sexta-feira, 4 de julho de 2008

Flip - mesa 5 - "Sexo, mentiras e videotape"

Depois de brigar muito com minha banda larga, que deve ter feito um baita regime, consegui chegar (virtualmente) na última frase da leitura feita por Cíntia Moscovich, do seu livro “Por que sou gorda, mamãe?”. E assim começou (pelo menos para mim), a mesa "Sexo, mentiras e videotape", com a participação da própria Cíntia e de Zoë Heller e Inês Pedrosa, moderada por José Luis Peixoto.

Em seguida, a inglesa Zoë Heller leu um trecho do seu livro, “Anotações sobre um escândalo”, no qual a narradora Barbara discute com Sheba, a protagonista.

Por último, Inês Pedrosa leu um capítulo, no qual Clara, a protagonista de seu livro “A eternidade e o desejo”, escreve uma carta para o amigo Sebastião (que está no Maranhão), com quem havia retornado ao Brasil, para pesquisar sobre o Padre Antônio Vieira.

Seguindo o tema da mesa, José Luis dá início ao questionamento sobre o tema sexo, dentro do contexto da literatura feminina.

Zoe disse que não há passagens sobre sexo em seu livro. Um dos maiores interesses está na diferença de tratamento com mulheres e homens, quando do mesmo ato. Quando mulheres têm um caso com rapazes de 14 anos, isso faz parte da idéia do não-sadio, enquanto que se são os homens que cometem essas violações, os mesmos são tratados como predadores.

Inês respondeu ao questionamento sobre o fato de não se ter muita descrição do ato sexual em Portugal. Ela demonstra com alguns exemplos bem divertidos que é tão fácil falar de sexo, que nada se fala. Tudo é por meio de metáforas, por exemplo: cetros, mastros e velas. A descrição muito crua é muito criticada em Portugal. Lembrou que a ditadura de Portugal censurava mais a sexualidade do que a política.

Cíntia contou que seu livro foi escrito numa influência de “Carta ao pai” de Kafka. Falou em detalhes sobre o processo de escrita, no qual se deparou com a mãe gigantesca que estava escrevendo. Em outro momento, afirmou ainda que não temos que nos afastar do que conhecemos para escrever. Diz que somos um abismo, um buraco negro, e o conhecimento desse abismo nós dá elementos para a literatura. “Uma coisa que eu descobri: as pessoas se parecem muito umas com as outras. (...) As grandes tragédias pessoais não são exclusivamente nossas ”, afirma Cíntia, acrescentando ainda que temos que usar esse acervo de afeto e de memória para escrever.

Inês foi taxativa em dizer que literatura feminina não existe. Literatura divide-se em boa e má, que é estúpido criar guetos em qualquer área, e que qualquer separação é ruim. Afirma “nunca andamos a contabilizar quantos homens e quantas mulheres havia em Guerra e Paz”. Contou um episódio muito engraçado sobre a época em que era editora da revista Marie Claire. Ela estabeleceu algumas regras, entre elas, o de ser proibido perguntar a uma mulher “como se concilia uma carreira e os filhos”, mas a um homem não havia problemas. E foi o que ela fez, a um candidato à presidência. Foi hilariante o seu relato sobre a reação do entrevistado.

De passagens hilariantes a troças sobre o tema sexo, a mesa encerrou com as escritoras falando sobre a capacidade que os escritores têm de captar a sensibilidade das coisas, um estado de espírito, que não é comum se perceber no dia a dia.

Por hoje é só. Apesar de ter anotado muito mais sobre essa mesa, maravilhosa cabe ressaltar, não tive tempo de escrever mais do que expus acima. Bem, não terei disponibilidade para relatar os próximos debates (talvez volte no último de domingo), mas espero que vocês curtam a Flip, de perto ou de longe.

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