domingo, 6 de julho de 2008

Encerramento da Flip

A FLIP acabou e como eu previ, não foi possível acompanhar mais nenhuma mesa. Coisas do ofício de mãe!

Para amenizar a sensação do “já acabou”, dei uma geral pelos blogs e jornais, buscando o que rolou no último dia.

Os livros não-lidos favoritos dos autores
Por Miguel Conde
(Fonte: Jornal O Globo – 06/07/2008)


Parte da matéria publicada no Jornal O Globo de hoje, como
prévia da mesa 16 “Os livros que não lemos”, com Marcelo Coelho e Pierre Bayard.


Alguém já disse que os grandes autores são, em primeiro lugar, grandes leitores. Mas isso não quer dizer que eles sejam mais confiáveis do que outras pessoas quando questionados sobre seus conhecimentos de literatura. Afinal, grandes autores também têm muita imaginação, e talento para fazer os outros acreditarem nas histórias que eles criam. Antecipando-se à conversa de hoje às 10h entre o brasileiro Marcelo Coelho e o crítico francês Pierre Bayard, autor de “Como falar dos livros que não lemos” (Objetiva), O GLOBO perguntou a escritores presentes na Flip qual era o livro não-lido preferido de cada um. Sem constrangimento, eles confessaram lacunas importantes em suas listas de leituras, e se admitiram adeptos da tese bayardiana de que ninguém precisa ler um livro para comentá-lo com autoridade, mesmo nas rodinhas de conversa mais cabeçudas.

Embora alguns manifestassem a intenção de remediar em algum momento as “falhas” em sua formação literária, outros pareciam mais resignados. Foi o caso do americano Nathan Englander, autor de “Ministério dos casos especiais” (Record), que depois de algumas tentativas se conformou em simplesmente admirar à distância um dos mais importantes livros do século XX, “A montanha mágica”, de Thomas Mann.

- Eu sempre começo, subo a montanha, subo a montanha, e paro... Devo ter lido as primeiras cem páginas umas quatro vezes. É ótimo, será sempre o meu não-lido preferido – brincou.

A obra-prima de Mann levou também o voto do brasileiro Luís Fernando Veríssimo, que ainda se atreveu, no espírito da enquete, a fazer algumas ressalvas ponderadas ao romance:

- A gente acaba conhecendo alguns livros de orelha, né? Tenho impressão de que “A montanha mágica” é um livro bom. Talvez um pouco datado, mas muito bom. E ainda pretendo ler um dia – jurou o humorista.

(...)

Sentada numa mesa de bar na Praça da Matriz, a simpática portuguesa Inês Pedrosa foi a que precisou de mais tempo para responder. Tomou uns goles de caipirinha, meditativa, e resolveu-se enfim por “Anna Karenina”, de Tolstoi. Animada, aproveitou ainda para sugerir que a impostura é um hábito generalizado no meio literário.

- Os escritores portugueses, quando são entrevistados, sempre dizem estar a reler as obras completas de Tolstoi. Não sei onde eles conseguem tanto tempo! Eu ainda estou por lê-las pela primeira vez. Mas eu gosto muito de “Guerra e paz”, e, por tudo que sei de “Anna Karenina”, este é o meu preferido – disse a autora de “A eternidade e o desejo” (Alfaguara).

Confirmando a tese de Inês (e endossando a de Bayard), o crítico e romancista argentino Martín Kohan, autor de “Ciências morais” (Companhia das Letras), confessou mentir rotineiramente em conversas sobre literatura.

- Li apenas os dois primeiros volumes de “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, mas falo como se tivesse lido todos. Quando alguém menciona o último volume, “O tempo redescoberto”, sou sempre muito enfático. Digo sim, sim, claro, concordo com tudo... Mas dos sete li apenas dois.

O que no caso dessa reportagem, note-se, já é muito. Basta ver o caso de João Gilberto Noll, autor de “Acenos e afagos” (Record), que nunca leu nada do seu escolhido, “Moby Dick”, de Herman Melville.

- Mas sei tudo sobre o livro – garante.

O humorista americano David Sedaris, que acaba de ter seu livro “Eu falar bonito um dia” (Companhia das Letras) lançado no Brasil, não elegeu um livro em particular, mas concordou em dar algumas dicas para os aspirantes à condição de sabe-tudo nos papos literários:

- É sempre mais fácil falar de livros de pessoas que já morreram – aconselhou. – É fácil dizer por aí que eu já li o Cervantes. Eu posso contar que li o Cervantes na escola que as pessoas vão acreditar.

O americano sugeriu ainda que, para fazer boa figura num encontro com autores contemporâneos, ninguém precisa ter lido o livro deles.

(...)

Livros lidos na última mesa de hoje “Livro de cabeceira”
(Fonte: blog Prosa on-line – www.oglobo.com.br/blogs/prosa)

Cees Nooteboom – leu as últimas páginas de “O tempo redescoberto”, sétimo volume de “Em busca do tempo perdido”, de Proust.

Alessandro Baricco – leu a última página de “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger.

Neil Gaiman – leu as primeiras páginas do livro “13 clocks”, de James Thurber.

Tom Stoppard – leu três vinhetas de Ernest Hemingway, do livro “In our time”.

Zöe Heller – leu um trecho de “The member of the wedding”, de Carson McCullers.

Cíntia Moscovich – leu um trecho de “De amor e trevas”, do israelense Amos Oz.

Chimamanda Adichie – leu um trecho de “The autobiography of my mother”, de Jamaica Kincaid.

Nathan Englander – leu parte do conto “Goodbye, my brother”, de John Cheever.

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