terça-feira, 30 de junho de 2009

Divulgando informação

Nem sempre eu consigo assistir aos programas que falam de literatura que passam na Net. E nem sempre lembro de deixar gravando.

Assim, adoro quando os próprios programas publicam seus vídeos na web.

Afinal, Internet é para isso, para divulgar, dividir, deixar para a futuro. Como é bom procurarmos informações sobre um autor e achar uma entrevista concedida em 2007, um vídeo de 2008 ou até mesmo um artigo lá do ano de 2002.

Tenho saudades da época em que os jornais ainda disputavam público e todas as suas matérias eram acessíveis. Hoje, não, se quiser ler, tem que ser assinante digital. E vocês já viram quanto se cobra para se ter uma assinatura digital? Quem tem tempo hoje de ler um jornal inteiro. Quando muito, passo o olho, e paro numa matéria que me chamou a atenção.

Em São Paulo, o Estadão era uma exceção, pois disponibilizava todas as suas matérias. Não era só o jornal online, com matérias selecionadas, era o jornal impresso também. Não tenho tempo para ler todo o jornal, no máximo, o que está ligado a cultura. Então o pouco que eu lia já fazia uma boa diferença. Desde ontem, percebi que vários links são direcionados para as famigeradas páginas de "assine aqui". E logo me lembro da propaganda da tevê: "quanto vale seu conhecimento" ou algo parecido. Para mim, vale muito, mas vale muito mais o dinheiro que sai do meu bolso.

Nisso, admiro o JB, que ainda publica praticamente todo o jornal impresso na Internet.
Isso para mim é Internet. Não tem porque eu comprar um jornal (mais papel) para passar os olhos em algumas matérias.

É uma pena que a maioria dos jornais não tenham essa visão. Não os culpo por cobrar, os culpo pelo valor que cobram. Por muito menos, eles teriam um número muito maior de assinantes.

Bem, enquanto os jornais não repensam suas cobranças, eu divido com vocês minhas descobertas do Programa Entrelinhas.

Há vários vídeos interessantes, muito bons. Basta procurar por data de programa ou pelo nome do escritor. Para facilitar, relaciono alguns achados aqui. É só clicar e curtir!

31/05/2009 - Michel Laub
17/05/2009 - Beatriz Bracher
26/04/2009 - Paloma Vidal
12/04/2009 - Bernardo Carvalho
29/03/2009 - Milton Hatoum
15/03/2009 - Adélia Prado
04/01/2009 - João Gilberto Noll
21/12/2008 - José Saramago
07/12/2008 - Carola Saavedra
16/11/2008 - Carlos Heitor Cony
02/11/2008 - Ruy Castro
19/10/2008 - Julián Fuks
05/10/2008 - Cíntia Moscovich
07/09/2008 - Rodrigo Lacerda
17/08/2008 - Zuenir Ventura
10/08/2008 - Miguel Sousa Tavares
03/08/2008 - Maria Esther Maciel

Encontro de leitores com os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura

O Prêmio São Paulo de Literatura promove no mês de julho encontros com os finalistas da edição 2009, com o objetivo de aproximar os leitores desses autores.

Veja programação:

Dia 30.06 das 19h
“Leitura comentada da obra de João Gilberto Noll”
com João Gilberto Noll
Casa das Rosas (Av. Paulista, 37 – São Paulo)

Dia 06.07 das 18h
“Escritores que ensinam”
com Maria Esther Maciel, Marcus Freitas e Rinaldo de Fernandes
Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073 – São Paulo)

Dia 13.07 das 19h
“Encontro de gerações”
com Altair Martins e Moacyr Scliar
Livraria da Vila da Alameda Lorena (Alameda Lorena, 1731 – São Paulo)

Dia 15.07 das 19h
“Escrever a quatro mãos e pela internet”
com Emilio Fraia e Vanessa Barbara
Casa das Rosas (Av. Paulista, 37 – São Paulo)

Dia 20.07 das 18h
“A psicanálise e a filosofia na literatura”
com Contardo Calligaris, Livia Garcia-Roza e Maria Cecília Gomes dos Reis
Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073 – São Paulo)

Dia 27.07 das 19h
“Happy hour com autores finalistas do Prêmio”
com Carola Saavedra, Estevão Azevedo, Javier Arancibia Contreras, Ronaldo Correia de Brito e Walther Moreira Santos
Mercearia São Pedro (Rua Rodésia, 34 – Vila Madalena – São Paulo)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Centenário de Juan Carlos Onetti

No próximo dia 1º de julho, comemora-se 100 anos do nascimento de Juan Carlos Onetti. E se sua obra não é tão divulgada, espera-se que esse panorama se altere com a publicação de Mario Vargas Llosa: Onetti - El Viaje a la Ficción, e que deve sair traduzido aqui, pela Alfaguara, em 2010.

As traduções de Onetti, para o português, disponíveis atualmente são:
  • Junta-cadáveres (Planeta do Brasil) - romance
  • O Estaleiro (Planeta do Brasil) - romance, com o mesmo protagonista de Junta-cadáveres
  • A Vida Breve (Planeta do Brasil), tida por Onetti como sua melhor obra
  • O poço (Planeta Literário), livro de estreia do autor (2 novelas)
  • 47 contos de Juan Carlos Onetti (Companhia das Letras) - contos escritos entre 1933 e 1993
"Você é casado com a literatura. Eu, não: ela é minha amante." A frase, dita por Juan Carlos Onetti a Mario Vargas Llosa, define com precisão o maior autor da literatura uruguaia, que nasceu há 100 anos, em 1º de julho de 1909. Onetti nunca teve método. A sua era uma disciplina singular. Durante um tempo, escreveu a lápis num caderno de capa dura e folhas brancas. Houve períodos de caneta de tinta preta e cadernos de folhas pautadas. E também dos bloquinhos baratos. Sempre à mão. Dizia que a caligrafia é mais lenta que a datilografia, mais lenta que as ideias, e você é obrigado a sentir na mão o peso de cada palavra. Passava por épocas em que anotava frases esparsas que um dia, talvez, se encontrassem e se juntassem. Nessa turbulência estava a sua disciplina: justamente em não haver nenhuma.

Leia a matéria completa de Eric Nepomuceno sobre Juan Carlos Onetti no site do Estadão de São Paulo.

sábado, 27 de junho de 2009

Agenda de lançamentos da semana (no Rio)

# SEGUNDA, DIA 29:

- "Momento mágico", de Marcio Leite e "Mentiras do Rio", de Sergio Leo
( vencedores do Prêmio Sesc de Literatura )

(Editora Record)
às 17h30m, na Academia Brasileira de Letras (Presidente Wilson 203)

- "A arte do efêmero", de Nilton Santos
(Editora Apicuri)
às 18h30m, na Livraria Folha Seca (Rua do Ouvidor 37)

# TERÇA, DIA 30:

- "Crônicas da vida e da morte", de Roberto DaMatta
(Editora Rocco)
às 19h, na Travessa de Ipanema

- "O novo acordo ortográfico", de Luiz Fernando Gualda
às 19h, na Livraria Romanceiro (Rua Eduardo Luiz Gomes 13, Niterói)

- "Produção de Cultura no Brasil: da Tropicália aos pontos de cultura", de Aline Carvalho
(Editora Multifoco)
às 19h, na Multifoco (Av Mem de Sá 126, Lapa)

Pílulas dos cadernos literários (#4) - 27/06/2009

Complemento do Caderno Prosa & Verso (Jornal O Globo), transcrevo a matéria de José Castello a respeito do escritor mexicano Mario Bellatin, que participará da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP).


Fonte: Caderno Prosa & Verso (O Globo). Sábado (27/06/2009)

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# A escrita como enigma
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Por José Castello
* Em 'Flores', o mexicano Mario Bellatin exige que seus leitores se reinventem

> Flores, de Mario Bellatin. Tradução de Josely Vianna Baptista. Editora CosacNaify, 153 pgs. R$ 39.

Em uma mesquita, um xeque pede a um escritor que lhe relate um sonho místico. Sem consciência do que faz, o escritor passa a entoar um canto gutural que desconhecia e cujo significado lhe escapa. Preso a forças cujo controle lhe foge, o escritor — que, na entrada da mesquita, deixa sua perna ortopédica (uma parte de si) junto com os sapatos — é o protagonista de "Flores", livro desafiador do mexicano Mario Bellatin.

Bellatin e seu personagem se parecem pela ausência. Ao escritor mexicano falta o antebraço direito, uma deformação de nascença, que ele, em vez de dissimular, destaca com próteses artísticas. Mas é inútil procurar confirmações, ou desmentidos, desse vínculo. A literatura, para Bellatin, é um mundo autônomo, indiferente às semelhanças e às sincronias. Um mundo arcaico, no qual a razão está descartada.

Sempre pronto a desmontar a figura clássica do escritor

O escritor, em consequência, é qualquer coisa, menos um orientador. Arredio às interpretações de seus relatos, Bellatin deseja que eles sejam vistos como flores, que admiramos ou desprezamos, sem a necessidade de uma justificativa. Narrativas batizadas em série, sempre com nomes de flores, mas que guardam forte autonomia e das quais o próprio autor, ele, Bellatin, se deseja excluído. Como resultado perverso dessa estratégia, sua presença se torna ainda mais forte.

Sempre pronto a desmontar a figura clássica do escritor, Bellatin gosta de se apresentar de uma forma atordoante: "Sou Mario Bellatin e odeio narrar". A frase combina com suas ideias a respeito do ato de escrever, que ele exercita na Escola Dinâmica de Escritores, na Cidade do México. Uma estranha oficina literária na qual quase tudo é permitido — dançar, pintar, interpretar, delirar — e onde só existe uma proibição: a de escrever.

Sabe Bellatin que, sempre que nos aproximamos da literatura, a mão pesada e invisível do clichê — sobreposta à nossa, como uma prótese — passa a nos reglar. Melhor que o aspirante a escritor se distancie da literatura. Esse deslocamento destrói as convenções e os vícios literários; quando enfim o aluno volta a escrever, traz a mente vazia.

Figura sedutora e indecifrável, com seu braço ortopédico que faz questão de exibir como uma invenção, e não uma falta, ou sinal de uma dor, Bellatin acredita que o escritor é um personagem, cujo nascimento precede o próprio ato da escrita. Suas célebres brincadeiras — como o dia em que treinou duplos de grandes escritores para apresentá-los como os verdadeiros em um congresso literário em Paris — reafirmam a ideia de que a literatura não está só nos livros. Fazer ficção é uma maneira de interferir no mundo. De desarranjá-lo, abrindo caminho para novas desordens.

As ideias de Mario Bellatin a respeito da literatura são ainda mais impressionantes que seus relatos. Interesso-me bem mais por essas ideias — entre elas, a ideia de que as ideias não têm a menor importância — do que por suas narrativas. Ao transportar a literatura para o mundo, Bellatin desestabiliza a noção de realidade. Aponta-nos um mundo que ultrapassa as convenções; muito mais interessante do que o que aceitamos como verdadeiro.

Em nosso tempo de mediania, tédio e repetição, Bellatin se torna, assim, um escritor fundamental. Ninguém melhor para nos acompanhar na travessia das superstições, vícios e etiquetas que vigoram no sistema literário contemporâneo. Em "Flores", seu personagem-escritor afirma: "Tudo deve ser mudado". Essas mudanças não vêm, contudo, da habilidade técnica, ou dos pensamentos justos. Um misterioso pássaro negro as sussurra ao seu ouvido; a ave pousa em seu ombro e lhe diz algo que ninguém consegue ouvir. Certamente, nem o próprio Bellatin.

Distantes das referências, secos, avaros e hiperobjetivos, os relatos de "Flores" exigem leitores ativos, dispostos a fazer algo do que leem. A literatura deixa de ser, assim, matéria de contemplação, para se transformar em uma broca, que perfura o vazio. Todo leitor reinventa o livro que lê. Ainda mais radical, Bellatin exige que seus leitores, antes disso, se reinventem como leitores; ou nenhuma leitura será possível.

Em "Flores", os gêmeos Kuhn — crianças sem braços e pernas — provocam em Alba, a Poeta, uma estranha atração, que a impede de abandoná-los. É algo que não pode estancar e que a deforma também. A deformação infantil é consequência de medicamentos. Mas todos os personagens de Bellatin, como a senhora Henriette Wolf e o cientista Olaf Zumfelde, sofrem de algum tipo de desfiguração. E é com essas alterações involuntárias que eles devem viver.

A resignação está na base da literatura de Bellatin. Despida das convenções literárias e dos protocolos acadêmicos, seus livros partem de um ponto zero (um lugar fatal), no qual cada escritor é dono absoluto de seu destino. Esse zero, em vez de lhes roubar o chão, abre um abismo de possibilidades. Os personagens de Bellatin fazem da diferença uma afirmação; da imprecisão a condição para existir. São sujeitos singulares — que só em contraste com uma visão mediana do mundo se tornam estranhos.

Capacidade de desaparecer, uma grande qualidade

A escrita de Bellatin é um enigma, do qual as formas convencionais de conhecimento estão banidas. Em consequência, todas as ilusões a respeito da literatura fracassam. Para ele, a grande qualidade do escritor é a capacidade de desaparecer; pois só livre do autor um leitor consegue ler com liberdade. Como se nos dissesse que, para que um escritor se afirme, é preciso, antes, que toda a literatura desabe. Essa é a chance que temos de, enfim, chegar ao que Bellatin chama de "um lugar além do real".

O protagonista de "Flores" conhece, em um bar, uma crítica literária. Dividem uma mesa. A mulher fala sem parar; o escritor mantém-se em absoluto silêncio. A crítica se diz desnorteada porque não consegue mais classificar a produção literária. O escritor, ao contrário, sabe que é dessa impossibilidade que a literatura se alimenta. Enfrentar o impossível é a primeira condição para escrever. Talvez a única.



Pílulas dos cadernos literários (#3) - 27/06/2009

Complemento do Caderno Prosa & Verso (Jornal O Globo), transcrevo a entrevista com Edna O'Brien, que participará da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP).


Fonte: Caderno Prosa & Verso (O Globo). Sábado (27/06/2009)

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# "Escrever é como sonhar"
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Por Fernando Duarte (correspondente em Londres)
* Autora irlandesa, que já teve livros queimados, diz que mulheres ainda sofrem como artistas


>>> Entrevista - Edna O'Brien. Em termos de retornos triunfais, poucas pessoas podem se gabar tanto quanto Edna O'Brien, que no início de maio desfilou pelo salão principal do Mansion House, um dos hotéis mais requintados de Dublin, para receber um prêmio especial na categoria conjunto da obra durante a cerimônia do Irish Book Awards. Apenas o fato de fazer parte dos comes e bebes da maior honraria literária irlandesa já seria significativo para um escritora que, nos anos 1960, viu uma recepção medieval para sua prosa ousada na descrição de sentimentos e sensações femininas — com direito à queima de seus livros em praça pública e à censura oficial das autoridades. Sem olhar para trás, porém, Edna O'Brien seguiu em frente, aventurando-se também pela poesia e pela pesquisa biográfica — ela é autora de dois aclamados livros, um sobre o conterrâneo James Joyce e outro sobre o poeta ingles Lord Byron. Em entrevista ao GLOBO, Edna — hoje com 78 anos — uma das convidadas internacionais da Flip 2009, reflete sobre as agruras do passado e sobre os desafios ainda à frente de escritoras. Entre eles, o de deixar a redoma feminina. "O melhor artista é andrógino", afirma ela, cujo livro "A luz da noite", com tintas autobiográficas, está sendo lançado na Flip pela Record. "Byron apaixonado" sairá em setembro pela Bertrand Brasil.

O GLOBO: Em 2009, a senhora recebeu uma série de prêmios na Irlanda, incluindo a mais importante honraria literária do país. Uma grande mudança de maré, não?

O'BRIEN: Fiquei feliz em receber o prêmio em Dublin em maio, até porque ele foi entregue por Seamus Heaney, um Prêmio Nobel de Literatura! Certamente foi uma mudança de maré, pois meus sete primeiros livros foram proibidos pelos censores na Irlanda e meu romance de estreia, "Garotas do campo", teve cópias queimadas até na paróquia onde cresci. Por sinal, uma grande humilhação para minha mãe. O livro também foi considerado pela Igreja Católica e pelo governo como um desprezo à feminilidade irlandesa. Mas isso foi em 1960 e as atitudes em relação à literatura mudaram no mundo todo e na Irlanda. Os irlandeses não banem mais livros e eu só espero que os mais jovens aproveitem para ler tanto quanto eu lia. Ler grandes trabalhos é o pão e manteiga espiritual.

O GLOBO: A senhora também ficou famosa pelo estudo sobre James Joyce, mostrando o conturbado casamento de um escritor que também teve uma reputação de maldito na Irlanda. Isso fez parte de suas motivações para este trabalho?

O'BRIEN: Meu livro não era especificamente sobre o casamento de Joyce, embora sua companheira Nora Barnacle tenha sido crucial na vida dele. Meu maior interesse era Joyce como um escritor, pois ele é muito importante para um mundo de escritores, e mais especificamente para escritores irlandeses. Ele está no topo da montanha, e outros o seguem, motivados por sua linguagem. Foi como disse no meu livro quando falo sobre "Ulisses": a linguagem é herói e heroína, em fluxo constante e virtuosidade estonteante. Em comparação com "Ulisses", a maioria de outros trabalhos de ficção é puramente pusilânime.

* Para alguém tão interessada em assuntos femininos, o quão decepcionante é ver a mulher ainda objetificada?

EDNA: Mulheres ainda sofrem como artistas, o que é fruto do histórico domínio masculino. Escritoras como Emily Brönte e George Elliot tiveram que escrever com pseudônimos masculinos. As mulheres precisam sair de baixo desse imenso e feio guarda-chuva de preconceito. Mas elas conseguem e continuarão conseguindo. Podemos não ganhar tantos prêmios como os homens agora, mas isso vai mudar. É importante, porém, que escritoras não se prendam a assuntos femininos. O melhor artista é andrógino no que diz respeito ao trabalho. Também não creio que seja necessário ficarmos doutrinando os leitores, por mais que o contingente feminino de meus críticos reclame.

* A senhora se sentiu ofendida com algumas das reações públicas sobre sua exposição de sentimentos e dilemas?

EDNA: Sim, a reação me deixou estupefata. Fico imaginando o que essa mesma turma teria dito de Emma Bovary ou Anna Karenina. Sentimentos são o motor da criatividade. O que amamos num romance, num conto ou num drama é a interação e o conflito entre seres humanos, o amor, o ódio e a traição. Tudo isso não é alterado pela moda, ou pela grosseira noção de que sentimentos são demodé.

* Sem querer estragar a surpresa, a senhora poderia falar um pouco mais sobre sua participação na Flip?

EDNA: Decidi não participar mais da mesa-redonda sobre transgressão em Paraty. Decidi que quero abrir o debate para outras coisas como a noção de terra natal, os dilemas religiosos e culturais, bem como o amor e o não amor.

* Outro aspecto interessante do trabalho da senhora é a versatilidade de plataformas. O que a faz pular de uma trilogia como "Garotas do campo" para uma biografia de Lord Byron, seu próximo livro a ser lançado no Brasil ("Byron apaixonado", que sairá em setembro pela Bertrand)?

EDNA: Acho que é fruto da minha própria instabilidade. Adoro poesia, teatro e ficção. O que odeio é texto de segunda classe ou megalomania literária, bem como a falta de reverência à palavra.

* Qual a sua relação com Byron, outra figura polêmica?

EDNA: Meu interesse nele vem desde os tempos de escola. Sempre amei "Na véspera de Waterloo". Escrever um livro sobre ele foi ainda mais difícil do que imaginava: a pesquisa foi vasta e filtrar todos os dados provou ser complexo. Em apenas 36 anos de vida, Byron viveu várias vidas, todas elas dramáticas. Ele era bonito e deformado, sério e engraçado. Um homem dotado de uma inteligência fabulosa, mas preso numa mágica e malícia infantis. Em suma, Byron era uma pessoa fabulosa, um poeta gigante com quem tive o prazer de conviver durante três anos, lendo seus poemas e 13 volumes de cartas e diários. Na minha opinião, não há nada melhor na língua inglesa.

* "A luz da noite" traz pistas de referências autobiográfcas. Por mais que este tipo de transferência seja inevitável, quanto controle o autor pode exercer sobre seu trabalho?

EDNA: Não creio que um escritor pense conscientemente em quanto pode controlar a porção de si mesmo que entra em seu trabalho. Escrever é como sonhar, vem do inconsciente. Sim, "A luz da noite" foi inspirado em eventos da minha vida e tem o que chamo de um cordão umbilical com minha mãe, mas é apenas o trampolim de onde parte e espero ver se fundir numa história que pode ser minha, sua, ou de qualquer um.



Pílulas dos cadernos literários (#2) - 27/06/2009

Agora vamos às pílulas do Caderno Ideias (Jornal do Brasil) de hoje, que também se dedicou à Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP).

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!Caderno Ideias (JB). Sábado (27/06/2009)!
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# Te cuida, Bouillier

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Por Bolivar Torres
* matéria de capa *


Fazer da vida íntima a principal matéria-prima para a arte pode ter consequências surpreendentes. Que o digam o escritor Grégoire Bouillier e artista plástica Sophie Calle. (...)
>>> A matéria completa pode ser lida no site do JB (Te cuida, Bouillier).

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# As lorotas de Talese
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Por Rodrigo de Almeida
* 'Vida de escritor' é, ao mesmo tempo, um retrato do ofício do jornalista e uma soma de reportagens sobre a vida dos outros. A impressão final é a de um filme que poderia ser mais breve

> Bonito isso: Vida de escritor, o livro que motiva a ida do americano Gay Talese a Paraty, é uma obra sobre o fracasso. Parece notável, como começo de conversa, a disposição de um jornalista e escritor para escancarar as portas do próprio fracasso, com uma extensa união de notas recolhidas no tempo, longos espamos de memória, manuscritos antigos, pedaços de autobiografia e — o mais importante, já que estamos falando de fracasso — lampejos de auto-humilhação. (...)

>>> A matéria completa pode ser lida no site do JB ('Vida de escritor', de Gay Talese, é uma obra sobre o fracasso).

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# Quando o Bandeira bate à porta
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* Mais de 40 anos depois de sua morte, o poeta pernambucano Manuel Bandeira ainda é pedra de toque para a nova poesia brasileira. Com seu estilo simples e direto, o autor, que "soube estar, a um só tempo, dentro e fora do modernismo", como diz Eucanaã Ferraz, ensina que poesia não é feita só de "rendinhas, sabiás, corações engalanados" – palavras de Angélica Freitas. E, por isso mesmo, tem-se mantido como guia, uma espécie de "estrela da vida inteira", como cita e ao mesmo tempo nomeia Heitor Ferraz, para toda a lírica que se quer agora.
É exatamente essa influência poderosa sobre a nova geração de poetas que estará em pauta na mesa "Evocação de um poeta", sexta, na Festa Literária Internacional de Paraty. Nela, Eucanaã, Heitor e Angélica – mediados pelo também poeta Carlito Azevedo – contam mais detalhes de sua aproximação com a obra bandeiriana. Nestas páginas, os três eleitos narram sua experiência pessoal com o autor de Itinerário de Pasárgada. O que, nos três relatos, aparece sobretudo na forma de uma amizade duradoura, inescapável e deliciosa, com aquele senhor dentuço que carregava um guarda-chuva chamado Irônico e que, até hoje, anda por aí formando poetas.

>>> A matéria completa pode ser lida no site do JB:

- Heitor Ferraz: "Um grande companheiro de viagem, à roda do quarto".

- Angélica Freitas: "Poemas sem firulas, pela utilidade pública".

- Eucanaã Ferraz: "Uma obra exigente, que se entrega aos poucos".


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# No tempo das livrarias
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Por Wilson Martins

> NOSSAS PRIMEIRAS LIVRARIAS eram lojas de conveniências em que se vendiam, juntamente com livros importados, as mais variadas mercadorias. (...)


>>> A matéria completa pode ser lida no site do JB ("No tempo das livrarias").

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# Atividades paralelas animam festa ainda mais
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* Casa da Cultura, Casa Jornal do Brasil, Flipinha e Flipzona são atrações

>>> A matéria completa pode ser lida no site do JB ("Atividades paralelas animam a Flip")


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# coluna Informe Ideias
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Por Alvaro Costa e Silve, com Juliana Krapp

> Queixume. Amigo e correspondente de Manuel Bandeira, convidado da mesa 18 da programação oficial, a realizar-se no domingo, Edson Nery da Fonseca acha que a Flip deu pouca bola e espaço para o poeta homenageado do ano. O pesquisador, que em 2007 organizou uma nova edição dos Poemas religiosos e alguns libertinos, acha "um crime" não terem sido convidados dois íntimos de Bandeira, que continuam firmes e pimpõem: os poetas Lêdo Ivo e Thiago de Mello.

> Do contra. Seguindo uma tradição pessoal de ser do contra, Carlos Heitor Cony — que em anos anteriores, quando era autor da Companhia das Letras, desprezou um convite para participar da programação oficial da Flip — está feliz da vida na Flipinha. Ao lado de Ana Lee, parceira numa série de livros infantojuvenis, Cony vai compor uma mesa chamada "O mistério e a literatura".

> Blog na Flip. O Blog Pé de Moleque, criado em 2007 para acompanhar a Flip, está de cara nova. Confira no endereço <jblog.com.br/pedemoleque.php>. Nele vai estar a cobertura completa de todas as mesas da festa literária, além de tudo de mais importante que acontecer nas ruas do centro histórico de Paraty, não à toa revestidas de calçamento chamado de pé de moleque.

> Prêmio Sesc. Os vencedores do Prêmio Sesc de Literatura - 2009, Marcio Ribeiro Leite e Sergio Leo de Almeida Pereira, estarão quarta-feira na Academia Brasileira de Letras para o lançamento oficial dos livros premiados. A solenidade, aberta ao público, será às 17h30, e contará com a presença do escritor Moacyr Scliar. No sábado, os novos autores estarão na OffFlip, atração paralela à festa de Paraty. As obras premiadas foram o romance Momento mágico, do médico baiano Marcio Leite, e a coletânea de contos Mentiras do Rio, do jornalista carioca Sergio Leo. As duas serão publicadas pela editora Record.

> As estátuas. Em Joaquim e Maria, infantojuvenil de Luciana Sandroni, com ilustrações de Spacca, a estátua de bronze de Machado de Assis, que fica na entrada da Academia Brasileira de Letras, ganha vida e resolve dar uma volta pelo Centro do Rio e bairros próximos, em busca da cidade retratada em suas obras. Não a encontra, naturalmente, mas acaba conhecendo dois jovens que serão seus leitores para sempre. Num dos momentos mais divertidos do livro, lançado pela Companhia das Letrinhas, a estátua de Machado encontra a de José Alencar, plantada na pracinha que divide o fluxo de carros que vêm das Laranjeiras e do Flamengo para a Rua do Catete e para a praia. "Para Alencar só faltava um apito, não de índio, mas de guarda de trânsito", escreve Luciana.


Pílulas dos cadernos literários (#1) - 27/06/2009

Vamos às pílulas dos cadernos literários de hoje.

Tanto o Caderno Prosa & Verso (Jornal O Globo) quanto o Caderno Ideias (Jornal do Brasil) deram total atenção à Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) que começa a próxima semana.

Coloquei uma nova formatação para as "pílulas" e passarei a publicar os clippings de cada caderno em posts diferentes, em virtude do tamanho. Isso facilita a leitura e o meu controle. Assim, o post #1 é sobre o Caderno Prosa & Verso. E o post #2 sobre o Caderno Ideias. Os posts #3 e #4 serão complementos do Prosa & Verso, com a entrevista da Edna O'Brien e a matéria de José Castello, respectivamente.

Destaco no post de hoje a matéria "Rede social para os amantes do livro" que fala da estreia da rede social O Livreiro.

Aproveitem!

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!Caderno Prosa & Verso (O Globo). Sábado (27/06/2009)!
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# Devoto do ateísmo

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Por Roberta Jansen
* Um dos grandes nomes da Flip, Richard Dawkins ataca as religiões

>>> A matéria completa pode ser lida no blog Prosa & Verso (Richard Dawkins, um devoto do ateísmo).

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# "Escrever é como sonhar"
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Por Fernando Duarte (correspondente em Londres)
* Autora irlandesa, que já teve livros queimados, diz que mulheres ainda sofrem como artistas

>>> Entrevista - Edna O'Brien. Em termos de retornos triunfais, poucas pessoas podem se gabar tanto quanto Edna O'Brien, que no início de maio desfilou pelo salão principal do Mansion House, um dos hotéis mais requintados de Dublin, para receber um prêmio especial na categoria conjunto da obra durante a cerimônia do Irish Book Awards. Apenas o fato de fazer parte dos comes e bebes da maior honraria literária irlandesa já seria significativo para um escritora que, nos anos 1960, viu uma recepção medieval para sua prosa ousada na descrição de sentimentos e sensações femininas — com direito à queima de seus livros em praça pública e à censura oficial das autoridades. Sem olhar para trás, porém, Edna O'Brien seguiu em frente, aventurando-se também pela poesia e pela pesquisa biográfica — ela é autora de dois aclamados livros, um sobre o conterrâneo James Joyce e outro sobre o poeta ingles Lord Byron. Em entrevista ao GLOBO, Edna — hoje com 78 anos — uma das convidadas internacionais da Flip 2009, reflete sobre as agruras do passado e sobre os desafios ainda à frente de escritoras. Entre eles, o de deixar a redoma feminina. "O melhor artista é andrógino", afirma ela, cujo livro "A luz da noite", com tintas autobiográficas, está sendo lançado na Flip pela Record. "Byron apaixonado" sairá em setembro pela Bertrand Brasil.

(...)

(A Autora na Flip) Edna O'Brien conversará com Liz Calder sobre "Sentidos da transgressão", sexta-feira, dia 3, às 15h.

%%% A entrevista completa eu publicarei aqui no Canastra ainda hoje.

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# Visões antagônicas sobre a China
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Por André Miranda
* Ela otimista, ele pessimista, Xinran e Ma Jian remexem no passado recente de um país conturbado, mas que se tornou uma das maiores potências mundiais.

>>> Entrevista - Xinran. Entrevista - Ma Jian. Passado menos de um mês do aniversário de 20 anos do Massacre da Praça da Paz Celestial, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) vai receber dois autores chineses, ambos com novos trabalhos chegando às livrarias brasileiras. Da jornalista Xinran, a Companhia das Letras lança "Testemunhas da China — Vozes de uma geração silenciosa", obra que reúne relatos de chineses que viveram de perto as mudanças ocorridas no país no último século e que raramente aceitam revelar detalhes de sua trajetória. Já do escritor Ma Jian, a Record publica "Pequim em coma", um romance que parte do massacre para olhar, em tom crítico, a história recente da China. São dois livros que, em comum, remexem nas marcas deixadas num país conturbado socialmente, mas que representa uma das maiores potências do mundo. "Ma Jian e eu somos amigos, porém temos uma visão muito diferente sobre a China. Ele é muito pessimista em relação ao futuro do país, enquanto eu sou muito otimista. Ele costuma insistir que não devemos nos esquecer do passado. Eu concordo, mas acrescento uma frase: também não devemos viver no passado", diz Xinran que, como o colega, também mora na Inglaterra. Essas duas visões acerca do mesmo país estão bem presentes em entrevistas que os autores chineses concederam ao GLOBO.

Trecho da entrevista...

O GLOBO: Ao ter contato com histórias tão fortes para o livro, como lidou com suas próprias lembranças sobre o passado?

XINRAN: Eu já passei dos 50. Em toda a minha vida, nunca tive uma vida familiar comum ao lado dos meus pais e pouco ouvi falar sobre meus avós. Meus pais estão com 80 anos e não falam sobre o passado. A China nunca fala sobre a Revolução Cultural para as gerações mais novas, mesmo que ela tenha terminado há pouco mais de 30 anos. Foi muito difícil me manter distante dos fatos ao lidar com esse tipo de memória. As pessoas me perguntam o porquê de eu não ter estruturado o livro numa linha cronológica da História. Mas eu quis fazer de "As testemunhas da China" um livro mais pessoal, não um livro de História. Para que o leitor pudesse participar da minha jornada pessoal de encontros com os meus entrevistados.

(...)

O GLOBO: E a literatura chinesa hoje? A maior parte dos livros que chegam ao Brasil lida com temas sociais ou políticos. É apenas disso que a China é feita?

XINRAN: A ideia que o Ocidente tem da sociedade chinesa é baseada nos livros que estão em suas bibliotecas. Mas quantos livros chineses foram publicados na sua língua? Um número muito limitado foi traduzido. Claro que o idioma é uma dificuldade. Mas, além disso, a visão da China na mídia ocidental é muito simplificada. Só se fala do poder político e econômico. E a vida das pessoas? Nós temos uma literatura antiga, uma literatura moderna, romances, poesias. Mas nada disso sai da China. (...)

O GLOBO: Então, mudando o ponto de vista: o que a senhora espera encontrar num país como o Brasil?

XINRAN: Eu nunca fui para essa parte do mundo. Mas, mesmo assim, eu amo seu país. Vocês têm um jeito de ser, um jeito brasileiro que encanta o mundo.

Dramas femininos no palco. Além de participar da mesa "China no divã", a escritora Xinran também já confirmou presença em outro evento que será realizado durante a Flip: a encenação de "Palavras na brisa noturna", espetáculo inspirado em seu livro "As boas mulheres da China" (Companhia das Letras). Escrita e dirigida por Fábio Porchat, a peça fará sua estreia em Paraty nos dias 2, 3 e 4 de julho, às 21h, no teatro do Colégio Cembra, antes de entrar em cartaz no Rio, em 11 de julho, na sede da Cia. dos Atores, na Lapa. (...)

(Os Autores na Flip) Ma Jian e Xinran participarão da mesa "China no divã" quinta-feira, dia 2, às 17h, na Tenda dos Autores.


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# Relatos da própria vida
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Por Suzana Velasco
* "Tudo é verdade em meus livros", diz autor francês que debaterá com a ex-namorada, Sophie Calle

>>> Entrevista - Grégoire Bouillier. Grégoire Bouillier chega à Flip um tanto à sombra da artista Sophie Calle, a ex-namorada com quem ele terminou o relacionamento por e-mail, inspirando a obra "Prenez soin de vous" ("Cuide de você"), em que 107 mulheres leem a mensagem de rompimento. Num dos mais esperados encontros da festa literária, os dois estarão frente a frente publicamente pela primeira vez desde o término. Em "O convidado surpresa" que a CosacNaify lança neste fim de semana, Bouillier conta como conheceu Sophie, que a cada festa de aniversário pedia para um de seus convidados levar um desconhecido. Mas o livro não trata do relacionamento dos dois — que só se viram novamente dez anos depois —, e sim do reencontro de Bouillier com a mulher que então amava e havia lhe deixado. Numa narrativa confessional, o escritor francês não apenas expõe sua vida amorosa como insere "provas" para comprovar ao leitor o que diz: "Tudo é verdade em meus livros".

Trecho da entrevista...

O GLOBO: Em "O convidado surpresa", dados, fotos, recortes de notícias dão todo o tempo ao leitor a confirmação de veracidade da história. Até que ponto é importante que o leitor saiba, ou acredite, que a história é verdadeira?

BOUILLIER: Não se trata de fazer que o leitor acredite que tudo o que eu conto é verdade: é verdade! Nenhum dos meus livros é inventado, e os documentos estão ali para testemunhar. Além disso, eu achei divertido inserir esses documentos. É um pouco como as provas numa história de assassinato. Para mim, "O convidado surpresa", é uma espécie de livro policial. É um estudo psicológico sobre as verdadeiras razões de uma ruptura amorosa.

(...)

O GLOBO: O senhor conhece algo da literatura brasileira?

BOUILLIER: Eu mostrei livros de Clarice Lispector para a primeira mulher com quem vivi. Ela acabou me deixando para se tornar uma escritora e, em suas obras, há o eco de livros como "A paixão segundo G.H.".

(...)

(O Autor na Flip) Grégoire Bouillier participará da mesa "Entre quatro paredes", com Sophie Calle, sábado, às 11h45m.

(Atualização em 28/06/2009): O blog Prosa Online publicou hoje a entrevista completa com Grégoire Bouillier.


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# No ritmo de uma antiga canção angolana
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Por Ronize Aline
* Em obra infanto-juvenil, Ondjaki recria uma época e um jeito de ser que emocionam especialmente os adultos


>>> AvóDezanove e o segredo do soviético, de Ondjaki. Editora Companhia das Letras, 192 páginas. R$ 36. O poder da memória, segundo Derrida, não está em ressuscitar o passado já que, para ele, não há passado. O que não é lembrado não se pode sequer dizer que exista. Aquilo que se costuma chamar de passado se torna presente porque é atualizado através da memória que, uma vez acionada, vira narrativa. "AvóDezanove e o segredo do soviético", lançamento infanto-juvenil do angolano Ondjaki, é feito das mesmas vozes com que se constrói o passado, esse momento indefinível que só existe porque a memória se vestiu de livro para não virar esquecimento.

Cores, sabores e sonhos tão locais e tão universais

Ondjaki vai desfiando suas vozes como quem desfia um novelo há muito guardado. Há momentos de fácil desenrolar, quando a linha parece querer escapar dos dedos e as vozes tomam seu rumo por conta própria, correndo como os garotos a buscar a alegria na espuma da praia. Há outros em que surgem emaranhados, nós apertados que interrompem o livre deslizar, no mesmo ritmo da infância que não quer crescer para não se transformar em "mais-velhos". "As coisas antigas não têm muita graça de rir", diz um dos personagens. E autor vai brincando com o tempo como o tempo brincava com os moradores daquele vasto mundo dentro de Luanda: "Está muito escura a PraiaDoBispo, não sei se o tempo vai querer passar por aqui". E então, "o tempo tinha decidido que já podia passar". (...)

(O Autor na Flip) Domingo, às 10h30m, na Casa da Cultura, Ondjaki participará da mesa "Acordo ortográfico em questão", com Marcelino Freire.

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# Crescimento pelas beiradas
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Por Miguel Conde
* Mais enxuta no palco principal, festa incrementa programação paralela

> Mais enxuta no palco principal (este ano são 34 convidados para a Tenda dos Autores, contra 41 em 2008), a Flip cresce nos entornos. Seguindo o caminho iniciado ano passado, a Casa da Cultura vai abrigar uma encorpada programação paralela (antes quase sempre limitada a shows musicais num café local) com exibições de filmes, debates, e escritores que poderiam estar (David Foenkinos), estão (Atiq Rahimi) ou já estiveram (Jon Lee Anderson) na programação central. Na prática, o espaço com capacidade para 150 pessoas funcionará como um segundo palco da festa.

— É uma coisa comum nos festivais internacionais — diz Flávio Moura, diretor de programação da Flip.

Ao assumir ano passado a programação, Moura aproveitou o espaço para abrigar peças, performance, palestras e exibições de filmes. Este ano, porém, a fórmula foi incrementada com uma presença mais forte de escritores nos debates. O reforço é uma resposta ao crescimento do público da festa, afirma Moura:

— Tem muita gente que não consegue ingresso, mas não dá para aumentar a Tenda dos Autores, isso a descaracterizaria. Então o jeito é mesmo termos eventos simultâneos na cidade.

Essa ampliação e a criação de uma programação voltada para adolescentes, a FlipZona, são mencionadas por Moura e pelo diretor de organização da Flip, Mauro Munhoz, como provas de que a crise mundial não afetou a festa.

— A captação foi mais difícil, as empresas entraram com menos dinheiro. Mas conseguimos equacionar isso reunindo um número maior de apoios. O orçamento da Flip não diminuiu — garante Munhoz.

A FlipZona, no mesmo modelo da Flipinha, se estende ao longo do ano, com atividades educacionais realizadas nas escolas de Paraty. Durante a Flip, serão realizadas oficinas de texto e atividades multimídia com os adolescentes.

Venda dos ingressos continua confusa

Munhoz diz que o crescimento constante do interesse pela Flip contribui, também, para uma tradição lamentável do evento: a confusão na venda dos ingressos. Todo ano, o sistema de vendas pela internet apresente problemas e deixa os compradores exasperados.

— A empresa responsável pelo sistema de vendas aumentou a capacidade dele, mas o aumento da procura excedeu o incremento — diz.


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# Cobertura ampliada no papel e em novos meios
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* O GLOBO vai produzir um tablóide especial, terá presença no Twitter e notícias por celular

> Para acompanhar o crescimento da Flip, que se tornou o acontecimento literário mais esperado do ano, O GLOBO também vem incorporando mais novidades à sua cobertuara. Nesta 7ª edição da Festa, além das reportagens que serão publicadas diariamente em uma página inteira na Editoria Rio, a partir do dia 2, e no Prosa & Verso, o jornal editará novamente, como em 2008, tablóides especiais de oito páginas que circularão em Paraty durante a festa, entre quinta-feira e domingo, dando ao leitor uma visão bastante abrangente da programação cultural da cidade.

Na internet, além da cobertura no blog Prosa Online (www.oglobo.com.br/blogs/prosa), o leitor acompanhará os acontecimentos em Paraty em tempo real pela novidade do ano na cobertura: o Twitter. Quem quiser participar do Twitter Prosa & Verso #Flip2009 (www.twitter.com/prosaeverso), pode enviar mensagens de qualquer lugar e usar o código #Flip2009 nos comentários, para que eles apareçam na página do Prosa Online. Qualquer um pode enviar mensagens — basta ter uma conta no Twitter. Através do celular, será possível navegar em http://oglobo.mobi/prosa para obter notícias da Flip.

O GLOBO também tem um canal de SMS de cultura que acompanhará a cobertura da Flip. Nesse caso, é preciso enviar mensagem de texto com o código OGLCULT (para 88435). São até 3 notícias diárias, ao custo de R$ 0,10 por notícia recebida.


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# Rede social para os amantes do livro
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* O Livreiro poderá ser acessado a partir de 1º de julho, abertura da Flip

> Quem for à Festa Literária Internacional (Flip) dificilmente deixará de conhecer O Livreiro, a rede social voltada para o universo dos livros — a mais abrangente do tipo já lançada até hoje no Brasil — que entrará no ar dia 1º de julho, no endereço http://www.conhecaolivreiro.com.br/. Para marcar o lançamento, O Livreiro preparou um grande mosaico, de 10 metros por seis, formado por dois mil livros, que vai estampar durante a festa o rosto de Manuel Bandeira, o homenageado da Flip 2009, na Igreja de Santa Rita, famoso cartão-postal da cidade. Os livros serão depois doados para a própria Flip, que realiza ações sociais na região. As obras foram dadas pela Livraria Cultura, parceira de O Livreiro, criado pela empresa Infoglobo.

A jornalista Joyce Jane C. Meyer, responsável pelo projeto, explica que O Livreiro está em fase experimental. Até o fim do ano, a ideia é "povoar" o novo site e aprimorá-lo, a partir do retorno dos internautas.

— Mas vamos estrear já robustos. Teremos, por exemplo, um Clube do Livro comandado pelo escritor Milton Hatoum, também um dos muitos amigos do Livreiro, que vão dar dicas de leitura para os internautas. Diariamente, vamos destacar uma dessas indicações. O site não é um produtor de notícias, mas um agregador, com referências e links sobre o que sai na mídia sobre livros — conta Joyce.

Nele, será possível criar — gratuitamente — páginas pessoais, onde o internauta dará destaque aos títulos de suas preferências, e comunidades para debates. É um novo espaço de relacionamento para quem gosta de livros.

— Não é um site de literatura, mas de livros. O Brasil precisa de novos leitores, e a ideia é estimular a leitura, promover a inclusão literária — afirma Joyce.

Entre os amigos de O Livreiro, além de escritores como Hatoum, Cristovão Tezza, Luis Fernando Veríssimo e José Castello, haverá personalidades como o publicitário Marcello Serpa, o economista Delfim Netto, o humorista Claudio Manoel.

A base de dados é a mesma da Livraria Cultura, com 2,2 milhões de títulos. Outro parceiro é o Instituto Moreira Salles, que vai permitir o uso no site de seu acervo digitalizado. Haverá páginas de autores clássicos, listas de mais vendidos, índice de obras mais adicionadas pelos internautas. E serão feitas ações não virtuais, em diferentes cidades, para onde O Livreiro levará tendas itinerantes de doação de livros. E por enquanto haverá dois blogs, um sobre economia mundial, escrito de Xangai pelo diplomata Marcos Caramuru, e outro sobre política internacional na era Obama, por José Meirelles Passos.

— Nosso compromisso é com o conteúdo, seja ele do "New York Times" ou de um blog. Estamos fazendo parcerias com diferentes mídias, de variadas empresas — diz Joyce.

Nesta Flip, O Livreiro terá ainda um estande, na Tenda dos Autores, aberto a qualquer pessoa, onde um especialista produzirá retratos falados de personagens literários, tal como imaginados pelo leitor.


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# A escrita como enigma
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Por José Castello
* Em 'Flores', o mexicano Mario Bellatin exige que seus leitores se reinventem

(...)

(O Autor na Flip) Mario Bellatin participará da mesa "O eu profundo e outros eus" com Cristovão Tezza, na sexta-feira, dia 3, às 17h.

%%% A matéria completa eu publicarei aqui no Canastra ainda hoje.


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# coluna R O D A P É
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> GRANTA 4. Segunda-feira, às 19h30m, a Casa do Saber (2227-2237) abriga o lançamento da quarta edição brasileira da revista "Granta" (Alfaguara), que tem como tema a ambição. Para marcar o lançamento, os escritores Luis Fernando Verissimo, Sergio Sant'Anna e Adriana Lisboa (que têm textos publicados no volume) vão participar de um debate com mediação de Francisco Bosco.

> BANDEIRA COMPLETO. As editoras Nova Fronteira e Nova Aguilar vão fazer um lançamento especial de "Poesia completa e prosa", de Manuel Bandeira, na Flip. Será às 20h30m de quinta no Armazém do Cais.

> CURSOS DE CASTELLO. O escritor e crítico do Prosa & Verso José Castello participa daqui a duas semanas de dois cursos na Estação das Letras. A "Oficina da imaginação", de 6 a 8 de julho, e a oficina "Extremos: círculo de leitura de ficções radicais — lendo "Memórias do subsolo" de Dostoievski, esta com a psicanalista Maria Hena Lemgruber, dias 9 e 10. Inscrições: 3237-3947.

> CAIO FERNANDO E CLARICE. Estreia hoje no Centro Cultural Justiça Federal (Rio Branco 241) a peça "Saber viver nos dias que correm", baseada nos contos "Linda, uma história horrível" de Caio Fernando Abreu e "Laços de família" de Clarice Lispector.

> DIÁLOGOS CARIOCAS. Vai até sexta-feira no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ (Av. Pasteur 250) o seminário "Diálogos cariocas", com debates sobre a cidade. Informações: http://www.dialogoscariocas.com.br/


Programação Tv Senado

Hoje (sábado, dia 27/06), o programa Inclusão da Tv Senado está apresentando um debate a respeito do papel da escola na formação de leitores, com a presença do jornalista e escritor Galeno Amorim, do escritor mineiro Fernando Morais (autor de Olga, entre outros) e do jornalista Maurício Mello, que comanda o programa Leituras da própria TV Senado.

O programa mostrará ainda outras iniciativas de incentivo à leitura.

Os horários de hoje do programa Inclusão são: 2h30, 11h30 e 22h30. Amanhã, domingo (28), às 09h e 17h.

E no programa Leituras (da mesma TV Senado) será exibida entrevista com a escritora e imortal Nélida Piñon, sobre seu livro Coração Andarilho. O programa irá ao ar no domingo (dia 28/06) às 4h, 8h e 20h30.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Lançamento de O contorno do sol


Será lançado hoje, na Livraria da Travessa de Ipanema (RJ) o novo livro de Natalia Nami: O contorno do sol, que sai pela Rocco.

Natalia foi finalista do concurso Contos do Rio (promovido pelo jornal O Globo), em 2008. E no mesmo ano lançou pela editora 7 Letras o livro de contos O pudim de Albertina.

Foi com esse livro de contos que conheci seu trabalho. Gostei bastante. Agora fico na expectativa de seu primeiro romance, que será lançado às 19h, e fala de uma protagonista dilacerada pela solidão.

O romance é narrado em cima do seu dilema de atender ou não a campainha que soa insistente, e a pessoa que está do outro lado da porta torna-se, também, um enigma para o leitor.

Narrado em primeira pessoa, o livro acompanha o pensamento de Flávia nesse momento de agonia. Enquanto adia a decisão de abrir a porta, Flávia revê sua vida, com uma lembrança levando a outra. E assim o leitor vai reconstruindo, fragmento a fragmento, sua história.

Site de Rodrigo Lacerda

Saiu do forno, quentíssimo, o site do querido escritor Rodrigo Lacerda.

Num e-mail que trocamos há alguns meses, eu havia dito que sentia falta de ele ter um lugarzinho assim, para divulgar sua obra, seus trabalhos, projetos, etc, enfim um pouquinho de literatura em todos os cantos.

E como um pedido feito ao gênio, o desejo foi atendido. Está no ar seu site: http://www.rodrigolacerda.com.br/. Ontem eu visitei todos os links. Está muito bom! Aproveitem, pois tem material de primeira.

Projeto Você é o Escritor!


Galeno Amorim diz em seu blog que está acontecendo uma verdadeira celebração ao livro e à leitura, nas praças de Ribeirão Preto (SP), onde acontece a 9ª edição da Feira Nacional do Livro. A Feira que é a céu aberto tem sido recheada de nomes importantes da literatura.

Galeno que também é o patrono da Feira ainda participa com um outro projeto: Você é o escritor!, uma iniciativa da Fundação Palavra Mágica, que tem o objetivo de estimular a leitura, a reflexão e a escrita entre os moradores de Ribeirão Preto. Assim, ele consiste de distribuir o livro O menino que sonhava de olhos abertos, escrito por Galeno Amorim (e que doou os direitos autorais para a Fundação), gratuitamente para toda a cidade. Os moradores são estimulados a ler, refletir sobre o tema, e depois escrever o seu próprio final para a história, tornando-se co-autor da mesma.

Foram distribuídos 150 mil exemplares do livro, que também pode ser baixado gratuitamente e impresso livremente. Para quem quiser receber o livro com a diagramação e formato editorial, pode adquiri-lo, a preço de custo, de um dos parceiros do Projeto.

Tanto o livro quanto informações sobre o projeto podem ser acessados no site: http://www.voceeoescritor.org.br/escritor/default.asp

Boas ideias merecem ser espalhadas!

Troca de livros na Estação das Letras

(clique na imagem para ver os detalhes)


Amanhã tem Troca de Livros na Estação das Letras e palestra com Catarina Pereira e Rodrigo de Souza Leão.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Primeiro livro de Raymond Carver na íntegra



O primeiro livro de contos do escritor americano Raymond Carver (O que falamos quando falamos de amor), publicado em 1981, foi para o mercado com várias alterações do então editor Gordon Lish, que chegou a cortar mais da metade do texto original. Carver rompeu com Lish.

Ironicamente ou não, Carver ficou conhecido por um estilo seco e enxuto, fazendo sucesso até sua morte em 1988.

No ano passado, Tess Gallagher, viúva do escritor, resolveu publicar a versão original, a partir dos originais encontrados por dois acadêmicos numa biblioteca da Universidade de Indiana. O livro foi publicado com o título de Beginners, e chega ao brasil traduzido para Iniciantes.

Tess afirmou ao Jornal do Brasil que os contos originais possuem uma textura mais rica, e personagens e estrutura narrativa mais desenvolvidos.

O tradutor Eric Nepomuceno diz que é difícil dizer qual das versões tem mais brilho, mas, pessoalmente, prefere o original à versão de Lish, pois ele preserva um lado humano, mais suave.

Veja a matéria completa no site do JB.



Abaixo mais detalhes sobre o livro:

Autor: Raymond Carver
Título original: Beginners
Editora: Companhia das Letras.
Págs: 296
Tradutor: Rubens Figueiredo
Preço: R$ 49,00

Sinopse:

Os contos que formam a coletânea Iniciantes foram publicados pela primeira vez em 1981, com enorme sucesso de público e crítica, sob o título What we talk about when we talk about love. O livrinho, de não de mais de 130 páginas, valeu a Raymond Carver o epíteto de escritor “minimalista”, tão surpreendentemente enxutos, breves e silenciosos os textos pareciam.

Mais tarde o público ficou sabendo que Gordon Lish, o editor de Carver na Knopf, havia cortado o texto dos contos em cerca de 50%, em média. Agora, o vasto e fiel leitorado de Carver, nos Estados Unidos e no Brasil, simultaneamente, tem acesso aos dezessete contos integrais, do jeito que saíram da pena e do imenso talento de Carver.

Apesar de falar de gente normal sem traços de genialidade, heroísmo ou arroubos românticos, o que mais impressiona na obra de Raymond Carver é o caráter descentrado de seus personagens, “caipiras de shopping center”, como os chamou seu primeiro editor. São basicamente histórias de alcoolismo e de casamentos em ruínas, protagonizadas por figuras anônimas da classe trabalhadora envolvidas em sua luta inglória e quase sempre perdida por uma vida dentro dos inalcançáveis padrões do sonho americano.

O estilo dos contos originais de Raymond Carver, desidratado de firulas retóricas, mas não de vozes humanas densas e palpáveis, adapta-se à perfeição a um neorrealismo americano que, em versão cinematográfica, resultou no excepcional Short cuts, de Robert Altman, de 1993, diretamente inspirado em vários dos textos incluídos neste Iniciantes.


quarta-feira, 24 de junho de 2009

Livros com 40% de desconto (só hoje)

Dica quentíssima do blog da querida Anaik (Melhores Palavras):

A CosacNaify está vendendo, somente hoje (dia 24), os livros de seus autores que estarão na Flip, com 40% de desconto.

Confira a lista no site da Cosac.

Resenha: Outra vida



Rodrigo Lacerda lança hoje seu nome romance: Outra vida (convite aqui no Canastra). Por coincidência, terminei pela manhã sua leitura. Recuperando-me do impacto que esse texto me causou, escrevi a resenha abaixo, de um fôlego só, igual à leitura que fiz.

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Um romance que desfragmenta os papéis de um relacionamento

Comecei a ler Outra vida, de Rodrigo Lacerda, com a expectativa de leitora que ficou fascinada com seus livros anteriores. E não me decepcionei.

Pai, mãe e a filha de 5 anos esperam na rodoviária de uma grande cidade, às 7h15 da manhã. Assim começa Outra vida. A rodoviária, nesse caso, não é apenas um cenário do livro, é o limite desses personagens. Todo o romance se desenrola em pouco mais de duas horas que a família permanece ali. Esse casal, que se desfragmenta nos papéis de pai, mãe, marido e esposa, está prestes a abandonar o que construíram ou destruíram na cidade grande, para, numa quase fuga, retornar à cidade litorânea de onde vieram. Tudo para recomeçar. Um recomeço que tem significados opostos para cada um.

Aos poucos Rodrigo vai pintando o retrato de seus personagens. O retrato em si e o que é criado pelos olhos dos outros. O autor não faz julgamentos morais durante sua narrativa; nós fazemos. Julgamos (pois nos identificamos), analisamos, perdoamos (como a nós mesmos); ou não fazemos nada disso, pois é impossível tomar partido por um ou outro. Resta saber quem o leitor irá condenar: ele ou ela.

Será ele, de uma “delicadeza rude que a mulher conhece tão bem”, filho de um açougueiro e de uma mulher simples, que estará esperando por ele na cidade pequena, disposta a lhe oferecer um “amor que não pensa e que continua se declarando mesmo quando não pode ser escutado”.

Será ela, filha de uma família nobre, com conhecimentos políticos, de maneiras reservadas, acostumada ao dinheiro e ao que ele pode trazer.

Ele, o homem apaixonado, disposto a fazer todo o possível para que essa relação de classes diferentes dê certo, que aceita o emprego arranjado pela sogra, para ser o “apadrinhado periférico” de um assessor de deputado que não cansa de humilhá-lo.

Ela, que ao conhecê-lo se assustou com a atração que sentira por um homem tão simples e pacato, mas muito diferente dos outros. Tão diferente que se sentia forte ao lado dele.

Ele, que a visão da filha tão amada não o deixava esquecer da necessidade de ganhar mais dinheiro; que se viu odiando a profissão antes desejada, ao conhecer as manobras políticas dentro do serviço público.

Ela, que se questiona “de que adianta ser bonita e bem-educada numa vida pé-de-chinelo”; que “sonha ser o oposto das pessoas que voltam a suas cidadezinhas”.

Ele, pai, “vagaroso, acostumado a ceder sua vez aos outros, a não brigar por medo de que o acusassem de covarde”, e que se vê tentado a aceitar o suborno, justificando a gravidade do seu ato, pois “o bem público não haveria de ser lesado” e a “recompensa viria dos cofres do fornecedor, não do dinheiro público”; que se viu tendo “dinheiro para levar uma vida de pobre, ficando mais com a filha na hora que bem entendesse” e ainda podendo “pagar a aposentadoria dos pais”.

Ela, mãe, que sente uma ponta de inveja ou de culpa quando vê uma mãe humilde e seu bebê de colo se amarem “com tanta placidez, enquanto balançam seus corpos”; que lamenta que a ruptura acontecida logo após o parto nunca tenha sido recuperada; que não aceita o marido ter confessado o suborno e devolvido o dinheiro, e com isso ter que largar o apartamento alugado que fez questão de reformar, o emprego de vendedora, promovida a subgerente, que conseguira depois de ser exclusivamente mãe por dois anos; que fica tentada a aceitar a proposta do amante e ouvir o conselho da mãe que a incentiva a ficar e lutar por seus sonhos.

Não há nomes de personagens, nem localizações geográficas explícitas. Mas não são necessários, pois os pensamentos de cada um são a força da narrativa de Rodrigo Lacerda, o mesmo escritor que ganhou diversos prêmios, com obras marcantes como: “O mistério do leão rampante” e “O fazedor de velhos”.

Mas se fosse somente isso, já teríamos um ótimo romance. Contudo, incansável na busca pela perfeição, o autor ainda nos oferece um romance que vai entrecortando o presente com as marcas que foram moldando esse homem e essa mulher, na infância e no casamento, até que o quebra-cabeça desse relacionamento esteja montado. Enquanto o relógio de quatro faces da rodoviária marca a passagem do tempo, agindo muito mais como uma ampulheta, vamos, ora com o marido, ora com a esposa, ou até mesmo com a filha, relembrando os momentos que levaram essa família até aquele ponto. Entendendo como eles chegaram até ali e porque necessitam partir.

Um conjunto que se traduz não menos do que num excelente romance, um romance que vai nos tocando e modificando a cada parágrafo. Que vai remexendo com nossas convicções, nossos sentimentos. Ou seja, vai nos presenteando com uma literatura pura, da melhor qualidade.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Conto meu no Histórias Possíveis

Saiu a edição dessa semana (#46) da revista literária eletrônica Histórias Possíveis. E nele um conto meu — Retrato na estante.

Esse conto é um dos meus preferidos.

Por que a predileção? Talvez eu o sinta como um divisor de águas na minha escrita, pois depois que o criei e ele me deu (numa versão anterior) uma menção honrosa, me senti... diferente. E tudo que escrevi e reescrevi a partir dele foi muito bem recebido em suas leituras críticas.

Como não podia deixar de ser, Retrato na estante é um dos contos do meu livro que já está prontinho, colocando as orelhinhas para fora da gaveta.

O conto eu já havia publicado aqui no blog, mas sempre é bom vê-lo de roupinha nova em outros cantinhos literários.

Leitura em debate essa semana

(clique na imagem para mais detalhes)


Relembrando o post de divulgação que fiz no início do mês, na próxima quinta-feira terá o evento "Leitura em debate" na Fundação Biblioteca Nacional.

Esse é o segundo ano do evento e o mesmo se estenderá mensalmente até dezembro de 2009, com o objetivo de discutir a formação de novos leitores e a literatura infantil e juvenil em seus diversos aspectos.

O primeiro debate que acontece na próxima quinta tratará sobre a importância das imagens na literatura infantil e juvenil, contando com Maurício Veneza, Rui de Oliveira e Graça Lima. A mediação será de Anna Claudia Ramos.

A entrada é franca.

Um pouco de técnica com García Márquez

Ontem ao guardar o livro do José Castello, encontrei o livro "Oficina de Roteiro de Gabriel García Márquez - Como contar um conto".

Só o título já diz tudo.

Não tenho tido tempo para reler livros por inteiro. Têm tantos livros novos me esperando na estante, que é complicado dividir-me entre todos.

Mas de vez em quando gosto de pegar um livro, reler um trecho ou as minhas anotações/marcações. Se for um romance, leio alguns parágrafos novamente. Se for uma coletânea de contos, releio esse conto. A vista sempre volta naqueles em que eu marquei "excelente", "gostei muito", etc. Mas deveria voltar naqueles em que não coloquei nada. Talvez uma segunda leitura (ou terceira, ou quarta) mudem meu ponto-de-vista.

Bem, hoje pela manhã, meu alvo foi esse livro do García Márquez. Um livro de fazer literário. O material é a transcrição de aulas de oficina de roteiros, na qual os trabalhos dos alunos são discutidos em detalhes.

Divido com vocês alguns trechos que havia marcado de um primeiro roteiro do livro. Lembro que o grifo é meu.

"Logo de saída, cortamos a cena do banho. Morri de pena. É bonito alguém tomando banho. Poderíamos ter conservado aquela cena. Na verdade, é muito difícil encontrar uma história que não seja parecida, de uma forma ou de outra, há muitas histórias conhecidas. Acabamos eliminando a tal cena.

A realidade, aliás, estendeu outra armadilha para mim, quando eu estava escrevendo O Outono do Patriarca. Eu havia imaginado um atentado que não parecia nenhum dos atentados habituais: colocavam uma carga de dinamite no porta-malas de um automóvel. A mulher do ditador apanhava o carro para ir fazer compras, e no caminho o automóvel explodia e ela ia parar no telhado do mercado. Fiquei tranqüilo com a imagem do carro voando pelos ares porque, francamente, achei que era muito original. Pois não é que, três ou quatro meses mais tarde, fazem um atentado exatamente igual, contra o almirante Carrero Blanco, na Espanha? Fiquei furioso. Todo mundo sabia que eu estava escrevendo a história em Barcelona, e naquela mesma época; ninguém iria acreditar que eu tinha tido a mesma idéia muito antes. O jeito foi inventar um atentado completamente diferente: levam ao mercado alguns cachorros sanguinários, especialmente treinados, e quando a mulher do ditador chega, os cães se lançam em cima dela e a despedaçam. Depois, fiquei contente por terem estropiado o atentado do automóvel. Até hoje fico alegre com isso. O dos cães é mais original ainda, e está mais dentro do espírito do meu livro. Eu até acho que não devemos nos preocupar muito com isso: se uma cena não funciona ou cai, o que se há de fazer? Procurar outra. O curioso é que, na maior parte das vezes, a gente acaba encontrando outra melhor. Se tivéssemos ficado com a primeira, teríamos perdido. O problema é mais sério quando a gente encontra, logo de saída, a melhor. Aí sim, não tem jeito. Mas, como saber? É a mesma coisa que descobrir se a sopa ficou pronta. Ninguém pode saber, a não ser provando. Mas voltando às semelhanças, não devemos deixar que elas nos assustem, desde que não se relacionem com aspectos essenciais da história. Porque a verdade é que existem histórias muito diferentes e que, no entanto, têm muitas coisas em comum.

É preciso aprender a jogar fora. A gente conhece um bom escritor não tanto pelo que ele publica, mas pelo que joga no lixo. Os outros não ficam sabendo, mas o escritor sim: ele sabe o que joga fora, o que vai deixando de lado e o que vai aproveitando. Se o escritor se desfaz do que está escrevendo, está no bom caminho. Para escrever, o escritor tem de estar convencido de que é melhor do que Cervantes; senão acaba sendo pior do que na verdade é. É preciso apontar para o alto e tentar chegar longe. E é preciso ter critério, e coragem, é claro, para riscar o que deve ser riscado e para ouvir opiniões e refletir seriamente sobre elas. Um passo a mais, e já estaremos em condição de pôr em dúvida e submeter à prova até mesmo aquelas coisas que nos parecem boas. E tem mais: mesmo que todo mundo ache que essas coisas são realmente boas, o escritor precisa ser capaz de colocá-las em dúvida. Não é fácil. A primeira reação que tenho, quando começo a suspeitar que devo rasgar uma página, é uma reação defensiva: "Como é que vou rasgar isso, se é o que mais gosto?". Mas é preciso examinar bem e se a gente chegar à conclusão de que, realmente, não funciona dentro da história, está desajustando a estrutura, contradizendo o caráter do personagem, indo por outro caminho... bem, aí não tem jeito, é preciso rasgar mesmo. Isso dói na alma da gente... no primeiro dia. No dia seguinte, dói menos; dois dias depois, um pouco menos; três dias, menos ainda; e no quarto dia, a gente nem se lembra mais... Só é preciso tomar cuidado com a tendência a guardar em vez de rasgar, porque existe o perigo, se o material rejeitado estiver à mão, de a gente tornar a pegá-lo para ver se "cabe" em algum outro momento.




segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ouvindo José Castello

Para começar bem a semana, divido um trecho do livro "A literatura na poltrona" de José Castello que estava relendo essa manhã.

Os grifos são meus, cópia do que faço em meus livros (à lápis, claro!)

"Procurei Hélène Cixous em busca de uma inacreditável interpretação intelectual da obra de Clarice. E encontrei algo ainda mais inacreditável: uma filósofa a quem a leitura de Clarice transformou, ela também, em uma bruxa. Livros que devoram pessoas. Pessoas que encontram partes preciosas de si não em outras pessoas, mas em livros. Romances e poemas que penetram, em segredo, a mente de seus leitores — e que estragos eles fazem! Escritores que se buscam (e que se encontram!) em outros escritores. Hélène, que tentou se achar em Ingeborg, mas se achou em Clarice. Vidas atravessadas, encontros e desencontros, confluências e afastamentos, idéias que, desde então, não me abandonariam mais. Seria isso, então, a literatura? (...)

Em vez de fazer novas perguntas, eu devia me limitar a ouvir Hélène Cixous, concluí. Fazer do silêncio, um caminho. Da espera, uma resposta. E das respostas, perguntas. Era isso. Ali, naquela encruzilhada, se apresentava a chave de uma maneira de encarar a literatura e a arte, uma maneira pessoal e secreta. (...) Minhas armas, dispostas naquele bloco escolar, já não valiam de nada. Era preciso ceder, ceder e ouvir. Só isso me restava, e nem chegava a ser uma escolha.
(...)

"O que a fascina tanto em Clarice?", me arrisco, ainda, a perguntar — pois, até ali, Hélène se limitava a responder perguntas que eu não tinha feito. Ela responde: "Clarice tem vários personagens, mas é sempre ela." Depois de um silêncio rápido, me oferece uma segunda explicação: "Clarice é uma escritora filosófica. Ela pensa, e as pessoas não têm o hábito de pensar." E isso, fazer o quê ninguém faz, fascina, ela diz. Nesse momento, sem saber, Hélène respondia à pergunta que mais me atordoava. Por que as pessoas se encontram, se prendem, se perdem, se acham em livros? Por que livros pensam por elas, por que invadem sua intimidade e passam a ser parte de quem lê?

(..)Livros, telas, músicas, filmes, peças de teatro que invadem, desestabilizam e completam pessoas. Leituras que, em vez de nos distanciar do real, dele nos aproximam ainda mais, e também de nós mesmos. Livros só existem na mente do leitor. São objetos agudos, que penetram, contaminam e atordoam. Livros cortantes como facas. Ninguém lê impunemente. A relação fatal que temos com a literatura (ou não temos relação alguma, temos só um laço vaidoso e mentiroso) sempre norteou, na verdade, minha experiência de jornalismo literário. Princípio que não aprendi na escola, e que não costuma ser debatido, ou transmitido, nas redações da imprensa. Princípio, contudo, que sempre me pareceu crucial. Sem ele, o jornalismo literário se torna só um exercício de retórica, ou, no máximo, a aplicação temerosa de um conjunto de técnicas. Neste caso, ele se transforma em uma tradição, e não, como deve ser, em uma descoberta. Para que mais alguém lê um livro, senão para se transformar? Ler mecanicamente, por obrigação, ou para dizer que li, isso nunca me interessou.
(...)

Ali, desarmado (as perguntas que eu anotara em um bloco continuavam jogadas sobre o sofá, inúteis como lixo), solitário como poucas vezes me senti, aos poucos, com grande ansiedade e alguma perturbação, comecei a formular a imagem que, desde então, tenho do jornalismo. Ser capaz de ouvir, e de suportar a presença imprevista do outro, as surpresas que nos oferece, a desarmonia de suas idéias. Chegar de mãos vazias e aceitar o que me dão. Entregar-me, em vez de esperar que o outro se entregue. Desarmar-me, ainda que seja para encontrar o que não desejo encontrar.

domingo, 21 de junho de 2009

Amor pelos livros em pequenos gestos

Galeno Amorim já publicou em seu blog uma boa lista de municípios que não têm nenhuma biblioteca. Ipiguá, a 457 km da capital de São Paulo, está entre eles.

Quem tem paixão por ler (como eu) se sente feliz ao falar sobre literatura, em ver outras pessoas lendo, descobrindo os livros, principalmente se forem crianças.

Capitais como o Rio não têm falta de biblioteca, mas mesmo assim o incentivo à leitura ainda é insuficiente. Vejo isso pelas escolas. Elas próprias deveriam levar os alunos para dentro das bibliotecas, organizar encenações, leituras dramatizadas, ações prazerosas que surtem muito mais efeito do que criar leituras obrigatórias que na maioria das vezes são inadequadas às crianças, que as farão detestar os livros, em vez de se apaixonarem por eles.

Por isso é louvável quando vemos alguém sair do seu sofá e resolver fazer alguma coisa, para incentivar a leitura, mesmo que seja uma solução inusitada.

Em Ipiguá, uma cidade com pouco menos de quatro mil moradores, um professor certamente inconformado com o fato de não existir uma biblioteca, resolveu fazer a sua parte.

Se os moradores não podiam (ou não queriam) ir até os livros, então os livros passaram a ir até eles, num carrinho de supermercado.

Para colocar a sua ideia em prática, o professor José Roberto da Silva começou organizando uma gincana na escola em que leciona, arrecadando livros usados. Conseguiu cerca de mil exemplares, divididos em infantil, infanto-juvenil, adulto e gibis.

A partir daí foi só alugar um carrinho de supermercado, conseguir alguns alunos voluntários, e sair pela cidade com sua biblioteca ambulante. Em dois meses de trabalho, o grupo já conseguiu emprestar quase 300 livros e os moradores não precisam nem sair de casa para conseguir os seus exemplares.

E o que tem de mais bonito é ver o campeão de leitura que é apenas um menino de 8 anos. Lucas, em 15 dias, já leu 16 livros.

Eu que vivo inventando formas de incentivar a leitura, mais do que sorrio, vibro ao assistir uma cena dessas.

Veja o vídeo da matéria feita pela Antena Paulista com o professor e os moradores da cidade.

9ª Feira do Livro de Ribeirão Preto

Começou na última quinta-feira (dia 18) e prossegue até dia 28 a 9ª Feira do Livro de Ribeirão Preto, trazendo como homenageados como país, o Chile; como estado, o Amazonas; como autora, Cora Coralina e como patrono, Galeno Amorim.

A Feira apesar de ter ganho destaque e projeção nacional, preserva, desde sua primeira edição, a característica de ser uma festa democrática, ao alcance de todos os cidadãos. Além de movimentar o comércio da cidade, a Feira é gratuita, sendo realizada na praça a céu aberto. Mas não é só de literatura que trata o evento, mas também de outras formas de arte. Assim consta da programação: música, cinema e teatro.

Um pouquinho da programação...

Na sexta-feira, se apresentou Milton Hatoum no Salão de Ideias.
Ontem foi a vez de Carola Saavedra e João Carrascoza.

Alguns destaques da Feira, a partir de hoje:

Hoje, dia 21/06:

- às 12h: Longa-Metragem, com Ensaio sobre a Cegueira
- às 14h: Salão de Ideias, com José Miguel Wisnik

Terça, dia 23/06:

- às 10h30: Apresentação da Pesquisa "Retratos da Leitura em Ribeirão Preto", com Galeno Amorim

Quarta, dia 24/06:
- às 14h: Salão de Ideias, com Marçal Aquino
- às 15h: Salão de Ideias, com Moacyr Scliar
- às 16h: Salão de Ideias, com Carlos Heitor Cony
- às 19h: Salão de Ideias, com Martha Medeiros

Quinta, dia 25/06:

- às 12h: Longa-metragem, com Desejo e Reparação
- às 14h: Salão de Ideias, com Pedro Bandeira
- às 16h: Salão de Ideias, com Cristovão Tezza

Sexta, dia 26/06:

- às 14h, Café Filosófico, com Lourenço Mutarelli
- às 16h, Salão de Ideias, com Zuenir Ventura

Sábado, dia 27/06:

- às 10h, Salão de Ideias, com Marina Colasanti

Domingo, dia 28/06:

- às 15h, Salão de Ideias, com Michel Laub e Arnaldo Bloch