A revista Conhecimento Prático Literatura (Escala Educacional) desse mês (nº 26) traz uma ótima entrevista com o escritor Pedro Bandeira.
Um dos maiores escritores de literatura infantojuvenil, com mais de 80 livros publicados, se revela plenamente realizado profissional e pessoalmente. É bom ouvir isso de alguém que abandonou tudo para ser apenas escritor, para se dedicar a sua paixão. Nessa entrevista, feita a Samanta Caliman e Sérgio Simka, ele nos encanta como em seus livros.
E sem ter como deixar de dividir com vocês, transcrevo três passagens ótimas da entrevista.
CP LITERATURA: A Marca de uma Lágrima é um livro que encantou milhares de leitores. Qual é a receita de tanto sucesso?
Uma novela sobre um amor jovem sempre agrada adolescentes. E essa é uma recriação moderna de uma das mais famosas histórias de amor da história da Literatura: Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand. Acho que meu "pulo do gato" é o modo como eu trabalho o foco narrativo, matéria sobre a qual costumo dar inúmeras conferências pelo Brasil e que talvez um dia seja o conteúdo de algum ensaio que eu poderia vir a escrever, no intervalo de dois livros de ficção. Mas isso parece difícil, porque é a ficção que me dá tesão.
CP LITERATURA: O que tem a dizer sobre os livros de Harry Potter?
Só li o primeiro e acho ótimo! A escocesa merece o sucesso que conseguiu. Mais uma vez eu gostaria de ter novamente dez anos, só para poder usufruir dos livros dela na idade certa (eu não disse que tenho várias razões para voltar aos meus dez anos?).
CP LITERATURA: Você inspirou vários escritores. Que conselho você poderia dar a quem sonha em um dia publicar um livro?
Aqui vai: seja um leitor. Leia mais do que 99% da humanidade. Quando seus amigos estiverem indo para "baladas", fique em casa com um livro. Veja como os outros escrevem. Engula-os, analise-os, digira-os, emprenhe-se deles, ame-os, critique-os, odeie-os, injete-os em suas veias, enlouqueça com eles! E mais: seja uma cinéfila. Os roteiros de cinema e os pontos de vista das câmeras têm muito a nos ensinar. Isso fui: um leitor voraz somente pela diversão, jamais para estudar (aliás, sempre fui um péssimo aluno - na véspera de uma prova de Física, é provável que eu estivesse lendo Dostoiévski). Leia ficção, leia poesia, leia História, leia Sociologia, leia Filosofia. Na prova de Matemática, cole dos colegas. Esqueça que te ensinaram como extrair uma raiz quadrada, não aprenda como calcular o mínimo múltiplo comum, mas chore ao ler Baudelaire, sue ao ler Shakespeare, fique molhadinha ao ler Vinícius, tenha orgasmos ao ler Machado, enlouqueça ao ler Dostoiévski, sinta-se morrer na frente de Tabacaria, de Fernando Pessoa. Se, depois disso, você não se tornar um escritor, na certa é porque você estará mudando o planeta de lugar!
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