domingo, 26 de julho de 2009

Pílulas dos cadernos literários (#4c) - 25/07/2009

E para fechar as pílulas desse final de semana, a matéria do Caderno Prosa & Verso (25/07/2009) sobre o livro ‘Iniciantes’, de Raymond Carver.

A tesoura responsável pela prosa minimalista
Com a primeira versão de ‘Iniciantes’, picotada pelo editor, Raymond Carver virou o mestre das histórias curtas

Por Marília Martins
Correspondente – NOVA YORK

O americano Raymond Carver tornou-se célebre como um mestre das histórias curtas, um artista da prosa minimalista. Mas desde que sua viúva, Tess Gallagher, também escritora, decidiu publicar uma nova edição de um volume de 17 histórias do marido, um outro Carver anda perturbando a crítica. As histórias reunidas em “Iniciantes” são as mesmas que estão em “What we talk about when we talk about love”, publicado por Carver em 1981. O estilo, no entanto, é muito diferente. Entre a edição de 1981 e a de “Iniciantes” – publicada em 2008 nos Estados Unidos e recém-lançada no Brasil pela Companhia das Letras – um novo Carver aparece diante de seus leitores, 21 anos depois de sua morte.

O primeiro volume, de 1981, foi em grande parte responsável pela fama de minimalista de Carver. A edição patrocinada por Tess Gallagher, porém, tem um estilo bem diferente, expansivo e nada sintético. O primeiro volume foi fortemente editado por Gordon Lish, que trabalhava para a editora Alfred Knopf nos anos 80. Alguns contos foram radicalmente cortados a ponto de Carver ter, na época, cogitado em interromper a produção do livro. O editor foi em frente e o volume mereceu aplausos da crítica, para surpresa do autor. Em 2008, a viúva decidiu lançar as histórias com o estilo em que foram escritas originalmente.

– Eu não pretendo retirar de circulação a edição publicada em 1981, apenas quero fazer justiça ao livro escrito originalmente por Ray, que até agora permaneceu como um segredo – declarou Tess ao jornal “The New York Times” na época.

O desejo de Tess parece ser o mesmo de seu marido. Até a morte, aos 50 anos, em 1988, Carver republicou, em revistas literárias, cinco contos da coletânea com o texto original. E no ano de sua morte, um volume intitulado “Where I’m calling from” trazia mais três histórias do grupo de 17 em nova versão, mais expansiva e menos contida. Mas Carver também incluiu quatro contos mantendo os cortes feitos na edição da Knopf. Por isto, a crítica parece ainda indecisa em saber se o autor aprovaria a edição dos originais como está sendo feita agora.

O pesquisador William Stull e sua mulher Maureen Carroll, ambos da Universidade de Hartford, consultaram os originais que Gordon Lish doou para a biblioteca da Universidade de Indiana e verificaram a diferença de estilo entre os escritos do autor e o livro de 1981. Pelo interesse da crítica, mais cedo ou mais tarde a edição feita por Tess viria à tona, a fim de apresentar aos leitores um escritor bem diferente daquele que ganhou fama de minimalista. É verdade que, se aquele volume da Knopf não tivesse sido tão prontamente aclamado pela crítica, talvez Carver não tivesse incorporado certa contenção a outros escritos seus e sua prosa seria, afinal, bem diferente.

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