Na última sexta-feira, minha querida amiga e jornalista Halime Musser lançou seu livro "Best-seller: a história de um gênero" (Ed. Usina de Letras), uma obra inovadora a respeito desses livros que de tão peculiares, quase se tornam um gênero próprio. Halime realizou uma pesquisa ampla e profunda sobre o tema, destrinchando o que está por trás dos famosos e vendáveis best-sellers.
Foram escolhidos quatro romances do autor norte-americano Sidney Sheldon, considerado ícone entre os escritores de best-sellers, para iniciar uma discussão recorrente acerca do tema: o que os best-sellers significam para a Literatura e para o mercado editorial? Com base em vários fatores, Halime apresenta caminhos para se entender por que esses livros não podem ser classificados com “subliteratura".
Há no livro ainda uma entrevista inédita com a autora Tilly Bagshawe, de A Senhora do Jogo, sequência de O Reverso da Medalha, de Sidney Sheldon.
Numa bela coincidência, num gancho de mesmo tema, ontem saiu um ótimo artigo no Estadão de São Paulo, intitulado "No reino dos best-sellers".
A. P. Quartim de Moraes, que assina o texto, começa apontando o que há muito tempo eu falo e debato: a lista de mais vendidos é dominada pelos estrangeiros.
Mas não é só nessa constatação que Quartim faz coro com o que penso, mas com a ideia de que "Não tem como evoluir uma literatura que não é publicada", o que acontece com a literatura brasileira.
Vivemos uma era em que se diz que a literatura nacional não vende, mas isso é quase como a propaganda do biscoito "vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?". Se não há divulgação e investimento na literatura nacional, é difícil que ela faça o milagre por si só.
E se levarmos em conta o alto investimento do mercado editorial para conseguir comercializar uma dessas obras que dominam a lista de mais vendidos do New York Times, vemos que não é falta de dinheiro que está impedindo esse acerto interno.
Há muitos autores nacionais que se tornariam facilmente best-sellers de vendas, passando sua literatura muito longe das "facilidades" que são associadas aos best-sellers top de listas.
Mas é preciso investimento. É preciso acreditar que mais espaço na mídia para a literatura nacional gera, por consequência, mais vendas, pois há muito público interessado em ler. Se não fosse assim, a lista de mais vendidos não se bastaria nem com os estrangeiros.
O artigo do Quartim de Moraes pode ser lido, na íntegra, no site do Estadão (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100904/not_imp605205,0.php).
Abaixo reproduzo alguns trechos que merecem atenção:
"Quando nos deparamos com a presença dominante e quase exclusiva de autores estrangeiros nas listas de romances mais vendidos no País, somos levados a uma de duas conclusões: o nosso big business editorial está negligenciando os autores nacionais ou estes estão desaparecendo/trabalhando mal. Pode-se descartar a segunda hipótese sem medo de errar."
"A verdade é que literatura brasileira vende pouco porque as grandes editoras, que ditam os rumos do mercado, não estão dispostas hoje, salvo as honrosas as exceções de praxe - e, mesmo assim, vamos com calma! -, a botar dinheiro nela. Ninguém parece atentar para o fato de que conteúdos genuinamente brasileiros vendem, e muito bem, no mundo inteiro, quando se trata de teledramaturgia, porque as nossas emissoras de televisão há 50 anos investem pesado nas novelas e acabaram criando um padrão internacional de excelência."
"Então, se o segredo é o dinheiro, por que não botá-lo com a mesma generosidade na criação literária brasileira? E apoiar a produção literária nacional não significa apenas editar eventualmente uma obra com tiragem de 2 mil exemplares e abandoná-la à própria sorte."
"Os publishers brasileiros precisam olhar para o futuro e pensar também na responsabilidade social e cultural que o seu negócio implica."
2 comentários:
Ana,
Como sempre um lindo post. É bom passar por aqui,nos atualizamos. Essa Castra de Contos bem que podia ser coluna de um jornal.
Essa semana mesmo eu estava no Facebook conversando com o seu editor, o Tomaz sobre isso...
O livro da Halime deve ser bom, já está na minha lista dos "a serem lidos", quando o dinheiro assim permitir rs.
Eu acredito totalmente no que foi dito no artigo "o big business editorial está negligenciando os autores nacionais", acho que de todas as formas. Temos muitos talentos por aqui,mas falta esse investimento afinal, é uma industria.
Eu disse ao Tomaz que muitos editores rejeitam um livro sem na maioria das vezes,sequer,se darem ao trabalho de ler. Não creio que seja o caso da Usina, até porque estou lendo alguns autores de lá e gostando,acho qeu eles são diferenciados. Mas muitas editoras publicam aqueles já conhecidos, os apadrinhados,os "Q.Is", mesmo quando o livro em questão não é tão bem escrito ou não tem uma história bacana.
Como lido mais com a literatura infanto-juvenil, falo com conhecimento e com decepção, há muito lixo no mercado, muito mais do que eu imaginava.
Acredito sim que o marketing faz best-sellers, mas também o olhar atento dos editores garimpando qualitativamente as obras produz no mínimo candidatos ao "posto". É necessário investimento em todas as partes. Das editoras com livros de qualidade,com editores diferenciados e com publicidade.
Eu duvido que um livro como o seu "Caixa de Desejos" se tiver um bom marketing não configure numa lista de mais vendidos, por um LONGO tempo tempo.Tem gente que diz que qualquer obra com marketing vende, mas eu acredito que não se mantém.
Vamos às livrarias, nas prateleiras principais onde estão expostos os livros teoricamente "dicas" da livraria ou que configuram na lista dos mais vendidos, grande parte é literatura estrangeira ou abordam algum assunto similar aos já consagrados best-selllers. Esses aí pegam carona na fama dos outros e vão abrindo mercado, o que é também uma forma de conquistar o público. É válido.Dos 3 livros que estou lendo atualmente 1 é de autor nacional.A falta de publicidade também faz nós leitores termos medo de arriscar,no meu caso puramente por causa do preço dos livros, invisto em algo que provavelmente irei me agradar. daí também a importância de blogs, sites e jornais que comentam os livros de editores nacionais.
Enfim, espero que o mercado editorial brasileiro mude,avance. Quero viver aquele momento não só de ter meus escritos publicados mas de ter vários colegas entrando na lista dos mais vendidos e principalmente, sendo lidos.
Beijos
Chris
Olha. Que delícia o encontro com este blog! :)
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