Há poucos dias terminei de ler o livro de poemas Retro-retratos, de Celina Portocarrero.
Celina é uma das principais tradutoras brasileiras. Há pouco entregou ao mercado a nova tradução de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen (L&PM Editores). Celina não cedeu seu talento apenas para nos oferecer Austen, mas também Proust, Balzac, Simenon, Tolstoi, Gide, entre outros. Por sua tradução de Proust, ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura, na categoria Tradução de Língua Francesa.
Mas hoje não é das traduções que venho falar, mas da poesia delicada que ela ofereceu a seus leitores em 2007. E para que as palavras os seduzam por si só, divido como vocês as minhas preferidas.
Para saber um pouco mais sobre a obra de Celina Portocarrero, acesse seu site, http://www.celinaportocarrero.com/ ou seu blog http://neurotoxicos.blogspot.com/.
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Infância
Celina Portocarrero
Quando penso em mim criança,
não me lembro de brincar,
não me lembro de ser livre,
não me lembro de correr.
Lembro sim de me encolher,
lembro bem de me esconder,
de ter medo e de tremer.
Lembro do fundo do armário,
do escuro atrás do espelho,
do final do corredor.
Lembro da dor e do susto,
do querer ser diferente,
da vontade de não-ser.
Retro-retrato
Celina Portocarrero
Aos noventa contarei
que aos sessenta me casei,
aos quarenta engravidei,
dos trinta quero esquecer.
Com vinte e seis procriei,
com vinte e cinco também.
Aos vinte sobrevivi,
aos sete amadureci.
Nunca mais parei de ler,
desde que aos dois aprendi.
Dizem que, antes, nasci.
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