Ontem tivemos o segundo encontro do Seminário Universos da Leitura, uma parceria da Estação da Letras e ABL.
Alberto Pucheu falou sobre os caminhos da poesia brasileira moderna e contemporânea. E nessas três horas ouvindo sobre um gênero que me toca com austeridade, conheci a delicadeza de Leonardo Fróes, e me apaixonei. Ainda embriagada com seus versos, reproduzo aqui aqueles que me fizeram estrear em sua poesia.
Introdução à Arte das Montanhas
Leonardo Fróes
Um animal passeia nas montanhas.
Arranha a cara nos espinhos do mato, perde o fôlego
mas não desiste de chegar ao ponto mais alto.
De tanto andar fazendo esforço se torna
um organismo em movimento reagindo a passadas,
e só. Não sente fome nem saudade nem sede,
confia apenas nos instintos que o destino conduz.
Puxado sempre para cima, o animal é um ímã,
numa escala de formiga, que as montanhas atraem.
Conhece alguma liberdade, quando chega ao cume.
Sente-se disperso entre as nuvens,
acha que reconheceu seus limites. Mas não sabe,
ainda, que agora tem de aprender a descer.
Dia de Dilúvio
Leonardo Fróes
Quando chove assim tão seguidamente na serra
e começa a pingar água na casa e a goteira
cresce e a pia entope e alaga o chão,
quando não cessa esse barulho insistente
de água penetrando em tudo e rolando,
sinto uma desproteção total violenta
e eu mesmo sendo dissolvido também
nessa casa alagada, não me acho
enquanto solidez: vou flutuando
como onda inconstante na correnteza.
Uma última gota: Como às vezes passamos pelo mundo sem prestar atenção aos detalhes?
Estou avançando em passos de prazer no livro "Para ler como um escritor" de Francine Prose. E hoje não é que me surpreendo com algo que não era um detalhe, mas uma grande diferença - a tradução é do Leonardo Fróes.
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