sábado, 15 de novembro de 2008

Gastos x incentivos

Iniciativas que busquem divulgar nosso idioma e incentivar o apreço pela Literatura são sempre bem-vindas.

Na revista Língua Portuguesa, edição 34 (outubro/08) foram publicadas duas notícias interessantes. Meu único porém se refere ao custo destinado ao novo portal. Nosso país ainda possui muitas feridas sociais, para se pensar num gasto tão alto. Enquanto de um lado se gasta um valor tão excessivo para justificar a importância ao idioma, de outro há toda uma iniciativa, que busca atrair os jovens, sem que haja nada em troca, nem o benefício na média escolar.

Abaixo reproduzo parte das reportagens:

  • Governo anuncia portal do idioma até ano que vem
Juca Ferreira, o novo ministro da Cultura, disse à agência Lusa que um portal da língua portuguesa deverá ser criado até o fim do ano. A decisão foi tomada em reunião entre Ferreira e José Antônio Pinto Ribeiro, o ministro da cultura português. O projeto, que irá custar US$ 1 milhão, conta com o apoio do governo de Portugal para que seja posto em prática. (...)

  • Academia Mirim

Escolas começam a estimular a leitura criando versões infanto-juvenis e mambembes da Academia Brasileira de Letras

Por Antonio Carlos Santomauro

Bruna fala sobre a vida e a obra de Carlos Drummond de Andrade para mais de 50 atentos ouvintes. Às vezes, chama um deles para enriquecer sua exposição com informações adicionais ou com a leitura de textos. E todos vestem-se com o rigor próprio de quem se sente orgulhoso por viver tal momento.

Ao menos por enquanto, nem Bruna nem aqueles que a escutam ostentam históricos capazes de lhes conferir qualquer renome na pesquisa relativa ao poeta de Itabira. Também não estão ali motivados por salários ou jetons, com que são agraciados os integrantes de algumas academias.

Embora Bruna da Silva Oliveira tenha apenas 12 anos e, como sua platéia, curse o fundamental em uma escola municipal da periferia de São Paulo, tal reunião não decorre de nenhuma exigência curricular, nem visa melhorar os índices de desempenho escolar. Por puro amor à literatura, Bruna e seus ouvintes estão ali como integrantes da Academia Estudantil de Letras Padre Antonio Vieira, iniciativa precursora de um projeto criado para aproximar adolescentes e jovens da literatura.

Na AEL, esses jovens seguem um cerimonial inspirado nos rituais da Academia Brasileira de Letras: adotam um escritor como patrono, aprofundam-se em usa obra e, em reuniões mais formais, discutem temas literários trajados com "fardões" (obviamente, capas muitos simples). A participação é voluntária, não tem influência nas notas dos alunos participantes.

Dramatização

A AEL Padre Antonio Vieira começou a nascer em 2002, quando Sueli Gonçalves, então a professora de português da escola de mesmo nome, lançou o projeto Poesia - Um atalho para a paz. Sua idéia era usar a dramatização e o debate para tornar mais lúdico o processo de apresentação dos textos poéticos aos jovens.

Percebendo o interesse dos alunos, Sueli lançou um desafio: quem desejasse aprofundar essa relação deveria procurá-la na sala dos professores anunciando a senha: "Me apaixonei", com a qual exprimiria seu amor pelas letras. Esperou três semanas até vir uma aluna mais ousada, com a qual Sueli começou a conversar, fora dos horários de aula, sob um eucalipto plantado na frente da escola. Tal cena motivou outros alunos, e três anos depois o grupo já tinha doze integrantes.

Para dar base mais perene a esse trabalho, em 2005 Sueli fundou a AEL Padre Antonio Vieira, hoje composta por 50 alunos - a pequena Bruna ocupa a cadeira número 4, de Carlos Drummond de Andrade. Sueli teve como inspiração um projeto similar implementado por um de seus professores do ensino médio (na época, ensino colegial).

-- Nosso principal objetivo não é descobrir novos talentos literários, trabalhamos a literatura como veículo de alores e humanismo -- diz Sueli.

Rede literária

Há dois anos Sueli deixou de lecionar português, e agora, na Secretaria Municipal de Educação, dedica-se ao surgimento de novas AELs.

(...)

E as AELs agora espalham-se por outras escolas: até setembro, já havia seis em escolas municipais de São Paulo.

(...)

Sueli mantém um blog, no qual atualiza as informações sobre o projeto, e expõe mais detalhadamente o esforço desses "acadêmicos" que, se não necessariamente vão se tornar autores, podem se tornar leitores mais exigentes.

Um comentário:

Márcio Ezequiel disse...

Ótimo! ótimo! ótimo blog!
Voltarei sempre! (tb gostei do outro, Ficcção da Gaveta.
Dê uma passada no meu Pirotécnico.
A casa é de pobre mas é limpinha.
Abraço.
Márcio.