O Jornal Rascunho de maio chegou e eu estava ansiosa. Para não me decepcionar, ele veio com ótimas resenhas.
Daqui a alguns dias vocês poderão conferir todas as matérias no próprio site do Rascunho. Mas enquanto isso, eu não me aguento e preciso falar do que me tocou.
Começo, hoje, com a conversa de Livia Garcia-Roza no Paiol Literário, mediada pelo escritor e jornalista José Castello.
Aqui vou reproduzir os meus melhores momentos, dentre os melhores momentos publicados no jornal. Livia, que além de escritora é psicanalista, tem a medida certa de cada palavra. Essas palavras que têm em mim um poder de despertar sorrisos, de me fazer sentir aconchegada. Uma grande escritora que mostra por meio de seu talento o grande ser humano que conduz sua voz e suas mãos.
Vamos lá!
Chaves imaginárias
A literatura nos ordena os pensamentos, nos fornece chaves imaginárias. Ela nos mostra outros mundos, abre janelas em nossa vida, nos mostra outras pessoas, vivendo outras situações, outras histórias, outros enredos. Saímos desse nosso mundo mais fechado, individualizado, e nos abrimos a um mundo muito maior, onde há muitas coisas mais. Sobretudo, a literatura faz cidadãos. É uma forma de a gente se civilizar. Então, não conheço nada mais importante, que nos melhore como seres humanos, do que ler livros.
Seres de linguagem
(...) O que fazemos senão trocar palavras? É isso que a gente faz na vida. Trocamos palavras. E como é importante saber o que o outro disse, o que pensou. Nos términos amorosos, ficamos atingidos quando o outro não nos diz nada, quando sai sem dizer uma palavra. É uma coisa fortíssima. Porque a palavra é o que nos constitui, nos faz humanos. É com ela que a gente tem que se haver, é com ela que a gente tem que lidar, não tem outra saída. Somos seres falantes, seres de linguagem.
Crianças aturdidas
(...) A grandiosidade pode estar, inclusive, nas menores coisas, nas coisas minúsculas, num aceno que uma pessoa faz, na palavra que outra diz e que, às vezes, tem uma dimensão imensa, vale um tesouro, um conto, um romance. São essas as coisas que valorizo. (...)
Fulminada na cama
Um dia, caiu em minhas mãos, levado não sei por quem, por um anjo talvez, um livro de Vinícius de Moraes. Eu o abri num soneto chamado Soneto do amor total. Comecei a ler aquilo e, no final, o poema dizia: “E de te amar assim, muito e amiúde / É que um dia em teu corpo de repente / hei de morrer de amar mais do que pude”. Caí fulminada na cama. Eu tinha uns treze anos. Na minha família, perguntavam: “O que houve com ela?”. E minha avó: “Parece que foi uma poesia”. E tinha sido.
Ai, meu sol
(...) Minha mãe estudou harpa a vida toda. As cordas da sua harpa eram de tripa, volta e meia arrebentavam. Quando uma corda arrebentava, ela dizia: “Ai, meu sol!”. Dizia o nome de cada nota. E a gente começou a entrar na história. Arrebentava uma corda e dizíamos: “Ai, meu lá!”. E ela: “Na é lá, é ré”. “Ai, meu si.” “Não é si, é fá.” Foi assim que mamãe nos afinou. E isso, para mim, serviu muito para a literatura. Porque na verdade a literatura tem uma cadência. As frases têm uma cadência. Elas têm uma harmonia. E a gente pode desafinar, a gente desafina de vez em quando. Leio muito literatura com esse ouvido, graças ao instrumento dela, que escutei a vida toda, até minha mãe falecer. (...)
A melhor das vidas
Uma das minhas grandes paixões é a literatura latino-americana. Uma grande paixão é o (Juan Carlos) Onetti. (...) O Onetti tem um conto que se chama Um sonho realizado. Um belíssimo conto, que já li várias vezes. É uma aula de como se fazer um conto. Mas, enfim, quando a gente gosta de literatura, quando somos amantes dela – e eu me considero uma dessas pessoas, feliz por ter encontrado esse mundo –, é a melhor das vidas possíveis.
É como caminhar
Eu vivo lendo. Faz parte do meu dia. É como caminhar, por exemplo. Eu caminho todos os dias.
Um comentário:
Ana Cristina, obrigada por dividir suas leituras com a gente. Abs.
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