da internet é: quem vai prestar atenção ao que aparece, com tal volume de informações? Ainda haverá quem nos conduza a alguns sites e não a outros. Um "romance Twitter" de Thomas Pynchon eu leria -- só não sei se seria bom.

Comentários sobre a matéria de Oficinas Literárias

Pois é, que correria para dar conta de tudo. Faltou minha opinião a respeito da matéria da Folha.

As oficinas literárias trouxeram um mundo real aos escritores iniciantes. Um mundo em que é possível submeter seus textos aos pares, aos olhos críticos dos mestres, lapidar sua escrita. Se até um editor é capaz de mexer e recortar um texto, por que não um escritor ter essas orientações ainda na confecção.

Acho que um escritor nunca deixa de aprender. E nunca deixa de precisar de outros olhos críticos que não os seus. Vide caso do Prêmio São Paulo de Literatura deste ano. Ronaldo Correia é amigo de Rodrigo Lacerda e eles fizeram, entre si, leituras críticas de seus textos. E deu certo, não foi?

Um pouquinho mais do que eu acho a respeito coloquei nos comentários do último post.

Mas adianto aqui minha filosofia de escrita:

- ler muito (muito, muito, muito, sempre, autores nacionais e estrangeiros, clássicos, contemporâneos, muito, muito, sempre, prosa, verso, muito, muito, sempre)

- muita carpintaria (a palavra tem muita força, mas no lugar errado, pode construir um monstro)

- deixar o texto dormir bastante na gaveta (eles são muito cheios de si, quando estão cansados! rsrsrs)

- manter um caderno de ideias na bolsa (mas se não tiver, usar papel de pão ou nota de supermercado, mesmo. Só não vale perder, antes de passar a limpo)

- manter sempre um caderno ou um pedaço de papel limpo no bolso (ou na bolsa). (você nunca sabe quando irá te surgir pronto, entregue pelos anjos, aquele parágrafo de abertura)

- não escrever sobre a sua ideia imediatamente (as ideias são foguinhos que nem sempre têm força para continuar vivos. Deixe um tempo para ver se a chama aumenta ou diminui. Se não for a grande ideia para um livro, pode ser, pelo menos, a grande ideia para um parágrafo. rsrsrs)

- encontrar bons escritores e/ou bons críticos para ler seus textos (vai uma oficina literária aí?)

- não fique preocupado com a filosofia de escrita dos outros, pois o que serve para uns não serve para os outros (rsrs)

A próxima pílula será a entrevista com Mark McGurl, professor de letras na Universidade da Califórnia, que fala sobre o modelo americano de oficinas de escrita.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pílulas do caderno Mais! da Folha de São Paulo (#1)

Matéria que saiu no último domingo (dia 16/08/2009).



A ascensão das Oficinas Literárias

Cresce a procura no país por cursos que ensinam técnicas narrativas; no Rio Grande do Sul, programas tradicionais já produziram uma nova geração de escritores com "diploma de autor"

Por Ernane Guimarães Neto

O Brasil vive a emergência de um movimento literário: o dos escritores com diploma de autor. Centros culturais com lotação esgotada e professores particulares com fila de espera caracterizam a vicejante versão brasileira da disciplina "creative writing" (escrita criativa) das universidades norte-americanas. Os resultados são semelhantes: escritores reconhecidos pela crítica e premiados nos concursos de literatura.

A Casa do Saber é uma das escolas que aderiram recentemente às oficinas de escrita criativa: as aulas começaram neste ano. Segundo o diretor Mario Vitor Santos, a escola abriu uma exceção à regra de não oferecer cursos práticos depois de discutir a proposta da professora Noemi Jaffe.

A Casa das Rosas, em São Paulo, tem suas aulas práticas lotadas. Para o poeta Frederico Barbosa, diretor dessa instituição mantida pelo Estado, a meia dúzia de oficinas acontecendo em agosto e setembro, com 30 vagas cada uma, não esgota a demanda.

Uma das atrações do período é Marcelino Freire, que mantém outra oficina em São Paulo (no espaço Barco) e recebe convites para encontros em todo o país. Marcelino foi aluno de Raimundo Carrero, pioneiro na prática em Pernambuco.

Carrero começou suas oficinas nos anos 80, trazendo para o Brasil sua experiência na Universidade de Iowa. "Até meus romances escrevo com meus alunos", relata. Para profissionais como ele, a oficina ultrapassa o clichê de que o professor aprende com os alunos; todos aprendem praticamente juntos.

No Brasil, imagens como um funcionário público Machado de Assis, um diplomata Guimarães Rosa ou um jornalista Nelson Rodrigues estimulam a pensar no escritor como uma figura excepcional surgida ou sustentada em outras classes profissionais. A vivência pessoal dispensou a programação técnica.

O artista temeria o cerceamento de sua criatividade, o choque entre tradição e vanguarda, a profissionalização. Nos EUA, o choque já aconteceu e discute-se quanto a literatura do pós-guerra é marcada pelos programas universitários (leia entrevista 'O modelo americano' que publicarei num próximo post). A classe dos escritores com diploma já domina entre os laureados com o Pulitzer, por exemplo (leia quadro abaixo).

Rasuras

Para o sociólogo Sergio Miceli, os cursos livres aparecem como um sistema paralelo, a partir da crescente quantidade de pessoas com títulos que não estão incluídas no sistema de produção cultural. Os intelectuais "tentam ensinar em cursos de grã-finos semiletrados, que procuram assuntos considerados nobres; o professor se sente valorizado porque ganha um dinheiro que demoraria muito para ganhar de outro jeito. A lógica disso é um pouco esquisita, pois é uma tentativa abreviada de transferir um sistema complicado de conhecimento".

Mas exemplos como o do Prêmio São Paulo de Literatura, concedido no início do mês, apelam em favor da "tecnicização". O prêmio principal ficou com o cearense Ronaldo Correia de Brito, médico -- profissão de escritor "à moda antiga". O autor estreante premiado foi o gaúcho Altair Martins, mestre em letras com experiência em ministrar oficinas.

O escritor mais celebrado no ano passado, Cristovão Tezza, é linguista e autor do livro didático "Oficina de Texto" -- "que não é de criação estética", adverte. Tezza não pratica as oficinas de escrita criativa, mas pode ser considerado beneficiado por um treinamento especializado nas letras. "Rejeito a ideia do escritor como 'profissionalizável'. Mas, pensando friamente, de uns 20 anos para cá a literatura se aproximou bastante da universidade".

Uma das críticas feitas a escritores associados à academia é a de que se distanciam da realidade. Frederico Barbosa questiona a afirmação, mas apresenta outro problema. "Tezza escreveu uma tese sobre Bakhtin, mas sua obra não é distante da realidade. Milton Hatoum é um estudioso, mas sua obra não é acadêmica no sentido de 'chata'. O problema na academia é que há uma tendência a conflitos serem apaziguados: 'Não vou falar mal do sujeito porque ele pode estar depois na minha banca.'"

Diploma de autor

O escritor Evandro Affonso Ferreira teve em julho sua primeira experiência como professor de ficção, na Casa das Rosas. "Você não constrói um artista", diz à reportagem, mantendo a aura dos escritores. "O curso é um exercício de leitura, dá caminhos".

O ataque mais comum à oficina a reduz a nada mais do que um trabalho que todo intelectual já deveria fazer em casa: ler. Na pior das hipóteses, é vista como uma sessão de ajuda mútua pautada por elogios superficiais entre os alunos.

Charles Kiefer, que leciona escrita criativa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, diz que na academia a crítica ao texto alheio é rigorosa. "Não sou pago para ser hipócrita."

A PUC-RS, que mantém oficinas há mais de 20 anos, abriu em 2006 o eixo da escrita criativa na graduação. As turmas tiveram de ser ampliadas para dar conta da demanda. O professor Luiz Antonio de Assis Brasil, que comemora também a criação do mestrado no tema, integra com Kiefer o que pode ser visto como o atual centro nervoso das oficinas de escrita gaúchas, das quais saíram nomes como Cíntia Moscovich, Daniel Galera e Michel Laub.

Kiefer mantém uma das mais procuradas oficinas de escrita do Brasil."Tenho mais de 1.200 pessoas na lista de espera", diz. E conjectura: "A internet é que está gerando a demanda enorme no Brasil. Todo mundo tem blog, todo mundo escreve, mas uma hora se dá conta de que precisa estudar, avançar".

"A formação do escritor inclui ler muito, conhecer a crítica e, podendo, fazer um curso de escrita", diz Assis Brasil. Para ele, editores consideram esse item na biografia do autor quando apreciam originais.

O músico, editor e autor premiado com o Jabuti de ficção Arthur Nestrovski estudou música e letras em Iowa e não participou das célebres oficinas de escrita daquela universidade, mas declara ter visto uma "convivência rica, produtiva" entre as comunidades de teoria e prática. Ele diz duvidar de que tais diplomas tenham poder de convencimento sobre o mercado brasileiro de publicação.

Veterano das oficinas, o crítico Silviano Santiago afirma que a universidade brasileira não está preparada para diplomas de graduação em escrita. "Que concurso você poderá prestar com um diploma desses?"

No fim da história, todas as personagens se obrigam a concordar que escola não faz gênio, mas pode desenvolver pessoas interessadas. Cabe ao aluno escolher o professor.


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Modelos alternativos de escritores

O Prêmio Nobel de Literatura e o Pulitzer de Ficção apresentam neste século perfis diferentes de laureados; os americanos privilegiam "diploma de autor"

ENTENDA A CLASSIFICAÇÃO

(1) Típico escritor da era das oficinas de texto: tem formação ou longa prática em programas de escrita criativa

(2) Escritor com treinamento formal em letras -- tradutor, linguista ou crítico literário

(3) Escritor que tem outra profissão ou vivia de "bicos" antes do sucesso -- médico, músico, jornalista etc.

Prêmio Nobel de Literatura (escolhido pelo conjunto da obra)

2001: V.S. Naipaul

Nasceu em Trinidad e Tobago em 1932. Não fez sucesso como aluno de literatura em Oxford, viajou pelo mundo como jornalista e teve êxito como escritor antes dos 30

2002: Imre Kertész

Autodidata, o húngaro (1929) fez traduções e matérias jornalísticas antes de ser reconhecido com o livro "Sem Destino"

2003: J.M.Coetzee

O sul-africano (1940) estudou inglês e matemática na Universidade da Cidade do Cabo e fez pós-graduação em letras na Universidade do Texas

2004: Elfriede Jelinek

A poeta austríaca (1946) formou-se em teatro e história da arte, mas sua principal formação foi em música: tem o diploma de organista pelo Conservatório de Viena

2005: Harold Pinter

O dramaturgo britânico (1930-2008) estudou na Academia Real de Arte Dramática e na Escola Central de Oratória e Drama, da Universidade de Londres

2006: Orhan Pamuk

Nascido em Istambul em 1952, estudou arquitetura, jornalismo e participou do programa de formação de escritores da Universidade de Iowa

2007: Doris Lessing

A britânica (1919) estudou até os 14 anos. Entre outros empregos, foi jornalista antes de ser reconhecida como escritora

2008: Jean-Marie Gustave Le Clézio

Nascido na França, Le Clézio (1940) estudou letras no Reino Unido e na França. Tornou-se professor universitário.

2009: Ainda não foi anunciado o vencedor

Prêmio Pulitzer de Ficção (selecionado entre os lançamentos do ano)

2001: Michael Chabon

Pós-graduado em escrita criativa pela Universidade da Califórnia, Chabon (1963) fez sucesso com livros como "Usina de Sonhos"

2002: Richard Russo

Doutor em literatura pela Universidade do Arizona, Russo (1949) tornou-se professor de letras

2003: Jeffrey Eugenides

Nascido em 1960, formou-se na Universidade Brown, e fez mestrado em inglês e escrita criativa na Stanford

2004: Edward P. Jones

O autor (1950) fez mestrado em escrita criativa na Universidade da Virgínia e é professor da matéria

2005: Marilynne Robinson

Robinson (1947) concluiu doutorado em inglês enquanto escrevia seu primeiro sucesso, "Housekeeping", de 1980. Tornou-se professora da Oficina de Escritores de Iowa

2006: Geraldine Brooks

A australiana (1955) fez carreira como repórter em jornais como "Sydney Morning Herald" e "The Wall Street Journal"

2007: Cormac McCarthy

O romancista (1933) não completou o ensino superior. Integrou a Força Aérea dos EUA, foi radialista e fez sucesso desde o início da carreira

2008: Junot Díaz

Díaz (1968) escreveu sua primeira coletânea durante o mestrado em escrita criativa na Universidade Cornell. Leciona escrita no MIT

2009: Elizabeth Strout

Nascida em 1956, formou-se em letras na Faculdade Bates (Maine). Leciona escrita criativa na Universidade Queens em Charlotte, Carolina do Norte

Matéria Escritores em construção

Socorro! Quero um dia de 48 horas! Brincadeiras à parte, realmente não é fácil espremer o relógio para dar tempo de tudo o que preciso fazer. Mas nada como acordar às 5h, usar o trajeto casa-trabalho e trabalho-casa, hora do almoço, etc. :)

Bem, no último domingo, a Folha de São Paulo publicou no Caderno Mais! uma excelente matéria sobre as oficinas literárias. Como meu bichinho carpinteiro não sossega, fiquei doida para dividir com vocês.

Então, atrasarei um pouquinho a continuação das pílulas dos suplementos literários do Rio (Prosa & Verso e Caderno Ideias), para trazer as pílulas de São Paulo.

Vocês devem se perguntar: essa maluca não tem o que fazer, para ficar digitando toda matéria (é isso mesmo, é digitado direto do jornal impresso)? Tenho, mas além de não resistir em divulgar aqui, para que possamos trocar figurinhas literárias, é uma ótima forma de guardar alguns textos, pois vamos combinar, não dá para ficar mantendo os jornais (apesar que eu faço isso com alguns). Minha casa está explodindo de papel...

Então, esperem que logo logo publico a notícia. Ana Letícia e Fátima, adoro pensar que posso dividir essas notícias com vocês que estão tão longe. Agora além do Rio, de São Paulo também. :)

Boa terça-feira a todos.

E não deixem de visitar o Sobrecapa. Tem ótimos lançamentos já divulgados e outros na fila.

Pílulas dos cadernos literários (#5) - 15/08/2009

Fonte: Caderno Prosa & Verso - O Globo (15/08/2009)

- Entrevista com Milton Hatoum sobre Euclides da Cunha

O GLOBO: Em seu ensaio "Expatriados na própria pátria" você faz um estudo comparativo sobre Euclides da Cunha e Joseph Conrad. Poderia falar sobre isso?

MILTON HATOUM: Isso seria a minha tese de doutorado, mas acabei abandonando o curso para escrever "Dois irmãos". Conrad e Euclides foram contemporâneos. Ambos tinham essa ânsia da descoberta, da viagem, do desconhecido, da viagem, do desconhecido. O Conrad por sua própria profissão: ele era marinheiro, chegou a ser capitão da marinha mercante inglesa. O Euclides era um patriota, no bom sentido. Um homem que queria descobrir o deserto, as regiões mais distantes e inóspitas do Brasil. Os dois são filhos de uma mesma época, de uma época que privilegiava a ciência, o progresso, o positivismo, as descobertas científicas, o evolucionismo. E ambos eram pessimistas, embora o Conrad fosse mais desconfiado que Euclides, mais sombrio.

* O contato com a Amazônia tem sobre Euclides um efeito comparável ao da viagem a Canudos?

Hatoum: Muito do que Euclides escreveu n'"Os Sertões" vem de uma cultura livresca. Ele passou pouco tempo na Bahia, menos de um mês no cenário da batalha. No caso da Amazônia, foi muito diferente. Ele passou mais de um ano lá. Essa vivência foi muito importante. Nos ensaios amazônicos há muito menos do determinismo climático e das teorias raciais que são dois anacronismos quase aberrantes n'"Os Sertões". Isso foi muito mitigado nos ensaios amazônicos, embora ao falar dos nativos ele seja altamente preconceituoso, e acabe por isso sendo ingênuo, atribuindo problemas da região à preguiça, à lascívia, ao furto. Ele cai nessa armadilha.


* Como ele vê a Amazônia?

Hatoum: Ele percebeu que o regime de trabalho nos seringais era de escravidão, semi-escravidão. Daí aquela frase famosa dele: "o seringueiro é um homem que trabalha para escravizar-se, é um expatriado na própria pátria". Curiosamente, ele exclui das análises dele o caboclo amazônico e os índios. Para ele, o que interessa na colonização da Amazônia é o mesmo sertanejo de Canudos. O imigrante que, desde as secas de 1860, vai para a Amazônia, saído do sertão do Ceará, da Paraíba, e que povoa a Amazônia. Aí tem esse trato patriótico do povoamento, dos serigueiros que se fixam à terra, ao contrário do caucheiro peruano, que é nômade e predador, pois derruba a árvore. Quem vai realizar a posse da terra é esse seringueiro nordestino, viabilizando a civilização que Euclides vislumbra no futuro. Ele é o protagonist dessa civilização com que ele está sonhando.

* Ele se preocupa com a preservação da natureza?

Hatoum: Ele é muito contraditório quando fala da natureza amazônica. É um movimento pendular. Ora ele é deslumbrado pela natureza, que ele chama de maravilhosa, portentosa, ora ela é uma natureza degradante, destruidora, uma espécie de inferno. Aí ele não sabe para onde vai. Mas critica a depredação da floresta.

* Saindo do plano apenas ideológico, quais os méritos literários dos textos dele sobre a Amazônia?

Hatoum: Em "À margem da História" há um texto admirável, que é o "Judas-Asvero". É um texto tão bom quanto a parte final de "Os Sertões". Dele estão excluídas essas teorias raciais, climáticas. É um relato sobre a construção dessa escultura de pano que representa Judas, no sábado de Aleluia, e que serve como desforra dos seringueiros contra Deus e o mundo, uma desforra se passando ali no fim do mundo. É uma espécie de quadro dissonante da obra do Euclides. Tanto que ele não quis publicar esse texto. Achava muito pitoresco. Foi Coelho Neto que disse para ele, "isso é uma das melhores coisas que você já escreveu". Aí não é o Euclides sociólogo, geógrafo, estatístico, historiador. É o Euclides que poderia ter sido um ficcionista.

* Lendo Euclides você aprendeu algo sobre a Amazônia, ou teve com ele apenas lições literárias?

Hatoum: Os escritores inventam mitos de leituras precoces. Há uns que leram Proust aos nove anos de idade e coisas assim. Eu não fui esse leitor precoce. Mas fui uma vez, por obrigação. Aos 14 anos, eu tive que ler trechos d'"Os Sertões", como punição disciplinar na minha escola em Manaus. Eu fiquei maravilhado. Euclides é um gênio verbal. Ali também percebi que meu mundo não era só o Amazonas. Que havia um outro Brasil. Depois, quando eu li os ensaios amazônicos, percebi com clareza como funcionava o regime de trabalho dos seringais. Isso foi também uma revelação.

* Que legado esse impulso de desbravamento de Euclides da Cunha deixa para os intelectuais e autores brasileiros? Esse gesto de exploração ainda é importante?

Hatoum: Hoje, infelizmente, muito menos. Hoje muita gente quer esculhambar o Brasil. Está na moda essa atitude cínica, e o Brasil é muito mais complexo do que isso. Mas o Mário de Andrade foi um euclidiano. Saiu para conhecer o Brasil todo. O Mário leu os ensaios amazônicos. O Guimarães Rosa também. "Nonada", por exemplo, é uma palavra usada por Euclides em "À margem da História". Então também nesse sentido ele deixou sim um legado importante. Nossa mente é muito colonizada, e o Euclides era revoltado com isso.

domingo, 16 de agosto de 2009

Pílulas dos cadernos literários (#4) - 15/08/2009

Fonte: Caderno Prosa & Verso - O Globo

- Foi publicada na edição de ontem (15/08/2009) algumas matérias sobre Euclides da Cunha. Parte foi reproduzida no próprio blog do Prosa online. Outras vou transcrevendo aos pouquinhos aqui no Canastra.

Começarei com a Cronologia da vida de Euclides que é bem interessante, pois mostra que desde cedo sua vida foi marcada por perdas.

1866: Em 20 de janeiro, nasceu Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha na Fazenda Saudade, arraial de Santa Rita do Rio Negro (hoje Euclidelândia), município de Cantagalo, Rio de Janeiro. Filho do baiano Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e da fluminense Eudóxia Moreira da Cunha.

1868: Nascimento da irmã, Adélia, em 9 de agosto.

1869: A 10 de agosto, com menos de três anos, perde a mãe, tuberculosa.

1870: Muda-se com a irmã para Teresópolis, indo viver com os tios. Perde, neste mesmo ano, a tia Rosinda.

1871-73: Euclides e Adélia são entregues aos cuidados de outra tia, Laura Moreira Garcez, e vão morar em São Fidélis.

1877-78: Euclides passa a viver com os avós maternos, em Salvador.

1879: Retorno ao Rio, desta vez com o tio paterno Antônio Pimenta da Cunha.

1883-84: Transfere-se para o Externato Aquino. Em conjunto com sete colegas, funda o jornal "O Democrata" e, em abril de 1884, publica o primeiro artigo, no qual defendia a natureza contra os perigos do progresso industrial desenfreado.

1884-85: Começa a escrever versos em uma caderneta intitulada "Ondas". É admitido na Escola Politécnica onde, por falta de recursos, estuda apenas um ano.

1886: Em 20 de fevereiro é transferido para a Escola Militar da Praia Vermelha. Reencontra o professor Benjamin Constant e ingressa no movimento republicano.

1888: Em 4 de novembro protagoniza o "Episódio da baioneta" ou "Episódio do sabre". Durante desfile em homenagem ao Ministro da Guerra, Tomás Coelho, em protesto contra a monarquia Euclides sai da fila e tenta quebrar sua baioneta (pequena espada colocada na ponta do fuzil), jogando-a aos pés do ministro. Sua matrícula é cancelada e ele deixa o Exército em 14 de dezembro. Vai para São Paulo e em 22 de dezembro escreve "A pátria e a dinastia", seu primeiro artigo para a "Província de S. Paulo" (hoje "O Estado de S. Paulo").

1889: Retorna ao Rio no início do ano. Com a Proclamação da República, volta ao Exército. Deixa de escrever para a "Província de S. Paulo" e passa a colaborar com a "Gazeta de Notícias", do Rio.

1890: Em 8 de janeiro matricula-se na Escola Superior de Guerra. Em setembro casa-se com Ana Ribeiro, filha do General Solon Ribeiro.

1891: Realiza os cursos de Estados Maior e engenharia militar e torna-se adjunto de ensino na Escola Militar. Morre, com poucas semanas de nascida, sua filha Eudóxia.

1892: Em 9 de janeiro é promovido a 1º Tenente. Obtém o título de bacharel em matemática, ciências físicas e naturais. Retorna colaboração em "O Estado de S. Paulo". Nasce em novembro seu filho Solon Ribeiro de Assis.

1893: Com a eclosão da Revolta da Armada cuida de obras de fortificação no litoral fluminense. Em dezembro passa a fazer parte da Diretoria Geral de Obras Militares.

1894: Escreve duas cartas para a "Gazeta de Notícias", nas quais responde violentamente ao senador cearense João Cordeiro, que pedia o fuzilamento dos antiflorianistas presos depois da Revolta. Em consequência, é designado para servir em Campanha, Minas Gerais. Nasce em julho Euclides Ribeiro da Cunha Filho, o Quidinho.

1895: Muda-se para Belém do Descalvado, em São Paulo. Em 28 de junho é agregado ao Corpo do Estado Maior.

1896: Deixa o Exército em 13 de julho, desencantado com a República. É reformado como 1º Tenente. Em setembro assume o cargo de engenheiro-ajudante da Superintendência de Obras Públicas do Estado de São Paulo. Passa a viajar pelo interior de São Paulo para fiscalizar a construção de obras públicas.

1897: Escreve para "O Estado de S. Paulo" dois artigos sobre Canudos. É designado correspondente de guerra do jornal e em 4 de agosto segue para a Bahia junto com a comitiva militar do Ministro da Guerra. Em 16 de setembro chega a Canudos. Continua a enviar artigos com as observações que seriam utilizadas em "Os Sertões". Com o massacre dos seguidores de Antônio Conselheiro e o fim da guerra, Euclides deixa a Bahia. Em 26 de outubro chega a São Paulo.

1898: Publica em "O Estado de S. Paulo", em janeiro, as primeiras amostras de "Os Sertões". Em 23 de janeiro toma conhecimento da queda da ponte metálica sobre o Rio Pardo, e parte para São José do Rio Pardo, para onde se transfere dois meses depois. Reside com a família no sobrado da Rua 13 de Maio, local onde hoje se situa a Casa de Cultura Euclides da Cunha. No barraco de zinco próximo à ponte, Euclides começa a redigir "Os Sertões".

1900: Em maio termina "Os Sertões". É novamente chamado para colaborar em "O Estado de S. Paulo".

1901: É promovido a Chefe de Distrito de Obras. Em 31 de janeiro nasce o terceiro filho, Manuel Afonso. Muda-se para São Carlos do Pinhal (atual São Carlos). Depois se muda para Guaratinguetá, no Vale do Paraíba.

1902: Gustavo Massow, da Editora Laemmert, se propõe a editar "Os Sertões" financiado pelo autor. É transferido para Lorena. A Livraria Laemmert lança no Rio "Os Sertões". O livro é sucesso de crítica e vendas, com os 1.200 volumes da 1ª edição esgotados em dois meses.

1903: A segunda edição de "Os Sertões" é publicada em julho. Em 21 de setembro é eleito para a cadeira número sete da Academia Brasileira de Letras.

1904: É nomeado engenheiro-fiscal da Comissão de Saneamento de Santos em janeiro. Em 24 de abril demite-se do cargo. Seu nome é apresentado ao Barão do Rio Branco para um cargo na Comissão de Reconhecimento do Alto Purus. Rio Branco o nomeia, em agosto, chefe da comissão. Parte em 13 de dezembro para o Amazonas.

1905: Reside em Manaus, aguardando instruções. Com poucos recursos, tem de se esforçar para realizar com êxito a missão. Encerra os trabalhos em 16 de dezembro.

1906: Retorna ao Rio em 5 de janeiro. Em 11 de julho sua mulher dá à luz o filho Mauro -- cujo pai seria o cadete Dilermando de Assis -- que vive apenas sete dias. Em 18 de dezembro toma posse na Academia Brasileira de Letras. Publica "Contrastes e confrontos", reunião de artigos.

1907: Nasce Luís Ribeiro da Cunha, filho de Dilermando, mas registrado como filho de Euclides. Em setembro lança "Peru versus Bolívia", livro que analisa os conflitos entre as duas repúblicas.

1908: Termina o livro "À margem da História", com estudos sobre a Amazônia, que seria publicado depois de sua morte.

1909: Na manhã de 15 de agosto vai armado ao subúrbio carioca de Piedade, onde mora Dilermando e onde está Ana, mulher de Euclides. O escritor e o cadete trocam tiros e Euclides cai morto. O corpo é velado na ABL e sepultado no São João Batista.

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Fonte: Academia Brasileira de Letras

O que tenho lido... mais sementes #2

Continuando as sementes do que li nos últimos tempos, trago hoje trechos do livro Vésperas, de Adriana Lunardi.

O livro fala de finitude e eternidade a partir de um tema recorrente: a morte de algumas das mais brilhantes escritoras da literatura mundial. São nove contos que traduzem horas extremas, num exercício que transborda os limites entre ficção e biografia, e explora a literatura como tema e inspiração.

Adriana obteve com esse livro a Bolsa para Escritores Brasileiros com Obras em Fase de Conclusão, da Fundação Biblioteca Nacional, em 2000.

As escritoras que se tornam personagens: Virginia Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Colette, Clarice Lispector, Katherine Mansfield, Sylvia Plath, Zelda Fitzgerald e Júlia da Costa.

"Reconhece a dificuldade que enfrentara para encontrar cada palavra e dar ao texto o tom justo que o assunto merece. Tivera de fugir ao labirinto de vozes em que está encarcerada, fazer rascunhos e tentativas erráticas, e ser muito rápida quando conseguiu. Escrever fora o único jeito que ela havia encontrado para suportar a vida. É também a maneira de anunciar sua despedida. Virginia fecha a gaveta e prepara-se para deixar o escritório. Na porta, hesita. Um hábito ainda vivo a impede de sair. Ela dá meia-volta e vai em direção à vela, que havia esquecido acesa."
(Trecho do conto Ginny)

"Anita disse que não estávamos indo muito bem. Usa o plural quando quer me fazer acreditar que somos um time, idéia tirada dos filmes americanos que passam de madrugada na tevê. Eu sorrio e penso em dizer que somos uma equipe em meio a uma gincana de tarefas imprevisíveis, todas fatais. Mas não digo. Nos olhos de Anita, consigo medir a gravidade do meu próprio sofrimento, e antes que ela tivesse de dizê-lo, pedi para irmos ao hospital."
(Trecho do conto Ana C.)

"Sinto-me infinitamente mais à vontade sem ninguém por perto. As coisas começam a ganhar sentido. Preciso de calma para senti-las, para saber o que significam, se gosto ou não delas. É tão demorado acostumar-se com o novo, que parece não haver tempo suficiente para isso. Em vez de viver, verbo irresponsável demais para tanta exigência, a gente deveria dizer estou me dedicando, como em um trabalho difícil, desses que exigem cada uma das horas do dia."
(Trecho do conto Clarice)

"Vista do navio, a terra vermelha da sua infância se apequenava. Falsa súdita, deixava-se fixar no centro da paisagem marinha e então se encobria de uma pálpebra de bruma, resguardando seu mistério onírico do olhar estrangeiro. Deitada sobre os campos de manukas e carneiros, Kass imaginava a ilha submergindo à noite, quando todas as luzes estivessem apagadas, para retornar à superfície no dia seguinte, antes do sol procurá-la no oceano. "Alguém, um filho mais dileto, arrebanhado, haverá de cantá-la um dia." Ela sabe que está desprogramada para odes festivas, para rapsódias inteiras. "Minha tenda é a dos pequenos milagres. Abre-se com chaves minúsculas, dobraduras japonesas."
(Trecho do conto Kass)

Pílulas dos cadernos literários (#3) - 15/08/2009

Fonte: Caderno Prosa & Verso - O Globo

- Foi publicada na edição de ontem (15/08/2009) uma entrevista de Mànya Millen com Leopoldo M. Bernucci, a respeito da nova biografia de Euclides da Cunha que busca corrigir informações e apresentar o escritor por inteiro.

Confira, no blog do Prosa online, a entrevista completa.

- Ainda na edição de ontem uma matéria de Miguel Conde a respeito das exposições na Biblioteca Nacional e na ABL em homenagem ao escritor. Leia matéria completa no blog do Prosa online.

Complementando o caderno que veio totalmente dedicado à Euclides da Cunha, o blog também publica trechos da última entrevista de Euclides da Cunha ( Leia mais ).

Amanhã, o blog publicará uma entrevista com o escritor Aleilton Fonseca sobre "O pêndulo de Euclides" (Bertrand Brasil).

Pílulas dos cadernos literários (#2) - 15/08/2009

Fonte: Caderno Ideias & Livros (JB). Coluna Informe Ideias
Por Alvaro Costa e Silva, com Carolina Leal

Euclidiana. A Academia Brasileira de Letras vai dedicar quatro meses (além deste, setembro, outubro e novembro) de sua programação cultural às celebrações do centenário da morte de Euclides da Cunha, promovendo no total 16 eventos organizados em torno de um ciclo de conferências, além da exposição Euclides, um brasileiro. Na terça, a partir das 17h30, será a vez do historiador José Murilo de Carvalho, com o tema "Euclides da Cunha e o exército". A entrada é franca, e os interessados podem inscrever-se pelo site www.academia.org.br ou pelo telefone 3974-2500.

Euclidiana 2. Em cartaz na Biblioteca Nacional, está a exposição Euclides da Cunha: uma poética do espaço brasileiro. Composta por cerca de 130 peças do acervo da biblioteca, além de itens pertencentes a outras instituições (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e Museu da República), a mostra tem curadoria do poeta Marco Lucchesi e é composta por três segmentos, inspirados em trechos da obra de Euclides: "A base física da nossa nacionalidade", "Um paraíso perdido" e "O pequeníssimo vilarejo onde nasci".

Euclidiana 3. A Ediouro manda hoje para as livrarias uma edição especial de Os sertões, com introdução da especialista Walnice Nogueia Galvão. Apresenta uma seleção de desenhos de Aldemir Martins (edição de 1968), de Alfredo Aquino (edição de 1975) e de J.B.Andersen (edição em língua alemã). Traz, também, reproduções de pinturas de Debret, Benedito Calixto, Vítor Meirelles, Trípoli Gaudenzi e Otoniel Fernandes Nieto, entre outras, além de uma série de fotos da época e da Guerra de Canudos.

Euclidiana 4. Também por conta do centenário, a 14ª Bienal Internacional do Livro do Rio dedicará uma sessão do Café Literário ao escritor. No dia 12 de setembro, será realizado o deabte "Euclides da Cunha e Machado de Assis para jovens leitores", com mediação e participação de Luiz Antonio Aguiar e Luciana Sandroni.

Hormônios a menos. O protagonista do próximo romance do escritor britânico Ian McEwan será um físico. Ganhador do Prêmio Nobel, ele enfrenta uma campanha na mídia depois de sugerir que os homens superam as mulheres em cargos profissionais de alto nível devido às diferenças no cérebro -- e não por discriminação de sexo. Vai mexer num vespeiro, o McEwan.

Quem tem razão? Noves fora a queda de braço entre o governo e o setor editorial -- o preço do livro, afinal, caiu ou não caiu? -- um dado da pesquisa encomendada pela Câmara Brasileira do Livro e Sindicato Nacional dos Editores de Livros mostra que tudo continua como dantes no quartel. O segmento que apresentou maior crescimento em número de títulos editados foi o de científicos, técnicos e profissionais (aumento de 34,5%) -- justamente aqueles cuja compra é bancada pelo... governo.

Albatroz de Ubaldo. O albatroz azul, novo romance de João Ubaldo Ribeiro, chega às livrarias até o fim do ano. "É a história de um homem muito velho, que se transforma com o nascimento de um neto", diz o escritor, que ainda mexe na cria. Perguntado se a história se passa na sua ntal Ilha de Itaparica, como a maioria de seus livros, sorri: "Sim. Se não me engano, nem escrevo o nome da cidade. Mas é lá mesmo". Que os leitores não esperem, contudo, um catatau como Viva o povo brasileiro: "É fininho. Saiu do tamanho que tinha de sair", conta Ubaldo, que não publica um romance desde 2002, quando saiu o Diário do farol.