terça-feira, 31 de março de 2009

Leite derramado



Ter mais dias úteis num mês não significa maior produção, pelo menos não para mim. Feriados são ótimos para passear com as crianças e me dedicar à literatura. Como isso não existiu em março, o que me sobrou foram algumas roubadas de tempo e poucas postagens. Mas abril está chegando e prometo uma frequência maior.

Bom, mas colocando o assunto em dia, vamos às últimas notícias:

O novo livro de Chico Buarque -- Leite derramado -- foi lançado com toda a publicidade que se tem direito. E dizem os críticos que merece mesmo. A primeira impressão dos editores da Companhia das Letras foi a melhor possível. E entre os confetes houve quem desgostasse do título, como foi o caso de Rubem Fonseca.

A campanha de marketing envolve mídia impressa, rádio, tevê, além de anúncios em livrarias e ônibus. No último final de semana, ao abrir qualquer um dos principais cadernos literários, encontrávamos uma página inteira (ou mais) sobre o livro.

Além da divulgação em massa nos cadernos literários, também foi lançado um site (http://www.leitederramado.com.br/wordpress/) do livro, incluindo a disponibilização do primeiro capítulo. No site também é possível assistir o próprio Chico lendo trechos do romance.

Não me perguntem o que achei, pois ainda não tive tempo de ler esse primeiro capítulo. Mas como a notícia não pode esperar minha disponibilidade, me antecipo à opinião.

O livro vem com uma tiragem inicial de 70 mil exemplares e com duas opções de capa. Abaixo um pouco mais sobre o livro tirado do site oficial.
"Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência.
A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno. A primeira originalidade deste livro, com relação ao gênero, é sua brevidade. As sagas familiares são geralmente espraiadas em vários volumes; aqui, ela se concentra em 200 páginas. Outra originalidade é sua estrutura narrativa. A ordem lógica e cronológica habitual do gênero é embaralhada, por se tratar de uma memória desfalecente, repetitiva mas contraditória, obsessiva mas esburacada.
O texto é construído de maneira primorosa, no plano narrativo como no plano do estilo. A fala desarticulada do ancião, ao mesmo tempo que preenche uma função de verossimilhança, cria dúvidas e suspenses que prendem o leitor. O discurso da personagem parece espontâneo, mas o escritor domina com mão firme as associações livres, as falsidades e os não-ditos, de modo que o leitor pode ler nas entrelinhas, partilhando a ironia do autor, verdades que a personagem não consegue enfrentar.
Em suas leves variantes, as lembranças obsessivas revelam sutilezas ideológicas e psíquicas. E, como essas lembranças têm forte componente plástico, criam imagens fascinantes. É o caso do “vestido azul” comprado pelo pai para a amante, objeto de alta concentração significante. Esse objeto se expande, no nível da narrativa, como índice de elucidação da intriga, no nível fantasmático, como obsessão repetitiva do filho, e no nível sociológico, como ilustração dos usos e costumes de uma classe. Tudo, neste texto, é conciso e preciso. Como num quebra-cabeça bem concebido, nenhum elemento é supérfluo.
Há também um jogo com os espaços onde ocorrem os acontecimentos narrados. As várias casas em que o narrador morou, como as décadas acumuladas em suas lembranças, se sobrepõem e se revezam. Recolocá-las em ordem cronológica é assistir a uma derrocada pessoal e coletiva: o chalé de Copacabana, “longínquo areal” dos anos 20, é substituído por um apartamento num edifício construído atrás de seu terreno; esse apartamento é trocado por outro, menor, na Tijuca; o palacete familiar de Botafogo, vendido, torna-se estacionamento de embaixada; a fazenda da infância, na “raiz da serra”, transforma-se em favela, com um barulhento templo evangélico no local da velha igreja outrora consagrada pelo bispo. Embaixo da última morada do narrador, nesse “endereço de gente desclassificada”, está o antigo cemitério onde jaz seu avô.
Percorre todo o texto, como um baixo contínuo, a paixão mal vivida e mal compreendida do narrador por uma mulher. Os múltiplos traços de Matilde, seu “olhar em pingue-pongue”, suas corridas a cavalo ou na praia, suas danças, seus vestidos espalhafatosos, ao mesmo tempo que determinam a paixão do marido e impregnam indelevelmente sua lembrança, ocasionam a infelicidade de ambos. Os preconceitos e o ciúme doentio do homem barram a realização plena da mulher e levam-na a um triste fim, que, por não ter nem a certeza nem a teatralidade dos desfechos de uma Emma Bovary ou de uma Ana Karênina, tem a pungência de um desastre. Embora vista de forma indireta e em breves flashes, Matilde se torna, também para o leitor, inesquecível.
O fato de nem no fim da vida o homem compreender e aceitar o que aconteceu torna seu drama ainda mais lamentável. Os enganos ocasionados por seu ciúme são tragicômicos, e o escritor os expõe com uma acuidade psicológica que podemos, sem exagero, qualificar de proustiana.
Outras figuras, fixadas a partir de mínimos traços, também se sustentam como personagens consistentes: o arrogante engenheiro francês Dubosc, que a tudo reage com um “merde alors”; a mãe do narrador, que, de tão reprimida e repressora, “toca” piano sem emitir nenhum som; a namorada do garotão com seus piercings e gírias. É espantoso como tantas personagens conseguem vida própria em tão pouco espaço textual. Leite derramado é obra de um escritor em plena posse de seu talento e de sua linguagem."

quinta-feira, 26 de março de 2009

Um presente para mim

O que é esse presente? Eu que me dei.

É isso mesmo: hoje estou mudando de folha, colocando mais uma velinha no bolo. Enfim, fazendo aniversário.

Vocês estão curiosos para saber o que tem dentro? Eu também. Só me dei a caixa. O conteúdo ainda estou aguardando, e sinceramente espero que seja...

Ah, esqueci de dizer: o pedido é segredo!

domingo, 22 de março de 2009

Dicionário Amoroso da Língua Portugesa

Podem anotar. Temos uma nova antologia, que será lançada pela Casa da Palavra em junho, e traz a assinatura de Marcelo Moutinho, autor de Somos todos iguais nesta noite (Rocco, 2006).

O projeto é dele e do escritor português Jorge Reis-Sá e conta com 35 autores de vários países lusófonos (Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e Timor Leste).

Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa está recheado de prosas e poesias que exploram palavras de nosso riquíssimo idioma. Tem uma boa lista, passando por: água (Marcelo Moutinho), sobreiro (Reis-Sá), bambu (Luandino Vieira), sandália (Ondjaki), deserto (Adriana Lisboa) e palavra (Marcelino Freire).

O time é de primeiríssima linha e considerando o acerto que foram as outras antologias assinadas por ele: Prosas Cariocas (Casa da Palavra, 2004) e Contos sobre tela (Pinakotheke, 2005), esse novo projeto tem tudo para ser um sucesso.

No blog do Marcelo, vocês podem conferir a lista completa de autores.

Que os bons ventos da Literatura abençoem esse novo filho, Marcelo! Sucesso!

sábado, 21 de março de 2009

Conto Sem erros no Histórias Possíveis

O Histórias Possíveis é uma revista literária que nasceu com narrativas inspiradas por notícias.

Desde fevereiro, traz uma proposta diferente: dissecar palavras que serão dadas como desafio para os assinantes. A edição, antes mensal, agora passou para semanal.

Bem, na edição desse sábado (nº 37) há, entre os textos escolhidos dos assinantes, um conto meu -- Sem erros.

Deem uma passadinha por lá, conheçam a revista, e leiam os contos. Claro, não se esqueçam de acessar o meu.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Resultado do Prêmio Sesc 2008

E o suspense acabou. Foi divulgado ontem à noite o resultado do Prêmio Sesc 2008.

E para quem já está se preparando para a edição de 2009, as inscrições acontecerão no período de 5 de maio a 15 de setembro.

O romance vencedor foi O momento mágico, do baiano Márcio Ribeiro Leite. Já a coletânea de contos premiada foi Mentiras do Rio do carioca residente em Brasília Sergio Leo.

Os 75 livros selecionados para a fase final foram escolhidos por subcomissões regionais sediadas em Pernambuco, Ceará, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Da comissão final participaram os escritores Beatriz Bracher e Alcir Pécora (romance) e Luiz Vilela e Flávio Carneiro (contos).

Mais informações, no site do Sesc.

quinta-feira, 19 de março de 2009

51º Prêmio Jabuti

Desculpem o sumiço, mas vida de pretensa escritora que ainda tem jornada dupla, além das jornadas de mãe e esposa, não é fácil.

Bom, vamos reduzir as lamentações e aumentar a divulgação.

A Câmara Brasileira do Livro (CBL) lançou nesta quarta-feira (18/03) o 51º Prêmio Jabuti. As inscrições já começaram e vão até 29 de maio. A cerimônia de premiação acontece em 4 de novembro.

As obras publicadas no Brasil entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2008 podem ser inscritas pelo site http://www.premiojabuti.org.br/.

O Jabuti contempla categorias tradicionais como Romance, Contos, Crônicas e Poesia, abrangendo diversos segmentos editoriais, como Ciências Exatas, Humanas, Direito, Economia e Artes. Profissionais das áreas de criação e produção, como tradutores, ilustradores e designers gráficos também são agraciados pelo Jabuti. Por isso, ele é reconhecido pelo mercado editorial como o prêmio mais tradicional do livro brasileiro.

O primeiro lugar de cada categoria recebe R$ 3 mil. Os livros do ano de ficção e não-ficção recebem R$ 30 mil cada um.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Oficina Literária de Paulo Bentancur

A dica saiu no Rascunho desse mês. E vale repassá-la aqui.

O escritor de ficção e crítico literário Paulo Bentancur está oferecendo uma oficina online denominada "Mistérios da Criação Literária".

Ele é autor de 20 obras em diversos gêneros, passando pela prosa, poesia e literatura infanto-juvenil. Várias vezes premiado, incluindo-se nessa lista láureas importantes como quatro Prêmios Açorianos (1995, 1996, 2004 e 2005).

E para se ter uma ideia do quanto o Paulo nos direciona com maestria, dê um pulinho em seu site (http://artistasgauchos.com.br/paulob) e clique no link "Oficina". Ali, ele nos oferece nove páginas de ensinamentos, que por si só já nos levam à nocaute.

A oficina acontece uma vez por semana, via MSN. Para saber mais a respeito, envie um e-mail para ele: bentancur@uol.com.br.

Para se afinar ainda mais com as ideias do Paulo, dê uma passadinha também em seu blog -- http://bentancur.blogspot.com/.

Faço uma oficina com ele e afirmo: assino embaixo.

Confiram!

Prosa nas Livrarias

O projeto Prosa nas Livrarias, promovido desde 2006 pelo Prosa & Verso em parceria com livrarias e editoras, terá Nélida Piñon e Tatiana Salem Levy como convidadas da primeira edição do ano.

O evento acontecerá no próximo dia 17, às 19h30, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon (Afrânio de Melo Franco, 290 - Loja 205 A).

Na conversa que será mediada por Rachel Bertol, editora assistente do Prosa & Verso, o público saberá um pouco mais sobre a vida e a obra das duas escritoras, publicadas pela Editora Record.

A entrada para o evento é franca.

Fonte: O Globo - 07/03/2009

terça-feira, 10 de março de 2009

Notícias da ABL

A Academia Brasileira de Letras inaugurou hoje o seu tradicional Ciclo de Conferências, com uma conferência a respeito da "História da Ortografia e da ABL", proferida por Domício Proença Filho.

O 1º Ciclo de Conferências que tem o tema "O Acordo Ortográfico" ainda terá um encontro na próxima semana, dia 17, com Evanildo Bechara falando sobre "O Novo Acordo Ortográfico e a Elaboração do VOLP".

Já está programado o 2º Ciclo de Conferências, de 24/3 a 14/4 que terá como tema "Charles Darwin - 200 anos".

E sobre a quinta edição do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), esta será lançada no próximo dia 19, às 17h30min, no Petit Trianon.

O volume, de 887 páginas, contém 349.737 vocábulos, apresentados sob forma de lista, por ordem alfabética, incluindo-se a classificação gramatical de cada um, além dos estrangeirismos (cerca de 1500), que aparecem no final da obra.

domingo, 8 de março de 2009

Poema para comemorar nosso dia



Escritoras, leitoras,
mães, filhas, netas, avós,
esposas, noivas, namoradas, amantes,
profissionais, alunas, professoras,
meninas, adolescentes,
ou apenas mulheres:


Parabéns!!!


E para comemorar esse dia que apenas é um a mais dentro dos 365(6) que passamos lutando, conquistando, vivendo, sendo felizes, trago um trecho do poema de Cora Coralina. Ela que, sem dúvida, foi uma grande mulher, sem contar que também nos deixou um grande legado, de extrema sensibilidade.


trecho de
Todas as vidas
Cora Coralina
do livro Poemas dos Becos de Goiás e Estórias mais


Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem-feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem chacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-- Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.

sábado, 7 de março de 2009

Desafios do primeiro livro

Descobri uma reportagem bem interessante na Revista Bravo sobre escritores iniciantes e seus percursos para chegar ao primeiro livro.

Para quem quiser conferir toda a matéria, basta acessar o site da Revista.

Uma grande verdade que é citada nesse texto é a importância das oficinas literárias. Essa carpintaria em conjunto traz inúmeros ganhos e maturidade para a prosa do escritor iniciante.

Veja alguns desses depoimentos retirados da matéria da Bravo:

"Eu certamente levaria 15 anos para aprender o que consegui em um ano de oficina", diz a gaúcha Cíntia Moscovich, 50 anos, ex-oficineira, já com seis livros publicados, entre eles Arquitetura do Arco-Íris (2004), com o qual levou o Prêmio Jabuti. Ela foi ex-aluna da oficina do Luiz Antonio de Assis Brasil.

"Passei a compreender como funcionam os tipos de narrativas, os gêneros literários, como cortar frases e usar os clichês.", diz Daniel Galera, autor de Cordilheira, também ex-aluno da oficina do Luiz Antonio de Assis Brasil.

Então, leia a reportagem e depois busque a sua oficina.

Prêmio OFF FLIP terá bolsa em parceria com a Fliporto

A OFF Flip, evento que acontece em paralelo com a Flip de Paraty, trará mais uma edição do seu concurso literário. E a novidade está na bolsa que será concedida, em parceria com outra feira literária -- a Fliporto, que ocorre em Porto de Galinhas.

A bolsa será no valor de R$ 5 mil e será oferecida ao primeiro colocado do Prêmio na categoria nacional-exterior em cada gênero (conto e poesia). Os dois vencedores participarão ainda da OFF FLIP e terão despesas custeadas para assistirem à programação da FLIPORTO.

Maiores informações podem ser obtidas no site oficial do Prêmio OFF Flip de Literatura.

Estou apenas aguardando o regulamento, para publicá-lo no Ficção de Gaveta.

Lançamento de Meu Amor no próximo dia 11



A expectativa é grande. Beatriz Bracher agradou muito aos seus leitores com Antonio. E agora envereda por outros caminhos.

No próximo dia 11, Beatriz lança seu primeiro livro de contos -- Meu Amor, pela Editora 34.

O lançamento acontecerá na Livraria da Vila da Fradique, em São Paulo, das 20h às 21h30. Entre 19h e 20h haverá um bate-papo sobre "mistura dos gêneros na literatura", com a participação da autora, do Nuno Ramos e mediação do Samuel Titan Jr.

Boa sorte, Beatriz.

E assim que estiver disponível aqui, correrei atrás do meu exemplar.