domingo, 10 de outubro de 2010

Nobel, prêmios e reconhecimentos

Essa semana o mundo literário se agitou mais do que o normal, com a divulgação do Prêmio Nobel de Literatura. Depois de algum tempo, enfim respiramos aliviados, satisfeitos, com a indicação da Academia Sueca.

Desde quinta-feira a América Latina tem um novo Nobel: Mario Vargas Llosa. E é muito boa a sensação de ver um autor por quem temos admiração sendo reconhecido com um prêmio desse quilate. Foi o que aconteceu comigo.

Em 1982, quando García Márquez ganhou o Nobel, eu ainda não o conhecia, eu ainda não conhecia sua literatura.

Mas agora é diferente, eu já li Vargas Llosa, eu o incluí entre meus autores prediletos muito antes de ele receber o Nobel. E é como se nós, leitores, fizéssemos parte do prêmio, da comemoração, da história desse autor.

Mas em meio à euforia desse prêmio, me pergunto quantos leitores tiveram a mesma sensação. Pergunto-me quantos conhecem Mario Vargas Llosa. Será que os mesmos leitores de "A Cabana" conhecem Vargas Llosa? Será que eles conhecem que essa vitória foi a vitória da narrativa, de um contador de histórias muito especial, foi a vitória da literatura.

E me entristece não poder comemorar essa vitória com o homem ou a mulher com quem cruzo na esquina, no metrô ou no trabalho.

Talvez eles ainda não sejam capazes de comemorar, mas já sejam capazes de "ouvir falar".

Hoje, constato um tanto entristecida que há duas formas de um escritor chegar ao leitor comum, ao leitor despretensioso:

- a 1ª é nascer um best-seller;
- a 2ª é ganhar um prêmio de grande importância

E nossa literatura merece muito mais do que isso. Precisamos começar o reconhecimento no momento que o livro sai da gráfica, que chega às livrarias. Um escritor leva muito tempo trabalhando num texto, para vê-lo nascer e se apagar logo após a noite de lançamentos.

Espero o dia em que o reconhecimento de um escritor e de sua obra tenha início a cada publicação, e não só quando ele receba um grande prêmio.

3 comentários:

josé roberto balestra disse...

Ana Cristina, pelo que acabo de lhe ler no post, só mesmo uma escritora sensível igual a você pra experimentar a imensa dor alheia e a alegria sincera pelo trabalho do escritor, desde o reconhecido ao ignoto escritor amador, não olvidando que a gestação de todo texto, sempre é feito por ambos com alma, esculpindo cada palavra da narrativa, e isso lhes requer descomunal dedicação, que não raras as vezes, esfalfado, o autor é tentado à renúncia, a atender aos apelos do CL, o cesto de lixo.

Por isso realmente uma vitória latino-americana como essa de Vargas Llosa deve de fato ser saboreada por todos nós, como se fôssemos o próprio. Assim me sinto também. Como o sol não brilha pra quem não o enfrenta, atualmente estou nos arremates finais, exaustivos, de meu romance, sem temor de quaisquer das duas formas que você muito bem citou acima, mas optando por entrar na arena da segunda hipótese. A primeira quem sabe é o Creador, a quem chamo de “Grande Vaqueiro d’Universo”. (O domingo me foi muito proveitoso na criação...)

Abs, e uma bela semana pra você e os seus.

Ana Cristina Melo disse...

Oi, José Roberto!

Obrigada pelo comentário. Eu não cheguei a comentar que há uma 3ª forma, que é a luta diária do escritor para divulgar seu livro, para fazê-lo vivo e capaz de chegar aos leitores.

Mas esta luta demanda tempo, esforço, estes que são roubados do tempo de escrever, de criar.


Se houvesse um espaço mais justo aos que lançam seu texto, espaço esse comumente alcançável pelos leitores, poderíamos usar de mais tempo para criar.

Abs
Boa semana para você também.

Helena Frenzel disse...

Olá Ana, já há algum tempo acompanho seu blog, pois escrevo e gosto muito de contos. Também já conhecia Vargas Llosa e me alegrei com a escolha da Academia este ano. Alegrei-me também ao ouvir um dos mais famosos críticos literários que conheço (Marcel Reich-Ranicki) dizer que a Academia, desta vez, estava certíssima, que não havia feito nenhuma besteira, que a literatura de Llosa havia vencido os preconceitos ideológicos. Como latino-americana sinto-me muito orgulhosa, muito feliz. Este ano a Argentina foi convidada de honra da Feira Internacional do Livro em Frankfurt e em 2013 será o Brasil. Vi muitos escritores falando muito sobre contos, argentinos e latino-americanos em geral. Com toda esta alegria, no entanto, você, neste post, não deixa de ter razão em suas reflexões sobre a raíz do reconhecimento. Estou começando na escrita, penso muito sobre isso, mais especificamente sobre as razões que tenho para escrever. Cada dia que passa percebo que não é a ilusão do reconhecimento o que me motiva realmente, e sim, principalmente, uma vontade de ajudar o próximo, de semear idéias positivas, fazer a diferença, embora mínima, de qualquer modo. Parabéns por seu trabalho. Tenho gostado muito dos seus posts. Um abraço fraterno e grata por compartilhar.