O livro fala de finitude e eternidade a partir de um tema recorrente: a morte de algumas das mais brilhantes escritoras da literatura mundial. São nove contos que traduzem horas extremas, num exercício que transborda os limites entre ficção e biografia, e explora a literatura como tema e inspiração.
Adriana obteve com esse livro a Bolsa para Escritores Brasileiros com Obras em Fase de Conclusão, da Fundação Biblioteca Nacional, em 2000.
As escritoras que se tornam personagens: Virginia Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Colette, Clarice Lispector, Katherine Mansfield, Sylvia Plath, Zelda Fitzgerald e Júlia da Costa.
"Reconhece a dificuldade que enfrentara para encontrar cada palavra e dar ao texto o tom justo que o assunto merece. Tivera de fugir ao labirinto de vozes em que está encarcerada, fazer rascunhos e tentativas erráticas, e ser muito rápida quando conseguiu. Escrever fora o único jeito que ela havia encontrado para suportar a vida. É também a maneira de anunciar sua despedida. Virginia fecha a gaveta e prepara-se para deixar o escritório. Na porta, hesita. Um hábito ainda vivo a impede de sair. Ela dá meia-volta e vai em direção à vela, que havia esquecido acesa."
(Trecho do conto Ginny)
"Anita disse que não estávamos indo muito bem. Usa o plural quando quer me fazer acreditar que somos um time, idéia tirada dos filmes americanos que passam de madrugada na tevê. Eu sorrio e penso em dizer que somos uma equipe em meio a uma gincana de tarefas imprevisíveis, todas fatais. Mas não digo. Nos olhos de Anita, consigo medir a gravidade do meu próprio sofrimento, e antes que ela tivesse de dizê-lo, pedi para irmos ao hospital."
(Trecho do conto Ana C.)
"Sinto-me infinitamente mais à vontade sem ninguém por perto. As coisas começam a ganhar sentido. Preciso de calma para senti-las, para saber o que significam, se gosto ou não delas. É tão demorado acostumar-se com o novo, que parece não haver tempo suficiente para isso. Em vez de viver, verbo irresponsável demais para tanta exigência, a gente deveria dizer estou me dedicando, como em um trabalho difícil, desses que exigem cada uma das horas do dia."
(Trecho do conto Clarice)
"Vista do navio, a terra vermelha da sua infância se apequenava. Falsa súdita, deixava-se fixar no centro da paisagem marinha e então se encobria de uma pálpebra de bruma, resguardando seu mistério onírico do olhar estrangeiro. Deitada sobre os campos de manukas e carneiros, Kass imaginava a ilha submergindo à noite, quando todas as luzes estivessem apagadas, para retornar à superfície no dia seguinte, antes do sol procurá-la no oceano. "Alguém, um filho mais dileto, arrebanhado, haverá de cantá-la um dia." Ela sabe que está desprogramada para odes festivas, para rapsódias inteiras. "Minha tenda é a dos pequenos milagres. Abre-se com chaves minúsculas, dobraduras japonesas."
(Trecho do conto Kass)
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