quinta-feira, 30 de outubro de 2008

"O filho eterno" vence o Portugal Telecom

Como era de se esperar, e com o devido merecimento, O filho eterno de Cristovão Tezza foi o grande vencedor do Prêmio Portugal Telecom, recebendo o prêmio de R$ 100 mil. Em segundo lugar empataram Antonio de Beatriz Bracher e Eu hei-de amar uma pedra do escritor português Antonio Lobo Antunes, recebendo cada um R$ 35 mil. Em terceiro lugar, O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho, com o prêmio de R$ 10 mil.

Tem sido realmente o ano de Tezza, com seu novo romance: O filho eterno recebeu quatro prêmios e ainda concorre ao Prêmio São Paulo e à categoria Livro do Ano, no Jabuti, esse já premiado como o melhor romance. O livro, autobiográfico, foi o mais difícil que ele escreveu, declarou o escritor.

A premiação ocorreu ontem na Casa Fasano em São Paulo, contando com a presença de Fernanda Montenegro, pela primeira vez em público desde a morte de Fernando Torres. A atriz dramatizou três poemas de Fernando Pessoa, um poema de Carlos Drummond e duas crônicas de Clarice Lispector. Foi de suas mãos que Tezza recebeu seu troféu.

Na reportagem completa do Globo on-line é possível conferir os planos de Fernanda para o teatro em 2009, com uma peça sobre Simone de Beavouir e Jean-Paul Sartre.

Fonte:
Globo on-line

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Dia de São Judas Tadeu

Hoje é dia de São Judas Tadeu, de quem sou devota, e foi um post da escritora Lúcia Bettencourt, que me chamou a atenção para o débito que estou com ele.

Por isso, meu agradecimento público, em forma de divulgação de sua história.

"São Judas Tadeu é, sem dúvida, hoje, um dos santos mais populares. No entanto, embora figurasse entre os apóstolos de Cristo, a devoção por ele se inicia tardiamente, uma vez que foi durante muito tempo "deixado em segundo plano" em função de seu nome, que se confundia com o do "apóstolo traidor", Judas Iscariotes.

São Judas era primo de Jesus, pois era filho de Alfeu, também chamado de Cléofas, irmão de São José. Ao que se sabe, seu pai era um daqueles discípulos de Emaús, a quem Jesus apareceu naquela tarde do dia da Ressurreição. Quanto à sua mãe, ela era uma das mulheres que se encontravam ao pé da Cruz de Jesus, junto com Maria Santíssima.

São Judas - aquele mesmo apóstolo que, na Última Ceia, pergunta a Jesus por que Ele havia se manifestado a eles e não ao mundo - demonstrou sempre um grande ardor pela causa do Reino e, então, o desejo de que o Evangelho se tornasse conhecido de todos. Era o chamado à missão, típico do cristão, daquele que ama a Cristo e guarda a sua Palavra. Ele o amava, e precisava garantir que todos o fizessem também, para que fosse possível se realizar aquela resposta que Jesus lhe havia dado naquela Ceia: "se alguém me ama guardará a minha palavra e meu pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada" (Jo 14,22)."
(Fonte: Paróquia de São Judas Tadeu - Niterói/RJ)

E pedindo um pouco mais de paz a todos nós, lembro que dia 04 de outubro foi o dia de São Francisco de Assis.
E para acarinharmos nossos corações, reproduzo a oração da paz, que é tão linda quanto, ao ser cantada:

Senhor, fazei de mim
um instrumento da vossa Paz.

Onde houver ódio, que eu leve o Amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a União.
Onde houver dúvida, que eu leve a Fé.

Onde houver erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a Luz.

Ó Divino Mestre,
fazei que eu procure mais
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.

Pois é dando que se recebe,
é perdoando que e é perdoado,
e é morrendo que se ressuscita
para a Vida eterna.

sábado, 25 de outubro de 2008

Conto inédito de Ana Letícia Leal

Na quarta-feira sairá publicado no blog do Prosa & Verso um conto inédito de Ana Letícia Leal.

Ela é autora de "Meninas Inventadas" (Bom Texto, 2006), e foi uma das finalistas do primeiro concurso Contos do Rio, em 2004, com o conto Sem minha filha.

A Ana é jornalista, mestre em Comunicação Social, doutoranda em Letras e professora da Estação das Letras.

Vale conferir!

Entrevistas realizadas pelo Roda Viva na Web

Para quem torce o nariz quando se fala em programas de tv, não pode deixar de reconhecer a contribuição da TV Cultura dentro da mídia televisiva.

E entre essas contribuições está o programa Roda Viva com suas entrevistas de peso.

Uma parceria da Fundação Padre Anchieta, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Unicamp, por meio do seu Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo (LabJor) e Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) disponibiliza na web as transcrições integrais de algumas dessas entrevistas realizadas pelo Roda Viva. A cada semana, novas entrevistas serão acrescentadas, até que se complete todos os programas desde 1986.

Esse tesouro está disponível no Portal Memória Roda Viva.

Só para atiçar a curiosidade, veja algumas jóias que estão na vitrine:

* Adolfo Bioy Casares (1995)
* Fernando Sabino (1989)
* Lygia Fagundes Telles (1996)
* Ondjaki (2007)

Fonte: Blog do Laboratório de Produção Editorial - UFRJ

Contador de visitas

A partir de hoje está inaugurado meu contador de visitas.

Talvez eu descubra que não tenho mais do que uns cinco leitores, mas ficarei muito feliz em descobrir que tenho pelo menos um. :)

Não importa quantos sejam. O que desejo é que gostem e voltem sempre.

Indicação de blogs

Duas indicações de blogs:

O primeiro é o blog do Caderno Idéias - JB. Pode ser acessado em http://www.jblog.com.br/ideias.php.

O segundo é o Pensarte, novíssimo espaço do escritor Affonso Romano de Sant'Anna. É só entrar em http://www.affonsoromano.com.br/.


Fonte: Caderno Idéias do JB (25/10/2008)

sábado, 18 de outubro de 2008

Volteios em torno da prosa envolvente de “Milamor” (Livia Garcia-Roza)



Para quem aprecia a prosa segura, enxuta e envolvente dos romances e contos de Livia Garcia-Roza, vive um estado de suspensão ao abrir um novo livro. Inquieta. Assim me senti ao iniciar seu mais novo romance, Milamor (Editora Record). Visceral. É o que encontramos na contracapa, a respeito de sua narrativa. E, então, como se quisesse se valer da técnica máxima do conto, descrita por Cortázar, ela nos leva a nocaute nos primeiros parágrafos.

“Apesar das dietas rigorosas, do constante esforço para ir à hidroginástica, e do longo percurso diário das caminhadas, meu corpo faliu. Nada mais dá jeito nele. Foi-se, à medida que as primaveras se cumpriam. Agora só o reencontro nas fotografias. O único consolo é que aquela moça fui eu. Mas a minha alma permanece intocável. Uma orquídea de estufa, viçosa e bela. Trago-a tinindo, no mais absoluto frescor...
― Falando sozinha, mamãe?
― Há muitos anos.”

Simplesmente perfeito. É assim que Livia nos entrega a história de Maria, uma mulher em idade madura, cinqüenta e nove anos, que mora com a filha desde a morte de Haroldo, seu segundo marido. Conversando sozinha, ou trocando idéias com suas samambaias. Maria, filha única, de pais estrangeiros, teve uma infância solitária e isolada, trancada em casa. Sobre o resto da família, seu pai lhe dizia que estavam todos “no Alemanha”. Sua única referência de companhia fica associada à Dolores, a filha de sua vizinha, a quem Maria conhece como Milamor.

Após os sobressaltos do passado, Maria chega aos sessenta anos um tanto desanimada com os dias “iguais, tranqüilos e idênticos”. Uma vida que jazia numa poltrona. Até se descobrir aberta a novas experiências, após conhecer um homem que lhe altera o prumo e lhe desperta novamente a sexualidade.

“Que estampa de homem! Não saberia dizer ao certo o que se passou. Me envergonha estar contando essas coisas. Mas aconteceu. Uma luz. Um facho. Uma fulguração. Que não mais cessou de expandir seus raios cintilantes. Passei a ter sonhos turbulentos com o homem que eu havia visto apenas uma vez”.

Nos três primeiros capítulos, nos tornamos íntimos de Maria e sua família. Mas não se iludam em pensar que Livia nos oferece uma narrativa linear. É ao final do terceiro capítulo que passamos a voltar em tempos diferentes de seu passado, enquanto nos envolvemos com as estrepolias causadas por sua nova paixão, seu relacionamento com os filhos e com os telefonemas incitantes das amigas.

A delicadeza em que Livia nos oferece todos esses momentos, sem que percamos o ritmo, engrandece a história. Se isso não fosse o bastante, o relato harmônico, inteligente e recheado de um humor agradável, enfatizando a realidade de pequenos episódios corriqueiros, nos prende e nos leva à profundidade de cada personagem. Um carinho na alma. Não se podia esperar nada diferente da ficção de Livia Garcia-Roza.

Trechos para instigar a apetência:
“Na verdade, aqui no alto, moramos eu e as samambaias, com quem troco idéias diárias. E recebemos duas visitas, a de Maria Inês e a da diarista. Sim, porque minha filha trabalha o dia inteiro e quando termina o expediente emenda na noite com os colegas”.

“Constantemente me aplica testes para ver se ainda raciocino, atenta a qualquer deslize neurológico. Tenho-a decepcionado, felizmente”.

“Um dia, o grito de uma menina apareceu lá no alto do morro, atrás da nossa casa ― eu vi quando ele chegou lá em cima, estava com pressa e tinha o peito estufado, desceu a ribanceira correndo, e chegou na área. Mamãe ― (...)― tapou os ouvidos”.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura

Saiu ontem a lista dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura. Os nomes, na grande maioria, são bis do Jabuti e Portugal Telecom:

Melhor Livro Autor Estreante do Ano de 2007 (em ordem alfabética por nome do autor):

- "Lugares que não conheço, pessoas que nunca vi", Cecília Giannetti (Agir)
- "Desamores", Eduardo Baszczyn (7Letras)
- "Chave de casa", Tatiana Salem Levy (Record)
- "Estado vegetativo", Tiago Novaes (Callis)
- "Casa entre vértebras", Wesley Peres (Record)

Melhor Livro do Ano de 2007 (em ordem alfabética por nome do autor):
- "Antonio", Beatriz Bracher (Editora 34)
- "O sol se põe em São Paulo", Bernardo Carvalho (Companhia das Letras)
- "O filho eterno", Cristóvão Tezza (Record)
- "A muralha de Adriano", Menalton Braff (Bertrand Brasil)
- "A copista de Kafka", Wilson Bueno (Planeta)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dicas na rede

Há um artigo do Marcelo Spalding, de 11/09, no Digestivo Cultural, que fala sobre a valorização da literatura. Vale a pena conferir.

No mesmo Digestivo encontramos uma entrevista do Julio Daio Borges com o Miguel Sanches Neto. Ele fala como suas origens influenciaram sua literatura, sobre as dificuldades do autor iniciante, e ainda sobre seu último livro — A primeira mulher.

Olhar infantil

Estive navegando pelos meus blogs favoritos e achei uma poesia linda do Manuel Bandeira, no blog da Cristiane Rogerio. O presente foi duplo nessa minha visita. Encontrei a indicação do blog da professora Andréa, Sala de Literatura Infantil, e li um texto maravilhoso, que fala sobre resgatarmos o nosso olhar infantil. Vale a pena conferir! Abaixo, tomo a liberdade de reproduzir a poesia do Bandeira.

Balõezinhos
Na feira do arrabaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:

- “O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.

No entanto a feira burburinha.
Vão chegando as burguesinhas pobres,
E as criadas das burguesinhas ricas,
E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

Nas bancas de peixe,
Nas barraquinhas de cereais,
Junto às cestas de hortaliças
O tostão é regateado com acrimônia.

Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,
Os tomatinhos vermelhos,
Nem as frutas,
Nem nada.

Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a única
mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.

O vendedor infatigável apregoa:
- “O melhor divertimento para as crianças!”
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um
círculo inamovível de desejo e espanto.

(Manuel Bandeira)

sábado, 11 de outubro de 2008

Frases

Estava limpando minha caixa de e-mails e encontrei algumas frases nos informativos PublishNews que recebo.

Não achei justo alimentar minha lixeira e deixar que elas se perdessem.

"Poesia desperta na gente essa alta sensibilidade para a linguagem. Isso nos faz bem. É como ver uma paisagem bonita, ir para um lugar onde haja uma flor perfumada."
Ana Maria Machado
Escritora brasileira

"Escrever um bom conto é mais difícil que escrever um bom romance."
Moacyr Scliar
Escritor brasileiro

"Escrevo muitas páginas de lixo e apenas mantenho as pequenas gemas ali escondidas e a partir daí construo meus livros."
Markus Zusak
Escritor australiano

"Eu quero ser influenciado. Não me sinto mal quando a leitura me influencia, mas quando fecho um livro e não me sinto influenciado pela leitura dele."
Gonçalo M. Tavares
Escritor português

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Resenha na revista Discutindo Literatura (setembro)

Eu e essa minha falta de tempo. Só ontem consegui terminar a Discutindo Literatura de setembro (edição nº19). E qual não foi minha surpresa, já no final da revista, ao ler, na seção Resenha do Leitor, um texto que havia escrito sobre o livro Tudo que eu queria te dizer da Martha Medeiros.

Eu havia publicado essa resenha no site http://www.leialivro.com.br/, em junho, e havia me esquecido dela. Acho que teve um problema com meu endereço de e-mail. Não fiquei sabendo que o texto havia sido selecionado como uma das melhores resenhas. E como prêmio final, a publicação na revista.

Só não gostei muito do título que eles deram, acho que ficou clichê ("Correio da alma"). Mas tudo bem. Valeu a surpresa. Se quiserem ler a resenha, ela está aqui no blog.

domingo, 5 de outubro de 2008

Prêmios x Novos autores - Parte I

O que é divulgar os finalistas de um prêmio como o Jabuti ou o Portugal Telecom?

Para mim é conhecer quem está fazendo essa "boa literatura". É claro que fico feliz em ver um autor de quem gosto, e muitas vezes já consagrado no mercado, ganhando um desses prêmios. Mas o que me toca realmente é encontrar um nome desconhecido. E de repente perceber que não é tão desconhecido assim; que esses nomes nos dizem muito; reconhecer que aos poucos nos vinham sussurrando suas prosas.

Concluo que não são tão novos, o que ocorre é que passam invisíveis por nossas leituras tão diversas e tão exigentes.

Buscando desfazer essa impressão, decido investigar esses nomes. E descubro que há muito o que se dizer sobre eles. E nos cabe reler, pois muitas vezes já tivemos contato com suas prosas, ou ler pela primeira vez, e estabelecer uma opinião. Boa ou ruim. Não importa. Mas estabelecer uma opinião. É assim que começamos a abrir portas, a reconhecer os outros contemporâneos, a identificar vozes convergentes.

Comecei por Beatriz Bracher. Nasceu em São Paulo, em 1961. Foi uma das fundadoras da editora 34, onde trabalhou de 1992 a 2000. Publicou:
- Azul e Dura (7 letras / 2002)
- Não falei (Editora 34 / 2004)

Participou de algumas antologias de contos:
- "Aquela canção" (Publifolha) que usou doze canções da MPB como mote para as narrativas. (Veja como são as coisas. Li esse livro e nem me lembrava de seu nome entre os autores)
- "A visita" (ed. Barracuda), cujo mote é o tema que dá título ao livro.
- "+30 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira" (ed. Record), organizado por Luiz Ruffato. (Outro livro lido, e outra vez seu nome passou invisível)

Antonio (Editora 34 / 2007), premiado em 3º lugar no Jabuti, e finalista do Portugal Telecom, é seu terceiro romance.

A história fala de Benjamin, o protagonista, que na iminência de ser pai (de Antonio) descobre um segredo familiar e decide saber dos envolvidos como foi que tudo aconteceu. Três deles - a avó, Isabel; Haroldo, amigo de seu avô; e Raul, amigo de seu pai - lhe contarão as versões dos fatos, e é recolhendo esses cacos de memórias alheias que Benjamim montará o quebra-cabeças da história de sua família. A narrativa é polifônica em que cada capítulo dá voz a um dos três narradores-personagens.

Graças ao google encontrei dois trechos do romance.

O primeiro tem como fonte a Folha Online, em matéria de 26/05/2007 (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u71399.shtml).

"Os homens, você sabe, Benjamim, os homens gostam de inventar histórias e fantasiam muito. Na época em que Xavier se apaixonou por Elenir, eu não o conhecia bem. Freqüentávamos os mesmos ambientes, as famílias se conheciam, mas era só isso. O mundo era menor, ele chamava atenção, talvez eu também, como te disse o Haroldo, mas não creio. Talvez eles reparassem em mim porque, sendo uma moça de boa família, eu fazia faculdade. Em geral só seguiam nos estudos as moças que precisavam trabalhar, isso não era esperado de nós.
Esses dias de hospital. Este quarto verde. É confuso estar parada. Nunca tinha acontecido, nem depois da aposentadoria. Continuei com orientandos, continuei escrevendo e participando de bancas e discussões. Sempre muito o que fazer. Não sou de ficar doente, depois dos partos, no segundo dia já estava de pé, subindo e descendo escada. Muitos dias falando pouco, as memórias vêm de longe, de bem antes dos filhos e, você tenha um pouco de paciência, Benjamim, quero te contar.
Lembro que no meu tempo não era muito bem, no sentido mais besta da palavra, ser estudiosa, buscar estudos, nem para os rapazes, nem para as moças. Era comum a rapaziadinha que não pensava muito em fazer faculdade, ou que fazia meio de qualquer jeito. Quando eu vejo hoje em dia o teu empenho em estudar, batalhar, conseguir uma bolsa e ir para os Estados Unidos fazer mestrado, especialização, esforçar-se para ser um bom profissional, é uma coisa nova. Isso não existiu muito na minha geração, porque eram todos filhos de gentes que tinham ou fazenda, ou banco, ou indústria. Das minhas colegas poucas foram para o Sedes, que era uma faculdade muito boa, onde a minha mãe se formou, foi da primeira turma, e, naquele tempo, era só para moças. A maioria ia fazer Lareira, era um curso, a gente brincava, de espera marido. Elas aprendiam a cuidar da casa, tinham umas aulas de educação sexual pouco claras, por aí ia. As mais chiques, e eram raras, iam fazer Finishing School na Inglaterra ou na Suíça. Eram escolas de acabamento, onde se aprendia a polidez.
A minha diferença foi ter ido para a USP, isso era uma coisa nova. Papai, teu bisavô, era oftalmologista, professor da faculdade, conhecia o dr. Emanuel Kremz de lá, não éramos uma família rica, mas éramos de "boa família" e era isso o que importava. Outro dia eu revi o Great Gatsby na televisão e fiquei pensando nessa diferença. Aquela classe alta norte-americana pós-Primeira Guerra tinha algo de muito selvagem, em muitos sentidos. A sede de diversão, a vaidade e a ostentação. A moça fala "moças ricas não se casam com garotos pobres", como se esse fosse um pensamento comum. Jamais diríamos isso aqui. Não falávamos de dinheiro, víamos, sabíamos, mas não era assunto. A diferença estava em outra parte.
Agora, lá em casa, papai não tinha a menor dúvida de que eu tinha que fazer a faculdade. Isso era uma coisa rara no nosso meio. Mesmo se eu não fosse filha única, sei que ele pensaria da mesma forma, não tinha a ver só com a educação da filha, era uma visão de mundo diferente. Ele dizia, "eu não vou deixar dinheiro para você, mas vou deixar uma boa educação".
Eu gostava de estudar, queria fazer Filosofia, e papai disse que eu podia fazer no Sedes, jamais na USP, se não eu ia perder a minha fé. Eu queria estudar na USP e, diante disso, eu resolvi fazer Letras Clássicas, foi uma ótima opção. Eu estudava muito, gostava demais da faculdade, foi um mundo absolutamente novo para mim, porque eu tinha entrado com sete anos no colégio, estava com dezessete, quando entrei na faculdade, e muito assustada, porque papai dizia: "só tem uma coisa, você vai fazer exame para a USP, trate de estudar muito porque vem de um colégio particular e vai competir com gente de colégio de Estado que é muito forte". Para você ver a mudança absoluta. Agora, de fato, ele não tinha tanta razão, porque como eu tinha tido a oportunidade de estudar bem inglês e francês, entrei em primeiro lugar e fiz muito bem a faculdade. A verdade é que a educação das freiras do Des Oiseaux também era muito boa.
A faculdade foi um ponto de transição importante, todo o ambiente era estimulante, o prédio novo --fui das primeiras turmas da Maria Antonia--, os professores estrangeiros, colegas de outras cidades, de outros meios. A guerra terminara fazia dois anos, os fascistas tinham sido banidos da face da terra, vivíamos em um mundo livre e próspero, necessitado de braços e mentes para ensinar e construir. Há muitas diferenças para a faculdade que meus filhos fizeram e mais ainda para a que você fez. Acho que uma coisa importante, além da transformação do papel da faculdade no tempo, mudança de espaço, a guetização dos departamentos, além disso tudo, havia para nós, no final dos anos quarenta, a diferença do colégio para a universidade. Era uma diferença brutal. Eu vinha de colégio de freiras, nunca havia estudado em uma classe mista e o próprio ensino era muito diverso. A mim pareceu que tinha vivido fechada em um casulo até então, foi um sentimento de liberdade.
Tentei reencontrar esse sentimento quando voltei a estudar, em meados dos anos sessenta, mas, então, a confusão era grande e, cada vez mais, o prazer nos estudos ficou menos coletivo e mais solitário. Em 77, 78, quando Teodoro resolveu viajar, muitos professores estavam ainda exilados, o ambiente era de desmonte e frustração, ressentimento também, sabia que ele não estaria perdendo grande coisa. Talvez por isso considerei o caminho de Teodoro mais corajoso que o dos irmãos.
Esses meninos passaram pelo golpe e a ditadura ainda crianças, imagino que o medo disseminado no país tenha tido algum efeito neles. Sei disso porque vivi a guerra em criança. Havia sempre o perigo dos submarinos alemães, os blackouts que precisávamos fazer como treino. Meu pai ouvindo no rádio as notícias das movimentações das tropas. Apesar de tão longe, sentia a iminência da violência e isso de alguma maneira nos marcou. Na nossa época o bem venceu de forma que nos parecia inequívoca e o mesmo não aconteceu com o sentimento difuso de medo e ameaça que a geração do teu pai viveu. Nós não tínhamos dúvida do nosso papel no mundo, ele havia sido destruído, precisava ser refeito. O espaço de ação que teus tios e teu pai encontraram foi outro."

O segundo trecho está na resenha do Jornal Rascunho.

"Não sei dizer se foi a morte da tua mãe ou ela mesma, o encontro com ela a causa dessa mudança na cabeça dele. Pensando nas palavras do Teo, sabendo hoje o que sei, penso que ele e ela sabiam quem eram, resolveram repetir a história. Para Teodoro eu tenho certeza de que aquela união era incestuosa. Dormir com a mulher do pai, quem agüenta uma coisa dessas sem depois furar os próprios olhos e vagar sem rumo? Ela precisava morrer, eles sabiam disso, um deles precisava morrer, e não seria novamente o bebê, é essa violência que entendo hoje.
Para tua mãe eu não sei, não a conheci, Teo a transformou quase em uma santa, a mãe que pariu o seu destino verdadeiro. Não sei te dizer por que, Benjamim, você é filho dela, você é muito mais determinado do que teu pai jamais foi, eu vejo isso e talvez seja errado falar sobre uma mulher que não conheci. Xavier e teu pai usavam palavras meio místicas para falar dela, da vida com ela. Não digo com Xavier, mas com Teodoro eu não consigo deixar de pensar que houve algo de cruel na tua mãe, de proposital em deixar-se morrer dando a luz a um neto de Xavier."

Algumas resenhas encontradas na web:

* Letras e Livros - Por Vinícius Jatobá
* Blog Olhando os Movimentos - Por Heidi Strecker
* Rascunho - Por Lucia Bittencourt

Sei que depois de tudo que pesquisei - mais importante para mim do que o resultado do Jabuti -, fiquei com enorme vontade de ler o romance da Beatriz. E acho que é isso o que importa. Captarmos esses pequenos cacos de opiniões, e ficarmos sentindo os espinhos da literatura nos cutucando, até cedermos à vontade de abrir mais uma página.

Ganhadores do Prêmio Jabuti

No último dia 23 de setembro, a CBL (Câmara Brasileira do Livro) divulgou a lista dos vencedores da 50ª edição do Prêmio Jabuti.

Fico satisfeita em comprovar a diversidade de editoras nessa premiação. Isso é um incentivo para o mercado editorial e para os novos escritores. Nessa constatação, encontramos a história de Jorge Eduardo Pinto Hausen, um geólogo de 65 anos que ficou em segundo lugar na categoria de contos. Ele havia oferecido seu livro a várias editoras, até resolver publicá-lo por conta própria. Pagou a impressão de 500 exemplares, hoje esgotados.

Em 31 de outubro serão anunciados os melhores livros de ficção e de não-ficção, cujos autores receberão R$ 30 mil cada um. Nessa primeira etapa, o primeiro lugar de cada categoria levou R$ 3 mil.

Aqui a relação de vencedores de algumas categorias. A lista completa pode ser consultada em http://www.premiojabuti.com.br/BR/resultadofase2.php.

Melhor ilustração de livro infantil ou juvenil

1 - Toda criança gosta...
Mariana Massarani - Manati Produções Editoriais Ltda.

* A Mariana é a mesma ilustradora do novo livro da Livia Garcia-Roza, Milamor.

2 - João Felizardo - O rei dos negócios
Angela-Lago - Cosac Naify

3 - Poeminha em língua de brincar
Martha Barros - Editora Record

Melhor livro de contos e crônicas

1 - Histórias do Rio Negro
Vera do Val - Editora WMF Martins Fontes

2 - A prenda de seu Damaso e outros contos
Jorge Eduardo Pinto Hausen (Editora Alcance)

3 - Fichas de Vitrola
Jaime Prado Gouvêa - Editora Record

Melhor livro de romance

1 - O filho eterno
Cristovão Tezza - Editora Record

2 - O sol se põe em São Paulo
Bernardo Teixeira de Carvalho - Companhia das Letras

3 - Antonio
Beatriz Bracher - Editora 34

* Reparem que os vencedores do Prêmio Jabuti também foram finalistas no Prêmio Telecom.

* Um reconhecimento pelo 3º lugar na categoria de biografia, para Moacyr Scliar, com "O texto ou a vida". Li e adorei.

sábado, 4 de outubro de 2008

Novo romance da Livia Garcia-Roza


Estou em débito por só postar essa notícia agora. Desde 24 de setembro, ganhamos mais um livro da querida escritora Livia Garcia-Roza. É o romance Milamor, publicado pela Editora Record.

Foram as viroses que me deixaram 10 dias de molho. Mas em breve terei aqui a resenha do mesmo, para fazer jus a mais um trabalho especial da Livia.


Um pouco sobre a história:
"Maria é uma mulher com quase sessenta anos que, desde a morte de seu marido, mora com a filha que a trata como se fosse uma senhora incapaz de tomar conta de si própria. Com a esperança de recuperar a alegria em sua vida e determinada a criar novas memórias, ela alimenta uma paixão platônica por um homem que mal conhece."

Na realidade, não é um e sim dois livros. Ao lado do romance Milamor, Livia também lança para a garotada "A casa que vendia elefantes". Fala sobre a história de uma menina que deseja um presente inusitado: um elefante! Foi ilustrado pela Mariana Massarani. Aliás, é possível conferir a delicadeza de algumas páginas no blog da própria Mariana.

Vale a pena conferir. O trabalho da Livia é sempre especial. Um verdadeiro carinho em nosso coração.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Obra completa de Machado de Assis

O MEC disponibilizou na internet toda a obra de Machado de Assis, cuja morte completou 100 anos segunda-feira, informa Ancelmo Gois, no Jornal O Globo (edição de 01/10/2008).

O endereço para acesso é portal.mec.gov.br/machado.

Fonte: PublishNews - 01/10/2008.