domingo, 13 de setembro de 2009

Pílulas dos cadernos literários (#3) - 12/09/2009 - pesquisa Hábitos de Leitura

Vamos às minhas promessas. Começo complementando a matéria sobre a pesquisa sobre os livros, publicada no Prosa & Verso desse sábado.

Para quem está chegando nesse post agora, aconselho ler primeiro o post das Pílulas (#2).

Pesquisa traz críticas ao preço do livro
Grande parte dos entrevistados considera obras editadas no Brasil caras ou muito caras, mas elogia qualidade
Fonte: Caderno Prosa & Verso (12/09/2009). Complemento da matéria divulgada no Prosa online
Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social


Resultado da Pesquisa (Os cariocas e os livros)

* Hábitos de leitura (600 responderam)

47% - Não têm o hábito de ler
19% - Lê pelo menos 1 livro por trimestre
24% - Lê pelo menos 1 livro por mês

10% - Lê pelo menos 1 livro por semestre

* Motivos da falta de hábito de leitura (281 responderam)

55% - Falta de tempo
28% - Falta de interesse
12% - Dificuldade para leitura
3% - Preço dos livros
1% - Falta de hábito

* Hábito de leitura (por região da cidade)

Zona Norte

23% - Lê pelo menos 1 livro por mês
21% - Lê pelo menos 1 livro por trimestre
12% - Lê pelo menos 1 livro por semestre
45% - Não têm hábito de ler

Centro

25% - Lê pelo menos 1 livro por mês
12% - Lê pelo menos 1 livro por trimestre
5% - Lê pelo menos 1 livro por semestre
59% - Não têm hábito de ler

Zona Oeste

23% - Lê pelo menos 1 livro por mês
14% - Lê pelo menos 1 livro por trimestre
8% - Lê pelo menos 1 livro por semestre
55% - Não têm hábito de ler

Zona Sul

31% - Lê pelo menos 1 livro por mês
27% - Lê pelo menos 1 livro por trimestre
12% - Lê pelo menos 1 livro por semestre
29% - Não têm hábito de ler

* Até quanto se paga por um livro (185 responderam)

8% - Menos de 15 reais
25% - De 15 a 25 reais
12% - De 26 a 35 reais
15% - De 36 a 45 reais
12% - De 46 a 55 reais
6% - De 56 a 65 reais
17% - Mais de 65 reais
1% - Variável
5% - Não sabe/não respondeu

* Avaliação sobre o preço do livro editado no Brasil

8% - Muito caro
39% - Caro
37% - Justo
3% - Barato
13% - Não sabe/Não respondeu

* Hábito de leitura (por sexo)

Masculino

45% - Não têm o hábito de ler
24% - Lê pelo menos 1 livro por mês
24% - Lê pelo menos 1 livro por trimestre
7% - Lê pelo menos 1 livro por semestre

Feminino

48% - Não têm hábito de ler
23% - Lê pelo menos 1 livro por mês
16% - Lê pelo menos 1 livro por trimestre
12% - Lê pelo menos 1 livro por semestre

Galeno Amorim: Em defesa das bibliotecas públicas
(Por Guilherme Freitas)

Criador do Plano Nacional do Livro e Leitura, Galeno Amorim coordenou no ano passado a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que entrevistou 172 milhões de brasileiros. Atual diretor do Observatório do Livro e da Leitura, Amorim falou ao GLOBO sobre os principais dilemas para a difusão da leitura no país e comentou os resultados da pesquisa carioca.

O GLOBO: A pesquisa Hábitos de Leitura do Carioca mostra que 47% dos habitantes da cidade não têm o costume de ler. Como esse dado se relaciona com as descobertas feitas pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil?

GALENO AMORIM: Essa é a média encontrada pela Retratos da Leitura no Brasil, que mostrou que temos 95 milhões de leitores e 77 milhões de não-leitores, o que significa que 45% da população pesquisada não havia lido um livro nos três meses anteriores. O Rio está dentro da média nacional, mas isso é preocupante, porque era de se esperar que a cidade, que está acima da média nacional em relação ao acesso a bens culturais, tivesse um número maior de leitores. Essa pesquisa feita no Rio é muito bem-vinda, porque expõe as peculiaridades da cidade e certamente vai ser examinada pelos responsáveis locais.

* E que efeito surtiram as medidas tomadas nos últimos anos para o incentivo à leitura?

AMORIM: A última década deve vir a ser vista como a mais importante para a questão da leitura no Brasil, porque o tema passou a ser encarado com a importância que merece. Em 2000, o índice de leitura entre os brasileiros acima de 15 anos e com pelo menos três anos de escolaridade era de 1,8 livro por ano por habitante. Em 2006, o mesmo grupo já tinha um índice de 3,6 livros por ano. O índice nacional hoje é de 4,7 livros. Isso é resultado de um conjunto de medidas. Em 2003, foi criado o primeiro marco regulatório da política do livro no Brasil, a Lei do Livro. Em 2005, a comemoração do Ano Iberoamericano da Leitura provocou 100 mil ações em favor da leitura nas cidades do país. Em 2006, foi criado o Plano Nacional do Livro e Leitura e, dentro dele, houve o esforço para zerar o número de cidades sem biblioteca no Brasil. Eram 1.300, e até o fim do ano o número deve ser zerado.

* Mas a pesquisa Retratos da Leitura sugere que o problema é que, mesmo após a instalação das bibliotecas, elas ficam ociosas.
AMORIM: O Brasil tem uma rede de seis mil bibliotecas municipais e essa rede encontra-se em situação precária, o que é ainda pior que a ociosidade. Muitas delas não têm um acervo compatível com as necessidades dos usuários, ou não são atraentes e confortáveis, e algumas ficam anos sem receber livros novos. Precisam ser revitalizadas.

* E quais são os grandes desafios da leitura no Brasil hoje?
AMORIM: O grande desafio é criar uma ampla rede nacional de amparo às bibliotecas públicas. Temos 50 mil bibliotecas escolares, seis mil públicas, 1.200 universitárias e entre 10 e 20 mil comunitárias, a maioria delas em situação carente. A grande demanda no momento é por uma política vigorosa de apoio à biblioteca pública. Mas é preciso também resolver a questão do financiamento para essas políticas públicas. O brasileiro já está lendo mais, a educação está produzindo resultados. É preciso investir para formar mais pessoas que gostem de ler e que continuem a fazer isso para o resto da vida.

"Para tudo na vida tem que ler"
(Por Guilherme Freitas)

Além de oferecer uma visão geral da relação entre os cariocas e o livro, a pesquisa Hábitos de Leitura do Carioca revela histórias muito particulares de leitores de todas as regiões da cidade. Moradora de Santa Cruz, a fotógrafa Suzana Ferreira de Oliveira, de 38 anos, vive numa região com baixos índices de leitura (55% dos habitantes da Zona Oeste dizem não ler), mas cultiva o gosto pelas letras desde a infância. Começou com os quadrinhos de Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica, passou para romances comprados em bancas de jornais, e hoje coloca Jorge Amado e Clarice Lispector entre seus autores favoritos:

- Gosto muito de "Teresa Batista cansada de guerra" e "A paixão segundo G.H.". Eu me identifico muito com a Clarice e com as experiências que ela descreve nos livros.

Descontente com o número reduzido de livrarias na vizinhança ("a melhor opção é a feita de livros no calçadão de Campo Grande", conta), Suzana costuma pedir ao marido que traga livros do Centro do Rio, onde ele trabalha. Se não encontra o que quer, consegue pela internet. Segundo Suzana, seu maior desafio hoje é transmitir ao filho de 15 anos o gosto pela leitura. Sempre que pode, leva o garoto à Bienal e, embora a estratégia ainda não tenha surtido efeito, promete insistir esse ano:

- Sempre vou com ele à Bienal, mas ele faz piada, pergunta se pode comprar o Kama Sutra. É uma luta, mas vale insistir. Sempre digo a ele que para tudo na vida tem que ler.

Moradora de Botafogo, a estudante Bruna Souza da Cunha, de 25 anos, tem na Zona Sul a região da cidade mais bem servida por livrarias, mas também enfrenta obstáculos para chegar aos livros. Leitora assídua (lê pelo menos um por mês), Bruna se concentra nos livros técnicos que tiram seu sono no curso de direito, mas reclama dos preços salgados:

- O livro é muito caro. Quando compro, é um investimento. Não compro por hobby, é porque preciso mesmo - protesta Bruna, que recorre muitas vezes à internet para conseguir as obras mais caras.

Vivendo em São Gonçalo e trabalhando em São Cristóvão, Edson Batista da Silva, de 42 anos, também encontrou um jeito de driblar os preços, muito altos para seu salário de bancário. Sem livrarias perto de casa, recorre aos sebos do Centro ou reaproveita livros descartados pelos amigos.

- Outro dia mesmo um colega do banco ia jogar fora mais de 50 livros. Pedi para ficar com eles, ia ser um desperdício - conta Edson.

Ele costuma ir sempre à Bienal, mas esse ano não sabe se vai encarar a viagem de São Gonçalo até o Riocentro. O problema, conta, não é a distância:

- Bienal, sabe como é, tem que ir com um dinheirinho. E a situação está um pouco complicada...


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