sexta-feira, 8 de maio de 2009

Conto Longe de casa

Para começar a sexta-feira ou terminar a semana, um conto meu. Talvez esteja mais para uma crônica. Bem, vale como exercício.

Espero que gostem.

Longe de casa
Ana Cristina Melo

Estava sozinha naquela mesa de bar, há meia hora. Consumira apenas um coquetel, quando o percebeu lhe fitando, seis mesas à sua frente. Era charmoso, o suficiente para chamar de bonito. Tipo semelhante aos que conhecera nos últimos meses.

Começara a sair sozinha desde a última briga com o marido. Contas, a escola dos filhos, as picuinhas diárias, e o casamento estava se afogando.

Foi na mesma época em que ele começou a trabalhar à noite, uma vez por mês. Sempre às sextas. Ela passou a deixar as crianças com a mãe, e buscar a aventura que estava faltando.

Nunca ficava no mesmo lugar. Sempre em bares diferentes. Igual, só o cabelo bem arrumado, a maquiagem que destacava seus olhos claros e a boca desenhada, o vestido decotado e o olhar de quem estava disponível.

A primeira vez fora a mais difícil. Não sabia como fazer, sem parecer vulgar. Não sabia o que dizer a um estranho. Deixou que ele conduzisse o encontro. Enredasse-a numa noite agradável, avivasse sua libido. Limites transpostos, passou a desejar novos encontros, e a descobrir muito de si em cada novo parceiro.


O desconhecido se aproximou. Posso? Ela concordou com a cabeça e um olhar ardiloso. Conversaram um pouco. Amenidades, longe de detalhes sobre suas vidas. Ela notou a aliança dele na mão direita. Ele notou a dela. Essa era a senha.

Um toque na mão, a outra correndo suas coxas por baixo da mesa. A conversa cada vez com menos palavras e mais sensações. Ela pede a conta. Ele paga. Entram num táxi, mudos. O coração acelerado pela transgressão. O motorista os deixa dentro de um motel.

Se entregam às reações de cada corpo, nada além. Ela descobre toques novos, mais ousados. Sensações há muito esquecidas são repetidas pela noite adentro.

O corpo cansado, satisfeito, relaxa no peito nu.

De manhã, ele a acorda com provocações.

Ela sorri e se espreguiça antes de abrir os olhos. E ouve ele falar, enquanto se dirige ao banheiro:

— Vamos, meu amor, ainda temos que pegar as crianças na casa da sua mãe.

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