“Apesar das dietas rigorosas, do constante esforço para ir à hidroginástica, e do longo percurso diário das caminhadas, meu corpo faliu. Nada mais dá jeito nele. Foi-se, à medida que as primaveras se cumpriam. Agora só o reencontro nas fotografias. O único consolo é que aquela moça fui eu. Mas a minha alma permanece intocável. Uma orquídea de estufa, viçosa e bela. Trago-a tinindo, no mais absoluto frescor...
― Falando sozinha, mamãe?
― Há muitos anos.”
Simplesmente perfeito. É assim que Livia nos entrega a história de Maria, uma mulher em idade madura, cinqüenta e nove anos, que mora com a filha desde a morte de Haroldo, seu segundo marido. Conversando sozinha, ou trocando idéias com suas samambaias. Maria, filha única, de pais estrangeiros, teve uma infância solitária e isolada, trancada em casa. Sobre o resto da família, seu pai lhe dizia que estavam todos “no Alemanha”. Sua única referência de companhia fica associada à Dolores, a filha de sua vizinha, a quem Maria conhece como Milamor.
Após os sobressaltos do passado, Maria chega aos sessenta anos um tanto desanimada com os dias “iguais, tranqüilos e idênticos”. Uma vida que jazia numa poltrona. Até se descobrir aberta a novas experiências, após conhecer um homem que lhe altera o prumo e lhe desperta novamente a sexualidade.
Trechos para instigar a apetência:
“Na verdade, aqui no alto, moramos eu e as samambaias, com quem troco idéias diárias. E recebemos duas visitas, a de Maria Inês e a da diarista. Sim, porque minha filha trabalha o dia inteiro e quando termina o expediente emenda na noite com os colegas”.
“Um dia, o grito de uma menina apareceu lá no alto do morro, atrás da nossa casa ― eu vi quando ele chegou lá em cima, estava com pressa e tinha o peito estufado, desceu a ribanceira correndo, e chegou na área. Mamãe ― (...)― tapou os ouvidos”.
Um comentário:
É muito bom ler isto tudo.Achei o seu blog querendo "postar"uma resenha sobre Tchekhov, que coloquei no meu blog de escritor iniciante.Pode dar alguma dica?
Saudações literárias.
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