sábado, 15 de agosto de 2009

Pílulas dos cadernos literários (#1) - 15/08/2009

Vamos às pílulas do Caderno Ideias & Livros (Jornal do Brasil) de hoje. Essa semana tem matérias interessantes no caderno Prosa & Verso ligadas ao centenário de morte de Euclides da Cunha. Farei a postagem aqui no Canastra, mas devido a compromissos pessoais, vai demorar 'só um bocadinho'! :)

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!Caderno Ideias (JB). Sábado (15/08/2009)!
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# A arte de não dar entrevistas
* Nova Aguilar lança, em dois volumes, nova edição da obra completa de Guimarães Rosa
( Leia mais )

# A lógica da desagregação
* Edição de 'Dialética negativa' marca os 40 anos de morte do pensador Theodor Adorno (Por Haron Gamal)
( Leia mais )

# À espera de outro livro vingador
* Crítico explica mudanças e acréscimos na edição da obra completa de Euclides da Cunha. Entrevista com Paulo Roberto Pereira (Por Alvaro Costa e Silva)
( Leia mais )

Especial: Um novo romance sobre Canudos
'O pêndulo de Euclides', de Aleilton Fonseca, narra uma visita aos cenários da guerra
Com exclusividade os dois primeiros capítulos da obra. ( Leia mais )

Crítica literária: é preciso situar Euclides da Cunha no seu tempo
Por Wilson Martins ( Leia mais )

# A estranha peste dos anões
* Terceiro romance de Luís André Nepomuceno explora os intertextos (Por Ítalo Ogliari)
( Leia mais )

# Tradição e modernidade
* Romance de José Luiz Passos contraria a literatura brasileira que aqui e agora (Por Carina Lessa)
( Leia mais )

O que tenho lido... mais sementes #1

Continuando as sementes do que li nos últimos tempos, trago hoje trechos do livro Mundos de Eufrásia, de Claudia Lage.

Para saber um pouco mais sobre o livro, incluindo o texto de orelha, acesse a divulgação no Sobrecapa.

Estou empolgadíssima com o romance, com o texto da Claudia. Então para atiçar a vontade de vocês, algumas sementes da melhor qualidade...

"Mais do que tudo, começou a contar os momentos felizes e os tristes. Não havia falado nada a seu pai, mas achava que se soubesse somar alegria com alegria, nunca sentiria tristeza. E se soubesse diminuir a tristeza da tristeza, a anularia na própria origem, já que um menos um é igual a zero. E zero é um recipiente vazio que, achava, poderia preencher com o que quisesse na vida. Era o que pensava, menina. Era o que tentou pensar sempre, no esforço de acreditar que o desejo nascia para morrer de luz e depois renascer de si mesmo, na plenitude daquilo que se quer e que se tem. E não que o desejo nascia para morrer numa extinção lenta de sonho e esperança, afagos e apelos, anseios que se debatiam e ofegavam, que se somavam e diminuíam sem nunca ganhar ou perder. Apenas se multiplicavam incessantemente pelos anos, ou se dividiam parcimoniosamente pelos dias, num arrastar de sobrevivência de quem aplaca as próprias forças para não se sobrecarregar de si mesmo, não se consumir na brasa da própria luz que alimenta, não implodir na urgência da própria explosão."

"Ficaram os dois mudos. Surpreso por encontrar tranquilidade onde esperava tremor, Nabuco padecia. Eufrásia olhou surpresa o seu padecimento, descobrindo que estava ali um homem titubeante, desarmado dos artifícios incendiados com outras mulheres. Observou o castanho dos cabelos cacheados, admirada mais uma vez de serem exatamente da mesma cor dos olhos. Nabuco tinha os olhos doces, que desmentiam a postura arrogante. Ou era a arrogância que desmentia a doçura. Nossa Senhora da Conceição, acostumada que estava com mocinhas ajoelhadas diante de sua imagem a suspirar por rapazes que mal conheciam, enxergando em todos os futuro marido, se admirava do olhar sem desvios daquela moça, que olhava o moço, e não o futuro marido no moço, o moço, e não o sonho de filhos, o moço, como se intuísse que estava nele o início, o fim e o meio de todo o desejo, como se já tivesse percebido que as mulheres conheciam do amor muito pouco, apenas o que os homens permitiam conhecer. E a permissão se resumia a sonhar acordada ou dormindo com cavalheiros inacessíveis, desmaiar quando a fantasia tomava a carne em vontades impróprias e chorar quando a realidade feria demais os sonhos."

"No entanto, Ana Esméria não emendou discussão nenhuma. Pelo contrário, preferiu se fazer de surda e iniciar outra conversa. "Tenho reparado, Eufrasinha, que estás diferente." Eufrásia, que vinha justamente se esforçando muito para parecer a mesma, enrubesceu. Já estava enrubescida desde cedo, quando recebera o bilhete de Nabuco, convidando-a para o encontro na Igreja Matriz, mas a percepção da mãe a pintara mais de vermelho. Ana Esméria se deliciou com a reação da filha. Interpretou como a confirmação de suas suspeitas. "Acho que estás apaixonada." Eufrásia explodiu numa risada nervosa. "Que tolice, mamãe!", "Por que tolice? Não estás?", "Não", respondeu, em um tom que não convenceu nem a si própria. "Não estou!", repetiu, deixando claro que estava, "Por que estaria?", insistiu, confirmando que não podia deixar de estar. "E por que essa ideia agora?", tentou escapar, como pôde. "A senhora não queria que eu lesse a receita?"

"Eufrásia sentou a mãe numa cadeira. O dia lá fora brilhava, a casa por dentro ardia. Abriu as janelas, pediu que a mãe respirasse fundo, respirou, respiraram. Puxou o fio do assunto, "Por que afinal achas tanto que morro de paixão por Leopoldo?". O fio esticou até Ana Esméria sentada e ofegante. "Não acho nada, filha" Ana Esméria desolada. "Quero achar." Extinguindo-se. "Preciso." O fio voltou à Eufrásia, enrolou-se nela, "Por quê?", apertou-a na garganta, "Papai tem alguma razão em não querer que nos casemos com primos, como toda a família", apertou-a para que não falasse mais nem menos do que devia. "Se essa tradição continuar, corre-se o risco de algum dia, por engano, alguém se casar com o próprio irmão." Ana Esméria engasgou, "Deus me livre!", fez o sinal da cruz. Era o fio que esticava até seu pescoço, que ia de uma para a outra, da outra para uma. "Já esqueceste o que aconteceu com Francisca, minha mãe?", Ana Esméria teve um susto, "Não, não esqueci!". O fio esticava. "A pobre!" Esticava, esticava. "Mas o que tu tens com isso?" Eufrásia não entendeu. O fio teso. Não podia perceber que a mãe, nas vésperas de deixar esse mundo, enxergava além da vida e da morte. "Francisca foi infeliz no amor, coitada", lamentou. O fio no limite. "Mas tu não precisas ser." Todo o seu rosto se iluminou, como nas profecias, "Basta uma infelicidade na família, meu Deus!"

Aquele fio ficaria esticado para sempre. Prestes a romper e nunca se romperia. (...)".

"Eufrasinha nunca havia visto uma criança com olhar de velho. Parecia que tinha um avô dentro daquele menino. Um avô que a olhava, com o pensamento carregado de anos. Joaquim Nabuco, ou Quinquim, estava com o corpo escondido atrás da enorme figura do pai. Um garoto sério que espiava pela fresta da porta, que a olhava com uma idade que não tinha."

"Eufrásia sofria com a imagem da mãe lhe estendendo o caderninho, não esqueça a erva-doce, filha. E se via escrevendo o nome do tempero, num tempo guardado em seu peito, lá atrás. Não sabia dizer se era um tempo mais feliz ou mais triste. Era um tempo em que sua mãe existia, só isso."

Tenho tantas outras passagens que desejei compartilhar com vocês, mas não quis estragar a surpresa da própria história que elas trazem.




sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O que tenho lido...

Nossa, há quanto tempo não falo dos livros que tenho lido, do que tenho escrito, transcrito aqui frases sobre a técnica...

Hoje li um conto do livro A liberdade é amarela e conversível do André Giusti (aliás, um livro de contos muito bom. Recomendo!) que fala sobre o vazio. Um vazio imenso que nos toma meio a felicidade, que transforma a felicidade do que conquistamos em algo menor do que realmente é. E sabe que estava me batendo um vazio sobre o Canastra. Uma sensação de que ele já não era mais o mesmo. Então, pensei que é bom comentar, citar as notícias literárias, mas se tem algo que me dá prazer é ir direto ao ponto, ou seja, falar dos livros, citar o que mais me tocou, divulgar meus escritos.

E para espantar de vez esse vazio, vamos voltar a conversar sobre o que de bom tem passado pelas minhas mãos.

Sobre a coleção Viver & Escrever da Edla Van Steen eu já havia falado aqui duas vezes. E com minha falação (como diz minha pequena), havia citado também alguns trechos. Mas são tantos depoimentos interessantes, que só lendo o livro todo.

Outro livro muito bom que terminei de ler há 10 dias se chama Nos bastidores do imaginário: criação e literatura infantil e juvenil, da Anna Claudia Ramos. Mas alguns devem pensar assim: "mas não pretendo escrever literatura infantojuvenil". E eu respondo: "Não faz diferença, pois Anna fala e muito da literatura, de sua técnica, de sua importância. E literatura é literatura, não importa o gênero".

Sobre os livros, eu indico Mundos de Eufrásia de Claudia Lage. Ainda não terminei, mas até agora foram três quartos de uma história forte contada com linhas inteligentes, de técnica refinada, de palavras exatas, de jogos de palavras que são uma aula à parte. Recomendo!

Voltando um pouquinho mais no tempo (já que desde junho eu não falo sobre essas leituras), terminei aquele que foi o livro de estreia de minha querida Livia Garcia Roza -- Quarto de menina. Livia o lançou em 1995 e o relançou no Salão do Livro deste ano. Falta muito pouco para eu dizer que já passei por toda a sua prosa. E Quarto de menina prova que tudo de maravilhoso que ela criou depois nasceu com seu livro de estreia. É classificado como livro infantil, mas sendo acima de tudo literatura, recomendo a qualquer idade.

Já passei por vários romances e coletânea de contos de Lygia Fagundes Telles, mas ainda não havia lido Antes do baile verde. Aproveitei o relançamento pela Companhia das Letras para saldar meu débito. E fiquei feliz em fazê-lo. O livro é um dos melhores de Lygia. Alguns contos eu já conhecia, mas é sempre bom revê-los, revisitá-los com novas experiências, novas sensações. Afinal somos leitores diferentes a cada vez que entramos em um livro.

Li também nos últimos meses a coletânea de contos A cabeça, de Luiz Vilela. Se tem algo que fui tratando com carinho nesses últimos anos em meus textos são os diálogos. O próprio Paulo Bentancur disse sobre meu livro de contos: "(...) é sobretudo nos diálogos – essa praga na literatura brasileira, uma vez que diálogos são tratados pelo escritor nacional de forma um tanto forçadamente seca ou falsamente retórica –, repito, é nos diálogos que Ana Cristina Melo mostra que é incapaz de trair suas personagens e o universo de que elas dão notícia.". Mas não é sobre mim ou meus diálogos que quero frisar, mas sobre os diálogos não menos que perfeitos que permeiam todo o livro de contos de Luiz Vilela.

Outro título é Vésperas de Adriana Lunardi. Esse livro não é um lançamento recente, mas estava na minha fila do "a comprar" há muito tempo. E depois de comprado, passou para a fila do "a ler". E como me arrependi de não tê-lo lido antes. São contos que transcendem a biografia das escritoras e seus últimos momentos. Muito bom!

Sobre Outra vida de Rodrigo Lacerda, nem preciso falar, até porque já publiquei aqui uma resenha sobre o mesmo. Mas não custa lembrar de que é um romance maravilhoso.

Na mesma linha de lançamentos recentes, vale e muito uma passagem pelo Hotel Novo Mundo da Ivana Arruda Leite. Outra preciosidade. Ivana tem um humor inteligente e a simplicidade que de nada tem de simples na criação, mas o esforço e a minúcia de quem muito se esforça para atingir esta segurança.

Ainda com Ivana Arruda Leite, aproveitei e fui na marola de sua prosa, lendo o livro de contos Ao homem que não me quis. Um livro muito bom, que fecha com o conto que dá título ao livro. Conto este simplesmente maravilhoso.

E falando em estreias tem o romance O contorno do sol de Natália Nami. Pauta-se em dois enigmas e uma grande habilidade da autora para narrar entre os claros e as sombras da história.

E para não me acusarem de só ler os daqui, cito um estrangeiro. Não é porque goste menos, mas realmente tivemos tão bons lançamentos nos últimos meses, que foi impossível ficar longe do que de melhor é fabricado "dentro da nossa casa". Assim, li também, O animal agonizante de Philip Roth. Não é preciso que se fale de Roth. Seus livros são o bastante. Mas esse livro nos prende e nos derruba, mantendo o estilo irônico e incisivo do autor.

Bem, por hoje é só.

Assim, para atiçar mais ainda a curiosidade de vocês, nos próximos posts (incluindo esse) vou deixar aqui algumas sementinhas dessas leituras. Trechos que me tocaram, que marquei com a minha tradicional carinha de "Adorei!". :)

Começo com o livro da Anna Claudia Ramos:

* Entrevista de Anna Claudia Ramos com Ana Maria Machado

"Em um ciclo de palestras a respeito de sua obra, alguém lhe perguntou sobre o que ela considerava um bom livro infantil, Ana Maria (MACHADO, 2002) respondeu, apesar de antes ressaltar que essa era uma definição difícil, muito ampla, citando o autor inglês C. S. Lewis: 'Um bom livro infantil é aquele que a gente lê com deleite aos 10 anos e relê com igual prazer aos 50 anos'".

"Anna Claudia - Criar um mundo pra aquela história. O leitor não precisa saber de um monte de coisas que o escritor pensou ao construir uma personagem, por exemplo, mas o que o escritor precisa saber.

Ana Maria - O Hemingway dizia uma coisa perfeita. Ele dizia que o livro deve valer pelo muito que nele não entrou. Eu acho, por exemplo, que um dos segredos da grande qualidade da literatura infantil é que tivemos um grupo de autores muito leitores e que, então, eles tinham muito para não entrar no livro."

* Capítulo: Como e por que criamos?

"(...) é pela linguagem que o escritor realiza seu trabalho, que este só é possível pelo trabalho estético, o que distingue a criança que brinca do escritor criativo. Mas é preciso deixar claro que Freud faz uma distinção entre o escritor criativo (que cria seu próprio material) e o escritor que utiliza temas preexistentes (que reformula um material preexistente e conhecido, que geralmente procede dos mitos e lendas)."

"Quando digo que alguém pode escrever só para agradar a um tipo de mercado, essa pessoa tem um caminho a seguir bem diferente de quem quer ter estilo próprio e escrever sem se preocupar em passar valores ou conceitos preestabelecidos. Esse tipo de texto no qual o escritor se permite escrever sem ficar preso a passar valores explícitos se propõe a ser literatura. São textos onde as personagens podem ser paradoxais e os mundos da ficção são bem estruturados e definidos, em detrimento de textos em que existem personagens pré-fabricadas e mundos falsos, criados apenas para agradar a um tipo de demanda no mercado."

"Aonde se quer chegar com a história? Há que se preocupar com o foco narrativo, com a estrutura da narrativa, a técnica, a pontuação, o ritmo do texto, a idéia e o aproveitamento da idéia, com a construção das personagens. (...) Em se falando de construção narrativa, vale dizer que, para se criar uma história e achar seu tom, seu ritmo, seu foco, seu narrador, é preciso criar o mundo dessa história".

"O mais importante é o ritmo, que tem que fluir bem e se sustentar ao longo do texto. E é preciso maestria para saber dar ritmo a um texto, senão o texto fica cheio de palavras desnecessárias.
Existe ainda o problema da adjetivação. Escritores iniciantes normalmente se valem excessivamente de adjetivos. A cada frase usam tantos adjetivos que acabam sufocando o texto, não deixam um espaço de respiração entre as palavras. Isso, na maioria das vezes, deixa o texto pesado e chato, pois tudo tem uma definição, tudo vem tão pronto, tão mastigado que nem sobre lugar para o leitor imaginar nada".

"(...) a linguagem não é apenas o que ela diz, ela é também o que está na ausência das palavras, nas lacunas existentes entre as linhas de um texto e nas relações entre quem fala e quem ouve, quem escreve e quem lê."

"As palavras são as ferramentas de trabalho de um escritor. É pela linguagem que ele dá vida às personagens. A viagem da ficção começa na maneira como as palavras são articuladas e organizadas nas frases, em como o autor vai usar a sua técnica pessoal para criar um texto, em como ele fará uso da pontuação".

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Programação da Estação das Letras - próxima semana

Veja a programação da Estação das Letras a partir do próximo sábado. Clique nas imagens e confira os detalhes:

* A arte da persuasão, com Antonio Fernando Borges



* As ficções breves: mergulho no conto, com Ondjaki




* A Prosa de ficção: sua criação e seu alcance, com Luiz Ruffato




Enter - antologia digital



A crítica literária Heloisa Buarque de Hollanda, completou 70 anos, e para mostrar o quanto a Internet está se relacionando com a Literatura, organizou uma antologia diferente: virtual.

A antologia intitulada "Enter - antologia digital" foi lançada (colocada no ar) ontem, e reúne não só textos, como áudios, fotos e vídeos de 37 autores.

O endereço para conferir: http://www.enterantologiadigital.com.br/.

Leia também depoimento de Heloisa no Prosa online.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Copa de Literatura - jogos definidos

E a Copa de Literatura Brasileira deste ano já tem seus jogos definidos. Os jogos e os jurados. Agora é participar e ajudar que essa ideia fantástica do Lucas Martinho continue ativa.
Mais detalhes acesse o site da Copa - http://copadeliteratura.com/.

Jogo 1 - Cordilheira, de Daniel Galera X O livro dos nomes, de Maria Esther Maciel
Jurado: Paulo Polzonoff Jr.

Jogo 2 - Areia nos dentes, de Antônio Xerxenesky X O vencedor está só, de Paulo Coelho
Jurado: Fernando de Freitas Leitão Torres

Jogo 3 - O fazedor de velhos, de Rodrigo Lacerda X O verão do Chibo, de Vanessa Barbara e Emilio Fraia
Jurado: Bernardo Brayner

Jogo 4 - Galiléia, de Ronaldo Correia de Brito X Manual da paixão solitária, de Moacyr Scliar
Jurado: Felipe Charbel

Jogo 5 - Flores azuis, de Carola Saavedra X Dias de Faulkner, de Antônio Dutra
Jurado: Tiago A.

Jogo 6 - O ponto da partida, de Fernando Molica X Acenos e afagos, de João Gilberto Noll
Jurado: Fabio S. Cardoso

Jogo 7 - A arte de produzir efeito sem causa, de Lourenço Mutarelli X Jonas, o copromanta, de Patrícia Melo
Jurado: Luí­s Francisco Carvalho Filho

Jogo 8 - Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum X O conto do amor, de Contardo Calligaris
Jurado: Alex Castro

Quartas de final
Jogo 9
Vencedor do jogo 1 X Vencedor do jogo 2
Jurada: Beatriz Resende

Jogo 10
Vencedor do jogo 3 X Vencedor do jogo 4
Jurada: Simone Campos

Jogo 11
Vencedor do jogo 5 X Vencedor do jogo 6
Jurado: Leandro Oliveira

Jogo 12
Vencedor do jogo 7 X Vencedor do jogo 8
Jurado: Luí­s Augusto Fischer

Semifinais

Jogo 13
Vencedor do jogo 9 X Vencedor do jogo 10
Jurado: Amônio Plausível

Jogo 14
Vencedor do jogo 11 X Vencedor do jogo 12
Jurado: Antonio Marcos Pereira

Final

Jogo 15
Vencedor do jogo 13 X Vencedor do jogo 14
Jurados: Todos + Lucas Murtinho




sábado, 8 de agosto de 2009

Pílulas dos cadernos literários (#1) - 08/08/2009

Vamos às pílulas do Caderno Ideias & Livros (Jornal do Brasil) de hoje.

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!Caderno Ideias (JB). Sábado (08/08/2009)!
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# Obra e graça de Didi
* Biografia por Péris Ribeiro recupera a trajetória do craque que inventou a folha seca, uma jogada única e inimitável (Por Alvaro Costa e Silva)
( Leia mais )

# Mais uma confirmação do soneto
* Coletânea com 68 poemas de Ildásio Tavares faz homenagem a Charles Baudelaire (Por Pedro Lyra)
( Leia mais )

# Uma nova forma de ler ficção
* O escritor mineiro Alexandre Brandão reúne duas novelas para discutir cinema e internet (Por Duílio Gomes)
( Leia mais )

# Entre o passado e o presente
* Em seu sétimo livro, Bernardo Ajzenberg intercala narrativas distintas de uma mesma vida (Por Carolina Leal)
( Leia mais )

# Um grito diante da porta
* Com apuro na linguagem, romance de Natália Nami tematiza a angústia coletiva moderna (Por Ieda Magri)
( Leia mais )

# O humor dos irmãos Marx
* Por Leandro Konder
( Leia mais )

# O poeta a domicílio
* Por Felipe Fortuna
( Leia mais )

# Pracinhas em Fornovo
Culminação da campanha da FEB na Segunda Guerra Mundial, as batalhas no vilarejo do norte da Itália são narradas em livro do historiador Fernando Lourenço Fernandes (Por Luiz de Alencar Araripe)
(
Leia mais )

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Programação da Estação das Letras - próxima semana

Veja a programação da Estação das Letras a partir da semana que vem. Clique nas imagens e confira os detalhes:

* Oficina de conto, com Nilza Rezende




* Oficina de revisão e copidesque, com Alvanísio Damasceno



* Atelier da escrita, com Bia Albernaz

* Oficina de poesia, com Carlito Azevedo


* Escrita criativa, com Silvia Carvão




* Caminhos da Crônica, com Arthur Dapieve

Encontro com escritores no RJ

clique na imagem para ampliá-la

Os escritores Marcelo Moutinho, Ondjaki e Flávio Izhaki participarão de um debate, com mediação de Miguel Conde, amanhã, na Livraria Moviola.

Infelizmente, não poderei ir, mas para quem estiver livre é uma oportunidade maravilhosa, pois os três escritores são ótimos ficcionistas e têm muito o que dizer sobre essa arte especial.


Pílulas dos cadernos literários (#6) - 01/08/2009

Pronto. Terminado aos 45 do segundo tempo. Finalizo a reportagem que saiu sobre o poeta Rodrigo de Souza Leão, com a matéria de Luciana Hidalgo. Acho que semana que vem será mais tranquilo.

‘Escrever para não morrer’
Para alguns autores, palavra pode atuar como ferramenta útil na recuperação de um ‘eu’ partido

Por Luciana Hidalgo

Disse Balzac que o homem é um bufão a dançar sobre precipícios. A frase, transcrita por Lima Barreto em seu diário, diz muito, não apenas sobre a trajetória desse escritor carioca, internado duas vezes no hospício, mas acerca do homem e de suas certezas movediças. Nessa admirável valsa da condição humana, que junta “normais” e “loucos” separados por frágeis limites, uma questão lateja: o que une os quadros de Van Gogh, os bordados de Arthur Bispo do Rosário e os escritos de Artaud? É tentador, mas redutor explicar gênios pela sua “loucura”. No entanto, é inevitável a impressão de que, de uma forma ou de outra, a arte se beneficia, e muito, dessa dança por contornos extremos.

A fronteira entre o real e o ficcional é permeável

Se é impossível fazer o elogio da loucura, com todo o desespero que esquizofrênicos expõem ao vislumbrá-la, pode-se ao menos fazer a apologia da arte vazada do delírio, às vezes dotada de incomum qualidade estética. Talvez por criarem numa eterna situação-limite, esforçam-se por pintar ou “escrever para não morrer”, como disse o crítico Maurice Blanchot. Ou escrevem para não enlouquecer, a exemplo de Lima Barreto que, ao ser internado no Hospital Nacional dos Alienados em 1910/20, escreveu “Diário do hospício” como forma de reestruturação de si.

Mulato de origem humilde, Lima viu acrescentar-se aos clichês preconceituosos de seu tempo o de “louco”. Ele era apenas alcoólatra, no estágio mais avançado do vício: o das alucinações que, uma vez acabadas, relegavam-no à solidão do homem lúcido no manicômio. Por isso escapou da vigilância para escrever o que bem entendesse no espaço branco do papel. Era um espaço autônomo, intocado pela psiquiatria, que ele usou para construir sua literatura da urgência, num intricado diálogo entre escritor e instituição. Não só fez uma autoanálise, mas descreveu ritos e vícios manicomiais, com o forte tom de crítica que o movia.

Escritores marcados pelo trauma de situações como esta têm em comum a insistência com a temática “loucura”. Rodrigo de Souza Leão, autor de “Todos os cachorros são azuis”, que nunca escondeu sua esquizofrenia, contagiou seu primeiro romance com a própria experiência. Seu narrador alterna realidade e fantasia para contar o dia a dia no hospício, a certa altura agitado por um crime. Entre comprimidos, injeções eletrochoques, o personagem combate cupins gigantes, vê samambaias crescerem ao seu lado e convive com Rimbaud, colega de infortúnio. A fronteira entre o real e o ficcional é permeável, o que influencia essa escrita que corre bem, mas às vezes vai, volta, fragmenta-se e remete à estrutura seccionada do delírio.

Para alguns desses autores, a escrita parece atuar como ferramenta útil na recuperação de um “eu” partido, ou do pensamento cindido, para usar expressão próxima à etimologia da esquizofrenia (do grego, “alma fendida”). É o caso do dramaturgo francês Antonin Artaud, que dispôs da escrita como artifício de resistência durante nove anos de internação na França dos anos 1930/40. Esquizofrênico, alternando fases lúcidas e outras marcadas por um contato quase nulo com a realidade, escreveu diários sacolejados por esses altos e baixos.

A arte como uma sutil busca pelo todo

Uma pergunta de Artaud dá a dimensão da angústia: “Até quando devo refugiar-me no não-ser para ter o direito de ser o que sou?” A escrita tinha a função de compensar este corpo desgovernado, sitiado pela autoridade numa época marcada por tratamentos violentos, pré-movimento antimanicomial.

Talvez pelo caráter fragmentário da esquizofrenia essa arte seja tão autorreferente e flagre uma sutil busca pelo todo. É o caso de Arthur Bispo do Rosário, interno da Colônia Juliano Moreira que criou mais de mil obras consagradas no mercado de arte contemporânea. Ele dizia cumprir uma missão, a representação de tudo o que havia na Terra, feita para Deus, sob ordens de anjos. Bordou nomes de pessoas queridas, delírios, extratos poéticos, autoficções.

Na retidão da cela, Bispo desfiou o uniforme azul do manicômio para reaproveitar os fios que cerziriam seus bordados. Ao fazer estandartes, usou as mantas da Colônia como suporte; para as assemblages, apropriou-se das canecas de alumínio do refeitório. Signos manicomiais ganharam novo sentido e valor estético nessa ousada desconstrução do poder no hospício.

Podem-se citar outras preciosidades da literatura brasileira que tocam no tema “loucura”, a exemplo de “Armadilha para Lamartine”, de Carlos Sussekind, “Quatro-Olhos”, de Renato Pompeu, e “Hospício é Deus”, de Maura Lopes Cançado. Artistas de alta linhagem, provavelmente comungariam da frase bordada por Bispo numa obra: “Eu preciso dessas palavras – escrita.” A palavra alcança status extraordinário, a arte traduz universos inacessíveis.

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LUCIANA HIDALGO é jornalista e autora de “Arthur Bispo do Rosario – O senhor do labirinto” (Rocco) e “Literatura da urgência – Lima Barreto no domínio da loucura” (Annablume)

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Lançamentos e a alegria do primeiro encontro

A noite de terça foi bem agitada. Isso para mim que sou bicho-do-mato (ih, será que ainda tem hífen?) e saio muito pouco à noite. :)

Primeiro, passei na Argumento para o lançamento do queridíssimo Rodrigo Lacerda. É contagiante a alegria dele. Que simpatia! Enquanto eu estava lá, chegaram Edney Silvestre, Renato Machado e João Ubaldo Ribeiro. Rodrigo é um grande fã de João Ubaldo.

Para quem não leu, não perca seu romance Outra vida. É maravilhoso!

De lá fui para a Travessa de Ipanema prestigiar a não menos querida Ivana Arruda Leite. Ela eu não conhecia pessoalmente. Só pela troca de mensagens em seu badalado blog Doidivanas. Ai, como é bom trocarmos essa energia ao vivo! Ivana também é uma simpatia. Lá encontrei a minha amada Livia Garcia-Roza, que foi prestigiar o lançamento da amiga, mesmo cansada da viagem à São Paulo.

Para mim, a alegria na Travessa foi tripla. Conhecer Ivana pessoalmente, reencontrar a querida Livia e conhecer a Fatima Cristina, leitora fiel deste blog, com quem tivemos grande afinidade virtual, e não menos ao vivo e a cores. Ela e seus filhos. Que lindos!

Fatima, amei te conhecer!

E seu lançamento no Rio virou quase um encontro de Doidivanas. Pois logo chegaram outras.

Noite perfeita! Pena que tive que sair mais cedo. Mas não faltarão oportunidades para novos encontros.

Seu romance Hotel Novo Mundo também é fantástico. Leiam! Eu indico e assino embaixo. Fiquei com saudade da personagem Renata quando terminou. ;)

Tentei fugir da maquininha da Ivana, mas não teve jeito. Não faria essa desfeita de não tirar uma foto com ela. No caso, duas. rsrss

Mas bem que eu preferia um Photoshop.

Para conferir as fotos e mais do lançamento, dê um pulinho no blog dela.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Finalistas do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon

A 13ª Jornada Nacional de Literatura e a Comissão Julgadora do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura anunciaram hoje o nome dos 10 finalistas que continuam na disputa, concorrendo ao prêmio de R$ 100 mil.

São eles:
  • A chave de casa, de Tatiana Salem Levy;
  • A viagem do elefante, de José Saramago;
  • Acenos e afagos, de João Gilberto Noll;
  • Galiléia, de Ronaldo Correia de Brito;
  • Heranças, de Silviano Santiago;
  • Leite derramado, de Chico Buarque;
  • O filho eterno, de Cristovão Tezza;
  • O livro das impossibilidades, de Luiz Ruffato;
  • O livro dos nomes, de Maria Esther Maciel; e
  • O vento assobiando nas gruas, de Lídia Jorge.

Temos na mesma disputa os vencedores do Prêmio São Paulo das edições de 2008 (O filho eterno, de Cristovão Tezza) e 2009 (Galiléia, de Ronaldo Correia de Brito).

Nessa lista, apesar de ter gostado bastante de O filho eterno, deixo minha torcida para A chave de casa de Tatiana Salem Levy.

Atualização do Sobrecapa...

Divulgando...

Está disponível mais um lançamento no Sobrecapa, o meu site sobre lançamentos literários.

É sobre o livro de contos A liberdade é amarela e conversível de André Giusti, que será lançado amanhã, na Livraria Travessa de Ipanema (RJ).

Este é o quarto livro de contos do André. Seu primeiro livro foi indicado ao prêmio Jabuti.

Descubram mais detalhes do livro e de seu perfil lá no Sobrecapa. É só clicar!

Pílulas dos cadernos literários (#5) - 01/08/2009

Eu prometo, eu cumpro. Fiquei de digitar toda a reportagem que saiu sobre o poeta Rodrigo de Souza Leão. Mas a semana está enroladíssima. Então, publico hoje uma parte e o restante sai até sexta-feira.

Arte entre os extremos

Convencido de que em Itaguaí a loucura era uma regra, o psiquiatra Simão Bacamarte tomou a decisão lógica e despachou os loucos para a rua. Trancou-se no hospício em companhia de sua aberrante sanidade, e de lá só saiu morto. Obra-prima de Machado de Assis, “O alienista” vira de cabeça para baixo os chavões positivistas sobre demência e razão. A loucura, por sua vez, também demole nossas ideias a respeito de literatura. Para o carioca Rodrigo de Souza Leão, cuja morte completa um mês amanhã, a vocação da escrita se manifestou junto com a esquizofrenia, aos 23 anos de idade. Em 2008, aos 42, ele lançou “Todos os cachorros são azuis” (7Letras), elogiado romance de estreia que concorre ao Prêmio Portugal Telecom. Era um escritor “lírico, irônico e melancólico”, escreve o poeta Ramon Mello, que adaptou o livro para o teatro. Ao morrer, deixou no computador um segundo romance de 300 páginas, do qual trechos inéditos são publicados nesta edição.

Leão era apaixonado por Rimbaud e admirava Nise da Silveira, criadora do Museu de Imagens do Inconsciente. Luiz Carlos Mello, diretor da instituição, explica seu recém-concluído livro sobre a vida e o trabalho da psiquiatra, uma pioneira que mostrou como a criação artística ordena as emoções dos pacientes e dissipa preconceitos da sociedade. A morte de Nise completa dez anos dia 30 de outubro, data que também motiva a discussão sobre a fronteira porosa entre delírio e realidade.

Lembranças do mundo azul
O delírio e a lucidez do escritor carioca Rodrigo de Souza Leão, que morreu em julho
Por Ramon Mello

O mundo ficou mais triste com a morte do escritor Rodrigo de Souza Leão. Soube da notícia durante a última edição da Festa Literária Internacional de Paraty, através da homenagem realizada por Carlito Azevedo no painel “Evocação de um poeta”. Fiquei chocado. Rodrigo foi uma das maiores surpresas que tive na vida, seu delírio e lucidez me fascinavam – poesia pura, a mesma matéria-prima dos textos de Stela do Patrocínio, Maura Lopes Cançado, Lima Barreto, Samuel Beckett e Antonin Artaud.

Em novembro de 2008 recebi um exemplar do romance “Todos os cachorros são azuis” (7Letras) para realizar uma entrevista com o autor para o site Portal Literal. Peguei o pequeno livro, fui para um café e mergulhei no universo lírico, irônico e melancólico de Rodrigo de Souza Leão: a trajetória (autobiográfica) de um homem internado no hospício.

No mesmo dia liguei para Rodrigo e combinei um encontro. Ele só fez uma ressalva: “A entrevista tem de ser aqui em casa”. Topei. Em seguida, justificou: “Sou esquizofrênico e faz alguns anos que não saio de casa”. Fiquei receoso, talvez por medo de que o encontro um esquizofrênico me revelasse que, afinal, não éramos assim tão diferentes. Mas não desisti, fui até Rodrigo. A entrevista aconteceu numa quinta-feira.

Paixão por Rimbaud e horror ao hospício

Quando cheguei ao apartamento, a porta da sala estava aberta, e o autor me esperava sentado numa sofá florido, acariciando um cachorro. Foi ele quem fez a primeira pergunta: "Gostou do livro?" Depois levantou, apertou minha mãe e disse: "Não repara, minhas mãos estão tremendo por causa dos remédios. É uma merda: engorda, enfraquece os dentes e deixa mão amarelada. Só não deixa brocha. Mas eu fico calminho", disse com um riso irônico.

Começamos a falar sobre o título do seu livro: "Na minha primeira infância eu tive um cachorro de pelúcia azul. Depois esse cachorro sumiu e nunca mais eu vi. É forte lembrança desse tempo. (...) Mas nenhum cachorro é azul, é bom deixar claro. Só os cachorros de pelúcia são azuis".

Por duas horas, Rodrigo falou sobre a paixão pela poesia de Rimbaud, o sofrimento em lidar com a esquizofrenia, a admiração por Nise da Silveira e o horror ao tratamento concedido aos loucos no hospício: "São lugares tão bonitos que lembram cemitérios". Seu irmão, Bruno, acompanhou o encontro e tornou a conversa mais engraçada ao revelar curiosidades sobre o poeta, como o hábito de assistir ao programa da Igreja Universal do Reino de Deus, embora gostasse de ler Nietzsche e não tivesse muita crença: "Nem sei se Deus existe. Eu sou meio revoltado com Deus. Por que eu fui nascer esquizofrênico?"

Próximo do final da entrevista, perguntei o que era mais importante em sua vida, e Rodrigo respondeu: "O mais importante, no momento, é eu não saber o que é a coisa mais importante na minha vida. É saber colocar importâncias variadas. É importante que eu continue estável e consiga viver o máximo de tempo possível."

E, por fim: "Você quer viver muito?"

"Não. Eu espero viver pouco. Se eu conseguir viver até 50 anos ficarei contente. Porque viver muito é para quem não tem problemas. Quando a pessoa tem muito problema é até melhor morrer cedo porque se livra um pouco dos traumas e angústias. Sou uma pessoa muito traumatizada. Mas feliz! Eu sou feliz. Posso dizer que sou muito feliz, mais feliz que a grande maioria das pessoas. Eu não estou realizado porque ainda estou no meu primeiro livro. Estou na batalha para publicar um livro há muito tempo, desde os 27 anos."

Depois desse encontro, Rodrigo passou a me ligar todas as quintas-feiras por volta das 15h. Com o decorrer da amizade, criei coragem e pedi autorização para adaptar "Todos os cachorros são azuis" para o teatro. Para minha surpresa, Rodrigo me enviou a autorização por escrito, com um CD da sua banda Krâneo e Seus Neurônios -- uma produção experimental em parceria com Gizza Negri. Depois de inúmeras consultas por telefone e trocas de e-mails, finalizei a adaptação. Mas, infelizmente, não tive tempo de lhe mostrar o trabalho. Resta, agora, homenageá-lo no palco.

Sua obra merece ser publicada e reavaliada

Rodrigo de Souza Leão não precisa de sentimentos de piedade, o que está muito claro na carta de despedida deixada por ele antes de ir para o hospital, onde morreria de ataque cardíaco: "Nunca tenham pena de mim. Nunca deixem que tenham pena de mim. Lutei. Luto sempre". Não tenham pena de Rodrigo, apenas cuidem de sua obra. "Os loucos têm seu céu particular", ele afirmou.

Mas, afinal, o que o poeta pensava sobre a morte?

"Eu torço para que exista algo além. Gostaria de ver o que as pessoas acham de mim quando eu estivesse morto. Sabe? Para saber se meu melhor amigo iria chorar, se alguma namorada ia lembrar de mim, se meu livro ia vender depois de morto... Porque depois que morre todo escritor vende", profetizou Rodrigo.

Não tenho dúvidas de que o mundo azul de Rodrigo de Souza Leão nos oferece um caminho infinito. Os poemas do blog Lowcura devem ser reunidos. "Carbono pautado", "Há flores na pele" e "Todos os cachorros são azuis" merecem edições novas, acompanhadas de textos críticos. E "Tripolar" tem de sair da gaveta logo. Sua produção literária merece ser republicada, relida e reavaliada.

Ficamos com a lembraça do seu mundo azul. Paz, meu amigo.

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RAMON MELLO é poeta e autor de "Vinis mofados", que será lançado pela editora Língua Geral



O termo 'loucura' não pode eclipsar 'literatura'
Por Sergio Cohn


Em 2001, havia acabado de criar a Azougue Editorial quando conheci Viviana Mosé. Ela me contou que estava interessada em publicar um original com os poemas da Stela do Patrocínio, uma interna do mesmo hospital psiquiátrico de Arthur Bispo do Rosário que impressionou artistas e pesquisadores pela força poética de sua fala nos anos 1980. O projeto imediatamente me atraiu. Encaixava-se perfeitamente na ideia da editora, de trabalhar com o que o poeta norte-americano Jerome Rothenberg denominou "etnopoesia": poéticas outras, para além das tradições literárias ocidentais.

Rothenberg usa esse conceito criando antologias que misturam poéticas africanas, ameríndias e asiáticas com textos de autores modernos e contemporâneos. Não há uma separação clara entre o que está dentro ou fora da tradição ocidental, num conceito próximo ao do Museu das Origens de Mário Pedrosa. Interessam-lhe não apenas essas poéticas, mas o quanto elas podem contaminar as nossas próprias produções, ampliando os limites da poesia contemporânea.

É impressionante como o Brasil ainda não se voltou, tirando raras e maravilhosas exceções, para as diversas riquezas culturais que o seu território abrange, como as poesias dos povos da floresta ou das tradições afrobrasileiras. Considero que um dos motivos para isso foi o triunfo dos escritores da geração de 1930, uma segunda geração modernista que substituiu o interesse da primeira geração pelo "Brasil profundo" por uma dicção urbana e cotidiana, criando a mais influente linhagem poética do século XX.

Voltando a Stela do Patrocínio, disse a Viviane que tinha todo o interesse no livro, mas que gostaria de ler os poemas antes de confirmar a publicação. Preocupava-me que eles tivessem mais valor por um interesse social do que literário. Não me apraz a corrente culturalista, que trabalha num viés social da literatura, de forma muitas vezes permissiva e até paternalista. Não era o caso. Stela é uma poeta com uma voz própria e impressionante, capaz de poemas como "você está me comendo tanto pelos olhos/ que eu já não tenho de onde tirar forças/ para te alimentar". Em menos de dois meses o livro "Reino dos bichos e dos animais é o meu nome" estava nas ruas.

Escrevo isso para falar que a questão principal que vejo na relação da literatura com a loucura é o quanto esses criadores podem conceber textos fora dos nossos padrões estabelecidos, permitindo descobertas e contaminações. Mas me preocupa que o termo "loucura" se faça muito presente. Certa vez, o poeta e antropólogo Antonio Risério disse que discordava do termo "etnopoesia", que não faz sentido "carregar essa corcunda taxonômica imposta pela erudição ocidental. Um poeta ocidental literário é um poeta e um poeta iourbano ou araweté tem que ser um etnopoeta?". O mesmo se coloca aqui. É claro que não serei eu a dizer que não importa o que o autor é. E a inserção social e cultural dos "loucos" e "marginais" é sempre bem-vinda. Mas espero que o termo "loucura" não venha nunca a eclipsar "literatura".

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SERGIO COHN é poeta e editor da Azougue.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Lançamentos de Rodrigo Lacerda e Ivana Arruda Leite (última chamada)

E falando em prêmios, não percam hoje os lançamentos dos romances de Rodrigo Lacerda e Ivana Arruda Leite. Aposto que são grandes concorrentes aos prêmios do ano que vem.

Rodrigo lança Outra vida na Livraria Argumento, às 19h30. E Ivana lança Hotel Novo Mundo na Livraria Travessa de Ipanema, às 20h.

Ufa! A noite promete. Vamos ver se eu aguento, pois estarei lá, nos dois.

Para mais detalhes, leiam o post que publiquei aqui no Canastra divulgando os eventos.

E para mais detalhes ainda, acessem o meu site de lançamentos literários - o Sobrecapa - que traz detalhes sobre os livros (incluindo o texto da orelha) e perfil dos autores.

Vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura

Ontem, em cerimônia no Museu da Língua Portuguesa, foram anunciados os vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura.

O prêmio de melhor romance ficou com Galileia, de Ronaldo Correia de Brito. Já o de autor estreante ficou com A parede no escuro, de Altair Martins. Cada um receberá R$ 200 mil.

Os livros finalistas foram escolhidos após avaliação de júri formado pelos professores Ivan Marques e Marcos Moraes, pelos escritores Menalton Braff e Fernando Paixão, pelos livreiros Paula Fabrio e José Carlos Honório, pelos críticos literários Marcelo Pen e Josélia Aguiar e os leitores Márcia de Grandi e Mario Vitor Santos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pílulas dos cadernos literários (#4) - 01/08/2009

No Prosa & Verso do dia 01/08/2009 foi publicada também uma ótima reportagem sobre o poeta Rodrigo de Souza Leão, morto mês passado aos 43 anos.

Digitarei a matéria e publicarei aqui para os leitores do Canastra. Peço um pouco de paciência, pois são três páginas do caderno.

Veja os títulos das matérias:

- Lembranças do mundo azul
O delírio e a lucidez do escritor carioca Rodrigo de Souza Leão, que morreu em julho
Por Ramon Mello


- O termo 'loucura' não pode eclipsar 'literatura'
Por Sergio Cohn

- 'Nise da Silveira é um nome vivo'
Diretor do Museu de Imagens do Inconsciente prepara livro sobre psiquiatra, cuja morte completa dez anos em outubro
Por Miguel Conde

- 'Escrever para não morrer'
Para alguns autores, palavra pode atuar como ferramenta útil na recuperação de um 'eu' partido
Por Luciana Hidalgo

Atualização do Sobrecapa...

Divulgando...

Está disponível mais um lançamento no Sobrecapa, o meu site sobre lançamentos literários.

É sobre o infantil Botoque e Jaguar: a origem do fogo de Claudia Roquette-Pinto, que será lançado hoje, na Livraria Travessa de Ipanema (RJ).

A Claudia é uma poeta premiada e reconhecida. E agora está levando sua sensibilidade para contar essa lenda indígena.

Aproveitem para conferir também a entrevista com a escritora Índigo.

Então, é só clicar!

Já divulgou o Sobrecapa? Não! Boa oportunidade!

Pílulas dos cadernos literários (#3) - 01/08/2009

Fonte: Caderno Prosa & Verso - O Globo

- Foi publicada na edição de sábado (01/08/2009) uma entrevista de Miguel Conde com Salgado Maranhão e Geraldo Carneiro, a respeito do manifesto lançado que defende a força política do estético.

Confira, no blog do Prosa online, a entrevista completa.

Pílulas dos cadernos literários (#2) - 01/08/2009

Fonte: Caderno Ideias & Livros (JB). Coluna Informe Ideias
Por Alvaro Costa e Silva, com Carolina Leal

No CCBB. Dando sequência ao ciclo Jornalismo Literário, o Centro Cultural Banco do Brasil realiza, quarta, das 18h30 às 20h30, o debate Jornalismo e denúncia social, com Nirlando Beirão, diretor-adjunto da revista Brasileiros, e o escritor Paulo Lins. O debate tem entrada gratuita, e as senhas devem ser retiradas na bilheteria do CCBB com uma hora de antecedência. A mediação será do colunista Alvaro Costa e Silva.

Prêmio Cunhambebe. Segue a lista dos finalistas do Prêmio Cunhambebe, que contempla o melhor livro estrangeiro de ficção publicado no Brasil em 2008: História do pranto, de Alan Pauls; O encontro, de Anne Enright; O tigre branco, de Aravind Adiga; O pintos de batalhas, de Arturo Pérez-Reverte; Porta do sol, de Elias Khoury; Um romance russo, de Emmanuel Carrère; Ciências morais, de Martín Kohan; Homem no escuro, de Paul Auster; Fantasma sai de cena, de Philip Roth; Putas assassinas, de Roberto Bolaño. A boa nova - nem tão nova assim, é mais uma tendência, como se viu no ano passado - é a presença de autores de língua espanhola. Ao todo, são quatro: dois argentinos, um chileno e um espanhol. O vencedor será conhecido em outubro.

O seminário internacional Retornos do real: cinema e pensamento contemporâneos, de 19 a 21 de agosto, no Salão Moniz de Aragão do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, com Inscrições gratuitas pelo e-mail: retornosdoreal@forum.ufrj.br

Cinema: a oficina de vídeo do Festival Internacional de Cinema de Arquivo - Recine está com inscrições abertas até o dia 6 de agosto pelo e-mail <recine@arquivonacional.gov.br>. De 10 a 21 de agosto, no Arquivo Nacional.

Inscrições abertas para o curso sobre poesia brasileira, com Eucanaã Ferraz no POP. Dias 05, 12, 19 e 26 de agosto.