sábado, 14 de fevereiro de 2009

Leituras de hoje

No caderno Prosa e Verso de hoje há uma resenha de José Castello, a respeito de O pudim de Albertina, o livro de estreia de Natália Nami.

Reproduzo o penúltimo e último parágrafos desse texto, que traz uma luz aos nossos caminhos literários.

"Fico pensando nos momentos de desânimo em que a Natália Nami vacilou sobre seus relatos e pensou em deletar a escritora que é. Todo escritor, mesmo o mais experiente, se faz a partir dessas desilusões. Desiludir-se é o primeiro passo para a literatura. Abdicar dos encantos e das
fantasias, desistir de "vir a ser" -- grande, genial, impecável -- para simplesmente ser. Natália não escreve para compor um prestígio, ou desenhar uma imagem. Escreve para chegar ao que é."


"O escritor iniciante não deve se importar em escrever bem, ou escrever corretamente, ou em escrever para brilhar. Tudo isso queima -- e passa. Tateando às escuras, ele deve se preocupar, apenas, em escrever. Pode parecer fácil, mas é o mais difícil."

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Já a matéria de capa do caderno Ideias, do Jornal do Brasil, fala sobre os famosos caderninhos dos escritores. E adoro ler e falar sobre eles.

Não saio sem que haja uma caderneta dentro da bolsa. Na pasta, levo sempre um caderno um pouco maior. A caderneta é para as anotações de ideias. Frases que nos chegam sem avisar, enredos que nos surgem do nada. Serve também para uma palavra que pode puxar outra, e virar um grande conto. Um tema nunca antes pensado. Até um diálogo ouvido que ativa nossa criatividade.

Já o caderno é mais especial. É o caderno de rascunho para novos textos. Às vezes recebem contos inteiros. Outras, capítulos e mais capítulos de um romance. (Sim, minha gaveta também tem romance). Muitas vezes penso em parágrafos inteiros e nesse momento precisamos desse companheiro especial. Já escrevi contos inteiros no escuro. Isso mesmo, eu voltava para casa de van, um breu em virtude do insulfilm. Mas a ideia veio, forte, e não podia esperar. Nem tentem deixar para depois, elas vão embora. As letras escorrem como areia. Qual foi minha solução: imaginar uma distância razoável entre as linhas e começar a escrever, no escuro. Ao pular a linha, deixava o espaço imaginado e lá ia eu. Com o tempo, aperfeiçoei a técnica. Passava a abrir o celular (sempre preferi os que tinham flip) e a luz iluminava o caderno. Parti tempos depois para pequenas lanterninhas. Essas não funcionaram pois não dava para segurar caderno, lanterna e caneta ao mesmo tempo. A etapa seguinte foi uma lanterna de leitor, com prendedor, no qual apertava-se um botão e ela abria em forma de luminária. Deu defeito rápido. Meu exemplar atual me foi presenteado por uma colega. É uma junção perfeita de lanterninha com prendedor tipo pregador. Pequena, jeitosa e potente. Não sai da minha bolsa.

Quanto aos cadernos e canetas, o prazer fica por conta da escolha. Escolher a capa, tonalidade da linha (sim, linhas escuras atrapalham a escrita), textura da folha. Já cheguei a confeccionar bloquinhos. Da forma mais simples. Comprei um cento de papel na cor e textura que eu queria. Cortei ao meio e encadernei. Pronto, garanti quatro blocos perfeitos para deslizar minhas ideias. E no caso das canetas: pegada, maciez da escrita, cor da tinta. Doces compras!

Minhas férias estão acabando. Entre as mil coisas que programei para fazer (e não fiz) estava a arrumação de meu escritório. E como subitem, a organização dos mais de 20 cadernos que tenho, espalhados por minhas gavetas. Comecei há alguns meses uma compilação de minhas anotações em um único caderno. Talvez daqui a 10 cadernos eu consiga terminar.

Como curiosidade, cito alguns hábitos de escritores quanto aos seus cadernos de nota, retirados da matéria de hoje, de Juliana Krapp, no caderno Ideias.

A foto acima é de um caderno famoso -- o Moleskine, usado por nada menos do que: Ernest Hemingway, Van Gogh e Picasso. E o preço dizem é proporcional à fama desses escritores. Bem, eu fico com os meus queridinhos de capa dura, que me atendem, custam um décimo do valor, e posso comprar vários sem peso na consciência financeira.

"Marçal Aquino prefere os de espiral, estilo universitário. Já Joca Reiners Terron é adepto dos moleskines: não sai de casa sem o seu. Sérgio Sant'Anna costuma esquecer os bloquinhos, mas leva sempre consigo uma caneta, com a qual rabisca programas de ópera, mapas, catálogos de exposição. Raimundo Carrero dá as folhas de guarda (as páginas de branco ao final dos livros) as vezes de bloco: rascunha ali seus inícios de romance. Também original é a poeta Marília Garcia, que confecciona, ela própria, as suas cadernetas, munida de papel canson, linha de costura e tintas. Enquanto isso, Angélica Freitas anda apaixonada pelo caderno comprado num supermercado de Portugal, país de onde também vem um dos (atuais) bloquinhos preferidos de Carlito Azevedo".

"Enquanto criava Grande Sertão: veredas, Guimarães Rosa mantinha um caderno de notas. Sentava-se diante dele todos os dias e escrevia furiosamente, sobre os temas mais diversos: das banalidades do dia a dia a questões transcendentais. Quando sentia que já havia esgotado todas as ideias da cabeça -- ou seja, que já havia "limpado o aparelho", como ele mesmo chamava -- trocava de caderno e ia escrever mais um trecho do Grande sertão."

"Outra que não vive sem o contato com a folha em branco é Carola Saavedra, que costuma anotar todo o processo de criação de seus romances em cadernos: o desenvolvimento do enredo, as características dos personagens, os problemas que surgem no desenrolar da trama."

"Um moleskine mudou a vida do escritor, roteirista e quadrinista Lourenço Murarelli".

2 comentários:

Flávio Antunes Soares disse...

Muito do que falou nesta postagem eu faço. Às vezes, num ônibus ou trem, me pego falando em voz alta um verso que me vem à mente repentinamente.
Fiz uma leitura das postagens desse blog e gostei, é muito bom.

Ana Cristina Melo disse...

Falar o que se está pensando é bom, mas imagino a cara de espanto de quem está em volta.

Que bom que você gostou do Canastra. Volte sempre. O blog tem o objetivo de nos fazer respirar literatura, de todas as formas possíveis.