domingo, 24 de maio de 2009

Elitismo e desabafo

Não sou de fazer reclamações aqui no blog, mas depois da decepção que tive hoje, não tenho como ficar quieta.

Ontem publiquei um post divulgando o filme Budapeste que entrara em cartaz na sexta-feira. Falei do filme, do livro e estava até me programando para assistir.

Só quem tem dezenas de atividades paralelas e principalmente é mãe de dois filhos sabe o quanto é pequeno o tempo reservado para nós mesmos. Assim acontece comigo. O final de semana sempre é insuficiente para darmos atenção às crianças que ficam privadas de nosso convívio durante a semana. E, assim, é difícil separar um horário para irmos ao cinema, ou assistir peças de teatro, em que eles não estejam presentes. Quase sempre me sobra assistir quando sai em DVD. Mas, dependendo da vontade, damos um jeitinho. Foi assim com o filme O Leitor, que depois de semanas sem conseguir uma brecha, arranjei há muitos bairros de distância uma única sessão às 17h. Mas valeu a pena!

Ontem depois de uma manhã dedicada às atividades esportivas do meu mais velho, depois ao seu ensaio para a peça que encenaria hoje, fomos os quatro assistir Uma Noite no Museu 2. De filme à lanche, o sábado acabou. Hoje, já havia combinado com a avó de fazer hora extra e ficar com os netos, para que eu fosse com o marido assistir Budapeste.

Qual não é minha surpresa ao voltar da missa e abrir o Segundo Caderno: só havia exibição de Budapeste nos cinemas da Barra da Tijuca e Zona Sul da cidade.

Elitismo. Preconceito. Absurdo.

Então quem mora na Zona Norte não pode ter acesso à cultura? As grandes salas de teatro já são na Zona Sul, as grandes casas de espetáculo idem, e agora alguns filmes também só podem ser exibidos lá. Na Zona Norte temos que aturar três salas dedicadas ao filme baseado no livro do Dan Brown.

Eu não poderia ir até lá? Poderia, mas me recuso. Me recuso a dirigir vinte quilômetros e pagar mais caro, quando eu poderia ter o mesmo conforto em cinemas próximos de onde moro. Não tenho porque correr o risco de ficar ilhada (pois é o que acontece quando chove na nossa cidade) ou ficar refém (pois é o que acontece quando os morros da Zona Sul se manifestam), quando posso circular perto de casa.

Isso para mim é inaceitável. Isso me dá uma profunda tristeza. Vejo que enquanto perco parte do meu tempo tão precioso pensando em como levar a cultura para todos os lugares, a fazer com que todos tenham acesso e adquiram o hábito pela leitura, muitos outros, que normalmente tem o poder e o dinheiro para conseguir isso, de forma mais fácil, só não conseguem porque realmente não querem. Porque desejam que a elite continue a elite e que o povo seja apenas a grande fatia que serve muito bem em período de eleições.

Desculpe aos que me visitam aqui para ouvir minhas animadas divulgações literárias. Hoje eu precisava desabafar.

2 comentários:

Fatima Cristina disse...

Oi Ana!
Seu desabafo procede como um protesto que deveria nao somente se, publicado em blog, mas também em jornais. Ou talvez até ser enviado diretamente, por exemplo, como comentário ao blog do Chico. Valeu. Concordo plenamente com você!
Beijos,
Fatima

Ana Cristina Melo disse...

Obrigada, Fatima. É muito bom saber que não estou sozinha nesse desabafo.

Num ínfimo instante, cheguei a pensar em deixar comentários nos jornais, mandar a outros blogs, mas logo me acalmei. Pensando bem, fazer isso só me faria ficar realimentando essa decepção. Pois quanto mais eu der voz a esse absurdo, menos eu estarei voltada para o que acredito.

Então, acho que meu protesto já foi suficiente para mostrar o quanto sou contra esse tipo de atitude.

Agora, quero curtir o aniversário do blog, e continuar a sorrir com minhas notícias literárias, que alcançam a todos, sem restrição de bairro, cidade ou país. ;)

No dia em que meu livro sair da gaveta, vou mostrar a eles como se faz divulgação. ;)

Beijos,
Ana Cristina