segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Como escrever bem e paixões pela escrita

Ainda da revista Conhecimento Prático Literatura, edição 26, uma ótima cobertura na seção Almanaque.

Transcrevo abaixo.

* Como escrever bem, segundo Kurt Vonnegut

1. Ache um tema que te importe
2. Mas não fique fazendo muitas digressões.
3. Mantenha tudo simples.
4. Tenha coragem de cortar seu texto.
5. Seja você mesmo.
6. Diga o que você quer dizer.
7. Tenha dó dos leitores.

* Regras de Orwell para Escritores

1. Se for possível cortar uma palavra, corte-a;
2. Nunca use uma palavra longa se você puder usar uma curta;
3. Nunca use um verbo passivo quando você puder usar um ativo;
4. Evite palavras técnicas e estrangeiras;
5. Nunca use uma metáfora que você já tenha visto impressa;
6. Quebre qualquer uma dessas regras para evitar algo simplório.

PREDESTINAÇÃO

Em sua autobiografia, Viver para contar, Gabriel García Márquez conta que inventava histórias desde criança. Tendo vivido na mística casa de seus avós maternos, não foi difícil para o pequeno Gabo iniciar a criação de um universo fantástico, que mais tarde cumularia no mundo etéreo pelo qual seus personagens transitam. Na escola, Gabriel admite ter sido sempre uma tragédia, sempre lendo debaixo dos bancos ao invés de prestar atenção à aula. O escritor conta que tem pena de seus revisores, que sofrem com seus erros primários de ortografia.

Na juventude, seus pais juntam as parcas economias da família e mandam Gabriel para estudar Direito em Bogotá. Mas a predestinação do rapaz para com as letras não arrefece e ele começou a a contribuir em periódicos e a frequentar a alta roda cultural colombiana. Em pouco tempo, a literatura o absorve completamente e ele opta por deixar o Direito, indo de encontro a todas as esperanças da família e ainda que isso implique em fome, necessidade e em dormir em bancos de praça.

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Jorge Luis Borges sempre socializou mais entre livros que entre pessoas. Ele repetidamente afirmava nunca ter saído da biblioteca paterna, na qual passou a infância, tendo por brinquedos as letras. Mas a cegueira esgueirava-se feito um tigre atocaiado, tirando-lhe suas fiéis companheiras de tinta. Jamais deixou de ler ou escrever, por mais que essas palavras já não mais pudessem ser aplicadas: compunha o máximo possível por detrás dos olhos e só então ditava o texto a ser escrito, para a mãe ou uma secretária. Também confiava nos olhos de outros para continuar com sua vasta leitura, que emprestava vozes femininas a Chestertons, Kafkas e Heines. Lia e escrevia como podia. Muitas vezes, como não podia, autografando cópias de seus livros apenas com a lembrança de como eram os traços. Mas nunca deixou de lado sua primeira paixão. Certa vez disse, em inglês, numa conferência: "Como sabem, eu me aventurei na escrita; mas acho que o que li é muito mais importante que o que escrevi. Pois a pessoa lê o que gosta - porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever."

4 comentários:

BORBOLETA disse...

Histórias, literalmente, fantásticas do que há de melhor na literatura latino-americana. A de Borges, inclusive, dramática a altura do grande escritor e poeta que ele foi. O interessante é perceber que, tanto em Borges como em Homero, a cegueira parece ter agido exatamente como prescreveu Sófocles em relação a Édipo ou Tirésias: somente quando tomados pela escuridão dos olhos, puderam enxergar, com nitidez, aquilo que a luz impedia-lhes de ver.

Para quem interessar, deixo o atalho para um textinho ambientado na vida do grande vate:
http://pararaiodeloucos.blogspot.com/2009/07/mil-e-uma-noites-ao-lado-de-borges.html

Saudações Literárias,

Borboleta

http://pararaiodeloucos.blogspot.com

Maria Augusta disse...

Sábios conselhos sobre a arte de escrever. Acho que o mais difícil de aplicar é "cortar os textos", pelo menos no meu caso.
Abraços.

Fatima Cristina disse...

Oi Ana,

Concordo com a Maria Augusta.
Para mim também é muito difícil cortar o meu próprio texto. Fico com pena...

Beijos!

Ana Cristina Melo disse...

Aprender a cortar talvez seja o mais difícil, pois nos apegamos ao que escrevemos.

Mas chega um momento em que começamos a dar muito mais valor ao ritmo da frase, ao enredo redondo.

Já houve época em que eu sofria horrores para cortar meus textos, hoje faço sem dó. Quando ainda teimo em manter uma parte, mas percebo que está fora do tom, em vez de cortar, eu reformo, modifico, acho uma roupagem melhor. Talvez seja uma solução para começar a praticar o desapego. rsrsrs

Bjs a todos.