domingo, 17 de abril de 2011

Minha aventura maluquinha

O mês de abril começou complicado. Um probleminha de saúde com a minha filha me fez desligar do mundo desde o dia três de abril. No final, graças a Deus, não foi nada grave. O “talvez” seja apendicite é que me surtou. O que uma palavra pode fazer na nossa vida, principalmente se ela significar dúvida?

Mas foi exatamente essa palavra que me fez repensar muita coisa. Repensar cada “talvez” da minha vida, cada “poderia ser diferente”. Às vezes achamos que só dá para fazer de um jeito, mas basta sermos sacudidos pela vida para percebermos, como se fosse um véu despencando à nossa frente, que há muitos outros caminhos que preterimos.

Então, antes de contar da minha aventura maluquinha (que não foi essa), deixo a dica. Não esperem ser sacudidos por algum problema. De vez em quando, é legal parar e fazer um balanço. E, se for preciso, igual acontece ao arrumar gavetas, jogar fora tudo que não é tão importante e rearrumar o que nos é imprescindível.

Fica a dica!



A partir do dia 14 passei a respirar novamente, de forma normal. E, então, pude parar para pensar numa das maiores aventuras que iria viver como escritora: participar do programa do Ziraldo como contadora de histórias!!!




Ter recebido esse convite me fez, além de dar um grito daqueles, ser transportada aos meus nove anos. E era como se eu pudesse me enxergar, sentada no sofá, lendo e relendo “O menino maluquinho”. Lendo, não: devorando! Devorando cada pedacinho de ilustração. Sim, porque no livro, o texto não se basta, ele se liga e se completa com as ilustrações, com os textos roubados dos cadernos do Maluquinho, com as imagens do olho maior que a barriga, e tantas outras.

Era como se eu me visse de novo lendo esse livro, era como se eu me visse de novo me apaixonando pela literatura, como se fosse a primeira palavra de uma frase, a primeira frase de um parágrafo, o primeiro parágrafo de um sonho. Muitos outros livros passaram pela minha vida e alimentaram essa paixão, mas “O Menino Maluquinho” certamente foi um deles, pois só um texto do qual ainda sentimos o gosto da leitura pode ser tão culpado assim. ;)

Quando me tornei escritora, quando lancei meu primeiro livro, achei que a alegria estava praticamente completa. Praticamente, pois depois de lançado um livro, nossa alegria se completa com a aceitação dos leitores. Mas a vida está sempre me surpreendendo. Está sempre me mostrando que não há limites para sonhar.

Voltando um pouquinho, lembro que uma dessas primeiras surpresas foi quando tive a oportunidade de estudar a obra de uma escritora por quem sou maluquinha; ali, ao lado de sua Editora, na Fundação Cultural. Sim, falo de Lygia Bojunga, por quem tantas vezes já me derreti aqui. E se isso já era maravilhoso, de repente, sou agraciada com sua presença, bem pertinho de mim, do meu lado, contando suas histórias, rindo e me recebendo com tanto carinho. E como a vida não brinca em serviço, um dia ouço ela me dizer que meu texto “tem vida”. Tipicamente como a Marília (de Caixa de Desejos) faria, deu vontade de dizer: “Para o trem, pois vou cair de emoção!!!”. Mas ainda bem que não fiz isso. ;)

Outras surpresas aconteceram na minha vida. Fui elogiada por escritores por quem tinha grande admiração, ganhei prêmios com meus contos, fui convidada para eventos importantes, chamada para dar entrevistas em rádio e tevê, e isso era como me tornar princesa, depois de ser borralheira. Era como encontrar fadas madrinhas a cada passo que desse.

Aprendi, então, que ainda posso sonhar com muitos castelos. Que a literatura é infinita em suas possibilidades de fantasia, que ainda tenho muitas alegrias para viver. Já nem consigo imaginar quais serão. Similar ao que Clarice Lispector descreve no seu conto “Felicidade clandestina” (que amo também!), eu finjo que não sei que ainda terei essas alegrias, só para me surpreender quando elas chegarem, só para vivê-las com toda ansiedade, com toda felicidade que elas merecem.

Bom, mas deixando minhas divagações sobre o futuro (ai que mania de escritora falar demais! rs), vim para falar da minha aventura maluquinha. Como disse, fui convidada a participar da 2ª temporada do Programa ABZ do Ziraldo (http://www.tvbrasil.org.br/abzdoziraldo), como contadora de histórias.


A gravação aconteceu ontem...

Às 9h30 eu e minha filhota chegamos ao estúdio e fomos recebidas com toda atenção. Logo seguimos para o camarim, para as mãos da fada Beth que transformou abóbora em carruagem, e me tratou com todo carinho, caprichando na maquiagem. Lá estavam também o Palhaço Matraca e sua assistente Amaralina, que logo virou Amaralinda, na hora da gravação.






Incluindo o Matraca e a Amaralinda, assistimos às gravações de quase todos os artistas. A Bia se juntou às outras crianças da plateia e curtiu muito! (Olha ela na primeira fila, de arquinho lilás na cabeça!) Foi ótimo, pois, numa hora dessas, dá muita mais segurança você estar nos bastidores, analisando os detalhes. Na minha vez, eu sabia tudo o que podia e não podia fazer no jeito de olhar para as câmeras. Bem, pelo menos na teoria, pois na hora da prática, a cartilha se perde na memória. rsrs






O dia foi passando e ficamos numa ida e vinda do estúdio para o camarim. E foi numa dessas vezes que encontrei a escritora Cristina Villaça (http://www.cristinavillaca.blogspot.com/), uma amiga virtual que tive o prazer de conhecer pessoalmente. Ela estava acompanhada de seu tatu simpático, protagonista do seu último livro “Viva eu, viva tu, viva o rabu do tatu!” (Ed. Escrita Fina). E ela se tornou uma companheirona até a hora de entrarmos em cena.


E nesses pequenos esbarrões percebemos como é bom ter com quem dividir um momento desses. Ter alguém que fala a nossa língua, que entende essa emoção de se ver no meio do mundo do Maluquinho. É como se o personagem do nosso livro preferido saísse do papel para vir para o nosso lado, e nos convidasse a uma doida aventura.

A produção ainda tinha muito mais pra mim: tiraram foto, me filmaram, montando um belo making-of, retocaram maquiagem... Aliás, uma pausa na história para dizer:

A produção foi nota 1000!!!

Só não vou citar nomes, pois alguns eu sei, outros esqueci de perguntar. E não seria justo deixar unzinho sequer de fora.

Me senti uma estrela de cinema. De um cinema que tem tudo a ver com imaginação, com alegria, com a magia da literatura.

Às três horas, chegou a nossa vez: a minha e a da Cristina Villaça. E como se fosse tudo combinado pelos astros, fomos juntinhas para o estúdio, para uma paparicar a outra, tirar foto e transformar aquele momento em algo mágico, algo com testemunha, para que depois a gente não precise pedir a ninguém que nos belisque. rsrs



Eu fui primeiro, meio assustada, diante daquela criançada. Não por eles, não pela contação de histórias, mas por estar ali, no meio do mundo do Maluquinho Ziraldo. Por estar vivendo aquele momento. É estranho lidar com tudo que nos invade: é o público infantil, nossa fonte de inspiração, é a nossa própria emoção, é a preocupação com o olhar da câmera, é a história que não pode fugir...






Mas como aconteceu em todas as vezes que entrei em sala de aula, nesses 23 anos de docência, o frio na barriga só dura até a primeira frase, até a palavra “gravando” da nossa vida, pois estamos acostumados a esse “gravando” que é até mais rígido, pois não tem o “vamos repetir”, no máximo, um “flashback”. E aí a minha Rita, personagem da história inédita “Uma amizade desenhada”, que sai até início do ano que vem pela Ed. Escrita Fina, ganhou vida, mãos, caras e bocas. Ganhou os olhinhos atentos das crianças, o olhar especial da câmera que me acompanhou... E, de repente, acabou. Os aplausos marcaram o fim. E a gente fica ali, tentando recolher todas as emoções, entender o que foi aquilo que acabamos de viver, o que é mais esse presente que a vida nos oferece.

Então, depois de todas as emoções arrumadas, eu digo:


Ziraldo, obrigada pelo Menino Maluquinho que entrou na minha vida, lá nos meus nove anos.

Obrigada por você me permitir que o Maluquinho entre na minha vida agora, quando eu passo para o lado de lá do papel.

Obrigada Lobato (e minha eterna companheira Emília), Pedro Bandeira, Lygia Bojunga, Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha e todos os escritores que plantaram os tijolinhos (sim, tijolos que crescem feito flor) desse país da imaginação, desse país da bela e iluminada literatura infantil. Vocês são responsáveis por eu estar aqui.


Então, vamos todos comemorar amanhã, dia 18 de abril, o Dia Nacional do Livro Infantil, recheando a alma de sonhos e imaginação.

E quando o programa for ao ar, eu estarei aqui para gritar pra todo mundo dia e horário, para todos conferirem o resultado.

Palavra de Emília borralheira! :)))

sábado, 2 de abril de 2011

Dia Internacional do Livro Infantil



Hoje acordei com vontade de escrever no meu diário virtual. Talvez meu subconsciente se lembrasse que hoje também é o Dia Internacional do Livro Infantil. Para quem não sabe, a data foi escolhida em homenagem ao escritor Hans Christian Andersen, um renomado escritor dinamarquês que está presente no imaginário de todas as crianças.


Mas alguém há de dizer: “Ai, Ana, ele não precisa de apresentação”. E eu me pergunto: “Será que não”? Pode haver alguém que não saiba quem ele é? Arrisco dizer: pode. Pode haver muitas pessoas que não saibam quem foi Andersen, mas impossível alguém não conhecer a história do patinho desajeitado, amado pela mãe, mas rejeitado por todos os outros, até se descobrir um belo cisne. Uma das primeiras histórias sobre Bullying. Ou ainda do amor do pobre soldadinho de chumbo pela bailarina de papel.

E é o que fica. Acho até difícil que alguém não se lembre do nome Lobato, mas ninguém há de dizer que não sabe quem é Emília e Visconde, muito menos nos tempos atuais em que tanto se discute se o autor era racista ou não, e se levantam algumas declarações preconceituosas vindas dele (bom, mas isso é para outro post).

Vejo em tudo isso que o que realmente nos sobra da literatura não é o autor, não é ele que se torna perene, mas suas histórias, sua forma de ver o mundo, transmudada em ficção.

São as palavras que colam na gente e nos transformam. O comum do ser humano é ser afetado mais pela palavra oral, pois ela nos vem como uma flecha, que atinge certeiro o coração ou a mente. Seria bom que essa flecha fosse sempre uma flecha de luz, que nos iluminasse por inteiro, que clareasse nossos sonhos, nossos pensamentos, como aconteceu comigo essa semana, pelas palavras de uma grande amiga. Mas nem sempre é assim. Às vezes passamos pela vida recebendo flechas envenenadas, e aí vai depender dos anticorpos que possuímos para conseguirmos espantar esse veneno e não deixar que ele destrua o que temos de bom. Pois o positivo leva anos para ser construído, enquanto o negativo se espalha no tempo de um segundo.

Isso é comum. O que não é tão comum é o efeito da palavra escrita. É preciso que tenhamos uma alma de leitor, para que ela venha e se incorpore ao nosso corpo, como uma vacina, que nos ajude a buscar e receber as flechas de luz, que nos ajude a bloquear e diluir os venenos do dia a dia, para que eles não nos destruam.

E nada melhor do que desenvolver essa alma de leitor quando criança, pois ainda assim, impúbere, temos nossas flechas e nossas feridas. Como é muito comum alguns acharem que as crianças ainda não são seres completos, elas tendem a receber apenas as flechas ruins. Então, lhes sobra encontrar nessas palavras escritas uma forma especial para serem ouvidas e processarem seus receios.

Por isso a literatura infantil é tão importante. Por isso são tão importantes essas homenagens, para que nossa memória não nos traia.

Às vezes a melhor terapia para uma criança pode estar na idiossincrasia que demonstra ao que lhe cai nas mãos, ao que transmuta de cada maldade das bruxas e monstros, entendendo suas próprias frustrações e seus próprios medos.

Olhando para trás, vejo que teria processado muitas mágoas se o livro tivesse feito parte da minha vida desde muito cedo. Mas em vez de lamentar essa falta, tenho que agradecer por tê-lo descoberto mais tarde e ter me apaixonado por ele com tanta força, que o amor transbordou para a escrita.

Que hoje seja um dia para lembrar a cada um do quanto as crianças e os livros são importantes. Do quanto eles precisam ser respeitados e amados. Do quanto precisamos da fantasia e do sonho, para que um dia a realidade seja palatável.

Então, hoje, pegue um livro infantil ou juvenil para ler. Depois leia para o seu filho também. Se passar por uma livraria, compre um livro para ele, ou para um sobrinho, um neto ou para o vizinho.

Chore com uma história triste, ria com uma história engraçada. Abrace o outro, e entenda seu medo. E depois entenda seus próprios medos.

Se dê esse direito de ofertar amor em forma de palavra!
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E falando de notícia boa...

Já está marcado o primeiro lançamento do meu juvenil De volta à Caixa de Desejos. Acontecerá em 18 de junho, no Salão FNLIJ. Em junho também o lançamento do meu infantil Uma turma para Dora.

Logo depois, muita festa e “bebemoração” num lançamento em Livraria.

Chegando mais perto, trarei capa e detalhes.