domingo, 26 de abril de 2009

Matéria com Lygia Fagundes Telles no Caderno Ideias & Livros

No caderno Ideias & Livros do JB, de sábado (dia 25/04), a matéria de capa (de Juliana Krapp) fala sobre as reedições dos livros de Lygia Fagundes Telles, pela editora Companhia das Letras.

Para quem não comprou o jornal no sábado, ou está em outro estado, é só curtir a matéria online.

Deixo aqui uma declaração de Lygia que diz tudo:

-- Confesso que me fez bem ficar ocupada nessa tarefa de rever os romances, os contos e as crônicas para as novas edições com as belas capas [que trazem ilustrações da prestigiada artista plástica Beatriz Milhazes] -- diz Lygia. -- Cortar aquela vírgula, mudar aquele adjetivo... Sim, detalhes, mas às vezes é no detalhe que está Deus.

Dica de vídeos do Boa Baltazar!

Achei uma dica ótica no blog Boa Baltazar! da querida Fatima Cristina, minha xará de segundo nome.

São os vídeos da Enciclopédia Itaú Cultural de Literatura Brasileira. A lista é grande, recheada de escritores maravilhosos. O bom é que são vídeos pequenos: dá para aproveitar uns três por dia.

Então, é só conferir.

sábado, 25 de abril de 2009

Soneto de Vinícius de Moraes

Para começar bem esse sábado, um soneto de Vinícius de Moraes.

Soneto do amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Tenho que me conter para não reproduzir sempre o Soneto de Fidelidade, mas com tantas belezas que Vinícius nos deixou, seria um pecado não reproduzir algo diferente (não menos belo).

E sabe de onde eu copiei esse lindo soneto? De nada menos do que o site oficial de Vinícius de Moraes (http://www.viniciusdemoraes.com.br/). Uma verdadeira maravilha.

Há de tudo: a poesia & prosa do escritor, sua música, biografia, notícias sobre últimas publicações.

Por exemplo, na seção "Poesia & Prosa" é possível ler sobre todos os seus livros, com as capas originais, além do texto publicado. Não menos temos na seção "Música" a letra de várias canções, além do áudio de cada uma.

Melhor impossível, não?! Então é só ir até lá e curtir!

Bom sábado!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Livros na mesa


Amanhã é mais um dia do evento Livros na Mesa da Estação das Letras.

Dez mandamentos de Paulo Bentancur

Estou há alguns meses fazendo uma oficina literária com o escritor Paulo Bentancur. Já tive oportunidade de dizer aqui o quanto suas orientações são preciosas.

Pois bem, sempre generoso, ele publicou em seu blog um decálogo para nos orientar a escrever o melhor que formos capazes de fazer.

Simplesmente perfeito.

E como adoro dividir boas coisas, confiram os dez mandamentos do Paulo direto do blog dele.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Dia Mundial do Livro e obras na Web

Hoje, 23 de abril, não é só o dia de São Jorge, mas também o Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor. E também nessa data morreu Miguel de Cervantes e William Shakespeare. Sem contar que na mesma data nasceram outros famosos escritores, como Vladimir Nabokov (autor de Lolita).

Começou na Catalunha (Espanha) uma tradição que se espalhou pelo mundo, de se oferecer, nesse dia, uma rosa para quem comprasse um livro. Assim, unia-se numa única homenagem o símbolo do amor (rosa) e o símbolo da cultura (livro). Para eles, tem-se a rosa por São Jorge (padroeiro da região) e o livro por Cervantes e todos os outros escritores.

A Unesco, em 1995, transformou a data no Dia Mundial do Livro e dos Direitos do Autor.

E o blog Canastra de Contos deixa uma rosa no coração de cada um, acompanhada de alguns links onde vocês podem acessar grandes clássicos da nossa Literatura. É só clicar e aproveitar.

Meu presente para o dia!

  • Domínio Público - são disponibilizadas obras que já estão em domínio público (cujo autor faleceu há mais de 70 anos). É possível encontrar a obra completa de Machado de Assis, Shakespeare e Fernando Pessoa. Há material em vários idiomas.
  • Biblioteca Virtual Portuguesa - também disponibiliza obras de domínio público de autores da língua portuguesa.
  • Biblioteca Virtual Mundial - materiais diversos de diversos países do mundo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Entrevista com Ana Maria Machado

(crédito da foto: Globo News - site www.globo.com)

Para quem perdeu a conversa de Edney Silvestre com Ana Maria Machado no Espaço Aberto Literatura (canal 40 - Globo News) como eu (que não vi pois estou sem sinal da Net há uma semana), pode assisti-lo no site da Globo.com.

Vale e muito! Ana Maria nos envolve em suas experiências nessa deliciosa entrevista. Sou suspeita, pois gosto muito de ouvi-la falar. A história de sua tese, orientada por nada menos do que Roland Barthes, já havia escutado da própria, num encontro ocorrido na ABL. Mas nunca é demais!

Aproveitando a visita, pesquisem o tema Literatura nos vídeos da Globo.com. Temos várias outras boas entrevistas.

domingo, 19 de abril de 2009

Lygia Fagundes Telles completa 86 anos com muito vigor e de casa nova

(Crédito da imagem: www.estadao.com.br)

Lygia Fagundes Telles completa hoje 86 anos.

Felicidades para essa grande escritora e ainda jovem ariana, pois demonstra que ainda tem muito o que lutar nessa vida, exibindo essa luta nos textos que escreve.

É engraçado pois não temos apenas o signo em comum, mas também o nome do pai. Sem contar o amor pela literatura.

Lygia está de casa nova. Suas obras estão sendo relançadas pela Companhia das Letras, com direito a novos parágrafos, como a inserção que ela fez no livro As Meninas.

Há uma ótima matéria no Estadão, com direito a três vídeos, com uma conversa dela com Ubiratan Brasil, do Caderno 2 (Estadão), em que Lygia fala de sua vida, da carreira, da relação com os leitores (que ela considera seus cúmplices) e dos relançamentos. Há uma passagem divertida em um desses vídeos, em que a autora nos conta que mexeu tanto com Machado de Assis, que um dia teve uma visão dele sentado na beira da cama dela.

É bom ouvirmos os mestres. É como se eles soprassem a excelência em nossos ouvidos.

O que tenho lido - uma boa prosa e técnica

É assim que passamos pelas 200 páginas do pequeno livro Viver & Escrever de Edla Van Steen, lendo uma boa prosa, no melhor sentido de bate-papo, além de receber belas informações sobre métodos de trabalho e técnicas literárias.

O livro faz parte de uma coleção em 3 volumes, contendo entrevistas com grandes escritores, publicadas em 1981 e relançadas agora em formato de bolso, pela LP&M. Cada entrevista traz não só a biografia de cada escritor, como seu processo de criação.

Comecei minha leitura pelo volume 2, já terminado, e sigo agora pelo volume 3. Ainda não comprei o primeiro, mas logo resolvo esse débito. O segundo volume me chamou a atenção pela entrevista com Fernando Sabino, a quem eu adoro.

Abaixo está a lista dos escritores de cada livrinho. Logo depois, como já é costume aqui, meus trechos preferidos de algumas entrevistas. Aproveitem!

Viver & escrever - volume 1
Depoimentos de Mario Quintana, Orígenes Lessa, Ricardo Ramos, Nélina Piñon, Dias Gomes, Jorge Amado, Edilberto Coutinho, Ary Quintella, Ignácio de Loyola Brandão, João Antônio, Lêdo Ivo, Octávio de Faria e Menotti Del Picchia.

Viver & escrever - volume 2
Depoimentos de João Cabral de Melo Neto, Dyonélio Machado, Maria de Lourdes Teixeira, Plínio Marcos, Geraldo Ferraz, Raduan Nassar, Cyro dos Anjos, Luiz Vilela, J. J. Veiga, Osman Lins, Ivan Ângelo, Fernando Sabino e Décio Pignatari.

Viver & escrever - volume 3
Depoimentos de Vinicius de Moraes, Herberto Sales, Marcos Rey, Nelson Rodrigues, Luís Martins, Rachel de Queiroz, Otto Lara Resende, Jorge Andrade, Lygia Fagundes Telles, Adonias Filho, Autran Dourado, Moacyr Scliar e Henriqueta Lisboa.

¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*

Trecho da entrevista com João Cabral de Melo Neto:

Numa entrevista você afirmou que não é de sentar e escrever, que vai anotando coisas e um dia... Como é isso?
Eu tenho a idéia para um poema, um tema ou então uma imagem. Anoto e jogo dentro da papelada. No momento de escrever um novo livro, vejo quais são as coisas escondidas, quais as que são trabalháveis.

Você nunca fez um poema desses que saem prontos?
Qualquer coisa espontânea que eu faço, desconfio dela. Parece ser eco de alguém. (...)

Trecho da entrevista com Maria de Lourdes Teixeira:

(...) Já que a literatura é uma transposição da vida, sempre me preocupou a harmonia entre o exato e o eufônico, como preconizava Flaubert.

Qual é o seu processo de escrever?
(...) Escrevo à máquina repetindo, emendando duas, três vezes ou mais. Gosto de polir e repolir o meu trabalho até que o texto se apresente limpo, escorreito, sem colisões e assonâncias. (...)

Trecho da entrevista com Raduan Nassar:

Escrever para você é um ato de sacrifício ou de prazer?
De alegria, às vezes intensa. Enquanto escrevia Um Copo de Cólera, por exemplo, me divertia pra valer, chegava a gargalhar em alguns momentos, poucas vezes aliás me entreguei tanto ao exercício da liberdade, se é que acredito nisso.

Trecho da entrevista com Cyro dos Anjos:

Para você, o elemento precioso do ficcionista seria uma mistura da observação da realidade exterior com...
Não vejo na ficção, propriamente, uma mistura da realidade exterior com a fantasia. A ficção parece-me apenas a interpretação da realidade, quer exterior, quer interior. Seria uma decomposição da realidade, para, com os seus próprios elementos, ser recriada, segundo a ótica do escritor.

Trecho da entrevista com J. J. Veiga:

Sombras de Reis Barbudos teve cinco versões, depois da primeira, escrita à mão, em cadernos grossos, no Passeio Público. No momento de passar à máquina a primeira, você já fazia muitas alterações?
As minhas primeiras versões são meros rascunhos, frases lançadas para ocupar o papel e me dar uma idéia aproximada da dimensão do texto. Na primeira versão eu não me esforço muito para encontrar as palavras certas. Terminada a primeira versão, eu já tenho um roteiro sobre o qual trabalhar. Deixo descansar alguns dias, que podem ser uma semana, cinco dias, um mês, dependendo da minha disposição -- ou da minha preguiça. Depois volto a ela, agora trabalhando a mão nas entrelinhas, para dar maior precisão ao texto. Às vezes reescrevo parágrafos inteiros, corto frases ou parágrafos, acrescento coisas novas que me ocorreram no período de descanso, porque esse descanso é apenas um afastamento, não um desligamento. No fim desse trabalho à mão, o texto está uma confusão que ninguém mais entenderia. Aí, passo tudo à máquina de novo, e nesse trabalho também incluo modificações que não estavam no manuscrito.
Terminada essa segunda versão, deixo descansar mais algum tempo e, novamente, quando me sinto disposto, volto a retocar tudo à mão nas entrelinhas. Torno a datilografar tudo, num processo que se repete várias vezes. Quando as páginas vão ficando relativamente limpas, isto é, quando não encontro mais mita coisa a retocar, redatilografo só aquelas páginas que tenham muitas emendas. Com isso, meus originais são entregues limpos ao editor, não dão trabalho de decifração às gráficas. Não sou um Balzac, que reescrevia até nas provas tipográficas.

Trecho da entrevista com Fernando Sabino:

Uma coisa é a criação e outra o artesanato?
Há uma espécie de maturação, entre uma coisa e outra. Escrevendo, pensando, dormindo, ou mesmo se distraindo com alguma atividade manual, a gente está sempre, subterraneamente, trabalhando, desenvolvendo idéias, o que vai sair depois no papel. É como no sonho. A gente não programa um sonho. Toda experiência de criação é, portanto, uma novidade. O escritor diante do papel em branco deve ser sempre um estreante. É sempre uma aventura, como se fosse pela primeira vez.

E por que você desistia dos romances?
Porque não correspondiam ao que eu, no fundo, sem saber, desejava exprimir. Mas os casos frustrados são necessários. Nem tudo o que se escreve é para ser aproveitado. Tenho a impressão de que se a gente aproveitar dez por cento, já está ótimo.

(...) Escrever é principalmente cortar.

Cortar o quê?
O supérfluo. E a repetição de palavras, os ecos, as rimas, os cacófatos, a pobreza vocabular. Principalmente o excessivo, o desnecessário. É preciso não duvidar da inteligência do leitor.

Uma boa frase seria então...
Aquela que esteja exatamente no foco, como uma imagem visual. As palavras, para exprimir uma idéia, devem ser absolutamente transparentes. No mais, são as velhas regras do estilo: clareza, concisão, simplicidade, propriedade vocabular. (...)

sábado, 18 de abril de 2009

Barack Obama encontra García Márquez e se revela um leitor voraz

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, revela um outro lado muito importante de sua personalidade: é um leitor voraz.

Na última quinta-feira (dia 16/04), Obama se encontrou com o escritor Gabriel García Márquez, num jantar oferecido pelo presidente mexicano, Felipe Calderón. Além de se declarar admirador da literatura do escritor colombiano, declarou que leu todos os seus livros.

De acordo com a matéria do Globo online, Obama, em seu perfil no site de relacionamento Facebook, se diz um leitor voraz e admirador de William Shakespeare, entre outros escritores.

Ganhou mais alguns pontos comigo!

Fonte: Globo online

Uma justa homenagem a Monteiro Lobato


Hoje é 18 de abril, Dia Nacional do Livro Infanto-Juvenil, e aniversário de Monteiro Lobato. E como eu sou louca pela Emília (afinal, não é a toa o nome desse blog!), não poderia deixar de colocar minha homenagem.

A livraria Travessa aqui no Rio tem uma programação especial para hoje, nas filiais do Leblon e Barra.


José Bento Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, em 18 de abril de 1882. E deixou essa terra, onde plantou tantas histórias maravilhosas, para crianças, jovens e adultos, em 4 de julho de 1948.

Para quem quiser se aproximar um pouquinho mais desse gênio, pode visitar o site da Globo: http://lobato.globo.com/. Mas como eu adoro dividir o que me toca, deixo aqui algumas frases dele que dizem tudo. Pelo menos ao meu coração:

"Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar."
(Carta a Godofredo Rangel, Rio de Janeiro, 7/5/1926)


"Nada de imitar seja lá quem for. (...) Temos de ser nós mesmos (...) Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir."
(Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 15/11/1904)


"O que mais aprecio num estilo é a propriedade exata de cada palavra."
(Carta a Godofredo Rangel, Areias, 30/8/1909)


"Um país se faz com homens e livros."
(América, 1932)


"A história dos historiadores coroados pelas academias mostra-nos só a sala de visitas dos povos. (...) Mas as memórias são a alcova, as chinelas, o penico, o quarto dos criados, a sala de jantar, a privada, o quintal (...) da humanidade."
(Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 9/5/1913)

"Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a idéia de não desagradar ou chocar ninguém (...) Outro modo é dizer desassombradamente o que pensa, dê onde der, haja o que houver - cadeia, forca, exílio."
(Carta a João Palma Neto, São Paulo, 24/1/1948)


"O certo em literatura é escrever com o mínimo possível de literatura. (...) a mim me salvaram as crianças. De tanto escrever para elas, simplifiquei-me."
(Carta a Godofredo Rangel, São Paulo, 1/2/1943)


"Assim como é de cedo que se torce o pepino, também é trabalhando a criança que se consegue boa safra de adultos."
(Carta a Vicente Guimarães, Campos do Jordão, 12/1/1936)


"Escrever é gravar reações psíquicas. O escritor funciona qual antena - e disso vem o valor da literatura. Por meio dela, fixam-se aspectos da alma dum povo, ou pelo menos instantes da vida desse povo."
(Na Antevéspera, prefácio à 1ª edição, 1933)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Manuscritos de Madame Bovary na web

O Museu de Belas Artes de Rouen, na França, anunciou ontem o lançamento de uma página web dedicada ao rascunho e os manuscritos de Madame Bovary, de Gustave Flaubert.

Esse é um dos livros da minha vida. E dá uma grande emoção apreciar toda a carpintaria do seu autor.

São cerca de 4500 folhas (rascunho, reescrituras feitas por copistas, o manuscrito definitivo e correções). O projeto levou uma década para ser concluído e custou cerca de 120 mil euros. Estima-se que houve a participação de 600 pessoas.

O site está no endereço www.bovary.fr. Na tela aparece de um lado o manuscrito e de outro a página transcrita com as manchas e anotações.

É só ir até lá e curtir!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Fernando Sabino fala sobre Literatura

Há algum tempo postei aqui o link sobre as entrevistas do Roda Viva que estavam sendo disponibilizadas.

Abaixo, copiei um trecho da entrevista de Fernando Sabino que confirma a ideia de que, na literatura, tudo que é fácil de ler é muito difícil de escrever. Muito interessante. Curtam esse trechinho e depois leiam a transcrição toda, que ainda traz um pequeno vídeo.

Ruy Castro: Fernando, há uma velha frase de que tudo o que é fácil de ler é muito difícil de escrever. Todos os seus livros são muito fáceis de ler.

Fernando Sabino: Muito obrigado.

Ruy Castro: São difíceis de escrever?

Fernando Sabino: Olha aqui, o elogio que mais me tocou foi feito pela mulher do Hélio Pellegrino [(1924-1988), psicanalista, articulista e poeta mineiro], a minha querida Maria Urbana Pellegrino, que diz que foi contar uma história minha para uma amiga, uma história de quatro a cinco linhas, e ela falou: “e eu quebrei a cara porque eu acabei tendo que buscar o livro para ler para ela aquelas cinco frases”. E ela disse o seguinte: “eu descobri que escrever parece com um balé, você vê uma bailarina fazer um passo muito bonito, muito leve, vai fazer a mesma coisa e cai no chão e quebra a perna, foi o que me aconteceu”. E eu fiquei muito tocado por isso, porque realmente custa muito esforço para ser simples, é um trabalho terrível para você conseguir chegar a essa simplicidade que parece que é fácil de ler e, portanto, parece que foi fácil de escrever. E eu fiquei muito gratificado agora de você ter dito que é fácil de ler.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Workshops na Estação das Letras - agenda da semana

Para quem está no Rio de Janeiro, há duas dicas quentíssimas de workshops sendo oferecidos na Estação das Letras.

Dia 17/04, das 17h às 22h: "A prosa de ficção: sua criação e seu alcance" com Luiz Ruffato.

Dia 18/04, das 10h às 16h: "As ficções breves" com Ondjaki.

A Estação das Letras fica no Flamengo, na Rua Marquês de Abrantes, 177 loja 107. Informações pelo tel: 3237-3947.

sábado, 11 de abril de 2009

Feliz Páscoa


Nova vida.
Com a plena paz em cada momento.
Com a alegria de enxergar o sol nascendo,
com a magia de enxergar o pôr do sol.

Podemos renascer
quantas vezes quisermos
em uma mesma vida.
Nosso livre arbítrio
nos permite repensar
os pequenos e grandes atos.

Que o amor não seja apenas
um grande coração vermelho,
ou o grande ovo de chocolate,
mas as mãos carinhosas que os entregam.

Que seja o olhar adocicado,
lugar-comum mesmo,
ao canto de um pássaro,
ao sorriso de uma criança,
ao perfume de uma rosa.

E assim, com um coração mais puro,
confessando nossos pecados
a nós mesmos,
que possamos ter
uma Feliz Páscoa
em todos os dias do ano!

Para todos vocês,
a minha mensagem de
FELIZ PÁSCOA!

Curso "Da criação ao roteiro" na ABL

A Biblioteca Rodolfo Garcia (lugar, por sinal, maravilhoso, que visito, na hora do almoço, quase diariamente), em parceria com a própria ABL, oferece a partir do dia 27 de abril, o curso "Da criação ao roteiro" com Doc Comparato.

A divulgação no site da Academia não fala sobre valores. Segunda-feira, prometo descobrir e trago a informação completa.

Abaixo reproduzo toda a matéria retirada do site da ABL (Sala de Impresa > Notícias > 2009).
---------------------

Doc Comparato oferece curso "Da Criação ao Roteiro" na ABL

De 27 de abril a 13 de julho, sempre às segundas feiras, das 12h30 às 15h, na Biblioteca Rodolfo Garcia da ABL, Doc Comparato, autor de textos cinematográficos e televisivos, em parceira com a Academia Brasileira de Letras, oferece o curso "Da Criação ao Roteiro". As inscrições estarão abertas de 13 a 17 de abril, de segunda a sexta, das 9h às 15h.

Trata-se, de um curso assumidamente didático, que divide com o aluno um amplo conhecimento, sedimentado numa vivência prolongada do ato de escrever roteiros para cinema e televisão no Brasil e no exterior, analisando aspectos importantes como o conflito dramático, a personagem, a ação, a unidade e o tempo dramáticos, bem como a otimização da capacidade criativa.

Saiba mais

Temas e aulas

Começando no conceito da idéia cinematográfica, teatral e televisiva, seguindo na construção da personagem, na gestão do conflito, na construção e tipos de cenas, na estrutura e ação dramática, no estudo do diálogo, por fim no ritmo do roteiro.

Será realizada uma panorâmica da adaptação literária, da dramaturgia até o século XX.Nos encontros serão reproduzidas as diversas etapas da construção de um roteiro:
  • Introdução à dramaturgia
  • O conflito dramático
  • A sinopse
  • O personagem
  • Evolução/ transformação e continuação do personagem
  • A ação e construção dramática
  • Macroestrutura dramática
  • Cenas de cinema e televisão
  • A unidade dramática
  • Revisão dos trabalhos sobre estrutura
  • O tempo dramático
  • Adaptação literária
Inscrições:

Dias: de 13 a 17 de abril, de segunda a sexta.
Horário: das 9h às 15h.
Telefone: (21) 3974-2526
E-mail: therezinha@academia.org.br
Contato: Therezinha

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Umas Palavras e Espaço Aberto Literatura - Programação na Net

Acho legal poder dividir com vocês os programas literários que rolam na tevê a cabo. Conheço, pois vou procurando. Descobrindo, por que não espalhar?

Por isso, divulgo mais um programa interessante que rola, dessa vez, no Canal Futura (canal 32 da Net). Trata-se do Umas Palavras, um programa de entrevistas que traz várias personalidades do mundo literário. Algumas são reprises que já passaram há alguns meses, mas para quem não assistiu, vale como inédito; para quem assistiu, é sempre bom rever.

A mesma entrevista passa em vários horários:
- Sexta-feira, às 22h00;
- Sábado, às 22h00;
- Domingo, às 21h30min;
- Quinta-feira (seguinte), às 02h30min.

A programação para o mês de abril está assim:

Dia 10, 11, 12 e 16: Inês Pedrosa
Dia 17, 19 e 23: Pierre Bayard
Dia 24, 25, 26 e 30: Cintia Moscovich

---------------------------------------------------
Outro programa que descobri no canal da Globo News (canal 40 da Net) é o Espaço Aberto - Literatura, no qual acontece um bate-papo com nomes consagrados e revelações do mundo literário. É apresentado por Edney Silvestre.

Hoje está programado para as 21h30. Só não há divulgação antecipada de quem é o entrevistado. É preciso ver, para descobrir. Mas há apresentações em quase todos os dias da semana. Vale dar um pulinho no site da Net e conferir os horários.

Amanhã (sábado) podemos assistir nos seguintes horários: 01h30min, 08h30min, 16h30min.

Descobrindo Adélia Prado


Se tenho autores preferidos? Claro! Vários. E não canso de citá-los aqui. Mais os vivos, nem tantos os que já se foram. Mas meu coração de leitora é coração de mãe. E assim está sempre aberto a descobrir um novo autor, e com isso sua literatura.

E hoje posso dizer que descobri Adélia Prado. Não no sentido de novo, porque é iniciante. Nunca. É escritora renomada, mas que infelizmente (para mim) li apenas um livro em 2006, "Quero minha mãe".

Só que ao viajar pelos meus cantinhos literários, e me valendo também de um elogio feito a ela por um amigo, resolvi procurar mais sobre essa escritora.


Achei um vídeo no site do programa Entrelinhas, da TV Cultura. E aí aconteceu, logo no poema "Impressionista" que abre a entrevista.


Aconteceu: descobri Adélia Prado.


Meio desnorteada, como se tivesse sido atingida por algo invisível, comecei a procurar por outros poemas na Internet. Peguei o livro na estante, busquei marcações. Encontrei algumas, mas que não me diziam muito. Comecei a reler o livro. E confirmei. Nossa! Que ESCRITORA!!!!

Pode ser que esteja numa fase mais sensível, pois o mesmo aconteceu há não muito tempo com a Cora Coralina. Mas acho que não, são apenas minhas percepções mais aguçadas, pois vivo uma fase de intensa produtividade. Estou respirando literatura várias horas por dia. Mais do que antes, virou uma necessidade vital. Sem ela, sufoco.

Bem, o que importa mesmo é que a descobri como autora, e ainda posso esperar pelo o que venha a produzir. Que viva muitos anos, para que eu possa percorrer sua obra enquanto ainda aguardo novos presentes. Sim, porque a boa literatura é sempre um presente.

Fica a dica para vocês. Tenham certeza que de vez em quando deixarei aqui um pouquinho dessa literatura que sacode nossos sentidos. Então, para mostrar que cumpro minhas promessas...


Impressionista
Adélia Prado

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

Direitos humanos
Adélia Prado
(in Oráculos de Maio)

Sei que Deus mora em mim
como sua melhor casa.
sou sua paisagem,
sua retorta alquímica
e para sua alegria
seus dois olhos.
Mas esta letra é minha.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Mais programação na TV a cabo

Além do Letra Livre, no qual falei no último post, vale uma sintonizada no programa Entrelinhas, também na TV Cultura (Net, canal 16).

Entrelinhas também é dedicado à literatura, com duração de trinta minutos.

De acordo com o site da TV Cultura, no próximo domingo dia 12/04 o programa fala sobre um dos assuntos contemporâneos mais discutidos -- a violência. Tem ainda o escritor Bernardo Carvalho comentando sobre o lançamento de "O Filho da Mãe", romance ambientado na Rússia, criado a partir do Projeto "Amores Expressos".

Quanto ao horário, vale checar direitinho. Apesar do site da TV Cultura divulgar o programa aos domingos às 21h30, o link de serviços do próprio site avisa que a partir de 08/01/2009, o Entrelinhas será exibido em novo horário: Inédito às quintas, às 23h10, com reapresentação na madrugada de segunda para terça às 02h30.

Não satisfeita, fui ao site da Net (www.net.tv). Piorou tudo. O programa Letra Livre aparece programado para hoje, de 23h10 às 00h10 de sexta. E o Entrelinhas de 00:10 às 00:40. Mas procurando a programação do dia 12/04, acho Entrelinhas de 21:30 às 22:00.

Então, na dúvida fiquem de olho em todos os horários.

Programação na TV a cabo

Programa Letra Livre

O Letra Livre é transmitido pela TV Cultura (canal 16 da Net), na primeira quinta-feira do mês, promovendo grandes encontros com escritores consagrados, sempre de universos literários diferentes.

Comandado pelo jornalista Manoel da Costa Pinto, o programa tem uma hora de duração e é dividido em quatro blocos.

E 2009 começa bem. No programa de estreia que vai ao ar hoje (dia 9 de abril) às 22h10, os convidados são Lygia Fagundes Telles e Marcelino Freire.

Então é só sintonizar e curtir!

No lugar de dinheiro, livros para os pedintes

É isso mesmo. A ideia surgiu na revista NOVA ESCOLA e realizada por Rodrigo Ratier.

Como experiência, ao receber o pedido de esmola, ele disparava:
"Dinheiro eu não tenho, mas estou aqui com uma caixa cheia de livros. Quer um?"

A oferta foi feita a vendedores ambulantes, pedintes e artistas circenses, nos cruzamentos de São Paulo.

O resultado dessa experiência é muito interessante e vale a pena ser lida por completo. É só dar um pulinho do site da NOVA ESCOLA.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

9 anos do Jornal Rascunho

Recebi ontem por e-mail o convite para o coquetel dos 9 anos do Jornal Rascunho. Sei que para quem mora em Curitiba, essa minha divulgação está um pouco tarde! Podem ter certeza que não foi egoísmo só porque estou no Rio de Janeiro!

Mas o que acho importante divulgar é o tempo de existência desse jornal que é de extrema importância e seriedade para a área literária.

O Rascunho nasceu em 8 de abril de 2000, idealizado pelo jornalista Rogério Pereira. No início, o jornal se resumia a um caderno mensal de oito páginas, encartado no Jornal do Estado. A periodicidade foi mantida, mas hoje são vários cadernos, com a contribuição de escritores renomados da nossa literatura.

Se o público inicial se limitava a um mailing de 150 pessoas, hoje atinge 10 mil leitores em todo o Brasil, sem contar os leitores da internet, pois as edições antigas são publicadas para acesso livre no site www.rascunho.com.br.

A edição 108 (abril) que eu recebi hoje vem com 40 páginas, trazendo textos inéditos de Ferreira Gullar, Adélia Prado, Gonçalo M. Tavares, Milton Hatoum, Raimundo Carrero e Mariana Ianelli, entre outros autores.

Como articulistas da revista, nada menos do que Affonso Romano Sant'anna, Luiz Ruffato, Adriana Lisboa, José Castello, Claudia Lage, Rogério Pereira, Luiz Brás e Luís Henrique Pellanda. Quer mais?

Mas o Rascunho abre outras frentes. Entre elas está a Oficina Literária ministrada por José Castello e o projeto Paiol Literário, que leva mensalmente à cidade de Curitiba um grande nome da literatura brasileira, para um bate-papo com o público, com mediação de José Castello.

Já passaram pelo evento personalidades como Ignácio de Loyola Brandão, Ana Maria Machado, José Mindlin, Milton Hatoum, Cristóvão Tezza, Miguel Sanches Neto, Marçal Aquino, Nelson Motta, Bernardo Carvalho e Luiz Vilela, entre vários outros.

Ontem foi aberta a quarta temporada do projeto Paiol Literário com nada menos do que a minha querida Livia Garcia-Roza. O projeto é realizado pelo Rascunho e Sesi Paraná e terá sete encontros entre abril e novembro. Já estão confirmadas as presenças de Nélida Piñon (5 de maio) e Moacyr Scliar. A agenda será divulgada mensalmente. E pode deixar que reproduzirei aqui.

Para quem não conhece o Rascunho, acesse o site (www.rascunho.com.br). E assine o jornal. A quantia é mínima (R$ 50, a assinatura anual) diante da qualidade do que nos é oferecido.

A transcrição dessas entrevistas são publicadas na edição seguinte. Aguardo o Rascunho de maio, para ler sobre o resultado desse super encontro entre José Castello e Livia Garcia-Roza.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Paixão pela Literatura: eis a questão

Já devo ter falado aqui da minha paixão pela Literatura, e dessa mesma paixão por ler que transbordou e virou minha escrita. E também da minha preocupação em achar e resgatar esse público leitor, que tanto "não aparece" nas pesquisas encomendadas.

É muito bom receber uma crítica positiva, e claro que sem ela, nosso caminho será muito tortuoso. Mas nenhum de nós deseja que nossos livros sejam lidos apenas por nossos pares. Queremos alcançar pouco a pouco novos leitores. Transformar nossa ficção num bolo de açúcar, isca para as formiguinhas ávidas por boa Literatura.

No último sábado, saiu no caderno Ideias um belíssimo artigo, escrito por Raimundo Carrero, sobre o que vem tirando o prazer da leitura. E há um parágrafo, daqueles dignos de ler e reler pelo menos uma vez por semana, que é um espelho desse meu sentimento. Reproduzo abaixo esse parágrafo, mas o artigo "Mataram a literatura e não foram ao cinema -- Todorov mostra por que excesso de didatismo tira o prazer da leitura." pode ser acessado online, no site do JB.

"A obra de arte literária – romance, novela, conto, poema – deve considerar, sobretudo, esse leitor ávido de estranhamento, de sensação, de aventura, de prazer. Ainda que o autor conheça todas as técnicas e todas as teorias. A palavra de ordem de um narrador deve ser a sedução, com tudo o que ela tem de conquista e de encantamento. Precisa escrever com simplicidade ainda que sofisticadamente. Recorrer aos artifícios, sem dúvida, mas de tal forma que o leitor se sinta apaixonado pelo que lê, pelo que observa, pelo que sente. A técnica deve servir à conquista; importa levar o leitor ao amor com o personagem e com o enredo, e ele, com certeza, cairá numa paixão desmedida."

domingo, 5 de abril de 2009

Ufa! García Márquez desmente boatos de aposentadoria

Ufa!!! Quinta-feira repassei aqui a notícia sobre a possível aposentadoria do prêmio Nobel Gabriel García Márquez. Cheguei a duvidar dizendo que a reportagem poderia não ter fundamento nas intenções do autor, pois o boato se baseava apenas numa previsão feita por sua agente literária e por Gerald Martin que escrevera a única biografia autorizada do autor colombiano.

Para nosso conforto, há três horas saiu nova matéria, desta vez, com informações do próprio García Márquez.

Em conversa por telefone, ele desmentiu que tenha abandonado a literatura ou que esteja pensando em fazê-lo.

"Não só isso não é verdade, como a única coisa certa é que não faço outra coisa senão escrever", disse o escritor, por telefone.

Ah, bom, assim é melhor.

Para conferir mais, leia a matéria no Estadão.

Notícias da semana

Abaixo algumas notícias e eventos literários que saíram no caderno Ideias de ontem (04 de abril). Amanhã publicarei um post sobre o artigo do Raimundo Carrero, também dessa edição, que nos fala de forma muito precisa sobre o excesso de didatismo x prazer da leitura.


  • O livro José Olympio: o editor e sua casa (Editora Sextante), escrito por José Mario Pereira foi o ganhador, por decisão unânime, do Prêmio Ermírio de Moraes, concedido pela ABL. Valor do prêmio: R$ 75 mil.
  • Uma mostra vai exibir, de 14 a 26, no Caixa Cultural (Av. Almirante Barroso, 25, Centro do Rio), 15 filmes escritos ou dirigidos por Marguerite Duras.
  • Será lançado segunda (dia 6) às 19h, na Livraria Argumento do Leblon, o segundo volume do Teatro Completo, de William Shakespeare, editado pela Nova Fronteira. Tradução de Barbara Heliodora.
  • O Centro de Artes Calouste Gulbenkian, na Praça Onze, Centro do Rio, está com matrículas abertas para oficina literária com Luís Pimentel. As aulas terão início em maio. Informações: 2221-6213 (ramais 216, 217, 229) ou 9678-9910.
  • Terá início quarta-feira (08/04), às 18h30, no CCBB, um ciclo de debates dedicado ao jornalismo literário. O programa segue até novembro apresentando nomes como: Luiz Carlos Maciel, Matinas Suzuki Jr, Sergio Cabral (pai), Ruy Castro, Fernando Morais, Nirlando Beirão e Zuenir Ventura. A curadoria é de Beatriz Carolina Gonçalves.

sábado, 4 de abril de 2009

Resenha: Era outra vez



Saber que existe um lançamento de Livia Garcia-Roza é sempre uma grande expectativa. Pois sabemos o que vamos encontrar em sua prosa: o humor refinado, as frases inteligentes, a narrativa que nos pega pela mão e faz com que estejamos ao lado de cada personagem. Um narrador conversa com o interlocutor que não somos nós, mas leitores abusados que somos, nos colocamos no papel dele. Nos colocamos no papel do narrador. A prosa de Livia é um abraço, apertado, porém solto. É uma prosa que bate, porém acaricia. Não tem como não sair modificado de um livro de Lívia. Acho muito mais forte essa sensação em seus romances. Mas que ninguém pense que os contos têm menos qualidades. Mas é que numa coletânea de contos, apanhamos de personagens diferentes. E mal nos recuperamos de uma, vem outra surra. Surra de flores. Pois ela bate, sem ferir. Ela bate para chacoalhar nosso íntimo.

E é chacoalhando nossas emoções que Livia começa o livro de contos “Era outra vez” (Companhia das Letras). Só que vários personagens que transitam por esse livro vêm de um lugar muito especial: as histórias infantis. Mas não pensem que esse livro é infantil. Longe disso. É ficção para adulto, para quem tem coragem de ler e aguentar o que as palavras competentemente arrumadas são capazes de nos mostrar.

O primeiro conto é uma homenagem à Maria Clara Machado e seu inesquecível “Pluft, o fantasminha”. Você já sentiu vontade de abraçar um fantasma? Pois é a sensação que tive ao ler o conto “Mamãe fantasma”. Abraçar essa mãe, de “claridade leitosa” igual ao seu filho, que tenta aconselhá-lo na fase em que um adolescente descobre o amor. Mesmo que seja um “fantaslescente”. E isso tudo com a maestria e imaginação que lhe são peculiares, em frases como:

“Claro que eu sabia que estava grávida, fantasmas engravidam à toa, basta nos cruzarmos no espaço”

ou

“Eu dizia que fantasmas não se casam, porque se encontram numa rapidez de raio, e a isso chamamos amor, a esse contato etéreo e fugaz, mas você não se conformava”.

(Esse conto foi publicado no Jornal Rascunho do mês de fevereiro).

No conto “A bruxa”, Livia nos traz o medo das crianças e a reação dos pais a essas crianças, mais do que a esses medos.

Em “O lobo mau” não podemos deixar de rir com um lobo que se cansa de ser o vilão e resolve tirar satisfação com a mãe da Chapeuzinho.

“— O Lobo Mau. Tá fingindo que não me conhece? Olha aí, garota, não estou a fim de te comer nem de comer a sua avozinha caquética, está me ouvindo? Sou um lobo, porra! Agora vai chamar sua mãe que eu não converso com criança”.

Em “Os três mosqueteiros” podemos confirmar que mesmo crianças podem ser cruéis. A diferença é que são outras crianças as vítimas dessa crueldade. E é o olhar infantil de uma prima de cinco anos que Livia nos apresenta nesse conto.

“À noite, enquanto vovó assistia à novela no quarto, meus primos fumavam escondidos na varanda, arriados nas cadeiras de palhinha, soltando puns, com as pernas esticadas, soprando bolinha de fumaça para o alto. Numa dessas vezes, quando me viram, perguntaram se eu tinha namorado. Respondi que eu tinha o namorado da minha amiga. E não sei por que eles riram, e também não sei por que jogaram o cigarro aceso na grama pra queimar as formigas.”

No conto “A cigarra e a formiga” a história é apenas o caminho para mostrar o olhar equivocado dos pais que só enxergam em seus filhos o que realmente lhes interessa.

“Ela disse que ia contar uma história porque eu gostava muito de conversar. Todos riram. Mamãe tinha escolhido a história da cigarra e da formiga”.

E é assim, passando por histórias como “O gato de botas”, no qual um menino usa o gato para atender seus pedidos mais egocêntricos; ou “A tartaruga e a lebre” em que o tempo dos pais não reflete o tempo esperado por seus filhos; ou ainda em “Os sete anões” em que uma Branca de Neve “prefere” os baixinhos ao príncipe; ou uma “Sherazade” moderninha que está namorando um árabe que ela diz que detonou umas e outras, pois sofreu pra caramba, que Livia nos encanta, como só uma boa fada é capaz de fazer.

Deixei para o final o conto que mais me tocou depois de “Mamãe fantasma”. É “A pequena sereia”. Temos aqui uma criança de olhar maduro, mas que se entrega à fantasia, como algum dia aprenderá a se entregar aos seus sonhos. E como essa fantasia pode lhe servir como uma amiga inseparável.

“Quis perguntar a mamãe se ela conhecia o Comandante, e ela disse que estávamos atravessando a rua e era para eu prestar atenção, não era hora de conversa. Olhei então para a sereinha, só que ela não me viu, porque estava no fundo do balde. Devia estar dormindo, com febre, por causa do resfriado”

E esse conto que já me embalou em toda a sua extensão, me abraçou com força em sua última frase.

Nossa percepção de adultos já está muito contaminada com as urgências do mundo contemporâneo. Livia realizou de forma grandiosa esse projeto, trazendo esses personagens infantis para recuperar dentro de nós as crianças que deveríamos manter eternas. Então é para ler outra vez, e outra, e outra...

Conto Sem Erros

Esse conto saiu na edição nº 37 da revista virtual Histórias Possíveis. Foi criado para dissecar a palavra "interruptor".

Espero que gostem!

Sem erros
Ana Cristina Melo

Ele teclava o computador com celeridade. Recusava-se a olhar o canto do monitor ou o próprio pulso, para saber quanto tempo ainda tinha até a manhã seguinte, quando deveria estar pronta a alteração no sistema contábil que dava manutenção.

Tornou-se programador de computadores aos dezoito anos, na mesma época em que desejara ser músico. Mas a origem humilde lhe alertava diariamente da ampulheta que todos nós carregamos; a areia escorre a cada dia sem que tenhamos domínio sobre ela. As horas extras e as noites em claro, no ambiente frio do escritório, não diminuíram nem quando se casou ou nasceu sua primeira filha; não que faltassem reclamações da mulher, mas o que não podia deixar faltar era o emprego, pois no dicionário do gerente não existiam as palavras casa nem família. Aos trinta anos, era um ancião para o mercado de trabalho.

Acabara de conseguir a última compilação do programa, quando o monitor apagou. Só lhe veio um pensamento: estaria salvo seu trabalho? Relaxou ao se lembrar que o fizera antes de pedir a depuração dos erros. Livre do fantasma, pôde se questionar o que teria ocorrido, e só então percebeu que não havia uma luz sequer à sua volta. Estava numa completa escuridão. Gritou, mas sua voz ecoou na sala vazia e voltou lhe ferindo os tímpanos. Não sabia dizer se a dor de cabeça começara naquele momento ou bem antes.

Sem qualquer referência ou foco de luz, se levantou e, no segundo passo, acertou a perna na mesa. O palavrão dito e devolvido a ele próprio pareceu-lhe estranho. Resolveu se sentar novamente. Tentou imaginar a disposição do escritório e não conseguiu. Buscou em sua memória o que existiria sobre sua mesa ou nas gavetas, e nada lhe vinha com certeza.

Começou a sentir uma agonia pressionar o meio do peito, enquanto a cabeça latejava cada vez mais. Lembrou-se que no corredor onde estava, na outra extremidade da sala, havia uma janela. Deslizou a cadeira para o lado até esbarrar num armário. Com bem mais cuidado, tateou o móvel baixo que corria pela parede, até chegar no fundo da sala e achar a cordinha da persiana. Girando-a, pôde sentir as frestas tornando-se paralelas: nenhum foco de luz vindo da rua. O peito doía mais forte, a cabeça idem. Para se acalmar, concluiu ser um apagão. Mas como chegaria em casa? A pergunta o fez se lembrar da esposa e da filha. Sua mente parecia também afetada pelo breu, pois as imagens das duas lhe vinham esmaecidas. Não conseguia descrever seus rostos, os detalhes. Tentava se lembrar da voz, para que essa resgatasse suas lembranças. Nada. Por um instante, teve medo de uma cegueira. Não temeu pela falta da visão, mas pela perda das lembranças que o salvariam de uma escuridão total. Nessa hora, sentiu o peito se romper.



Os seguranças, atraídos por um barulho seco, entraram na sala da Informática. Sabiam que sempre havia alguém virando a noite em frente àqueles computadores. No canto da sala, encontraram o monitor ligado, com linhas que lhes eram hieróglifos, e no centro da tela uma mensagem: “Compilação terminada. 0 erro(s)”.

— Não tem ninguém aqui. Só esse trem que pelo jeito ficou ligado a noite toda, Zé. Ainda bem que não faltou luz.

— Carlos, corre aqui, tem um homem caído entre as mesas.

— Virgem nossa, é aquele moço que é meu vizinho. Tava trabalhando aqui ontem. Quando saí de casa hoje, ainda vi a menina dele. Uma formosura loirinha que tá dando os primeiros passos…

— Não é hora pra isso, homem, corre pra chamar alguém, pois ele ainda está vivo!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Entrevistas

Essa notícia estou trazendo do blog da adorável Ivana Arruda Leite.

A rádio da UNESP vem fazendo entrevistas com vários escritores e no link http://aci.reitoria.unesp.br/radio/perfil%20liter%a0rio/ é possível encontrar o áudio dessas entrevistas.

São mais de 50 arquivos com nomes como a própria Ivana, Moacyr Scliar, Luiz Ruffato, Tatiana Belinki, Marcelino Freire e Marçal Aquino, entre tantos outros nomes de peso.

É só conferir no link acima.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Aposentadoria de Gabriel García Márquez?!!

Saiu terça-feira no G1 uma matéria que pode não ter fundamento nas intenções do escritor, a não ser o de virar notícia por si só. Começa pelo título: "Gabriel García Márquez não voltará a escrever, diz agente literária".

Um baque. Seco.

Como assim? Não esperamos que nossos autores preferidos deixem de escrever. Assim, simplesmente. Ainda mais ele, que tanta contribuição deu aos seus leitores, e que ainda prometia (isso li numa outra reportagem, há não sei quanto tempo) publicar suas memórias.

Na reportagem é divulgado que em fevereiro o autor colombiano disse que escrever livros "dá trabalho". Mas até aí, qual o problema? Ele tem direito. E além disso, dá trabalho mesmo. Quem disse que criar ficção é fácil. É carpintaria para sempre, pois quem não teve vontade de mudar um texto já publicado? Mas daí "prever" (e é isso o que é dito na reportagem) que ele não vai mais escrever, acho difícil.

Gerald Martin que escreveu a única biografia autorizada de García Márquez concorda com a agente literária do escritor, que fez essa previsão.

Segundo Martin, García Márquez tem alguns livros completos guardados, mas ainda não decidiu se vai publicá-los. Imagine o que esperamos: uma resposta positiva.

Ainda não estamos prontos para essa aposentadoria!

Veja a matéria completa no site do G1.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Minha torcida para o Prêmio Portugal Telecom

O Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2009 já disponibilizou em seu site a lista de livros concorrentes, bem como a lista de jurados do prêmio.

Minha torcida particular em cada categoria vai para os livros abaixo, por incontestável qualidade, além do que são escritores por quem tenho profundo carinho e sincera admiração.
  • Afrodite in verso - Paula Cajaty (poesia)
  • Linha de sombra - Lucia Bettencourt (contos)
  • Milamor - Livia Garcia-Roza (romance)

Mas não posso deixar de citar outros livros que li em 2008 e, por ter me agradado muito, confesso que sentiria um calor no coração se os visse entre os finalistas.

  • De cabeça baixa - Flávio Izhaki (romance)
  • Flores azuis - Carola Saavedra (romance)
  • A filha do escritor - Gustavo Bernardo (romance)
  • O pudim de Albertina - Natália Nammi (contos)
  • Sexmaster 5 e outras histórias - João Paulo Vaz (contos)
  • Vibratio - Catarina Pereira (contos)
Entre 30 de março e 02 de maio serão escolhidos pelo júri inicial 50 concorrentes entre os 501 inscritos.

Vamos ficar na torcida.